História Safe and Sound - O dia em que eu me confessei para você

Taehyung sempre foi um bom amigo, desde o dia que eu o conheci. Para falar a verdade ele era meu melhor amigo, foi basicamente um dos empurrões que eu precisei para sair daquela depressão na qual eu me encontrava. Não foi tão fácil como parece, sair da depressão nunca é fácil. Mas com ajuda, eu consegui. Tanto ajuda de Taehyung como a de Jungkook.

Ficamos sem se falar alguns dias depois do ocorrido, eu tinha ficado magoado com suas palavras, porem tinham me feito refletir também. Eu nunca tinha parado pra pensar nessa possibilidade. Pois eu não me via apaixonado antes, maravilhado, admirado por Jungkook ser quem é mesmo com tantos problemas, mas, jamais apaixonado. O que eu não achava impossível de ser verdade. Pois eu estava com todos os ‘’sintomas’’ de alguém apaixonado.

Mesmo que a gente se visse com freqüência, quando nós nos víamos eu tinha sempre a mesma reação. Meu coração acelerava, eu ficava nervoso e mesmo se sentindo frio eu soava. Nunca sabia ao certo o que dizer para ele, e parecia que por mais que pelo fato dele estar tomando remédios fortes e estar ficando fraquinho, ainda era extremamente bonito em meus olhos.

Todos aqueles pensamentos eram novos para mim, eu não sabia ao certo o que deveria fazer. Não podia chegar em Jungkook quando eu nem ao menos tinha certeza do que sentia. O que me levou a me afastar, como Taehyung havia me dito. Ah, em falar no Taehyung, depois de um tempo nós voltamos a nos falar, ele veio me pedir desculpas e eu as aceitei. Não vi motivos para guardar rancor dele. No fundo eu entendi seus motivos, por mais que me doesse.

Em um dia em especial, algo que eu ainda não gosto de lembrar aconteceu. Mas foi ele que me levou a tirar boas conclusões.

Nesse dia, eu me arrependi de ter ignorado ele antes.

Estava jogado no sofá comendo alguma porcaria, estava passando algum filme repetido na televisão cujo qual eu nem prestava atenção.

Sabe quando vemos apenas por ver? Era assim que eu estava. Meus pensamentos estavam longes, longes e vagos. Mas fui obrigado a levantar pelo som do meu celular tocando. Com muito custo, abandonei minha preguiça e levantei para atende-lo. Gelei quando vi que era do hospital. Mais especificamente do médico do Jungkook.

Atendi afobado.

— A-Alo? — Meus lábios tremeram um pouco e meu coração estava batendo muito rápido.

— Park. Quanto tempo! Me desculpe incomodar, porem eu preciso realmente falar com você sobre... O Jungkook.

Engoli em seco.

— Pode falar Dr. Aconteceu alguma coisa com ele?

— Bom, sim e não. Sua saúde física está instável. E seu corpo está recebendo bem os novos medicamentos. Porem sua saúde mental que está me preocupando. — Franzi o cenho.

— O que quer dizer?

— Vou ser direto. Desde que o senhor parou de vir velo ele anda muito cabisbaixo e não sorri mais. Ele também anda chorando bastante, hoje em especial, nem mesmo quando pedi para as enfermeiras oferecerem algum doce para alegrá-lo ele pareceu se animar. O caso está sério. Receio ser você a causa. Sei que pode ser uma pergunta meio pessoal mas... Por que não vem mais vê-lo?

Aquela pergunta veio como um baque, embrulhou meu estomago. Eu não sabia responde-la corretamente. Eu estava querendo me entender antes de encarar Jungkook novamente, e isso era difícil.

— Tive uns problemas... — Murmurei entre a  linha. Pensar em Jungkook chorando era pior do que qualquer coisa pra mim, era horrível mais ainda pensar que eu era a causa de tudo isso. — Ele... Ele está chorando agora?

Após minha pergunta escutei um longo suspiro.

— Sim... Acho que está com saudades de você. Por isso liguei. — Foi direto. — Sei que pode ser um pedido meio extremo. Mas sei que se importa com Jungkook e quer seu bem tanto quanto eu. Sua Quimioterapia já está agendada. — Minha respiração parou por uns segundos. — E eu gostaria que ele passasse um tempinho longe do hospital, seria um problema ele passar uns dias em sua casa? Receio que isso ajudaria em seu emocional. Quero ele 100% para os exames finais. Tanto mentalmente quanto fisicamente.

— E-Eu... — Não tinha uma real razão para negar aquele pedido, e era para o bem do Jungkook. — Certo. Não será problema nenhum recebê-lo. Gosto muito do Kookie. E vai ser um prazer telo aqui.

— Jura? Que ótimo! — Pareceu se animar. Ele realmente se preocupava com Jungkook. — Pois então vou dar a noticia a ele, tenho certeza que ele ficará muito animado.

— Certo!

Eu tinha ficado muito nervoso, não sabia ao certo como agir, ou o que fazer. Jungkook estava vindo passar uns dias na minha casa e eu nem mesmo tinha estoque de comidas saudáveis que eu sabia que ele precisava. Por isso meu primeiro ato foi ligar para Taehyung e contar tudo que aconteceu, porque apesar de tudo, ele ainda era meu melhor amigo. Ele suspirou e resmungou um pouco, porem me orientou muito bem.

Apenas tinha que agir normalmente com ele, mas eu não sabia se ia conseguir agir como se nata tivesse acontecido quando obviamente tinha, e para meu medo, isso veria a tona mais cedo ou mais tarde. Depois que conversei e perguntei muitas coisas a meu amigo, outra coisa que eu fiz foi habituar a casa para um novo morador. Era estranho. Afinal eu morava nela sozinha e de repente ter alguém comigo é uma idéia estranha de se pensar, porem quando lembro que essa pessoa é o Jungkook logo torna tudo muito agradável novamente. Claro que eu não esqueci de passar para comprar umas coisas para o gatinho, pois tinha certeza que ele viria também, e eu estava ficando ansioso.

Sobre meus sentimentos eu ainda estava incerto de tudo, porem estava dando tempo ao tempo.

Não demorou muito para Jungkook chegar, na verdade eu tinha pedido para um motorista ir buscá-lo. Ele tinha trazido o gato. Eu não vou relatar essa lembrança. Pois pra mim é vaga. Jungkook me viu e não esboçou uma emoção realmente feliz. Na verdade o sorriso que ele tinha dado naquele dia não tinha sido um sorriso sincero e isso foi um baque pra mim. Eu me senti culpado. Acomodei Jungkook no quarto de hospede e novamente, como refugio. Liguei para Taehyung.

Lembro-me que o mesmo tinha me dito que nem ele saberia o que fazer em minha situação. Afinal o garoto estava estranho, e mesmo em minha presença ele não estava animado. Ficou o dia todo no quarto e não falou muito comigo, apenas acariciava o gato e negava quando eu perguntava se ele queria algo.

Parecíamos dois estranhos. Tambem me lembro que nesse dia, aquilo me incomodou tanto que resolvi tirar o jogo a limpo com o Jungkook. Não agüentava ficar daquele jeito.

Eu estava na cozinha, andava de um lado para o outro de forma impaciente. Ele estava na minha casa e eu não consiguia falar com ele, aquilo me incomodava de uma forma absurda. Nós éramos tão próximos, e eu de repente tinha me afastado dele. Tenho certeza que ele está agindo assim por causa disso.

— É minha culpa... — Murmurava pra mim mesmo me apoiando na mesa. Afundei meus dedos em meus cabelos e os joguei para trás. — É minha culpa o Jungkook estar dessa forma.

Não pode continuar assim, eu fiz a burrada, eu tenho que concertar. Porem eu não tenho nem sequer idéia do que fazer. Sinto que ele está sensível e sei que não posso falar qualquer coisa, mas não posso deixar de ser sincero. Quero esclarecer as coisas.

Com esse pensamento eu levantei da cadeira e fui diretamente ao quarto de hospedes que o Jungkook estava. Ele não tinha saído de lá desde que tinha chegado. Apenas comeu um pouco da comida que eu havia levado, mas nada a mais que isso. Bati duas vezes na porta porem ela não foi atendida.

— Jungkook?...

Suspirei mais uma vez e bati novamente na porta. Nada.

Até que resolvi entrar e dei de cara com o Jungkook deitado na cama com a cara no travesseiro, chorando. Me desesperei.

— Kook o que aconteceu? — Me aproximei rapidamente e vi ele se encolher mais na cama ainda não me olhando, agora ele abraçava um travesseiro.

— Me desculpe hyung... — Ele disse com a voz chorosa, fungou. — Me desculpe.

— Mas pelo que? O que aconteceu, hm? —  Eu já tinha me sentado no canto da cama e estava acariciando suas costas para que ele se acamasse, o que parecia estar ajudando um pouco.

— Eu não queria dar trabalho pro Hyung. Eu não queria ser esse fardo. — Ele parecia estar com dificuldade para falar por conta do choro, suas palavras apertaram meu coração.

— Jungkook você não é um fardo pra ninguém. — Disse convicto. — Nunca foi. Por que diz isso?

Ele se levantou um pouco ficando sentado com perninhas de índio, ele já estava com o pijama e a cara estava toda vermelha. Usou a manga para limpar o rosto e me olhou um pouco acanhado desviando o olhar algumas vezes.

— Eu só sirvo pra dar trabalho... — Falou baixinho, mas parecia certo de tudo que falava. Eu fiquei chocado. — Eu atrapalho você, e no fundo você só fica comigo por pena.

— O que? — Eu não acreditava no que tinha escutado, de onde ele tinha tirado isso? — Jungkook eu jamais faria isso com você, eu não fico contigo por pena, eu fico porque eu gosto de ficar. — Falei apressado, o garoto tinha voltado a chorar. E eu tava me segurando pra não chorar junto, ouvir ele falando aquilo tinha acabado comigo, então era isso que estava na cabeça dele o tempo todo... — Jungkook por favor, acredite, eu jamais senti pena de você, eu só te admiro.

 — Admirar no que? — Falou um pouco mais alto que o normal. — Eu sou só um garoto inútil que tem câncer e provavelmente vai morrer, não sei por que ainda perde seu tempo comigo. Eu deveria simplesmente morrer.

Jungkook estava soluçando de chorar e eu não consegui me conter e estava chorando tanto quanto o mesmo, como ele podia dizer uma coisa dessas?

— Não fale assim... — Me aproximei do mesmo que cobria seu rosto com as mãozinhas não querendo que eu o visse chorando daquela forma desesperada, eu também estava ficando com o rosto vermelho, pois as lagrimas não paravam de vir. — Jungkookie. — Chamei, e ele apenas murmurou em meio as fungadas. — Eu amo você.

Eu não consegui ver seu rosto direito pois ele ainda cobria, mas ele parecia um pouco surpreso, e tinha parado de chorar, estava simplesmente quieto.

— Eu realmente amo você. — Reforcei. — Voce não é um inútil, nunca foi. Pra falar a verdade... — Suspirei antes de prosseguir. — Se não fosse você, eu acho que nem estaria mais vivo.

Ele levantou um pouco a cabeça e pude observar seu olhar confuso.

— Como assim?

— Bem... — Eu estava tão receoso em contar, porem eu queria que ele percebesse o impacto que tinha feito em minha vida. — Lembra o dia em que nos conhecemos? — Ele balançou a cabeça concordando. — Eu não tinha ido para o hospital fazer exames de sangue... Eu estava lá porque tentei me matar. — Simplesmente disse de uma vez.

Jungkook arregalou os olhos e parecia ter prendido a respiração por uns segundos. Eu desviei o olhar e fitei qualquer ponto.

— Eu nunca gostei muito da minha vida, não até você aparecer. Mas eu não sei se eu me arrependo de ter feito o que fiz. — Fiquei uns minutos em silencio e Jungkook nada estava dizendo. — Porque eu pude conhecer você por isso. E você foi a melhor coisa que me aconteceu... — Agora eu estava olhando para minhas mãos enquanto eu falava. — Então eu... Realmente te amo.

Eu não sabia ao certo o que esperar, mas senti uma movimentação estranha na cama, e quanto olhei para o garoto, ele estava se sentando ao meu lado, eu não sabia se o vermelho em seu rosto era resultado do choro, ou ele estava com vergonha. Acho que era os dois.

— Eu também amo você, Ji. — Falou tão baixo que se ele não estivesse ao meu lado eu não teria escutado. — Igual o Simba ama a Nala. — Brincava com os próprios dedos em um claro sinal de nervosismo e seus pés que estava para fora da cama iam para frente e para trás. Fofo como sempre.

Meu coração estava batendo muito rápido, e eu quase conseguia escutar o dele. E saber que ele gostava de mim da mesma forma por meio de uma comparação tão adorável me deixou muito feliz.

Eu vagamente olhei para o lado e ele me olhava, se assustou com a minha encarada repentina e desviou o olhar pela vergonha, mas eu não estava mais controlando meus atos, então apenas elevei minhas duas mãos até seu rosto o fazendo me olhar. Seus olhinhos grandes e brilhantes pelo recente choro me olhavam tão intensamente, e eu receio estar o olhando da mesma forma. Sua respiração estava rápida e ele parecia muito nervoso. Meio instintivamente ele estava se aproximando e eu também.

Quando eu me dei por si, tínhamos fechado o olho, e eu pude sentir o toque dos seus lábios nos meus, em um doce e carinhoso beijo.