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História Sacrifícios - Neblinas Do Acaso


Escrita por: CubScoutDylan

Capítulo 2 - Neblinas Do Acaso


 

Neblinas Do Acaso 

Castiel estava parado em frente a seu apartamento, ele queria se manter firme para o ser que o aguarda do lado de dentro de seu lar, entretanto suas pernas criavam um mecanismo de defesa ao lembrar que tinha acabado de perder seu emprego, que todo seu esforço tinha sido barganhado por um cara petulante. Seu coração tremeu. O que ele estava fazendo? Ele tinha seu filho, que precisava de muita atenção, do seu amor e carinho, porém seu coração estava estilhaçado, cansado, e no fundo ele temia que não fosse suportar mais uma vez perder alguém que tanto amava, a morte de sua amada foi mais que um choque para Castiel, foi o fim de sua vida.

A vida é engraçada, ela costuma ser uma quebra-cabeça, nada é o que realmente parece ser, e a vinda de Lúcio na sua vida, mostrou a Castiel a verdadeira face de como tudo é mais complexo que parecia. A muitos anos atrás quando ainda era apenas um adolescente que sonhava em viajar o mundo, as coisas eram simples, tomar um sorvete sem se preocupar se iria arruinar sua garganta, ou tomar um banho de chuva depois de uma tarde com seus amigos, ou até mesmo matar aula fingindo que estava doente, eram pequenas coisas que fazia de seu mundo fácil de levar, ele nunca imaginou que crescer fosse tão difícil, não haviam deixado um manual dizendo o que ele iria ter que enfrentar, os caminhos que seguir, e por quem iria entregar metade de sua vida. Não, a vida era uma farsa vestida de sonhos e especulações – pelo menos era o que ele achava agora – mas dentre todas as enxurradas de desgosto e dor, haviam sim, os momentos em que se sentia completo, Hanna foi um balsamo que deixou mais que um presente, deixou sua vida marcada.

O moreno introduziu a chave na fechadura, girou-a para o lado esquerdo e logo o som do trinco sendo aberto ecoou em seus ouvidos, suas mãos geladas e sôfregas tocaram a maçaneta arredondada, tudo o que ele precisava fazer era dar uma leve torção em seu pulso direito para esquerda e entrar em sua casa, entretanto pela primeira vez depois que Deus entregou-lhe um presente chamado Lúcio, ele teve medo, medo de não conseguir seguir adiante com sua vida, medo de olhar nos olhos de seu filho e fazer o que ele fazia todos os dias de manhã, lembrar da sua falecida esposa. Só Castiel sabia a falta que ela fazia, o quanto o sentimento que ficara em seu coração encharcara dias e dias seus pálpebras, ele estava só, não tinha a quem sentar e pedir ajuda, poderia recorrer a sua doce mãe Elizabeth, mas ela já havia partido a muito tempo, antes mesmo de conhecer seu lindo neto, seu pai bom.... Um covarde que abanou sua mulher gravida para cair na gandaia com uma outra qualquer.

Castiel não tinha nenhuma escolha, sua decisão de criar Lúcio em nome do amor dele e de Hanna, havia criado correntes sem que ele pudesse voar. Ele não estava reclamando, só estava.... Cansado?! A porta logo foi aberta, ele entrou com cautela, pois já era tarde da noite, e Lúcio poderia acordar assustado, Joana Bonfim, babá do seu pequeno filho estava sentada no enorme estofado com os olhos fechados, seu peito subia e descia pesado, estava cansada, havia ficado com Lúcio desde das cinco da manhã. Castiel caminhou a passos lentos indo em direção a sua sala de estar, o apartamento do Novak era um ambiente totalmente aconchegante, dois estofados cinza camurça, uma mesa de centro de vidro, uma estante com seus livros e filmes favoritos, e uma TV HD/3D de setenta polegadas, deveriam ter no mínimo cinco cômodos espaçosos.

– Joana – Chamara Castiel tirando seu sobretudo jogando em um canto qualquer. A mulher deu um leve sobre salto ao ouvir a voz de seu patrão, ela esfregou os olhos procurando enxergar melhor o ser que sentava do outro lado do estofado. Joana deu um leve sorriso ao Sr. Novak, ela cuidava de Lúcio desde do dia em que o pequeno saiu da maternidade, Hanna mal teve o prestigio de amamentar a semente que tinha colocado no mundo, pois seu corpo seguiu direto para uma análise de delito e logo em seguida dada como morta.

– Desculpe Sr. Novak – Disse a mulher de cabelos longos e sedosos. Joana era uma bela mulher, não aparentava estar na casa dos quarenta anos, seus olhos eram mel, seus lábios proporcional e naturalmente vermelhos, seu corpo parecia ter sido esculpido pelas mãos de um artista.

– Joana, já disse para mim chamar apenas de Castiel, ou simplesmente Cass.... – Castiel deu-lhe um leve sorriso. Há quanto tempo ela estava trabalhando para ele? Oito anos?! E mesmo assim ela não perdia a mania de se dirigir com formalidades – Você é minha amiga Joana, não me trate como seu patrão.

– Desculpe Sr. Novak.... – O moreno lançou lhe um olhar repreendedor – Quer dizer Castiel.... Desculpe, mas é força do hábito.

– E Lúcio? Deu muito trabalho hoje? – Pelo silêncio que estava a casa, ele provavelmente estaria recarregando as baterias para do dia seguinte. Mesmo com todos os probleminhas que Lúcio tinha, ele era uma criança muito afoita, esperta e danada, não parava um minuto sequer quieto, mesmo com Joana impondo limites para não correr pela casa inteira por conta de seus pulmões, ele fazia questão de brincar aos berros.

– Hoje ele não estava muito agitado, comeu normalmente, ficou o dia inteiro olhando a janela, não conversava muito – Joana tinha um amor imenso por Lúcio, ela era uma ex-amiga de trabalho e faculdade de Hanna num Hospital Particular como enfermeiras, e assim como Novak, ela sentia falta da companhia da amiga. Hanna também era enfermeira, porém trabalha em outra unidade foras mediações de Joana, e como estudaram juntas viviam grudadas.

– Isso não é muito bom – Arfou Castiel afundando ainda mais no sofá.

– Ele me fez perguntas Castiel, e uma delas me deixou muito encabulada – Disse Joana tomando toda a atenção do moreno. Novak ajeitou um pouco a coluna para frente, fazendo o máximo para conseguir escutar o que a morena dizia, sua cabeça estava tão turbulenta que mal conseguia escutar os próprios pensamentos – No começo achei que fosse apenas coisas da minha cabeça.... Você sabe, por ele ter essas perdas de memorias, ele costuma estranhar até eu que sou babá dele.... Mas ontem, antes do senhor sair para trabalhar Lúcio perguntou por você....

– Mas isso é normal, eu sou o pai dele, todos os dias o lembro de que ele é meu filho –

– Não dessa forma.... Ele tinha certeza que você era algo para ele, você precisava ver o brilho nos olhos dele, até cantarolava a música que sempre canta para ele antes de dormir – Uma leve pressão circulou o peito de Castiel, como se uma luz no fim do túnel estivesse acesa.

– Isso é uma grande notícia Joana – Castiel deu um pulo do sofá sorrindo. Ao menos ele tinha algo do que sorrir, talvez o destino não tenha dado todas suas jogadas ainda, e o melhor poderia estar por vim – Até que fim uma notícia.

– Ele está dormindo sem os aparelhos hoje, mas fique de olho, qualquer coisa sabe onde me procurar e você já tem meu número, preciso ir, Mark vai levantar seis horas para ir para escola e a tarde eu passo aqui para desejar feliz aniversário para meu pequeno – Castiel havia esquecido do dia mais especial do seu filho, mas ele tinha Joana para pôr a cabeça dele em ordem numa hora dessas.

– Quer uma carona? Eu posso te levar, e peço desculpas por ter demorado tanto para chegar – Ela negou dizendo que estava de carro e que em vinte minutos estaria em casa. Joana se foi deixando Castiel sozinho, ele estava com Lúcio mais o mesmo dormia profundamente. Novak seguiu diretamente para o quarto do seu filho, seus pés ainda calçados com a sapato social deslizava vagarosamente até uma porta marcada com tintas. As luzes do pequeno corredor no interior do apartamento estavam ambientes, nem tão fraca e nem forte, assim que suas aquarelas azuis pousaram nas pequenas marcas de mão de tinta coloridas desenhadas na porta, seus lábios sublinharam um simplório sorriso.

Ele agachou-se na metade da porta que estava entreaberta, com as pontas do dedo deslizou em cada marca de dedo, eram todas pequenas as mãos manchadas com as aquarelas do arco-íris, Lúcio tinha apenas oito anos, e amanhã faria nove, mas a cara de menino travesso diria que ainda era um bebê. Castiel ainda tinha gravado em sua memória aquele dia. Ele havia saído mais cedo do trabalho, Joana dava banho em Lúcio, tão travesso que deixara a sua babá toda molhada, Novak havia comprado lápis e tintas para seu filho brincar, Lúcio esparramou uma grande quantidade de tinta e saiu pintando as paredes na casa, boa parte de pintura Castiel teve que mandar pintar de volta, mas o único móvel que deixara com as lembranças do ocorrido preferiu deixar intacto, até tinha seu nome gravado na porta. Logico que depois da travessura levou um grande sermão de Joana por ter que dar outro banho nele. Por mais que Castiel fosse um homem importante e ocupado, ele sempre fez questão de dar toda atenção do mundo ao seu filho, as vezes quando Lúcio questionava de quem era aquela casa onde ele morava, Castiel sentia-se sem chão, porém ele contava todos os dias a história de seu nascimento para o pequeno, Lúcio que ficava admirado com a pequena aventura que seu pai proferia em meio um ganido de tristeza.

Castiel adentrou o quarto do menor, o abajur estava aceso com pouca luminosidade, mas nada que não pudesse enxergar a cama com estampas de carrinhos. Ah como Lúcio amava os carros que seu pai trazia. Sua cama era o tipo especial, ao lado de sua cabeceira havia aparelhos respiratórios, uma cômoda cheia de medicamentos, três baús com vários brinquedos e uma moldura que sempre mexia com os sentimentos de Castiel, estava pendurada na parede em que Lúcio dormia, uma fotografia dele e Lúcio nos seus quatro aninhos de vida brincando em um parque próximo ao seu condômino. No retrato Lúcio rolava na grama junto com Castiel, Joana não quis se juntar ao momento fraternal, pois ela sabia que ele momentos juntos seria importante para Novak mais tarde, e ela tinha razão, Castiel sentia um calor cobrir as ligas do céu coração.

Lúcio era um anjo, ele quase não tinha nada do pai, herdou mais a beleza da sua mãe Hanna, os cabelos aloirados, a pele lívida e leitosa, os lábios um pouco mais carnudos que os de Castiel, e a voz.... Era quase impossível não se apaixonar quando ele sorria com gosto, mas havia algo que Lúcio ganhou de Castiel – pelo menos era o que Castiel sempre achou – os olhos, não que fossem da mesma cor, não era isso, mas o olhar, Lúcio tinha um olhar que penetrava até a alma de uma rocha, seguindo de um sorriso então.... Quando crescesse seria um galanteador, Castiel tinha plena certeza.

– Você está crescendo – Sussurrou Castiel afagando as mãos nos fios sedosos de Lúcio, o cheiro de shampoo invadia as narinas do mais velho, ele amava seu filho e disso ele não tinha dúvidas, não foi à toa que ele fez o que tinha que fazer para pagar os melhores médicos para seu filho – Tudo está difícil para nós agora, mas nós vamos conseguir.... Juntos!!

Com um suave beijo na testa, Castiel despediu-se do seu pequeno, seguindo diretamente para seu quarto, ele necessitava de um banho. No quarto mesmo, se despiu e seguiu nu para o box do banheiro, abriu o registro deixando a água esquenta por breves segundos, assim que o vapor invadiu a cabine o moreno tratou de entrar. As gotas de água debatiam-se contra sua pele maltratada, ele podia sentir a carga que estava em seus ombros, era como se os pingos que se desmanchavam em sua pele estivessem tentando penetrar a crosta do fardo que levava durante anos, boa parte vinha do trabalho, o oficio consumia muito de sua vida, para ele era como estar nadando contra a mare de um mar furioso todos os dias, e quando achava que estava perto da praia, vinha as ondas tragando todas as suas forças e expectativas, mas um bom marinheiro jamais morre no mar, ou você doma a tempestade que te joga de um lado para o outro, ou simplesmente deixa-se afundar. Novak sentia-se afundando, ele já podia sentir as algas dançarem em seus pés, o ar faltar, e o mar lhe abraçando, há muito sua âncora havia zarpado, tudo o que restava era ele e as sereias que cantavam sua morte. Depois de sua tentativa falha de jogar seus problemas para o ralo, Novak sai do banheiro com uma toalha envolta da cintura, os últimos pingos de seu cabelo eram secos pelo tecido fofo da toalha, talvez uma boa noite de sono seria o bastante para dissipar as nuvens do seu mar.

Os raios de sol compenetravam a camada de ozônio mostrando que já era dia, pela intensidade de seus raios deveriam ser pelo menos umas oito horas da manhã, mesmo com a esfera solar brilhando, o inverno dava suas caras contradizendo o dialeto quente do Sol, a nostalgia que era sair com várias camadas de agasalhos e ainda ter uma saudação audaciosa do globo amarelo cintilando pedaços de um céu cheios de nuvens, era a coisa mais desgostosa da vida, mas não para Castiel, que levantara um pouquinho mais cedo. Ele ainda tinha que voltar na empresa para acertar toda a documentação de sua saída, mas ele faria isso outro dia, pois aquela manha era um dia especial na família Novak, era o dia do aniversário de Lúcio.

O moreno vestia seu pijama do Capitão América que comprou junto com Lúcio, para combinar pai e filho, foi até o quarto do pequeno e constatou que o mesmo ainda dormia profundamente, fez uma breve verificação com a taxa de oxigênio dos pulmões vendo que tudo estava sobre controle e correu de volta para a cozinha, iria preparar um delicioso café da manhã para ambos. Castiel morava no penúltimo andar do seu prédio, haviam vinte e cinco andares, a sacada de sua casa era enorme, as janelas todas transparentes do teto até o chão, e a visão para a ponte de onde ficava a maravilhosa Roda Gigante dava um show de espetáculo, logico que a distância era longa, mas ainda assim Londres não poderia ser mais bela. A passos curtos, seguiu para a sacada, inspirou todo o ar que a mãe natureza lhe oferecia e diante daquela obra natural sorriu, eram poucos os momentos que conseguia ter uma visão dessas, passava a maior parte em seu escritório pensado em lançamentos, projetos, designers, era tudo uma loura. De cima dava para ver as pessoas caminhando de mãos dadas, os carros passando de um lado para o outro, o preço valeu muito apena, e tudo pelo seu filho.

– Droga! Tenho que fazer as panquecas de Chocolate de Lúcio – Murmurou Castiel esquecendo-se que havia coisas mais importantes a fazer. Ele não era um mestre da cozinha, longe disso, mas sabia se virar, e até aquele dia Lúcio nunca reclamava quando cozinhava para ele, até achava engraçado ver o pai de avental, isso quando lembrava de que era seu pai, e não um estranho que tivesse sequestrado ele, e quando isso acontecia, Castiel parava tudo o que estava fazendo e com muita paciência explicava que ele era seu filho, que tinha um probleminha de memória.... Tudo o que Lúcio precisava saber.

Enquanto preparava suas famosas panquecas seu telefone toca, ele pega o aparelho e volta para o que estava fazendo, seu olhar percorre rapidamente a bina de seu telefone e ele reconhece o número.

– Alo! – Indaga Castiel esperando a voz soar do outro lado da linha. Era da sua empresa, provavelmente deveria ser do RH querendo da baixa em seus documentos.

– Sr. Novak.... – Era a voz de Bobby Singer. Automaticamente as lembranças da noite passada jorram como água da privada – Olha, eu sinto muito pelo ocorrido da noite anterior, saiba que isso não tem nada a ver comigo.... Eu só estava....

– Cumprindo ordens.... É eu ouvir muito bem – Cortou Castiel com certa hostilidade em sua voz.

– Sei que não quer aceitar o fato de ter sido demitido, mas entenda meu lado Sr. Novak, sou apenas o Vice-Diretor de Publicidade Automobilística, quem manda nisso tudo aqui não sou eu.... É o Dr. John Clay Winchester.... – Ele já tinha ouvido essa ladainha noite passada, tinha coisa mais importantes para fazer, e lembra-se de que foi descartado como lixo não iria amenizar sua situação.

– Olha Sr. Singer.... Entendo que não tenha nada a ver com isso, mas se for para lembrar desse assunto prefiro enterrar o assunto, só quero que paguem tudo o que me devem.... – Na verdade Castiel não queria saber se compreendia ou não seu EX colega de trabalho, ele estava chateado e isso era notário no tom de sua voz, entretanto ele tinha uma vida esperando por ele, não iria desgastar seu precioso dia discutindo assuntos que deram por acabados.

– Tudo bem, preciso que venha ainda hoje pegar suas coisas, o cheque com seu pagamento de todo o tempo trabalhado e uma comissão por despejo.

– Não posso ir outro dia, estou no meio de um assunto de extrema importância – Disse Castiel sorrindo ao ver a massa escorrer da colher para a panela. Seu assunto de extrema de importância tinha um sabor bastante gustativo e quem iria pautar se estava bom ou não, era alguém mais especial ainda.

– Sinto muito dizer, mas não, o novo Chefe exigiu que até meio dia tudo esteja livre para seu uso – Castiel mordeu os lábios ao saber quem seria o novo Chefe de Publicidade Automobilística que iria ocupar seu lugar, podia sentir uma pequena fenda sendo aberta na parte inferior dos lábios e o gosto de sangue percorrer amídalas de sua língua.

– As dez horas estarei aí, certifique-se de que esteja tudo em mãos para quando eu for apenas cai fora – Indagou o moreno pegando dois pratos do armário e colocando sobre o balcão de porcelana da cozinha.

– Ah tem mais uma coisa.... – Dizia Bobby, mas a atenção de Castiel fora tomada por um certo garoto que completava nove anos naquela manhã fria e cinzenta. Seus olhos pareciam perdidos, estava com o pijama igual ao de Castiel, em sua mão direita carrega umas das coleções de Carrinhos que Castiel trouxe da sua primeira linha de montagem e produção da empresa, foi o primeiro carro que saiu nas concessionárias, era um modelo azul de Ferrari, Lúcio amava aquele carrinho. Ele analisava todos os cômodos da casa como se tivesse perdido algo, seu cenho estava frisado, as sobrancelhas arqueadas e frase seguinte ecoou como um gatilho de uma arma para Castiel:

– Quem é você?

– Bobby vou ter que desligar o telefone – Castiel não deu nem tempo para o velho dizer um tchau e desligou imediatamente. Lúcio ainda parecia muito confuso, desnorteado, sozinho, Castiel mais ainda, pois ele nunca estava acostumado com essas perdas de memórias, para ele todas as vezes vinha com uma surpresa, mas naquela manhã parecia mais calmo, as írises azuis do moreno notaram o que seu pequeno segurava com tanta firmeza, como se aquilo fosse sua própria vida – Quer sentar?

Lúcio hesitou de começo, olhava para seu pai como se ele fosse um completo estranho, alguém que estava invadindo um espaço pessoal seu, alguém que não fazia sentido em tudo à sua volta.

– Hm mm eu amo esse cheiro – Disse Lúcio, fungando o aroma que transbordava na cozinha, seus pulmões se encheram da fragrância, a olhos nus parecia uma criança normal, mas só ele mesmo sabia do seu estado.

– Quer um pedaço? – Gesticulou Castiel apontando para panqueca que acabara de pôr num prato e jogando chocolate por cima. Lúcio sentou-se em uma cadeira próxima a bancada em que Castiel se encontrava, ficando de frente um para o outro, Castiel estava terminando de preparar as outras, enquanto Lúcio ficava apenas observando o estranho fazer maravilhas com apenas uma massa e um fogão.

– Como sabe que chocolate é meu doce favorito? – Indagou Lúcio ficando de joelhos na cadeira, seu corpo pequeno não permitia ficar acirrado com o balcão, Castiel achava aquela cena graciosa, ele respirou fundo, olhou para seu filho, fez cara de quem estava tentando lembrar de algo e então disse:

– Bom, primeiro porque somos melhores amigos.... – Lúcio soltou um sorriso confuso, mas mesmo assim Castiel continuou – Você disse ontem para mim que seu doce favorito era chocolate, então por eu ser seu melhor amigo resolvi fazer uma surpresa para você.

– Você é um amigo legal – Disse Lúcio espontâneo soltando um riso baixo envergonhado – E qual é seu nome, amigo?

– Você não se lembra? – Disse Castiel fazendo uma carinha triste para seu filho, Lúcio negou com a cabeça, vendo que seu filho tinha ficado triste por ter esquecido de seu nome Novak prosseguiu – Meu nome é Castiel, mas você sempre me chama de.... – Lúcio ouvia tudo bem atentamente, e fazendo muito esforço para lembrar do seu melhor amigo, não queria ver seu amiguinho triste por saber que tinha esquecido seu nome, Castiel ao mesmo tempo que sorria tentava imaginar as coisas que passava na mente de seu filho. Ele se perguntava como era acordar um dia e não lembrar da pessoa que você mais ama? O moreno em breves segundos tentou imaginar nunca mais lembrar de como é o rosto de seu filho, o quanto ele era precioso, o amor que sentia ao olhar nos olhos rubros de seu pequeno e achar que é apenas uma criança qualquer.... Um grande buraco formou-se no seu estomago, talvez fosse assim que Lúcio se sentia nas vezes que esquecia de quem era o homem que acordava todos os dias com um beijo de bom dia em sua bochecha rosada.

– Posso experimentar? – Perguntou Lúcio com a boca cheia d’água. As palavras não saiam mais dos lábios do moreno, elas haviam sido retidas quando o sentimento de perda e vazio inebriou sua mente. Ele apenas fez sim com cabeça, entregando ao menor um garfo dos vingadores que ele havia comprado. Lúcio admirou o talher, achou engraçado, mas estava faminto. Ele fatiou um pedaço e levou até a boca, seus olhinhos se fecharam saboreando a explosão de sensações que suas células capitavam, era como estar comendo pela última vez, Lúcio sentia-se completo e Castiel apenas admirava o quão aquele pedaço de comida o fazia tão bem – Isso está maravilhoso papai.

O coração de Castiel aqueceu, ele lembrou-se do seu pai, a frase saiu com tanta naturalidade que se o moreno não soubesse da sua condição juraria que ele estava brincando com a cara de Castiel – De nada meu amor e Feliz aniversário.

Ambos comeram, brincaram, assistiram aos desenhos matutinos, brincaram outra vez, e Lúcio parecia bem, ele lembrava de seu pai e de Joana – pelo menos até aquele momento – mas a única pessoa que ele não se recordava de jeito nenhum era de Hanna, sua mãe.

– Vamos Lúck, eu vou me atrasar, depois vamos ao cinema, passaremos na casa de Joana para você vê-la e iremos sair para um lugar especial – Gritava Novak pela terceira vez do quarto de Lúcio, o menor ainda terminava de secar seus fios aloirados, Castiel insistiu em ele mesmo fazer essa tarefa, mas seu filho veio com um sermão de que já estava grandinho. Lúcio saiu com a toalha na mão e com metade do corpo molhado, o moreno caiu na risada ao ver o esforço do filho, pegou-o pelo braço e guiou até a beirada da cama – Grandinho em... – Caçoou Castiel.

– Tia Joana disse que já sou um homenzinho e que quando eu crescer vou me tornar um homem igual a você – Aquele comentário fez Castiel sorrir. Lúcio não ia as escolas, sempre tinha aulas com professores treinados para aquele tipo situação, mas sempre que podia ele saia, Joana levava ele para brincar com as outras crianças, tudo era motivo de novidade para Lúcio. Uma vez ele fez um amiguinho no parquinho do condômino e todos os dias ele contavam para seu pai que tinha feito um amiguinho, mas que não se lembrava do nome, e esses mesmo amiguinho era o amigo dele que ele nunca lembrava que era seu amigo, Castiel brincava com a situação, pois parecia que Lúcio tinha vários amigos, quando na verdade era apenas um garoto que dividia os brinquedos do parque com ele.

– Você vai ser, tenho certeza que você será homenzinho lindo, esforçado, dedicado e acima de tudo, do bem – Castiel dizia enquanto secava as últimas gotas que caiam dos fios de Lúcio – Antes de irmos no Cinema vamos passar no trabalho do papai.

– O senhor nunca me levou lá, é legal? Tem muitos amiguinhos também? Você é esforçado com eles papai? – Hoje ele estava elétrico, talvez tenha sido o chocolate que Castiel havia colocado na panqueca.

– Sim, lá é legal, tenho muitos amiguinhos e sou muito esforçado assim como você – Lúcio estava muito empolgado para ir ao trabalho de seu pai, no trabalho Castiel era TOTALMENTE profissional, jamais misturava família com suas obrigações, sabia exatamente onde cada coisa tinha que estar.

Ambo bem agasalhados, Castiel e Lúcio seguiram para o local de trabalho de onde Novak cresceu profissionalmente. A pergunta que Lúcio fez a Castiel por nunca tê-lo levado em seu local de trabalho fez com que o moreno pensasse que, talvez as coisas não estavam tão perdidas, ao que sabiam a doença era progressiva, entretanto Lúcio ainda lembrava de algumas coisa, em fleches, mas poderia ser um sinal para o moreno, quem sabe não eram os medicamentos que o pequeno tomava, faziam muitos anos que ele tomava, muitos deles eram fortes de mais para uma criança de apenas nove anos. Castiel nunca teve vergonha de reconhece-lo como seu, entretanto, por Lúcio ter uma certa fragilidade a melhor opção era que ninguém soubesse da sua existência, não queria arriscar a vida de seu filho em vão, longe disse, queria que seu filho sempre fosse bem recebido, mas naquela manhã Joana não poderia ir ao trabalho, tinha assuntos pessoais a tratar, e como Castiel havia sido desejado não havia mais porquê esconder certas coisas de seu pequeno.

O transito estava fluindo com certa monotonia, Castiel e Lúcio brincavam enquanto o farol estava fechado, observando os dentes alinhado do seu filho para ele, Novak cogitou a pensar que talvez ser despedido tivesse sido bom para os dois, o moreno malparava em casa, as vezes viajava e Lúcio ficava sozinho com Joana, logico que ela era bem paga, mas com os tratamentos do filho – que diga-se de passagem eram muito caros – virava noites acordados trabalhando com risco de até mesmo entrar em coma, e Castiel não poderia se dar ao luxo de ficar internado, ainda com um Novak em casa precisando de sua ajuda. Uma hora depois o carro cinza forte de Castiel parava próximo ao estacionamento da empresa Clay Car. Winchester, ele tocou a buzina e Chuck que estava supervisionando a entrada logo viu a placa de seu querido amigo em frente as grades banhadas a ouro.

– Achei que não fosse vim trabalhar hoje seu verme de meia bengala – Gritava Chuck pelo interfone da sua cabine. Castiel soltou uma gargalhada e logo o portão fora aberto, Novak entrou seguindo direto para sua vaga – que não era mais dele, pois outro logo ocuparia o espaço – Chuck fechou o portão e logo caminhou em direção ao caro de Novak – E quem é o baixinho?

– Meu filho – Disse Castiel pegando Lúcio do carro. Chuck sorriu descreditado, Castiel nunca havia mencionado que tinha um filho.

– Para! Você está me zoando? – Indagou Chuck esperando que aquilo fosse mais uma piada barata de Castiel, mas Lúcio deixou bem claro ao mais velho que Castiel Novak era pai.

– Papai ele é seu amiguinho também? – Lúcio disse sorrindo para o moço que olhava desacreditado para Castiel.

– É sim meu amor, esse é o Chuck, amigo do papai – Novak segurava na mão de Lúcio, o menor levou sua mão direita estendendo para Chuck cumprimenta-lo.

– É um prazer.... – Disse Chuck apertando a mão do garoto.

– Lúcio. Meu nome é Lúcio Novak, igual ao papai, mas pode me chamar de Lúck.... Papai me chama assim.

– Por que não disse que tinha um filho? – Chuck admirava a esperteza do garoto. Eram poucos os traços que o Chefe de Segurança reconhecia em Lúcio a presença de Castiel, mas o altruísmo era idêntico.

– Se você tivesse feito comigo, talvez saberia – Zoou Castiel. Chuck fez cara de deboche para o moreno, mas não se contentou com aquele trocadilho. Novak explicou por cima sua história com Hanna, Chuck sabia que ela tinha partido dessa para melhor, mas não sabia que tinha deixado um filho, em nenhum momento Castiel mencionou as condições de pequeno Lúck, só ele sabendo era o suficiente, não queria que ninguém o olhasse com pena ou fragilidade, mas como um olhar de igual para igual.

– Achei que fossemos amigos Castiel, eu te aturei durante tantos anos e você só mim conta isso agora? Que péssimo exemplo seu pai em Lúck – Castiel se divertia com a comoção do seu amigo, entretanto ele tinha horário a cumprir – Mas, e a reunião ontem, você nem para mandar uma mensagem seu sacana.

– Hei tenha modos, não fale assim comigo na frente do meu filho – Reprendeu Castiel tampando os ouvidos de Lúcio – Mas, por falar nisso, bom tenho uma péssima notícia e talvez uma mais horrível ainda.

– Conta a péssima primeiro, para eu me preparar para a horrível –

– A péssima é que você terá um novo chefe – Chuck fez cara de desdém – E a horrível é que esse chefe não sou eu.

– Você está querendo dizer que.... – Chuck assimilava tudo, mas ele preferia ouvir da boca de Castiel para ter certeza do que ouviria a seguir.

– Sim, me demitiram por longos e longos anos, isso significa que estou caindo fora – Novak nem se preocupou se Lúck estava ouvindo ou não, ele não entenderia de qualquer forma, e talvez amanhã ele já tenha esquecido tudo, que foi ao trabalho de seu pai, que conheceu Chuck e que viu seu pai dizer que estava desempregado.

– Espera, você deve estar de brincadeira com minha cara, Castiel se isso for uma piada de mal gosto saiba que merecerá um Osca do ano – O moreno nada disse, e não tinha mesmo que dizer, era o fim da linha ali, mas aquilo não significava que não seriam mais amigos, só que não trabalhariam no mesmo local – Cara, mas porque estão fazendo isso com você? Eu vi o quanto você deu duro para chegar onde chegou, as humilhações que passou, e não foram poucas.... Cass.... Isso só pode ser uma brincadeira – Castiel sabia do que Chuck estava falando, ambos compartilhavam todas as coisas que passaram dentro da empresa, gostaria Novak que as coisas fossem simples como aparentava ser, as coisas que passou dentro dessa empresa – coisas que fazia questão de enterrar para não se sentir um lixo – mas o resultado disso tudo valera a apena, ele conseguiu o dinheiro que precisava para dar início aos tratamentos do seu filho, e ainda construir uma vida para que seu pequeno presente não viesse a sofrer o que ele passou.

Chuck não queria acreditar no que o moreno estava dizendo, suas íris zuis marejavam, o barganhar da perde de um amigo era sentida na linha d’água de seus olhos. Chuck gostava muito de Castiel, ambos eram bem próximos, mesmo que nenhum frequentasse a casa um do outro, o trabalho era o ponto de encontro dos dois. Castiel mencionou sobre o telefone de sua casa, que se precisasse conversar era só ligar que as portas de sua casa estavam abertas. O moreno envolveu seus braços ao longo do corpo de Chuck, um abraço amigável fora trocado, cheios de emoções e sentimentos, Castiel não tinha tempo a perder, tinha que levar seu filho para comemorar seu aniversário, mas antes tinha que resolver um assunto pendente.

O caminho até o elevador fora preenchido com comentários de Lúcio argumentando de como o estilo do amigo de seu pai era maneiro, e que talvez um dia se vista igual ao Chuck, mas que apesar de ter gostado, não era para seu pai sentir-se enciumado que ele alternaria para que nenhum ficasse com ciúmes. Castiel adorava o jeito de como Lúcio colocava as palavras para fora, com tamanha naturalidade, como se um mais um fosse dois, ele não tinha restrição em expressar sua opinião, até mesmo porque elas vinham recheadas de doçura. Novak desejava que Lúcio nunca crescesse, que ele fosse terno, pois tinha medo do dia em que ele criasse suas asas e voasse para bem longe.

– Eu não vou demorar tudo bem? – Falava Castiel enquanto se abaixava para ajustar a jaqueta marrom de Lúcio.

– Tudo bem papai, eu espero por você – Falou Lúcio agarrando o pescoço do Pai e dando um forte abraço – Você vai me levar para ver a Tia Joana, não é? Então, vãos juntos.

– Bom menino – Seguindo para o andar o penúltimo andar, Lúcio segurou forte a mão de Castiel, a cada andar que subia, apertava a palma da mão do seu pai, seus pequenos dedos tentavam conchear os de Castiel, notando o desconforto do menor, o moreno trazia Lúcio para mais perto de si, fazendo com que ambos ficassem colados – Já estamos chegando.

Segundos depois o elevador para no penúltimo andar, os dois saem com cautela, Lúcio um pouco mais ansioso que Castiel que está uma pilha, pois não queria dar de cara com Bobby Singer. Eles seguem até a recepção onde um cara chamado Jhonny Froshe está ao telefone.

– Jhonny tem alguém na minha sala? – Diz Novak tomando a atenção do homem de cabelos curtos e negros. Jhonny era como um secretário para Castiel, sua relação com o seu colega era muito amigável, e a pergunta direta do Sr. Novak deixava isso bem exposto.

– Não Sr. Novak.... Mas Bobby Singer veio aqui mais cedo e pediu para que assim que concluir sua obrigação se dirija até a sala dele – Castiel agradece voltando-se para seu filho.

– Meu anjo, eu vou até minha sala pegar apenas uma pasta com uma papelada e já volto, poderia esperar aqui? – Lúcio apenas concorda com a cabeça. Novak o deixa sentado no estafado próximo ao bebedouro, ele dar intrusões se caso ele passe mal, ou sinta alguma coisa, para se dirigir até Jhonny e chama-lo imediatamente. Castiel pede para que Jhonny fique de olho no menino, o moreno concorda com a cabeça e volta ao telefone, sem nenhum questionamento de quem era a criança.

Lúcio por ser uma criança astuta, tem seus olhos atraídos por todas as direções, ele não consegue para de admirar o lugar, tudo era tão grande, de onde ele estava sentado dava para ver dois corredores enormes, esquerdo e direito, seus olhos acompanharam o balançar de seu pai até virar no corredor esquerdo, o lugar era tão bonito para Lúcio, o sofá macio que estava sentado, o aroma do lugar, parecia uma terra de gigantes, a terra de seu pai. Há um grande painel um pouco atrás do estofado em que ele está sentado, ele vira um pouco o seu pequeno corpo e depara com uma enorme janela, igualzinho da sacada da sua casa, sua memória é péssima, mas ele teve a mesma nostalgia que tinha da sua casa quando se aproximou da vidraça. Seus pequenos pés mantinham um ritmo extasiado, no seu olhar era como enxergar o céu, seus lábios entreabriram, mesmo lacradas a titânio, ele sentia que podia voar.

O som do elevador ecoou no ambiente, Lúcio estava inerte a aquela dimensão, Londres praticamente na palma de sua mão, mas o som da voz de uma criança tirou-lhe o prazer que estava tendo diante da paisagem.

– Pai, o senhor disse que iriamos ao parque.... – Era um lindo garoto, tinha a mesma altura que Lúcio, seus cabelos eram mais logos que os seus, suas vestes eram bem descontraídas, tinha em mãos um sorvete de palito, e com ele um homem bem alto, de cabelos compridos, roupas como as do seu pai Castiel, que o deixava misterioso, e Lúcio estava encantou-se com a presença que ambos faziam.

– Jay, nós iremos, só vou falar com seu tio Bobby para ver se o funcionário que eu fiquei de contratar deu as caras – O som que saiam de seus lábios do mais velho deixara Lúcio desconcertado, pois a sensação era de que estava próximo a um cara de porte grande, mesmo não sabendo quem poderia ser, pois Lúcio admirava seu pai em pensamento, o considerava um homem muito importante em sua vida – enquanto lembra do seu pai – e o homem logo a sua frente transpassava a mesma sensação. Lúcio voltou a sentar-se de onde estava, ele encarava de minuto a minuto o rapazinho que estava acompanhado com o homem alto.

– Sr. Clay Winchester.... – Chamou Jhonny o homem que seguia acompanhado do menino até a recepção.

– Só me chame de Sam – Pediu o homem cujo nome se chamava Sam. Lúcio não tirava os olhos do Sr. Clay, seu tamanho chamara-lhe a atenção, ele pensara que talvez quisesse ficar do tamanho daquele homem, assim poderia tocar as nuvens, a mente fértil de Lúck era o espelho de sua alma, ele não se questionava muito para si mesmo do porquê pensar essas coisas, mas de uma coisa ele sabia, ele queria ser grande também – Meu tio Bobby já chegou?

– Sim ele o aguardar em sua sala – Disse Jhonny pegando o telefone para comunicar a chegada de Sam Clay Winchester. O homem de terno esportivo notou que havia um garoto o olhando. Sam era altamente analítico, nada passava desapercebido de seus olhos, e como bom altruísta fora cumprimentar o lindo rapaz da íris azul.

– Diga que já estou a caminho – Disse Sam se retirando, seguindo em direção a Lúcio junto de Jay que acompanhava os passos do pai deliciando-se do sorvete – Olá! – Sam abaixou-se para ficar na mesma altura que o menor. Lúcio sentiu-se um pouco intimidado com ar de Sam, seu pai havia lhe dito para não conversar com estranhos, e Sam era, até para Castiel que nem sabia que o maior estava no mesmo andar que ele. Sam entendeu o braço para cumprimenta-lo, e diferente de Castiel, Lúcio apertou sua mão, mas sem dizer nenhuma palavra, apenas compenetrado no olhar agudo do homem a sua frente – O que um rapaz como você faz aqui sozinho?

– Papai disse que não era para mim falar com estranhos – Com desleixo suas mãos pousaram em suas pernas, e seu olhar concentrou-se nos dedos que mexiam sem parar.

– É mesmo? Seu pai deve ser um cara muito inteligente – Disse Sam com um toque de doçura nos lábios – Esse é o meu filho Jay Clay, hoje ele completa nove aninhos de idade – Lúcio deu um sorriso para Jay que logo retribuiu.

– Papai disse que hoje eu também faço nove anos de idade – Comentou Lúcio animado ao saber que o menino a sua frente tinha a mesma idade que a sua, e estavam completando juntos nove anos.

– Meus parabéns então – Sam apertou mais uma vez a mão de Lúcio, seus dedos mal conseguiam circundar a palma de Sam.

– Sr. Clay, Bobby Singer está o esperando em sua sala – Anunciou Jhonny Froshe pela segunda vez.

– Bom amigão, tenho que ir, se quiser Jay pode lhe fazer companhia – Sugeriu o mais velho. Jay adorou a ideia, e Lúcio mais ainda por conhecer mais um amigo. Sam antes de deixar o recinto denotava a felicidade de Jay em ter um amiguinho novo.

– Qual seu nome? – Perguntava Jay a Lúcio. Ambos trocavam nomes e passatempos enquanto Sam dirigia-se até a sala de seu tio – de consideração – Bobby Singer, pela tela de vidro ele via seu tio ao telefone, parecia nervoso.

– Tio Bobby? – Chamou Sam adentrando a sala. Bobby pediu para que esperasse apenas mais um minuto, o moreno fez sim com a cabeça e sentou-se logo à sua frente em uma cadeira de coro preta. Diferente da sala presidencial, a sala do velho não era tão luxenta, ele costumava ser um cara simples, para ele tudo de mais era o de menos, ele sempre optava pelo meio termo. Após finalizar a ligação, Bobby coloca os cotovelos sob sua mesa feita de carvalho, ele solta um longo suspiro, sua aparência cansada denegava que não estava bem e que precisava acalmar os ânimos, e nada como um velho e bom conhaque.

– Onde se meteu ontem a noite Sam? Estávamos lhe esperando para fechar negócio com o funcionário que lhe falei – Dizia Bobby indo até uma bancada apart na sua sala onde haviam algumas das suas relíquias estocada em uma garrafa cheia de álcool.

– Aconteceu um imprevisto com a Imobiliária que fechamos parceria ontem, deu cano, e eu precisava remarcar a próxima reunião – Bobby ofereceu-lhe um pouco de sua bebida, Sam aceitou de bom grado o copo com o liquido marrom, ele degolou um gole de uma só vez sentindo sua amidalas queimar.

– Ele foi para casa transtornado ontem, não aceitou ser despejado – O velho lembrava a cara que Castiel fez quando deu a notícia, mas para ele o mais difícil foi ver Dean confrontá-lo diante da fragilidade do colega de trabalho e não fazer nada.

– Mas Dean havia me dito que ele nem chegou a comparecer – Desdenhou Sam com uma cara de dúvida.

– Não, ele veio sim, e seu irmão ainda teve a coragem de confronta-lo.... Te digo uma coisa Sam, Dean a cada dia que passa eu não o reconheço.

– Dean está mudado tio Bobby, e isso não é de agora, veja que, malmente ele fala comigo, usa sempre palavras curtas, eu tento e aproximar dele, mas ele vem com uma lança na mão.... Papai deveria ter feito algo a respeito enquanto Dean ainda era apenas um adolescente – Bobby teve a mesma opinião, John foi negligente deixando Dean ser esse cara petulante, mas agora não adiantava chorar o leite derramado – Ele já chegou? Não é hoje que ele vem tomar posse do cargo de Chefe do Setor Automobilístico?

– Daqui a pouco ele está aí, é melhor nem topar com ele, se ele tiver de bom humor então, faça questão de usar óculos escuros – Sam riu, achava o tio um pouco exagerado.

– E papai?

– Hoje teve uma conferência em NY e disse que de lá vai se encontrar com sua mãe e o resto você sabe....

No corredor ao lado, Castiel manuseava as últimas gavetas da sua cabine, ele não tinha nada muito de valor, apenas seu pen drive com alguns arquivos seus, sua maleta com documentos da sua demissão, e sua última linha de projeto, ele não queria deixar nada que fosse seu ali, não daria esse gosto ao petulante que sentaria em sua cadeira.

– Achei que já tivesse caído fora – Ressona uma voz da porta de sua sala. Para o desgosto do moreno, era última pessoa que queria ver naquele dia.... Dean Clay Winchester. Os olhos de Castiel entraram em atrito com os de Dean, e um denso conflito formou-se no ar. O loiro estava bem mais arrumado que a noite anterior, seus olhos eram como fuzis, poderiam cortar a gravidade magmática que tinha entre eles e ferir Castiel com apenas o olhar, mas a contradição desenhada em seus lábios deixava tudo mais confuso, e Dean percebeu o quanto aquilo mexia o moreno de alguma forma, a lividez com que seus lábios se moviam deixara tudo exposto. Dean não era apenas um homem com um curriculum impecável, ele tinha dentro dele a capacidade de desmontar uma alma sem mesmo toca-la, e ele usava isso ao seu favor, se quisesse ferir Novak faria, se quisesse tê-lo aos seus pés teria, porque Dean era Dean, e ele sempre conseguia o que queria.

– Não se preocupe estou apenas pegando uma papelada – Castiel tentava desviar o olhar, mas como um inventivo imã queria olhar para Dean, talvez porque o considerava um inimigo.

– Sabe.... – Começara Dean caminhando a passos lentos com uma maleta nas mãos em direção aonde Castiel estava. Novak foi obrigado a virar-se costas para não pular no pescoço do loiro e fazer um estrago, mas aquela sala estava ficando pequena para ambos, Castiel sentia um calor sombrear a sala, os passos de Dean eram como paredes em ruinas – Meu tio deve ter-lhe dito que, ele sente muito pela sua saída, que você é um bom profissional, que a empresa deve a você.... – Aquela voz estava machucando os tímpanos de Castiel, e progressivamente ele sentia ela martelar cada vez mais perto de seus lóbulos, a pasta que ele analisava parecia não ter mais nenhum significado, porque Dean deixara Novak sem chão ao sentir seu peito bater contra suas costas – Sei que ele tem razão.... Bom pelo menos é o que ele acha, já eu.... Acho fraco....

A última frase saiu quase como um sussurro em seu ouvindo, ele sentia o bafo de Dean eriçar a costeleta de seus cabelos, o perfume que emanava como uma nevoa do corpo do loiro entorpecia as narinas de Castiel, sem querer ele deu um longo trago nas partículas invisíveis que cobriam seus pensamentos, Dean sorriu com o ato, ele queria fazer o Novak ajoelhar-se ali mesmo e pedir por clemência, entretanto o loiro não esperava que o moreno fosse tão teimoso, a aparência frágil de Novak deixava tudo mais excitante para Dean, porém o moreno era muito mais que um rosto bonito. Castiel virou-se bruscamente para Dean, seus lábios cerram, o que ele sentia era uma fúria deixa-lo inerte, Dean tinha um sorriso sínico nos lábios, ele esperava que Castiel entregasse os pontos de suas provocações e revidasse.

– Faça bom proveito de sua estagia Sr. Dean Clay Winchester....

Novak jogou a chave das gavetas na mesa que costumava ser sua e saiu em dispare-te de encontro ao seu filho.

Na sala de Bobby, Sam já estava um pouco impaciente com a demora do homem que Bobby ficou de lhe apresentar.... Bobby nem mencionou o nome de Castiel, em sua conversa com Sam, o velho estava ficando caduco, pelo menos era o que ele mesmo pensava, tantas coisas para resolver da última linha de produção, e agora que estava sem seu gênio da engenharia mecânica, não sabia se Dean daria conta.

– Tio Bobby, esse cara costuma se atrasar?

– Não, o Sr. Novak costuma ser muito pontual – Ao ouvir o sobrenome do seu futuro empregado Sam toma um leve susto. Automaticamente ele lembrara de Castiel, o homem a quem havia cortejado e tomado formas nos pensamentos de Sam.

– Por acaso ele é baixo, tem olhos azuis e seu primeiro nome se chama Castiel? – Bobby olhou confuso para Sam, todas as descrições batiam com seu antigo funcionário.

– Ele mesmo, você o encontrou na recepção? – Sam sorriu de ponta a ponta. Então Castiel, o homem a quem tinha cortejado na noite anterior era o homem que esteve esperando a noite toda para conhecer.

– Ele está aqui? – Indagou Sam quase num grito.

– Acredito que sim, ele ficou de passar na minha sala e depois vim aqui – Sam estava extasiado, como aquilo era nostálgico para ele. Depois de tantos desencontros e encontros, Castiel era o cara que tanto aguardava para uma reunião de negócios, entretanto Novak havia despertado interesses maiores em Sam, e só de imaginar Castiel em sua empresa lhe deixava ainda mais ansioso.

– E onde é a sala dele? – Exasperou-se Sam levantando-se imediatamente da cadeira.

– No fim do outro corredor, mas por que todo esse interesse.... – Bobby mal terminou de questiona-lo pois Sam já estava seguindo direto para onde seria a sala de Castiel, no fim do corredor esquerdo. Assim que chegou na ponta do cruzamento entre um corredor outro, deu uma breve olhada para onde havia deixado seu filho a sua espera e fez leve aceno seguido de um sorriso, seu celular tocou, rapidamente pegou para ver de quem era o número, era seu irmão, mas antes que fosse pôr o celular no ouvido sentiu um corpo chocando-se contra o seu.... Seu celular de última geração caiu espatifando no chão.... Seu primeiro impulso foi agachar-se para pegar o aparelho, mas uma mão havia chegado primeiro.

– Mil perdões pelo seu celular.... – Era Castiel, sua mente estava perturbada para não ver quem estava lhe encarando com um sorriso simplório no rosto.

– Castiel? – Chamou Sam encarando aquela íris azul. O moreno ao ouvir a melódica voz ecoando em seus ouvidos abriu um largo sorriso, parecia brincadeira, ele só poderia estar com um azar. Primeiro foi confrontado em sua antiga sala e agora estava diante com o desconhecido da noite passada.

– Eu sinto muito por seu celular – Pediu Castiel endireitando sua coluna, o aparelho teve a tela toda quebrada, provavelmente deve ter perdido alguns dados importantes na agenda do maior. Sam pegou o aparelho e guardou no bolso do seu blazer prata, ele não se importava se tinha quebrado o parelho ou não, só queria saber de uma coisa, Castiel. Lúcio vendo seu pai conversando com o homem que viera com Jay, sobressaltou o estofado e caminhando ao lado de Jay.

– Papai – Chamou Lúcio. O moreno dera um abraço em seu filho e pediu desculpas por tê-lo feito esperar. Lúcio tagarelava dizendo que tinha conhecido um novo amiguinho, sem dar espaço para Sam por der dizer alguma coisa. Ele queria fazer, saber mais sobre aquele par de olhos que o deixara a noite toda sem dormir. 

– Então ele é seu filho? – Indagou Sam chamando a atenção de ambos que trocavam rápidas conversas. Jay segurou na barra da calça de seu pai ao notar a presença de Castiel.... O jeito tímido mostrou logo de cara que talvez aquele fosse parente do maior.... Mas pelas feições do menino, tava na cara que só poderia ser filho do cabeludo.

– Acredito que esse seja o seu filho? – Disse Novak receptivo com um sorriso encantador. Sam ficara contente pelo trocadilho, e a primeira coisa que olhou depois da breve fala de Castiel foram suas mãos, procurando alguma coisa que indicasse que ele fosse comprometido, mas não havia nem mesmo um anel de acessório.

– Pai solteiro? – Eles estavam na passagem dos corredores. Castiel o convidou para se juntar ao estofado próximo a recepção, enquanto Lúcio e Jay se sentavam no estofado, Castiel desculpava-se pela quarta vez pelo ocorrido, a combustão que Dean lhe causara tirou-lhe o folego. Sam havia dito para ele não se preocupar que mais tarde ele comprava outro.

– Sim sou pai solteiro, minha mulher morreu no nascimento de Lúcio – Novak não mediu suas palavras como sempre fazia ao tocar no assunto, na verdade, ele não sabia porque tinha dito aquilo ao estranho da noite passada.

– Eu sinto muito.... – Pediu o galanteador. Ele deu uma breve olhada para o filho de Castiel – Você tem um filho muito especial.

– Obrigado!! Mas, e quanto a você? Não vai me dizer que é pai solteiro e que a esposa faleceu – Brincou Castiel.... Sam sorriu sem tirar nenhum segundo os olhos de Castiel e o moreno já estava começando a se sentir desconfortável pelos pares de olhos do maior o olhando com certa precisão, poderia até dizer que eram como mãos nuas palpando seu corpo.

– Não.... Sim.... Não.... Quer dizer, estou no meio de um processo de divórcio, e estou lutando para ficar com a guarda do Jay – Castiel sentia muito por aquilo, mas Sam não se importava, Jay era tudo o que ele precisava e se importava, o amor para com seu filho era maior que um desgaste emocional.

– Os filhos são as coisas mais preciosas para nós – Comentou Castiel lembrando-se do compromisso que tinha marcado com seu filho – Eu preciso ir Sam, não sei se nos veremos por aí, mas foi um prazer revê-lo.

– Mas você não iria na ala do Sr. Bobby Singer, eu acabei de vim de lá, ele estava lhe aguardando.

– Depois eu falo com ele, preciso urgente sair agora –

– Então me passa seu telefone – Disse Sam pegando o aparelho quebrado, mas lembrou que ficara trucidado por um Castiel desastrado. Esses tipos de Gafes, Novak tentava ao máximo evitar para não ter sua reputação manchada, mas dadas as circunstâncias do ocorrido passado ele não tinha do que se lamentar.

– Ops.... – Castiel não pode deixar de solta uma leve gargalhada – Aqui – Entregou-lhe um cartão pessoal – Esse é o meu número.

– Posso te ligar? – Sam perguntou exaurido e mesmo que Castiel negasse ele iria ligar de qualquer forma. Ainda mais sabendo que o empregaria em sua própria empresa.

– Bom meu número está aí – Sam não podia ver a hora de conhecer mais de Castiel, de conhecer seu filho e sua vida. Sam era dono de muitos suspiros de onde passava, assim como seu irmão Dean, mas por ser sempre carismático deixava mais que uma boa impressão, seu último relacionamento não havia sido um dos melhores, e mesmo não querendo acreditar que encontraria uma pessoa que encaixasse a mão perfeitamente na sua, ele achara Castiel – mesmo sendo baixo e tendo as mãos delicadamente mais menores que a sua – ele sabia que algo em Castiel o completava.

Na antiga sala de Castiel, tinha um Dean de cara feia, impaciente de tanto lingar para seu irmão.

– Perdedor – Esbraveja Dean colocando o celular no bolso e retirando-se da sala indo para a de Bobby. Enquanto caminhava ele ouve vozes vindo da recepção e uma delas era a de seu irmão, parecia entusiasmado com a assunto, mas antes que Dean o acoitasse com palavras duras, ele ver Sr. Castiel Novak trocando risos com seu irmão. Dean ficara de longe vendo Sam ser tão legal com tudo mundo, até com um perdedor que acabara de ser despejado – Perdedores....

Dean resmunga, e resolve mandar toda aquela corja para a puta que pariu, mas um ato chama a sua atenção. Enquanto Sam despede-se de Castiel, ele estende a mão ao moreno e Sam logo leva a mão leitosa de Castiel aos seus lábios depositando um leve beijo, recheado de ternura e cortejo, Novak cora, Sam o havia pegado desprevenido, Dean vendo aquela cena sente-se cabreado pois quando o assunto era Sam Clay Winchester, o loiro abalaria céus e terras para quem quer que fosse chegar perto do seu irmão sofrer graves consequências. Isso significava apenas uma coisa: Castiel Novak estava marcado. 


Notas Finais


Obrigado para quem leu!!


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