História Salted Wound - Return

Seattle, USA – 24 de Setembro de 2014
 

Addison

  Acordei com o som das notícias, eram sete da manhã e Seattle estava nublada como de costume, olhei para o lado e não encontrei o Lauro deitado ou suas coisas pelo quarto, provavelmente teve que ir mais cedo para o hospital, me levantei da cama e fui direto para o banheiro, dentro de meia hora já estava pronta para sair, mas hoje eu tomaria café da manhã no hotel com a decoradora para acertar alguns detalhes. Desci e encontrei uma mulher baixa vestida em um terno cinza que sorriu ao me ver, devia ser ela.

 - Bom dia, sou Carey Mitchen, a decoradora de interiores – ela se apresentou formalmente me estendendo a mão.

 - Bom dia, Addison Greyson, mas por favor, só Addison – eu disse lhe cumprimentando e oferecendo um sorriso acolhedor – Vamos? – perguntei apontando para o local do café da manhã.

 - Sim, temos um longo trabalho pela frente – ela disse e nos direcionamos à uma mesa.

 - Então, Addison, eu fui no seu apartamento, e tirei algumas medidas para fazer o projeto de decoração, mas antes de tudo temos que entender o seu estilo, as cores, móveis e outros detalhes – ela tagarelou e eu assenti dando um gole no meu café.

- Não quero cores alegres e vibrantes, quanto mais claro para mim melhor, talvez um toque de cinza ou um azul em algum cômodo, no meu quarto quero tudo branco, com um ou outro detalhe com cor, fora isso, um pouco de rústico também acho que cairia bem, na sala por exemplo, eu quero que minha casa seja prática, principalmente a minha sala de livros, que eu tenho muitos que estão chegando – eu resumi.

 - Bem, vai ser algo menos trabalhoso então, vou planejar tudo e entro em contato ainda nessa semana pra te apresentar algumas amostras – ela disse e eu sorri agradecida.

 - Ótimo – nos despedimos e eu peguei meu carro indo para o hospital.

  Estava pensativa sobre o que conversei com a Jesie ontem, o Justin vai ficar furioso quando descobrir, isso é só uma questão de tempo. Eu queria poder falar pra ele, não é justo com ele, isso também vai afetá-lo. Pensar nisso me dá calafrios, e me lembrar que ele ainda não desistiu de me ver me deixa mais nervosa ainda, eu não quero ter que mentir pra ele, mas não posso quebrar meu sigilo com a Jesie, e ao mesmo tempo, se algo acontecer com ela e o Justin souber que eu estava ciente da gravidez, ele vai me odiar. Perdida nesses pensamentos entrei no hospital e realizei algumas cirurgias, conversei com o Lauro e ele viu que eu estava meio alheia ao assunto.

 - Dra. Greyson – escutei uma enfermeira me chamar, estava no refeitório terminando meu almoço – o Dr. Webber solicitou sua presença, me acompanhe, por favor – ela pediu e eu fiz uma careta olhando para o Lauro que me olhava com intrigado. Me levantei e acompanhei a enfermeira e vi o Dr. conversando com alguém que não identifiquei de primeira, e assim que o fiz, quis sumir.

 - Addison! Estava ansioso para encontrá-la – o Dr. Webber se pronunciou ao colocar os olhos em mim e eu engoli seco encarando a silhueta que estava ao seu lado, que droga! - Queria te contar as novidades, temos um novo integrante na nossa equipe, e pelo que conversamos, ele me disse que conhecia você de onde moravam, então pensei que seria uma surpresa muito agradável – ele concluiu e senti minhas pernas ficarem bambas e eu quis desfalecer mas me aguentei firme.

 - Oi amor – ele finalmente falou, seja forte Addison.

 - Oi Mark – falei estendi a mão para ele, porém ele me abraçou no meio do saguão do hospital, e o ouvi suspirar.

 - Estava com tanta saudade de você, meu anjo, precisamos ter uma conversa – ele disse se afastando e segurando o meu rosto em suas mãos me olhando com intensidade através de seus olhos azuis.

 - Claro, Dr. Webber se não se importa, terei um momento para conversar com o Mark, já adiantei grande parte das atividades pela manhã, obrigada pela consideração - eu disse educadamente, mas querendo esganar qualquer um que se pusesse me minha frente, estava extremamente irritada.

 - Está mais bonita do que nunca – Mark comentou atrás de mim e eu revirei os olhos, estávamos indo em direção à minha sala, eu teria uma conversinha com ele. Entramos e fechei a porta trás de mim, quando me virei o encontrei sentado em uma das poltronas em frente à minha mesa.

 - O que você está fazendo aqui, Mark? – perguntei de pé com os braços cruzados e com o pé batendo incessantemente.

 - Que tipo de pergunta é essa? Eu quem deveria te perguntar o que veio fazer nesse lugar! – ele estava com uma expressão incrédula e decepcionada – Eu chego de viagem, com saudades da minha namorada, e quando chego ela sumiu, não atende as minhas ligações ou responde minhas mensagens, não está no hospital ou no apartamento, por que fez isso comigo? – ele perguntou e eu me senti culpada em partes, ele estava certo em sentir decepção.

 - Mark, nós terminamos, você queria dar um passo muito maior que eu não estava preparada, você transou com metade da população feminina daquele hospital!

 - Eu estava deprimido! – ele gritou – O que queria que eu fizesse? Chorasse e implorasse pra você não me abandonar? – ele se pôs de pé.

 - E o que você queria que eu fizesse, Mark? – coloquei as mãos na cintura – Que eu relevasse? “Ah está tudo bem, o Mark só está transando com todo mundo porque está deprimido, coitado” – fiz aspas com as mãos – Você viajou e me abandonou, me deixou sozinha e doeu muito, apareceu uma boa oferta de emprego aqui pra mim e eu queria me afastar pra não sofrer mais, eu sei que devia ter te ligado e errei nisso, mas não venha dizer que eu fui a única culpada por essa situação! Aliás ainda estou sem entender o que faz aqui já que está tão decepcionado comigo – terminei de falar e tentei respirar fundo.

 - Eu estou aqui porque te amo, Addison, amo muito, eu sempre amei, e eu sei que estou errado, por ter te pressionado tanto com essa história de casamento, eu só fui muito inseguro sobre seus sentimentos, me desculpe, eu estou aqui porque não quero desistir de nós, eu não estou pronto – ele disse e eu fiquei perturbada com o que ele disse, que droga Addison, será que as coisas ainda podem ficar pior?

 - Mark – o chamei fazendo que olhasse em meus olhos – Nós demos um tempo e você saiu com várias pessoas, você me abandonou, eu segui com a minha vida e você com a sua, não posso me casar com você ou com qualquer outra pessoa, você sabe que eu não sou disso, de compromisso sério, morar junto e coisas assim, eu sou uma pessoa muito particular e eu sei que o que eu te ofereço não é suficiente, você é um cara incrível, que iria me fazer feliz, mas e quanto à você? Se sentiria feliz comigo assim, do meu jeito?

 - De qualquer jeito que você quiser, Addison, eu só quero ter você pra mim, se você não quer se casar, tudo bem meu amor, quem sabe mais na frente, tudo o que eu quero é que você não me deixe novamente – ele pediu me segurando pelos ombros.

 - Calma Mark – eu o abracei, apesar de não amá-lo como amo o Justin, eu sinto algo por ele – Senti sua falta, me desculpe por ter ido embora – eu disse baixinho e ele me beijou levemente e seu paige bipou.

 - Bem, agora eu tenho que trabalhar, te vejo à noite? – ele se afastou sorrindo e eu assenti vendo ele sair pela porta que antes já estava aberta. Caminhei em volta da mesa em direção à minha cadeira confortável quando da porta se fechando bruscamente.

 - Que porra é essa, Addison? – escutei a voz do Justin e me virei pra ele assustada.

- Que porra é essa digo eu! Você tá maluco? Entrando assim na minha sala fazendo barulho, você está em um hospital! – gritei com ele me colocando de pé.

 - Não se faça de santa que eu vi você com aquele médico! – ele apontou o dedo na minha cara. E eu quis rir na hora, sério isso Justin?

 - Sim, você viu, e aquele médico se chama Mark, e ele é o meu ex namorado, que apareceu aqui de repente, e eu estava tendo uma conversa com ele – falei cruzando os braços.

 - Parece que não é mais um ex não é? – aquilo foi o cúmulo! Quem ele pensa que é? Ele é noivo de outra mulher.

 - Quem sabe, Justin. Mas que eu saiba isso não é da sua conta, o que foi? Você está com ciúmes? Eu não tenho direito de ter ciúmes de você ou te privar de ver outras pessoas, você é noivo! Então se você pode ter outro alguém, eu também posso – eu disse e ele ficou possesso.

 - É diferente Addison! Você sabe que eu não posso terminar um noivado do dia pra noite!

 - Não pode ou não quer? Justin você não me engana ou qualquer outra pessoa, se você realmente quisesse terminar seu noivado agora, uma palavra bastaria! Como você disse, você não sabe o que quer, então faz assim Justin: tenta descobrir sozinho enquanto eu aproveito a minha vida – tomei ar olhando dentro dos seus olhos - Porque eu sei o que eu quero! O que eu quero está parado na minha frente, mas eu sei que não depende só de mim! – terminei de falar e ele permaneceu estático absorvendo tudo o que eu disse.

 - Eu entendi Addison, vou deixa-la em paz – ele disse e saiu me deixando boquiaberta.

  A minha cabeça girava e eu me sentia tonta em meio à tantos problemas, Jesie grávida e esconde a gravidez de risco pro Justin, Justin me perturbando, e agora o Mark. Apesar dos meus sentimentos por ele não serem mais intensos do que eu sinto pelo Justin, ele ainda está lá, bem no fundo. Ele sabe da história com o Justin e foi meu melhor amigo por um bom tempo, ele cuidou de mim e me fez superar de vez o Justin, ele é o cara certo, e eu devo ficar com ele, mas como sempre, o Justin ferra com a minha vida.

 - Vamos? – Mark me chamou, eram nove horas, o céu estava escuro e nublado, íamos jantar e conversar, eu usava uma roupa simples e formal e ele da mesma forma, iriamos direto do hospital.

 - Vamos – eu disse, entrei em um carro que ele alugou e me sentei em silêncio.

 - Está tão quieta, o que houve? – ele perguntou ao parar no sinal.

 - Nada, só pensando -  eu disse e não demorou muito para chegarmos a um restaurante fino mas reservado – Já aprendeu andar aqui? Tão rápido.

 - Addison, faz um mês que estou aqui – ele disse e eu quase engasguei com o vinho que tomava.

 - O quê? Como? Porque só me procurou agora? – perguntei exasperada.

 - Eu não queria assustá-la, assim que soube da sua partida vim o mais rápido que pude, eu sabia em que hospital estava e tudo mais, mas eu quis te dar espaço, eu me lembro de quando me pediu um tempo, e eu te dei esse tempo, porque me importo com você, mas estou exausto nessa cidade sozinho, sinto muito a sua falta, então vi que não podia esperar mais – ele disse e eu não pude forma qualquer pensamento coerente, eu não merecia o Mark, ele me amava tanto, e eu não tratei como ele merecia – Me dê uma chance Addison, você sabe que eu sou o certo pra você.

 Ele disse e eu assenti calada, então ele sorriu e vi um brilho nos seus olhos que esteve escondido esse tempo todo que estávamos aqui, então ele pegou a minha mão direita e encostou os lábios suavemente, eu senti sua alegria irradiar de seu corpo, era contagiante, naquele momento eu me senti verdadeiramente bem, o Mark voltou pra mim.