;menininho:
Porque você não está errado.
O Jung estava sentando na borda da calçada, mascando um chiclete com os cotovelos pousados sob o joelhos, enquanto os olhos acompanhavam a pequena e delicada silhueta que caminhava suave até a caixa de correio, tirando de lá os papéis, analisando-os por detrás dos buraquinhos da sacolinha de papelão que trajava na cabeça.
Ela era estranha.
Hoseok sempre se perguntava sobre a garota que se mudara para a casa em frente à sua há tempos, que nunca, jamais, vira o rosto. Era intrigante.
Sua pequena mente de um garoto de doze anos estudava todas as possíveis possibilidades pelas quais ela nunca releva a fronte. Seria feia, teria vergonha de si mesma?, não saberia dizer, embora quisesse muito.
Não percebeu que olhava demais, e só deu-se conta quando viu a pequena com o corpo pequenino encolhido e levemente trêmulo, mirando as íris para si, ainda por detrás da sacolinha. Sorriu pequeno e envergonhado, acenando, apenas vendo-a erguer a mãozinha esquerda e sair correndo para dentro da própria residência.
— Aish, que droga! — resmungou para si, abaixando a cabeça e balançando-a para os lados, sem perceber o movimento ao seu lado.
— O que foi, Sok-hyung? — o loiro perguntou, acomodando-se ao lado do amigo e estendendo-lhe um doce que pegara de casa. O Jung aceitou.
— Eu acho que fiz besteira, Jimmi-ah... — resmungou, mordendo um grande pedaço do alimento açucarado.
Jimin arqueou uma sobrancelha, curioso.
— Que coisa? — mordeu o doce.
— Eu... eu... arg — revirou os olhos e bufou no processo. — Eu fiquei, sem querer, encarando demais aquela garota da casa da frente — corou de leve.
— E por quê? — fitou o moreno, curioso com a resposta.
— Não sei, eu... eu acho ela meio estranha, você não? — olhou de volta para o loiro.
O Park respirou fundo e franziu as sobrancelhas, suavemente irritadiço.
— Não, eu não a acho estranha.
Hoseok o encarou surpreso. Afinal, Jimin quase nunca se estressava.
— Como não? — retrucava — Ela nunca, nunca tira aquela bendita sacola da cabeça! Nunca vimos o rosto dela, Jimin! — mordiscou o resto do doce.
— Não achando, oras! — exclamou. — E daí que nunca vimos seu rosto? Não podemos julgar as pessoas assim, Hoseok — o moreno o encarava com os olhos estreitos. Havia algo com o Park, era sempre tão calmo. Franziu as sobrancelhas.
— É, ‘tá, eu sei. Mas, e aí?! — gesticulou. — Vai me dizer que não acha nem um pouquinho esquisito o fato de ela usar aquela coisa na cabeça!
Jimin revirou os olhos, cansado daquela baboseira toda.
— Não, Hoseok. Eu não acho — jogou convicto, olhando o amigo nos olhos.
O Jung estalou a língua no céu da boca, curioso e levemente irritado.
— Tudo bem, então — deu de ombros; — vamos em casa jogar videogame?
O loiro sorriu curto.
— Vamos, mas não posso ficar por muito tempo, eu tenho que ir pra um lugar depois, tudo bem?
— Tudo.
⇁
O loiro caminhava apressado pela rua, desviando das pessoas o quanto possível estava atrasado, Yoongi o mataria assim que chegasse. Atravessou a rua, parando na frente do seu objetivo, passando pelo quintal veloz antes de levar tocar a campainha.
— Quem é? — uma voz suave e docinha soou de dentro da construção e Jimin sorriu meigo.
— Sou eu, sua boba.
Logo, ouviu o barulho das chaves sendo viradas e uma pequena silhueta branquinha e delicada aparecer diante de seus olhos, encarando-o com diversão e uma pitada de nervosismo atrás da sacolinha.
— Está atrasado! — exclamou, dando espaço para o amigo entrar.
— Me desculpa, eu estava jogando com o Sok-hyung, acabei me empolgando — coçou a nuca tímido, entrando no lugar enquanto a Min trancava a porta novamente.
— Hm... tudo bem, então — suspirou derrotada; — seu melhor amigo, não é?
— É, sim — sorriu pequeno. — Já pode tirar essa sacola, Gi-hyung — silabou contente, vendo, finalmente, o objeto ser removido do corpo de sua melhor amiga.
— Contente? — questionou quase áspera, embora risonha.
— Muito — riu. — Você continua bonita como sempre, principalmente com esse lacinho, sabia?
Yoongi corou e revirou os olhos, tímida.
— C-Cala essa boca, Jimin! — correu para abraçar o corpo do amigo de onze anos.
O Park sorriu e retribuiu o abraço, acariciando os cabelos escurinhos alheios.
— O que houve dessa vez, minha florzinha?
— Eu me sinto errada, Jiji-ah... — os olhinhos marejaram. — Eu... eu não deveria ser assim, não é? Eu nasci como você, não como uma... uma garota — sussurrava.
— Não... você não sabe do que está falando — separou e encarou-a nos olhos vermelhinhos; — você é linda, você é perfeita e minha melhor amiga.
Yoongi soluçou, retomando a apertar o loiro em seus braços.
— Mesmo você sendo um ano mais novo, às vezes, parece mais esperto do que eu, seu idiota — resmungou, sorriso contra o ombro alheio.
— É porque eu sou mais esperto do que você — riu doce.
— Cala a boca.
Jimin sorriu grande.
— Mal posso esperar pelo dia em que você vai sair sem essa maldita sacola na cabeça, sabia? — sussurrou. — Você é tão lindinha, tenho certeza que todos cairiam aos seus pés — comentou.
Yoongi suspirou, saindo dos braços do amigo e indo ao sofá, sentando-se em pernas de índio.
— Não sei, não, Jiji-ah... — encarou-o.
— Um dia, vai ter que acontecer — acomodou-se do lado da amiga, tocando em sua mão esquerda. — Hoseok te acharia linda, também. Eu sei que sim.
A Min suspirou novamente, limpando o rostinho bonito com a mão direita, pensativa.
— Você... você acha...? — olhou para o Park.
— Sim, eu acho — comentou; — apesar de ele achar estranha essa sua mania de usar a sacolinha — riu, acompanhado.
— Tudo bem, eu posso pensar no caso.
— De verdade? — sorriu esperançoso. — Jura? — o menino estendeu o mindinho.
— Sim, juro, ‘juradinho — entrelaçou os dedos.
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