História Salvation - Perder você

Katherine point of view

   03:08am

O fim da noite foi legal, passamos o resto dela contando histórias de infância e constrangedoras. Podia jurar que eu era uma garota normal, não uma máquina de pagar mico como todos os outros. Depois deixá-los na porta voltei para o meu quarto e tive uma surpresa ao abrir a porta, havia uma pequena caixa em cima da cama com um embrulho de presente.

   Provavelmente alguém esqueceu.

   Ou não.

Uma batalha mental se forma na minha mente, mais minha curiosidade fala mais alto, obviamente. Pego a caixa sorrindo imaginado se não pudesse ser um presente do Shawn, ou mesmo da Debbie tanto faz. Desfiz o laço com um pouco de dificuldade e sinto lágrimas molharem todo o meu rosto. Não estava acreditando no que estava vendo.

   Um coração humano.

O grito é inevitável e a curiosidade dos outros também, não demora para que Shawn e Kenna entrem no quarto.

― O que aconteceu aqui? ― Kenna perguntou.

Eu não conseguia dizer uma palavra e por mais que quisesse abraçá-la eu não conseguia mover minhas pernas. Minhas mãos tremiam e comecei a soar frio. Meu coração estava a mil por hora. A caixa cai da minha mão fazendo o que tinha dentro se espatifar no chão, assim como eu Kenna solta um grito ao ver mais Shawn olha pra coisa pasmo, está branquinho igual a um papel.

― Oh meu Deus... ― Kenna sussura ― Quem mandou isso Katherine?

As palavras sobem em minha garganta mais ficam lá, eu queria gritar de novo e de novo até aquilo acabar.

― Ela está em estado de choque ― conclui Shawn ― Mas... espera, tem um papel aqui.

Enquanto Shawn se abaixa para pegar o tal bilhete Kenna me guia até a cama e me deita lá, obedeço os comandos dela ainda não acreditando no que acabara de acontecer. Isso só podia ser um sonho ruim, tem que ser.

― Não! ― Shawn murmura e olhamos pra ele ― Aaron, está escrito Aaron Carpenter.

   **

Aaron Carpenter foi encontrado sem vida em uma estradinha de terra no fim da cidade, o assassinato é um mistério para a polícia, os investigadores não sabem por onde começar mais eu sei.

   Will.

Hoje era o dia do enterro e eu mal conseguia mover meus pés, eu não era tão próxima de Aaron mais ele morreu por minha culpa, e todos os outros eram próximos dele. Acho que é o máximo que eu posso fazer, me afastar ou morrer para que tudo acabe de uma vez. E eu pensando que um dia ele iria esquecer tudo isso, me deixar se feliz. Mas Will é um louco, deveria estar atrás das grades.

― Podemos ir? ― Karen perguntou fazendo-me erguer o olhar em sua direção

― Claro ― Kenna responde e olha pra mim ― E onde está o Shawn? Não o vejo desde do dia em que...

― Querida, o Shawn está bem. Ele deve estar com os amigos ― Karen responde com os olhos fixos na estrada ― Não se preocupem.

Kenna murmura um "ok" e pende a cabeça para trás, ouço-a suspirar alto mais um barulho irritante faz com que eu perca o foco, meu celular. Pego o treco de dentro da bolsa e leio "vó" no visor.

― Katherine! ― ela grita e eu rio ― Esqueceu da sua avó?

― Ai vovó, não fale assim ― ironizo ― Está tudo bem por aí? E o vovô?

― Sim meu doce está tudo bem. Ficamos sabendo do seu amigo ― ela disse com a voz triste ― Eu sinto muito.

― Eu sei ― sussurro ― todo mundo sente.

― Mas seu pai me disse que você está flertando o primogênito da Karen ― ela diz alto, o que fez Kenna rir.

Percebo que estamos em frente ao cemitério, que está mais do que lotado para um enterro normal... mais pensando bem ele era um garoto tão adorável. A população inteira deve ter se revoltado com essa morte trágica, e também comigo.

― Vó? ― chamo-a ― Eu estou pensando em passar uns dias com vocês.

Karen olha pra mim mas logo desvia o olhar para o retrovisor do carro e solto um suspiro longo.

― Tudo bem, eu vou adorar e quero que traga seu amiguinho o Shawn. É esse o nome dele?

― Sim, tenho que desligar agora. Eu juro que te ligo mais tarde... eu te amo vó.

   (...)

Todos estavam arrasados, dava para saber pelo vazio da casa. O silêncio era simplesmente horrível, fazia lembrar que tudo era minha culpa. Não foi fácil encarar todos essa manhã, não foi fácil encarar a família de Aaron me olhando com ódio. Mas o que realmente partiu meu coração foi ver Shawn chorando, isso me fez sentir o pior ser humano do mundo.

   Minha culpa.

Kenna estava na casa de Cameron para dar apoio, Catherine com Nash. Por mais que eu quisesse estar com Shawn nesse momento eu não posso, por a vida dele em risco assim como pus a de Aaron seria demais para mim. Talvez eu não consiga suportar perde-lo.
Subo as escadas silenciosamente, tudo nessa casa me faz lembrar de como Aaron era um garoto feliz e super descontraído. É como se estivesse ouvindo a risada dele ecoando por toda a casa, o sentimento de culpa ecoava em mim.

Quando dei conta já estava chorando de novo. E tudo só piorou quando passei pelo quarto de Shawn e a porta estava entreaberta, pensei em entrar, é claro que pensei. Mas pensei também que ele precisa de tempo para saber que eu não sou o bem. Só existo para causar um inferno na vida das pessoas, sou uma ameaça a todos.
Meu celular começa a tocar descontroladamente, hesito em pegar por alguns instantes mais assim que entro em meu quarto desbloqueio o mesmo e me arrependo profundamente de tê-lo feito quando leio as mensagens do meu provável admirador nada secreto e psicopata.

   Numero desconhecido: Você vive toda uma vida, apenas para ter seu coração despedaçado de tal forma.

  
Havia uma foto de Aaron amordaçado e amarrado em uma cadeira, dava pra ver o pânico em seus olhos e o sofrimento também. Meus olhos estavam marejados e eu sequer conseguia mover os pés, continuava olhando a foto como se a qualquer momento Aaron aparecesse ali para dizer que tudo era uma brincadeira e ele está muito vivo. Mas não. Infelizmente tudo isso é real.
Só retomo os sentidos quando o celular apita mais uma vez com uma nova mensagem.

   Número desconhecido: Esse foi só o começo, mais o engomadinho Mendes... irei cortá-lo em vários pedaços e mandá-lo pra você.

Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa um barulho de algo quebrando chamou minha atenção e vinha de um dos quartos. O barulho se alastrou até que eu entrasse em pânico quando me lembrei que só Shawn e eu estávamos em casa.

Começo a entrar em pânico quando o barulho se repete várias vezes e parece cada vez mais alto. Sem ao menos pensar corro para fora do meu quarto e dessa vez a porta do quarto de Shawn estava trancando. Bato educadamente na porta mais não há respostas, o pânico em mim só aumenta. Quando me dou conta eu estou quase derrubando a porta de tanto socá-la.

― SHAWN! ― grito com a voz embargada pelo choro, que droga.

A porta se abre e controlo o impulso de me jogar em cima dele. Apenas o analiso, ele estava com uma tonalidade mais vermelha do que achei ser possível, os olhos extremamente arregalados, alguns fios de cabelo grudados no rosto por conta do suor e um corte profundo na mão direita.

― O-oque aconteceu aqui? ― perguntei analisando o cômodo, nada fora do lugar exceto um retrato que estava despedaçado

Entro no quarto agarrando-o pela mão e indo direto para o banheiro.

― Shawn, eu sinto muito pelo Aaron. ― digo enquanto procuro os curativos. ― O que você estava fazendo?

― Eu...não sei. ― responde com a voz entrecortada ― Eu o conhecia desde pequeno.

Um sorriso triste se fornou em seus lábios mais logo sumiu, sua expressão estava neutra embora pudesse ver a tristeza estampada em seu rosto, e isso estava me quebrando.

― Precisamos de um banho ― concluo enquanto me analiso no espelho e olho para o cara sentado no chão ― Vai, depois eu faço o curativo.

― Eu não preciso de uma babá ― ele ri sem humor.

― Vai Shawn. Agora!. ― digo firme e ele arqueia a sobrancelha.

Saio do cômodo deixando-o sozinho, não seria ruim vê-lo tomar banho mais alguém precisa limpar a bagunça que ele fez.

   **
Entro no banheiro depois de alguns minutos, e encontro Shawn com as mãos apoiadas na pia, a camisa preta ensopada em cima da pia enquanto ele encarava o próprio reflexo no espelho. Os olhos avermelhados e lacrimejados.

― Eu não queria que fosse assim ― digo atraindo sua atenção ― não quero que seja assim com você.

― E vai fazer o quê? ― ele ri pelo nariz ― Vai ir embora? Acha que indo embora fará alguma diferença Katherine? Ele virá atrás de mim de qualquer jeito.

Aquelas palavras estavam me matando, cortando mais do que uma faca. Podia ver o ódio no olhar dele assim como os pais de Aaron.

― Eu... não sei o que faria se você fosse embora ― diz me encarando ― acho que iria enlouquecer.

― Não sei o que faria se Will fizer algo contra você, Shawn. ― suspiro e ele faz o mesmo. ― Não sei o que sou capaz de fazer, não quero perder você. Nunca.

Caminho lentamente até ele, ouvindo apenas nossas respirações calmas ecoando por todo cômodo. Passo meus braços ao redor de sua cintura e apoio minha cabeça em suas costas deixando seu cheiro gostoso invadir minhas narinas, sua pele gélida acaba ficando mais quente. O silêncio tornou-se uma coisa gostosa de se ouvir, não me atreveria em quebrá-lo agora. Mas ele não pense da mesma maneiro, eu acho.
Shawn ri balançando a cabeça negativamente enquanto o solto.

― Eu acho que... ― ele diz me encarando ― Acho que eu te amo.

   Uou.

Ignoro o roubor e sorri provavelmente um sorriso maior que a Rússia, não necessariamente todo esse tamanho mais quase. Meu coração está prestes a pular para fora e gritar bem alto pra todos os seres humanos da Terra escutarem a loucura que estou prestes a dizer.

― Eu... acho que eu também te amo e...

   Shawn sequer me deu chance de  terminar a frase, um segundo depois nossas bocas estão grudadas e ele prensa meu corpo contra a parede enquanto sinto uma chama se acender dentro de mim. É como se eu realmente estivesse pegando fogo.

   Eu não acho que te amo.

   Eu tenho certeza!

Luto contra os instintos do meu corpo para afastar Shawn e encerrar o beijo, afinal sabemos exatamente onde isso poderia parar.

― Shawn... ― sussurro enquanto o empurro de leve ― É melhor pararmos por aqui, certo?

― Sério? ― ele franze o nariz e eu dou um tapa em seu braço ― Outch! Ok, Katherine Marie. Doeu!

Ele diz massageando levemente o braço e eu rio alto batendo-o novamente no mesmo lugar.

― Eu odeio você ― ele diz rindo.

― Eu acho que não hein... ― digo jogando meus cabelos para o lado e ele bufa.

― Queria mostrar uma coisa.

Saímos do banheiro e eu me jogo na cama de Shawn enquanto ele pega o violão. O desgraçado senta bem na minha frente e o maldito sorriso estampa em seu rosto fazendo com que eu perca todos os meus sentidos.

― Shawn Mendes, Crazy:

Acho que não preciso de um relógio para saber a hora
Acho que não preciso do sol para me ajudar a brilhar
Acho que não preciso de uma garota para ficar bem
Acho que não sabia

A cada palavra sua voz tinha uma intensidade diferente assim como cada vez que nossos olhares se encontravam.

Achei que não precisava de sapatos nos meus pés
Achei que não precisava de uma cama para dormir
Achei que não precisava de amor para ser completo
Acho que não sabia

Seu olhar só desviava de mim quando o ritmo se intensificava e ele tinha de se concentrar mais no violão.

Que eu tive esse sentimento maluco
De que estou fazendo alguém esperar por mim
Por mim
Eu só penso em você quando estou acordado
Partes de todas as noites e todos os dias
E tudo é uma bagunça quando você está longe
E agora eu sei

Tudo isso é bom e muito antigo
Estou com problemas para dormir sozinho
Isso parece uma casa, mas não é um lar
Eu quero que você saiba
Tudo isso é bom e muito antigo
Estou com problemas para dormir sozinho
Isso parece uma casa, mas não é um lar
Eu quero que você saiba

Que eu tive esse sentimento maluco
De que estou fazendo alguém esperar por mim
Por mim

Acho que preciso de um relógio para saber a hora
Acho que preciso do sol para me ajudar a brilhar
E eu realmente preciso de você em minha vida
E agora eu sei

Que você me dá esse sentimento maluco
E não precisa mais esperar por mim
Por mim

E eu acabei de ter esse sentimento maluco
De que estou fazendo alguém esperar por mim

― Você acabou de se declarar pra mim, Shawn Mendes!? ― pergunto rindo

― Talvez ― ele ri ― Uma mistura de sentimentos, para falar a verdade.

― Uau. Shawn Mendes você está partindo meu coração! ― forço meu melhor tom de indignação e ele ri alto

― Você já parou pra pensar? ― ele pergunta ― Em como você chegou aqui, como nos conhecemos!?

― Penso nisso todos os dias ― digo sorrindo e ele faz o mesmo ― Eu só queria que tudo isso fosse diferente, sem Will sem Ashley. Sem ninguém.

― Sem mim? Estou me sentindo ofendido! ― ele diz e coloca a mão no peito ― Pobre mortal.

― Estou  com sono ― murmurei. Jogo meu corpo para trás e Shawn faz o mesmo ― Ei, tira esse pé gelado de cima de mim!

― Me desculpe, Kate. ― ele diz, mas logo murmura um "desculpe" porque eu nunca o deixei me chamar de Kate.

Mas, pela primeira vez isso não me incomodou. Pela primeira vez em muito tempo, eu sinto que isso é especial novamente. É familiar.

― Tudo bem. Pode me chamar de Kate.

Ele sorriu.

E assim ficamos, ele me provocando com o pé bem gelado até finalmente pegarmos no sono.

 Mckenna point of view

― Não é de hoje que você vem estragando as coisas entre nós ― Cameron diz calmamente ― E eu já estou cheio de você, de tudo.

― Se é assim que você quer... ― digo engolindo o choro ― Até mais, Cameron.

Saio correndo de seu quarto enquanto sinto uma forte dor na cabeça, não uma dor normal mais parecia estar se intensificando a cada passo forte e rápido que eu dava. Ignorei Gina e Sierra com os olhares arregalados, e perguntando se tinha algo errado. Bom talvez tenha, Cameron Dallas é um puta anormal pois a uma hora atrás ele me amava e agora diz que eu estou estragando as coisas. Eu não estou estragando nada.
Eu realmente entendo que ele pode estar alterado por causa da morte de Aaron, eles eram melhores amigos afinal de contas.

― Kenna! Aonde você vai? ― Gina pergunta enquanto eu passo pela porta, me viro para trás e Cameron está com ela ― Está muito tarde, eu não vou deixar você ir embora agora e nesse estado.

― Não tem problema, sério. ― digo evitando olhar Cam, mais falha.

― Não, Kenna! Você não vai! ― Cameron grita, Gina e eu arregalamos os olhos assustadas ― Er... e-eu acho melhor você não ir.

Ele coça a nunca e sorri envergonhado, esse garoto é estranho. Gina o olha e gargalha alto, logo depois a mais velha me puxa pelo braço e me força a entrar dentro da casa deixando Sierra ainda mais confusa.

― Alguém me explica o que está acontecendo aqui!? ― Sierra pergunta confusa ― Eu juro que não estou entendendo porra nenhuma!

― Sierra! ― Gina repreende a filha e eu e Cameron rimos, logo depois nos encaramos ― Vão crianças, vocês tem que se resolver.

Cameron estende a mão pra mim e eu hesito em pegá-la por alguns instantes e os Dallas presentes na sala me olham feio, sorrio falsamente enquanto toco sua mão quente.
Ele me conduz até seu quarto e durante o percurso ficamos calados, só se ouvia o som da televisão no andar de baixo e dos nos passos fortes ecoando na escadaria. Quando finalmente chegamos em seu quarto, ele solta minha mão e suspira. Ficamos parados, nos encarando sem nenhuma expressão ou reação apenas nos olhando.
Cameron parece estar lutando contra todo o orgulho para me pedir desculpas pois fecha as mãos em fora de punho a cada minuto, é como se eu pudesse ver a luta interna estampada em seu rosto.

― Desculpa, eu não queria falar com você daquela maneira... eu nem sei o que deu em mim ― ele diz olhando para os pés ― a morte da Aaron mecheu muito comigo, me fez me sentir muito mal ― sua voz fica cada vez mais baixa ― você é muito importante pra mim.

   Ele finalmente me encara, os brilhos nos olhos já não existiam mais. E tudo que eu podia ver era o tom avermelhado que seus olhos assumiram.

― Eu sou um idiota ― ele concluiu rindo fraco ― Mas eu não quero perder você.

― Você... ― digo fechando os olhos e respirando fundo ― Não vai me perder, Cam.

― Eu espero. ― ele diz suspirando alto ― Espero nunca te perder... nunca.

― Mas eu não quero mais ter sempre que te perdoar. ― digo, tentando não soar ressentida. Mas eu estava. ― Tem sido difícil para todo mundo. E eu estou aqui por você, quero que esteja por mim também. 

Ele sorriu fraco. ― Eu estou. Eu prometo.

Mas eu não tinha tanta certeza.