História Salvation - Lembranças

Fui até o tal local que o homem me mandara por mensagem, era um tipo de reserva florestal, era muito afastado da cidade, meu celular sequer tinha algum sinal.

― A senhorita vai ir mesmo? ― o taxista perguntou.

― Sim, muito obrigado. ― eu disse descendo do táxi e pagando ele.

Havia uma pequena casa ― um barraco na verdade ― e era bem assustador. Eu não podia me intimidar com isso, era minha melhor amiga, minha família e morreria por ela se fosse preciso, e afinal ela só está passando isso por minha culpa mesmo, porém é muito mais do que uma obrigação. Ela é minha família.

 Fiquei imaginando o porque Will estava fazendo isso, as vezes eu sentia o olhar dele sobre mim, era mais do que um simples olhar ... ele era realmente nojento.

Abri a porta e dei um passo para trás, o cheiro era insuportável, era cerveja, misturado com sangue e vômito. Um cheiro terrível de enxofre, eu mal conseguia respirar e isso afetava minha visão também, que estava embaçada. Apertei os olhos com toda a força que pude e senti lágrimas descerem, ao olhar pude ver Kenna amarrada a uma cadeira com um pano na boca, ela tinha alguns cortes pelo corpo.
Eu gritei ao vê-la, era doloroso. Toda aquela cena, minha mãe, parecia estar aqui tudo estava se repetindo. Corri até ela tentando desesperadamente desfazer os nós da corda, mais parecia impossível. Eu estava desesperada e talvez isso estivesse dificultando então tirei o pano da boca dela.

― Por favor vai embora! ― ela gritou entre soluços.

Não estava raciocinando bem, mais quando voltei a mim olhei pela casa, tinham fotos minhas, da minha mãe e da Halsey. Eram muitas fotos, esse Will só pode ser um psicopata!

― Eu vou te tirar daqui Kenna!

Continuei lutando contra aquela maldita corda que estava contra mim, só pode, mais Kira estava temendo e eu também.

― Pensei que não fosse vir docinho. ― a voz do telefone.

Me virei para trás, o homem tinha uma pele escura, cabelos cacheados e olhos cor de Mel, dava pra ver a maldade transabordando dos olhos dele.

― O que você quer? Quem é você? Eu estou aqui! Deixa ela ir. ― pedi.

― Acha que será tão fácil assim?

― Deixa ela. Eu faço tudo o que você quiser mais ela não tem nada haver com isso.

― Eu não posso fazer nada contra você, o Will te quer viva. Mas já que você veio eu deixo ela ir.

Ele soltou Kenna num simples passo de mágica. Ela se jogou em meus braços molhando toda a minha roupa com suas lágrimas, ela deu um grito abafado.

― N-não Kate, você t-tem que vir! ― ela pediu lutando contra os soluços.

― Eu vou logo atrás de você. Confie em mim.

Abracei ela fortemente e pedi para que ela corresse e chamasse alguma ajuda. Ela sumiu pela porta, o homem pegou o celular e disse algo sobre ligar para Will porque o prêmio ― no caso eu ― estava ali. Observei cada canto da casa até que meus olhos encontraram uma arma, era minha única saída.

― Preciso de água ― eu disse, tentando distrai-lo.

Ele indicou uma pequena geladeira, que ficava perto do armário onde estava a arma. Mal sabia como usar aquilo, mais para tudo tem uma primeira vez, e aquela seria a primeira vez que eu iria assassinar uma pessoa.

Caminhei lentamente até lá só para não levantar suspeitas do cara que estava de costas pra mim.
Com a mão trêmula peguei a arma e apontei na direção dele mais um pequeno rugido fez com que ele se virasse pra mim. Ele riu irônico e a voz no telefone perguntou o motivo e ele disse que eu estava apontando a arma arma o ameaçando de morte.

― Você não vai atirar em mim.

― Se eu fosse você não duvidaria de uma adolescente que já tentou tirar a própria vida.

Ele ficou um pouco pensativo e sorriu novamente. Eu queria mata-lo. Fazer com que ela tirasse aquele sorriso de satisfação do rosto.
Apertei o gatilho e atirei na perna dele, ele continuou sorrindo mais dava para ver a raiva em seus olhos e isso foi o suficiente para me fazer correr. Droga! A porta estava trancada, so tinha uma solução, a janela velha, o vidro estava quebrado então seria um pouco fácil. O cara estava se arrastando até a arma, de novo me perguntei se Era esse o meu fim!? Corri na direção da janela e me atirei dela sentindo alguns estilhaços de vidros me cortando e por fim cai por cima deles.
Com muita dificuldade me levantei e corri na direção da floresta, não estava me aguentando de dor.
Minhas pernas estavam sendo arranhadas por galhos, mais meus braços estavam protegidos pelo casaco roxo e agracedi mentalmente por ter tido a brilhante ideia de coloca-lo. Ignorava qualquer dor que pudera sentir agora, isso fica pra depois se é que viverei para senti-las.
Virei para trás vendo o homem correr com certa dificuldade. Ele mancava com uma das pernas que escorria sangue, ele parecia furioso.
Quando fui virar para frente e ver onde estava indo, acabei por bater a cabeça em um galho de árvore grosso me fazendo cair com força no chão.
Observei as folhas caindo ao meu redor, essa era a ultima imagem que viria na vida?

                [...]

Eu estava correndo em uma floresta, com um vestido branco manchado por sangue enquanto um homem corria atrás de mim com uma faca, Will. Ele estava furioso, e tinha sangue na roupa também.

Minhas pernas estavam fracas, eu não aguentava correr e caí de joelhos no chão, senti Will puxar meu cabelo para que eu pudesse o encarar. Eu gritei.

― Katherine, olha aqui. ― uma mão tentava me controlar mais eu continuava gritando. ― Ei, olha pra mim.

Quando olhei para aqueles olhos, eu notei que tinha sido somente um sonho, um pesadelo. Shawn estava com uma camisa vermelha, uma bermuda jeans e um tênis. Ele tinha bom gosto para se vestir ou a Ashley escolheu pra ele? Ah do que importa? Mais aqueles olhos afastaram todos os pensamentos ruins que eu pudesse ter. Olhei ao meu redor e estava em um hospital.

― Eu ... ― minha voz falhou por conta dos gritos ― Quanto... tempo?

― Uns três dias, acho que quatro considerando que são duas horas da manhã. ― ele sorriu irônico.

― O que você está fazendo aqui uma hora dessas? ― perguntei.

― Estou esperando você morrer para cuidarmos do enterro. ― ele disse sério e eu arregalei os olhos mais ele começou a rir. ― A Kenna foi ontem hoje é a minha vez. Você tem que me contar tudo o que aconteceu aquele dia.

― Eu ... ― pensei em contar a ele, mais não posso colocar mais ninguém em risco. ― Não me lembro.

― Como assim não se lembra? ― perguntou desconfiado

― Simplesmente não me lembro. ― por alguns minutos ele ficou me encarando mais logo depois desviou o olhar para a janela do quarto ― Como vim parar aqui? O que aconteceu comigo?

― Um homem achou você desacordada em uma reseeva florestal, aparentemente você bateu a cabeça e teve alguns ferimentos. Mas 'tá fora de risco. ― ele disse ainda fitando a janela.

― Hã, pegaram ele? ― perguntei sem querer. Burra! Me xinguei mentalmente.

― Ele quem?

― Ninguém não. ― sorri. ― Hã, você está diferente, uh?

― Uhm, é verdade. Queria mesmo me desculpar com você, eu estava meio irritado aquele dia.

― Então você meio que descontou seus problemas em mim?

― Isso. ― ele respondeu envergonhado.

― Não se preocupe, 'tá tudo bem.

Ele sorriu lindamente. Ah céus que sorriso, me senti uma gelatina ao olhar pra ele. O que será que estava acontecendo? Faziam apenas uma semana, não podia estar apaixonada por ele. E além do mais tem aquela garota, deve ser a namorada dele. E se eu me envolver com ele, vou acabar o colocando em risco e a última coisa que quero no mundo é envolver mais alguém nessa história macabra.

                          [...]

― Oh Katherine! Nós ficamos tão preocupados com você minha querida! ― Karen disse me abraçando forte. Eu fiz uma careta por ter doído. ― Me desculpe.

― Tá' tudo bem.

Fui até o quarto e Kenna estava lá, com alguns arranhões. Sorri ao vê-la e ela fez o mesmo.

― Você tem que ir embora Kenna não posso te perder. ― eu disse a abraçando forte.

― Eu não posso te deixar sozinha! Eu estou com você até o fim. K e K pra sempre, esqueceu?

Senti lágrimas descerem pelo meu rosto desesperadamente. Sabia que não a faria mudar de idéia, mais queria enfiar ela no próximo vôo para a Inglaterra nem que fosse a vassouradas.

― Vai, você precisa descansar.

Assenti e fui para o meu quarto, e só agora senti as dores.

Me deitei na cama tentando suavizar as dores mais sem sucesso, respirei fundo tentando acreditar que tudo não passava de um mal entendido idiota. Que Will estivesse morto, minha mãe e Haley vivas e esperando por mim em casa com aqueles sorrisos.

Soltei um gemido de dor, mais fiquei constrangida ao ouvir a porta se abrir, me surpreendi ao ver Sam entrar no quarto.

― Oi Sam.

― Katherine, você está bem? ―perguntou me analisando. Ele se sentou perto de mim. ― Eu ... queria me desculpar.

― O que? Do que está falando? ― atropelei minhas próprias palavras.

― Por tudo, por nunca ter tido tempo para vocês. E por ter deixado vocês, mas elas precisava de mim e ...

― Nós também precisávamos de você. ― respondi olhando para a pulseira em meu pulso.

― Eu sinto muito Kate. Você acha que não foi difícil pra mim também? Principalmente no dia dos pais no ano de 2010.

   ~ FLASHBACK ON ~

― Katherine Jones! ― a professora anunciou e todos bateram palmas.

Olhei todas aquelas pessoas, eram muitas. A maioria eram pais, a escola inteira estava reunida naquele dia, e eu não me preocupei em procurar meu pai, ele prometeu que viria.

― Eu ... ― tentei parecer confiante, mais ao ver que meu pai não estava ali me faltou o ar. ― Pai? Papai? Onde você está?

Olhei para todos os cantos mais não o encontrei em lugar nenhum então comecei a chorar e todos ficaram com pena de mim. Minha mãe apareceu me puxando do palco com certa dificuldade pois ela segurava a pequena Halsey.

Cheguei em casa e estava aos prantos, inconsolável. Ele me prometeu! Prometeu que estaria lá, e me fez pagar um papelão.

― Filha, seu pai quer falar com você. ― minha mãe estendeu o celular e eu peguei.

― Querida, me desculpe ...

― Eu sabia! Você sempre estraga tudo! Eu odeio você!

         ~ FLASHBACK OFF ~

― O vício da sua mãe nos afastou e eu não pude mais vê-la se destruir. Eu errei. Eu queria ter sido um pai melhor para vocês. 

― Você poderia, mas foi embora, você simplesmente se foi. ― respondi sentindo meus olhos marejados ― Você nem tentou. Nem sequer ligou.

― Não queria decepcionar vocês, eu não era um bom pai. Pensei que vocês nunca mais quisessem me olhar na cara, por isso eu fui embora, na esperança de vocês não sofrerem por minha culpa. ― ele disse retirando os óculos para enxugar as lágrimas. ― A sua mãe me disse que vocês estavam melhores sem mim. 

― Agora você sabe a verdade. 

― Eu sinto muito, eu me culpei todos esses anos. Eu queria ter sido presente, e eu achei que pagando-se as melhores escolas, comprando os melhores presentes, compensaria minha ausência. Eu nunca vou me perdoar ou parar de pensar que se eu nunca tivesse ido embora, talvez sua mãe e a Haley estariam vivas. 

Um silêncio ecoou por todo o quarto, minhas lágrimas ficavam cada vez mais fortes.

― Você pode me desculpar, filha?

― Eu vou tentar. ― respondi sorrindo entre lágrimas.