História Salvation - Fundo do poço e Camila

Meus dedos apertavam suavemente as teclas do piano preto á minha frente. As lágrimas caiam livremente por meus olhos, molhando todo meu rosto. Silêncio. Minha casa agora estava um completo silêncio a não ser o som do piano onde eu estava tocando. Geralmente ás pessoas tocam quando estão inspiradas, ou quando querem mostrar seu talento a alguém. Eu não quero nada disso. Eu quero apenas mostrar a minha dor, quero que Emeraude me ouça de onde estiver. A mulher que tanto amei não estava mais comigo.

- Porque, Emi? Porque me deixou tão cedo? – Eu queria gritar. Queria xingá-lá e exigir que ela voltasse, mas não era bem assim. Eu sabia que se fizesse isso, ela não voltaria. Não por eu ter gritado com ela, mas sim, porque minha esposa estava morta.

***

- Vamos lá, Laur. Você não come direito faz días. Prometo que se comer apenas um pouco desse macarrão não encho mais o seu saco. – Ally juntou as mãos e fez um bico. Eu acharia fofo e sem duvidas sorriria, se, estivesse atenta ao que estivesse acontecendo ao meu redor. Eu apenas ouvia, mas parecia tudo ligado no aleatório. – Lauren? Por Deus, estou falando com você!

- Desculpe, Ally. – Ergui os olhos apenas para fita-lá – Estou sem fome, obrigada.

- Você sempre está sem fome ultimamente. Coma agora ou vou ser obrigada a chamar Demi.

Demi. A única que conseguia me fazer ouvir algumas coisas do mundo real, quando aos berros ela me chamava atenção.

- Por favor, Ally, apenas me deixe quieta. Prometo que quando estiver com fome, irei comer.

- Tudo bem. – Suspirou derrotada. – De qualquer forma, eu e as meninas estamos indo para casa, Luna já está dormindo faz alguns minutos e... Laur?

- Sim?

- Não deixe de dar atenção á sua filha. Luna ainda é um bebê que não sabe nada sobre a vida. Ela precisa de você e tenho certeza que você também precisa dela.

Apenas assenti para a minha amiga. Eu sabia que minha filha precisava de mim, mas eu mal conseguia me cuidar, como cuidaria dela agora? Mas tenho que fazê-lo. Luna é a única coisa que tenho agora.

Depois que as meninas se desperdiram, parei de tocar e subi até o quarto de Luna. Minha pequena filha estava num sono gostoso. Com calma a peguei em meus braços, levando até o meu quarto. Luna agora dormiria comigo. Deitei seu pequeno corpo em minha - enorme – cama e logo me ajeitei ao seu lado.

Na manhã seguinte, acordei com alguns resmungos. Olhei para o lado apenas para encontrar grandes olhos castanhos me fitando atentamente. Eu sorri. Era impossível não sorrir ao dar de cara com o bebê mais lindo. Luna soltou outro resmungo, como se quisesse me chamar atenção, já que eu á fitava atentamente.

- Bom dia, little Bae.

Fiquei uns bons minutos com Luna na cama. Eu tentava a todo custo me distraír e distraír minha filha, já que Luna sempre acordava e ia direto para os braços de Emi, que era quem alimentava nossa pequena ao acordar.

Depois de alimentar e dar um banho em minha filha, não tardei a fazer o mesmo comigo para ir trabalhar. Luna ficaria com a minha mãe e eu só á buscaria hoje depois das oito. Arrumei suas coisas, e não demorei para sair de casa.

(...)

3 semanas depois.

- Lauren, olhe pra mim, para mim! – Demi segurava meu rosto em suas mãos, enquanto tentava me acalmar. Depois de alguns dias e eu achava que estava conseguindo lidar com a morte de Emeraude, mas ai tudo desabou outra vez.

Meus dedos passeavam pela fotografia em cima da comoda em nosso quarto. Ás lágrimas não paravam de cair, e então eu surtei. A dor que eu sentia era pior do que qualquer dor física. A dor em meu peito me deixava ser ar. Eu queria encontrar Emi, queria ter ido em seu lugar. Eu nunca iria suportar essa dor. Eu nunca iria conseguir cuidar da minha filha sem Emi ao meu lado.

- VOLTE, EMI! VOLTE PRA MIM! VOCÊ NÃO PODERIA TER ME DEIXADO. VOCÊ PROMETEU QUE ERA PRA SEMPRE... Você prometeu.

Caí de joelhos no chão e gritei. Gritei e deixei aquela dor desvanecer.

- VOLTE! EU PRECISO E VOCÊ, EMERAUDE. – Minhas mãos tremiam tanto, que, eu mal consegui arremeçar o quadro que estava em minhas mãos, na parede.

Minha visão estava embaçada e tudo o que eu via agora, era uma pessoa deseperada - além de mim – tentar me acalmar.

- Não é assim que você vai superar essa perda, Lauren. Não é dessa forma, que, você vai cuidar da sua filha.

Minha filha. Minha Luna.

- Minha filha. Eu quero minha filha, onde ela está? – Levantei-me num salto, tirando as mãos de Demi de meu rosto e analísando todos os cantos em busca de minha Luna.

- Luna está com a sua mãe, Lauren. Você esqueceu que deixou-á para ir trabalhar, hoje mais cedo? – Dei de ombros e ouvi Demi suspirar. Minha melhor amiga aproximou-se mais uma vez e sem que eu esperasse por aquilo, Demi me abraçou. Seus braços rodearam meu corpo e eu me deixei chorar. Meu corpo tremia de uma forma assustadora. Mas eu precisava.

- Shhh. Chore, chore e jogue tudo para fora.

- Eu não vou aguentar, Demi. Eu não vou suportar viver sem Emi. Eu não consigo olhar para cada canto desta casa e não me lembrar da minha esposa. Eu quero seguir, quero ser forte pela minha filha, mas eu não consigo.

- Eu quero te ajudar, Laur. Mas tem que me prometer que vai me ouvir primeiro.

Afaste-me de seu abraço apenas para fita-lá.

- Ajude-me. – Eu não pedi. Eu implorei.

Demi, com calma sentou-se comigo na ponta da cama, esperou que eu me acalmasse e começou...

- Primeiro de tudo, você tem que dar mais atenção a Luna. Lauren, quero que entenda, que sua filha não tem noção de nada. Ela é apenas um bebê de seis meses que precisa da mãe. Sei que você ainda não está preparada para enfrentar muita coisa, mas ao menos enfrente a realidade, e cuide da minha afilhada.

- Eu amo a minha filha, Dem. Amo Luna com todas as minhas forças, jamais abandonaria ela.

- Você á está abandonando sem ao menos perceber. Eu e as meninas não te chamamos atenção ainda, porque sabemos que não está sendo nada fácil. Mas agora mais do que nunca, Luna precisa de você, assim como você também precisa dela. – Demi segurou minhas mãos deixando um carinho nas costas das mesmas. – Siga em frente.

Seguir em frente.

(...)

As semanas se passaram depois da minha conversa com Demi. Na primeira semena eu estava indo mais do que bem, até tinha saído de casa com Luna para um passeio até a casa de meu irmão mais velho. Então na segunda semana, tudo pareceu desabar outra vez.

Primeiro, eu surtei vendo algumas fotos de Emeraude nas nossas caixas de recordações. Depois surtei quando achei uma fita onde Emi conversava com sua barriga, quando Luna ainda estava em seu ventre. E aí as coisas perderam o rumo. Luna não estava mais dormindo comigo. Agora eu tinha pesadelos todas as noites. Acordava desesperada atrás de Emi, e quando via que ela não estava ao meu lado, as coisas se complicavam.

Minha mãe passou a ficar comigo até que as coisas melhorassem, mas eu sabia que isso não iria passar. Todos os dias eu surtava. Todos os dias eu me trancava no quarto e chorava até que minhas lágrimas secassem. E então veio a depressão.

CAMILA POV (3 de Março de 1992)

Eu estava ali. Eu estava apenas esperando a hora certa para chegar. Vinte e três anos de espera e, finalmente eu estava ali.

A terra era estranha. Mas não era um estranho ruim, só as pessoas que eram diferentes. Se eu não era uma pessoa? Claro que sim. Eu sou um ser humano faz algumas horas. Antes dessas horas, eu era um anjo. Um anjo que lutou para estar aqui na terra e lutar para fazer uma pesssoa feliz.

Emeraude me encontrou. Ela disse que confia em mim para que eu cuide de Lauren, mas... Eu não sei quem é Lauren. Emeraude disse que eu vou saber na hora certa, e, que quando chegar essa hora, Lauren também irá saber. E eu só espero que dê tudo certo.