Foi quando eu estava procurando pelo outono que acabei chegando em casa
Tudo era azul, cinza e morto e eu me sentia em paz. O frio não me incomodava de forma alguma. Muito pelo contrário, ele me abraçava.
E foi por aquelas ruas tão solitárias e familiares que eu me vi, pela primeira vez, acompanhado.
Nunca achei que fosse encontrar alguém mais problemático, fechado e calado do que eu quando meus olhos de neve pesaram sobre as estacas de Do Kyungsoo.
Ele era como eu, cabelos negros, os olhos fundos, lábios em uma linha dura e ressecada, os braços brancos e pálidos marcados por aquelas rachaduras finas e, agora, secas.
Nos ignoramos todas as vezes que nos encontramos, todas as vezes que nos olhamos.
Éramos inverno e essa estação não se importa muito se você está se sentindo confortável ou não. Por que deveríamos?
Mas eu não sei, realmente, o que aconteceu quando ele veio até mim e me encarou muito perto, analisando bem o meu rosto.
Naquele dia ele me perguntou por que um filho de inverno tinha a pele queimada de sol e uma folha morta nos cabelos.
Eu só respondi que não era da sua conta e fui embora.
Minhas marcas pelas outras estações não interessavam a ninguém a não ser a mim mesmo. Ele não tinha sequer que perguntar por aquilo, então por que tinha aberto aquela maldita boca e me feito lembrar aqueles últimos meses?
Eu tive uma tempestade gélida naquela noite e quando a água virou garoa percebi que Kyungsoo estava bem ao meu lado, ensopado e com aqueles olhos opacos sobre mim. Mas os lábios tinham um formado curvado para cima, levemente.
E foi aquela rachadura no gelo dele que me fez rachar o meu.
Não nos tocamos uma única vez, só sentávamos um ao lado do outro e conversávamos.
Eu tinha me apaixonado pela dor, pelo sofrimento e martírio que ele tinha por si. Por como ele não conseguia sair da própria miséria e nem queria.
Kyungsoo estava apaixonado demais em seu sofrimento e eu só tinha olhos para ele agora.
Enquanto não disséssemos nada caloroso nosso gelo estaria intacto e permaneceríamos ali, perfeitas estátuas. Intocáveis.
Mas eu já tinha visto o calor e a chuva refrescante, o sol e as cores vivas morrendo.
Eu não conseguia mais ser pedra de gelo, mudo.
A minha estação não precisou acabar para que Kyungsoo fosse embora.
Eu não era mais inverno, tinha me transformado em uma coisa estranha demais para os meus entenderem; e duvidoso demais para que o Kyungsoo conseguisse ficar perto de novo. Ainda mais depois que eu cheguei tão perto daquele detalhe esculpido em seus lábios, me lembrava alguma forma doce e serena que eu conheci nos meses antes, mas não lembrava mais qual era o nome.
Era algo envolvendo sentimentos e o inverno, como eu disse, não se importava com aquele tipo de coisa.
Por isso eu sabia que tinha me perdido e por isso eu soube que no primeiro dia que Kyungsoo não foi se sentar naquele banco e nem apareceu por perto eu tive a certeza que ele nunca mais apareceria
Mas eu continuava a ir mesmo assim, por que assim eram os filhos do inverno
Nós apreciávamos a dor, o sofrimento. Apreciávamos fazer o outro sofrer e se martirizar.
E eu cumpri aquilo por Kyungsoo, para que a natureza dele continuasse a mesma e ele não se tornasse algo bagunçado e estranho como eu era agora.
Ele apreciou minha longa jornada silenciosa e sozinha
E eu, pela primeira vez, senti frio.
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