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História Salve-me - Quantas vezes um coração pode ser quebrado?


Escrita por: Ixteeer

Notas do Autor


Galera, eu passei a manhã toda batendo perna no centro, e quando cheguei, fui descansar. Acabou que quando acordei, eu estava bastante animada para escrever o capítulo. Eu realmente amei como ficou, foi exatamente como eu tinha em mente, mas aviso de antecedência: preparem os lenços e não me odeiem ;--;
Obs: esse é penúltimo capítulo! Vai ter o próximo capítulo _ o último _ e um extra.

Capítulo 6 - Quantas vezes um coração pode ser quebrado?


Fanfic / Fanfiction Salve-me - Quantas vezes um coração pode ser quebrado?

 

_ CAPÍTULO SEIS _

Quantas vezes um coração pode ser quebrado?

 

O apartamento de Ban sempre fora bagunçado. Mas naquela manhã o lugar parecia ter sido palco de uma briga violenta de bêbados desvairados. Havia roupas por toda a sala, a mesa de centro estava virada e alguns quadros estavam tortos na parede, se não no chão.

_ Você estava mesmo se controlando _ Elaine comentou, esparramada no tapete felpudo e cinzento.

Ban sentou-se e sorriu de lado.

_ Espera pelo segundo round, garotinha. _ limpou o suor da testa, levantando-se completamente nu _ Vou arrumar algo para você comer.

Ela assentiu, o seguindo com o olhar até que ele saísse da sala. Sentou-se cuidadosamente, um pouco tonta. As pernas estavam tremulas, e Elaine se perguntou se seria boa ideia arriscar alguns passos. Todavia, ela conseguira se manter em pé. Apoiando-se nas paredes e nos móveis, conseguiu chegar até o banheiro do apartamento. Encarou-se no espelho sobre a pia, vendo-se descabelada, pálida e suada. Ver seus seios sempre a deixava encabulada, então não se demorou muito em frente a ele.

Seguiu para o boxe e ligou o chuveiro, acostumando-se com a temperatura da água depois de alguns minutos. Sentia-se extremamente bem. Aliviada, leve e feliz. Tudo parecia em seu devido lugar, tudo parecia ter seguido seu curso.

Enquanto se enxugava com a toalha felpuda que havia encontrado largada sobre a tampa do vaso, Elaine pensou em Jericho. Em partes, tinha raiva dela. Se ela apenas amasse Ban e apenas estivesse arrependida de ter o traído... mas não. Jericho não estava arrependida. Ela queria Ban a todo custo, mesmo que o tal custo fosse a infelicidade dele. Ela mentia, trapaceava, manipulava e se prestava a papeis ridículos em prol de sua obsessão desmedida.

Mas, apesar de tudo isso, não conseguia a odiar. Elaine na verdade apenas queria que ela enxergasse que Ban não a queria mais em sua vida, e que suas ridículas tentativas de separa-los apenas piorava sua situação. Tinha pena dela  por ter sido idiota o suficiente para desejar alguém além de Ban.

Elaine voltou a sala para vestir suas roupas. Já não estava tonta e suas pernas tremiam muito menos. Sorriu vendo a bagunça que estava o cômodo, apanhando as peças espalhadas e indo para o único quarto do apartamento. Um delicioso cheiro começava a impregnar a casa, e ela sorriu novamente enquanto vestia a calcinha.

Estava quase pondo as pernas nos buracos do short jeans, porém parou no ato. Seus olhos encontraram o livro largado sobre a cama desorganizada, e ela largou o short para ver do que se tratava. Ao apanha-lo, percebeu rapidamente que era um diário e corou por estar bisbilhotando-o, mas já era tarde demais para sua consciência pesar , já estava presa na leitura. Lendo linha após linha na velocidade da luz, corando cada vez mais até estar em variados tons de rosa e vermelho.

Por fim fechou o livro lentamente, o repousando de volta na cama com cuidado, como se ele fosse de vidro e pudesse quebrar ao menor movimento brusco.

Com um bocejo preguiçoso, Ban trocou de canal e desligou o fogo. Virou-se para pegar o molho agridoce que estava sobre a mesa, porém parou no ato, deixando o controle remoto cair ruidosamente.

Elaine estava caminhando em sua direção a passos largos, e Ban não tivera reação de imediato. Não esboçou reação alguma quando ela o puxou para baixo e o beijou fervorosamente, as mãozinhas indo e vindo por sua nuca e por seus ombros. Ela tropeçou no controle remoto quando Ban parou de se dobrar para tentar ficar da sua mesma altura, porém a apanhou antes que caísse, a pondo sentada na mesa.

Sem ponderar, a loira o puxou novamente a fim de beija-lo, porém ele a afastou pelos ombros delicadamente, rindo torto de todo aquele desespero.

_ Calma, garotinha. Teremos o segundo round, assim que você terminar de comer.

A pequena negou com a cabeça.

_ Não. Agora. _ exigiu como uma criança birrenta.

Ban arqueou uma sobrancelha, ainda rindo daquele comportamento.

_ Precisa comer _ a lembrou, afastando as mãos afoitas de seus ombros _ Vamos, garotinha. Não faça assim.

Elaine o ignorou completamente, mesmo sabendo que ele tinha razão. Precisava comer, mas naquele momento seu desejo parecia mais urgente que qualquer outra coisa. Ban percebeu que havia algo estranho naquilo, e juntou as sobrancelhas enquanto observava suas tentativas de beija-lo.

_ O que foi, garotinha? _ perguntou acariciando sua bochecha, e ela repousou sua mão sobre a dele, suspirando com o contato. Parecia um pouco bêbada, mas ele tinha certeza de que não estava.

_ Desculpe _ murmurou constrangida. _ Seu diário tava aberto sobre a cama e...

Ban piscou, ficando subitamente sério. Elaine apertou os lábios em uma linha tensa.

_ J-juro que não foi minha intenção! _ se apressou em dizer, de repente receosa. _ Estava aberto sobre sua cama, eu j-juro!

Mas Ban parecia não a ouvir, o olhar perdido em um ponto inexistente da mesa. Lentamente, um sorriso foi se formando, um sorriso de escárnio, como se zombasse de um ladrão que foi roubado.

_ Ah, então foi assim que ela descobriu... _ murmurou consigo mesmo _ Que bela surpresa  deve ter tido. _ finalmente encarou Elaine, seu sorriso se tornando mais caloroso à medida que descia sua calcinha e a deixava cair no piso. _ E você, sua pequena bisbilhoteira, vai ser punida por sua curiosidade. _ mas seu tom era tão carinhoso que Elaine apenas assentiu obediente, esperando ansiosa por sua sentença.

_ Tá gelada... _ ela comentou baixinho quando Ban despejou a bebida sobre seu ventre. Ele apenas riu, levando a garrafa até seus seios a fim de despejar o liquido ali também, vendo os mamilos ficarem mais rijos em poucos segundos.

_ Esse é o melhor Body Shot da minha vida. _ decretou ao deixar a garrafa de tequila de lado, sentindo-se extremamente excitado. Elaine estava mais magra. Parecia menor, mais frágil, porém isso não diminuiu em nada seu desejo.

Abaixou-se e lambeu o rastro de bebida, sentindo-a arquear-se à medida que subia. Lambeu o vale entre seus seios, continuando lentamente, querendo tortura-la. Quando por fim alcançou seus mamilos, os sugou e mordeu, ouvindo Elaine gemer alto, sem sequer tentar se conter. Lambeu qualquer resquício de tequila, afastando-se para encara-la.

Ela estava mordendo o lábio inferior, o olhar baixo, fixos em seu membro instigado.

_ É isso que você quer? _ ela assentiu de imediato e ele riu diabolicamente, apanhando a garrafa outra vez.

Elaine quis fechar as pernas quando Ban fez menção de despejar a bebida sobre sua intimidade, porém apenas engoliu em seco, arrepiando-se quando o líquido gelado a molhou. Porque na verdade ela queria, queria muito, mas estava sentindo-se tão tímida quanto excitada.

_ Ban... _ murmurou quando ele se abaixou, fazendo-a esquecer de qualquer acanhamento ao sentir sua língua. Deitou-se sobre a mesa, acariciando seus cabelos e gemendo em aprovação.

Ban lambeu seu ponto mais sensível, acariciou suas fendas úmidas e penetrou dois dedos, sem parar de lambe-la terrivelmente lento. As pernas de Elaine, antes dobradas, caíram debilmente para fora da mesa. Ela puxava seus cabelos, implorando por mais, mas ele não se compadeceu.

Elaine deu um gritinho e se retesou inteira. Ban se levantou e a encarou, vendo-a arfar sem parar, com os olhos fechados e a cabeça tombada para a esquerda. Ele a fez sentar, virando-a de bruços e parando momentaneamente ao ver aquelas cicatrizes. Beijou-as, toda sua vontade de tortura-la evaporando em um segundo.

_ Ban, está tudo bem... _ ela garantiu quando ele a virou novamente. _ Eu quero.

Ele a beijou, abrindo um pouco mais suas pernas para adentrar seu corpo pouco a pouco. A deitou na mesa, preenchendo-a lentamente, observando suas reação com atenção, se deliciando.

_ Mais rápido _ ela pediu em tom de súplica. _ Ban...

Ban estava receoso. Talvez ver aquelas cicatrizes sempre o deixaria assim. Lembraria do passado angustiante de Elaine, de tudo o que ela sofreu. Sempre o faria recuar e se perguntar se não estava a machucando, a fazendo se sentir mal ou a pressionando a algo.

Elaine estendeu seus braços trêmulos em sua direção. Ele abaixou-se, permitindo que ela envolvesse seu pescoço e gemesse em seu ouvido. Avançou gradativamente, até o ponto de estar a preenchendo rápido e profundamente, mordendo seu ombro e sugando a pele de seu pescoço.

A pequena ergueu seu quadril inconscientemente ao sentir o ápice de seu prazer lhe acometendo outra vez, guinchando quando o líquido quente a invadiu, todos os seus ossos parecendo ter virado gelatina.

[...]

_ Está gostoso? _ ele perguntou distraidamente, amarrando o cordão da calça de moletom.

Elaine assentiu de boca cheia, ocupada demais enfiando mais comida na boca para responde-lo. Ban sentou na cadeira ao lado, observando-a em silencio. Quando por fim ela terminou, limpou os lábios com o dorso da mão e corou adoravelmente.

_ Ban. _ falou de repente, minutos depois, quando o homem colocara a louça na pia, chegando a conclusão que era uma boa hora para tocar naquele assunto.

Ele virou-se para encara-la.

_ Pode me falar sobre sua família? _ continuou baixinho, como se não tivesse certeza de como abordar o tema.

Ele suspirou e se aproximou para sentar ao seu lado, ficando em silencio por um tempo, procurando as palavras certas para contar mais facilmente.

_ Bem... eu tinha treze anos quanto tudo aconteceu. _ começou, desatando a falar sem rodeios em seguida. _ Não foi nada fora do normal, um acidente bem comum, na verdade. Não aconteceu nada de extraordinário aquele dia. Ninguém "sentiu" o que iria acontecer, ninguém disse algo memorável. _ seu olhar escureceu um pouco. _ Eu nem me lembro de onde estávamos voltando, só que era tarde. Estávamos muito perto de casa, e minha mãe dizia algo como "Temos que matricular o Ban numa escola nova" , e meu pai estava prestes a dizer que não, que eu conseguia lidar com uns garotos maiores que eu. E então eu acordei no hospital, com o maxilar descolado e completamente sozinho.

Elaine engoliu em seco, de repente lembrando das palavras cruéis que falara para ele. Levantou de sua cadeira, sentando sobre o colo de Ban e puxando a face do homem para o seu peito, acariciando seus cabelos. Ele não relutou e permaneceu em silencio por mais alguns minutos antes de prosseguir.

_ Meus irmãos eram gêmeos, um casal. Tinham cinco anos. Não pude ver eles e nem minha mãe. Eles ficaram desfigurados, só o caixão do meu pai pôde ficar aberto. Eu fiquei o encarando o velório inteiro, me recusando a acreditar que era verdade, que a qualquer momento ele levantaria e mandaria todos aqueles parentes pastarem, mas nada aconteceu. Ele continuou imóvel e morto. Depois tive que morar com um primo da minha mãe, que me batia sempre que eu chegava da escola ferrado. _ Ban ergueu a cabeça, encarando Elaine. _ Eu não menti, garotinha. Meliodas me aconselhou mesmo, porém ele não foi o único motivador. Meu primo batia mais em mim do que os idiotas da escola, comecei a querer ser forte para ele me deixar em paz. Na festa de confraternização, eu já estava muito diferente e descontei neles todas as minhas mazelas. E depois veio a Jericho, ela parecia tanto fisicamente com meus irmãos... o cabelo, os olhos, o sorriso travesso. Mas meus irmãos sorriam daquele modo porque eram apenas crianças. Jericho sorri desse jeito porque guarda muitas coisas ruins no coração, e essas coisas transparecem quando ela ri.

Elaine o beijou docemente, se afastando e colando sua testa à dele.

_ Eu nunca vou te deixar _ prometeu. Apanhou suas mãos e beijou o nó de seus dedos _ Nunca. Eu te amo.

_ Também te amo _ disse ao apertar Elaine em seus braços. _ Você é meu pequeno ponto de luz.

Depois de muita insistência, Ban permitiu que Elaine organizasse seu apartamento. Ela parecia muito decidida e animada com a ideia. Cantarolava baixinho enquanto dobrava as roupas do homem, as organizando por cores.

Ao final da tarde, estava tudo limpo e cheirando a lavanda.

_ Obrigado. _ a puxou até que ela se recostasse em seu tórax, apoiando seu queixo sobre seus cabelos.

Ela corou, se virando e o abraçando calorosamente.

_ Tenho que ir... _ avisou ao se afastar, seu tom explicitando seu descontentamento.

Ban sorriu de lado.

_ Não fique assim, garotinha. Temos todo o tempo do mundo.

Ela sorriu e assentiu em concordância, o abraçando novamente.

_ Para sempre.

Quando Elaine chegou em casa de mãos dadas com Ban, encontrou King e Diane sentados no chão da sala, vendo algo no notebook do garoto.

_ Elaine. _ balbuciou, se levantando afobadamente e quase derrubando o notebook. _ Eu preciso falar com você! E-eu quero me desculpar! Desculpe ter f-fugido quando mais precisava de mim, eu sinto muito!

Ela se encolheu, recordando dos piores dias de sua vida.

_ Esqueça isso... _ murmurou sentindo sua garganta muito seca. _ Está tudo bem.

Ban, no entanto, não achava que estava tão bem assim.

_ Ela precisava de você _ falou duramente. _ E você simplesmente foi brincar de esconde- esconde. _ King arriou os ombros, o olhar baixo e culpado. _ Nunca mais faça isso. Se sua irmã precisa de você, a ajude da melhor forma que puder.

Meliodas e Elizabeth desceram as escadas discretamente, fazendo Elaine cerrar os olhos de imediato, desconfiada.

_ Eu me preocupei com você, todo mundo se preocupou. _ Ban continuou, ignorando o olhar de Diane que dizia "Ele já entendeu".

_ É, eu sofri muito _ Meliodas concordou dramaticamente _ Me console , Elizabeth.

_ Onde vocês estavam? _ Elaine cerrou os olhos um pouco mais, esperando sua resposta.

_ No seu quarto. _ Diane a respondeu, querendo mudar o rumo da conversa.

_ O que estavam fazendo no meu quarto?! _ questionou-os exasperada.

_ Não faz pergunta besta! _ Diane enrolou a ponta do cabelo. _ Jogando cartas é que não estavam. Eu no seu lugar lavaria os lençóis...

_ N-não s-sujamos os lençóis! _ Elizabeth gaguejou nervosamente.

_ Já seu banheiro, no entanto... _ Meliodas murmurou distraidamente.

_ Meliodas!

- w -

 

_ Isso é assustador. _ Elaine murmurou olhando tudo em volta. Ficava imaginando o que teria acontecido dentro de seu quarto, do seu banheiro, e se encolhia com as hipóteses.

Ban apenas riu, puxando-a para perto. Envolveu sua cintura e colou o corpo pequeno ao seu. Gostava de sentir Elaine próxima de si, próxima o suficiente para seu perfume impregnar suas roupas.

_ Já deveria ter se acostumado com isso. _ sorriu um pouco mais. _ Ele é assim, o Meliodas. Nem culpo a Elizabeth, aquele anão dobra até o diabo.

Elaine suspirou.

_ Não é algo que se deve se acostumar. _ mas ela já não estava irritada. Sequer pensava mais em seus amigos se esfregando sobre seus móveis, sua cama, sua banheira. De repente apenas pensava em Ban, em seu passado.

Ele dissera que não doía mais pensar sobre, mas ainda assim, era agoniante imagina-lo passando por tudo aquilo. Perder os pais, os irmãos... tão cedo. De uma única vez.

Ela o apertou um pouco mais, a cabeça colada ao tórax ao seu tórax.

_ O que foi? _ Ban indagou quando o silencio se estendeu.

_ Eu não sei como agir...

Ban franziu a testa, confuso.

_ Sobre o quê?

_ Sobre sua família...

Quando finalmente entendeu, beijou os cabelos loiros da garota, sorrindo.

_ Está tudo bem, garotinha. Eu tive bastante tempo para aprender a lidar com isso. Quando digo que não doí mais, não minto. Isso foi a muito tempo atrás, a ferida já cicatrizou.

Elaine ponderou por alguns minutos até dar-se conta de algo.

_ Quantos anos você tem? _ perguntou afastando-se para encara-lo. Era esquisito eles passarem tanto tempo juntos e ela não saber nem mesmo sua idade.

_ Vinte e dois. _ ele respondeu divertido, brincando com uma mecha de seu cabelo.

_ Qual sua cor favorita?

Ele pensou um pouco.

_ Eu nunca parei pra pensar nisso. _ admitiu, dando de ombros. _ Mas acho que seja vermelho.

_ E sua bebida?

_ Conhaque. _ dessa vez ele sequer pensou. _ Também gosto muito de vinho tinto e cerveja de sidra, mas nada se compara a Conhaque.

A loirinha ficou um tempo alisando o peito de Ban, pensando sobre o que mais queria saber sobre ele.

_ Nós vivemos grudados. _ ela murmurou. _ Mas não nos conhecemos bem. Você já percebeu isso?

_ Eu conheço você. _ ele discordou, abaixando-se para beija-la.

_ É? _ ela espalmou as mãos em seu peito, afastando-o com uma sobrancelha arqueada. _ Qual minha série favorita?

_ Sei lá, The Walking Dead? _ supôs abaixando-se novamente, a fim de beija-la. Elaine o impediu, os olhos cerrados.

_ A série do meu pai é que é The Walking Dead! _ chacoalhou a cabeça, como se fosse um absurdo sem tamanho Ban ter errado. Afastou-se dele, sentando-se em sua cama. Ficou o encarando por alguns minutos, enquanto Ban sustentava seu olhar, achando a situação engraçada.

_ Quanto de altura eu tenho?

_ É pequena. _ ele respondeu simplesmente, ajoelhando-se em sua frente. Afastou uma mecha do cabelo curto para atrás da orelha, alisando a bochecha muito vermelha.

Ao que parecia Elaine, ao contrário dele, não estava achando graça alguma.

_ Eu tenho um metro e quarenta e oito! _ umedeceu os lábios. _ Qual meu livro favorito?

Ban a beijou, daquele modo que sabia que desorientava Elaine e a fazia esquecer qualquer coisa.

_ Eu conheço você _ repetiu convicto. As mãos cobriram perfeitamente os seios da garota, que corou e o puxou pela nuca, querendo beija-lo. _ Não sei qual seu livro favorito ou a sua série, mas eu sei o que você tá pensando. _ murmurou junto de seu ouvido, ganhando um empurrão como resposta.

_ Você é mais pervertido do que eu imaginei... _ murmurou secamente, mas não parecia que a descoberta a desagradava, só a surpreendia. _ Mas ainda quero conhece-lo melhor. _ o puxou do chão, fazendo-o deitar. Deitou a cabeça em seu peito, sorrindo com satisfação. _ Quero saber tudo sobre você, Ban. Até mesmo as coisas mais insignificantes.

Ele beijou sua testa, pondo uma mão atrás da cabeça.

_ Deixe-me ver... eu tenho um e noventa de altura e eu não costumo acompanhar séries. Sempre fico entediado e as abandono.

Elaine ergueu a cabeça para encara-lo.

_ Eu não tenho muitos hobbys, mas eu gosto muito de bebidas. De saber sobre a composição delas e de inventar moda.

A pequena riu.

_ Tipo criar bebidas?

_ Sim. _ ele também riu. _ Eu já me deu muito mal com isso, e Meliodas também. Eu fazia ele provar. Não ficava ruim, sabe, só que os efeitos colaterais...

Elaine deitou novamente sobre o peito de Ban, ainda rindo.

_ Você é grande. _ comentou baixinho quase um minuto depois, corada. _ Sabia que eu pensei que você... não ia conseguir entrar?

_ É, eu lembro bem. _ desceu as mãos que estavam repousadas na curva da cintura da loira, apertando suas nádegas por cima da roupa. Elaine enrubesceu um pouco mais, mas não fez menção de afasta-lo.

_ Com quantos você transou pela primeira vez? _ perguntou com a voz abafada, tentando não gemer no meio da frase.

Ban cerrou os olhos, consultando suas memórias.

_ Quatorze... não, quinze. _ ele assentiu consigo mesmo. _ É, foi com quinze.

Elaine ficou imaginando Ban aos quinze anos. Começou a fazer círculos imaginários sobre sua camisa, pensativa.

_ E como foi?

_ Horrível. _ respondeu olhando-a de rabo de olho. _ A garota era bem mais experiente, praticamente me guiou o tempo todo. Ela era namorada de uns dos caras que me batia, você pode imaginar o que aconteceu no final.

Elaine suspirou.

_ Ele te bateu muito?

_ Muito. _ confirmou. _ E depois continuou com ela, rindo como um idiota quando ela contava de como eu era inexperiente. Não sei o que é pior, ele ficar com ela depois disso ou ficar rindo do que ela falava. Foi como assinar um atestado de corno.

A loira riu, e depois mais um pouco, até estar chacoalhando-se no peito de Ban, a barriga doendo e os olhos lacrimejando.

_ Queria ter te conhecido nessa época... _ comentou quando recuperou o fôlego, cansada a ponto de dormir a qualquer momento.

_ Mas aí você teria onze, seria novinha demais.

_ Eu iria me apaixonar por você do mesmo jeito. _ afirmou convicta, depois de um bocejo. _ E eu não ia deixar essa fulana te humilhar.

Ban alisou os cabelos da garota. Sorriu, beijando sua testa e sentando-se sem afasta-la de si.

_ De qualquer forma, agora estamos juntos. É o que importa.

Elaine assentiu, concordando.

_ É o que importa. _ murmurou antes de adormecer no colo do homem, sentindo seus dedos pentearem seu cabelo curto e desgrenhado.

*  *  *

Elaine já havia ido até a delegacia dar esclarecimento umas trocentas vezes. E em dezembro, Oliver ainda não havia sido declarado culpado. Essas coisas são assim mesmo , um policial comentou quando a menina saiu da delegacia pela quinta vez em uma única semana, o processo é muito lento. Tenha fé.

Nesse meio tempo, Elaine e Ban assumiram um relacionamento sério e passaram a usar anéis de compromisso. Não era nada muito sofisticado. Era bem simples, dourado e sem detalhes. Ban havia dito que um dia daria um anel de ouro pra Elaine, como os cabelos dela. E que nesse dia, ele seria o homem mais realizado do mundo.

Mas, por enquanto, eles ainda eram apenas namorados.

_ Você está tão linda... _ Elaine virou-se, vendo sua mãe na soleira da porta, segurando a maçaneta.

Elizabeth levantou da cama, olhando uma última vez para sua amiga antes de sair do quarto, a fim de deixa-la a sós com a mãe.

_ Obrigada. _ sorriu, encarando-se no espelho novamente.

Era sua formatura e Elaine estava muito nervosa. Não com a formatura em si, mas por ter finalmente terminado seu ensino médio. Ela estava inquieta. Não fazia ideia do que iria fazer dali para frente. Sentia-se um pouco perdida, e mesmo naquele momento, encarando-se no grande espelho de bordas douradas, ela ainda parecia não acreditar no que estava acontecendo.

O cabelo loiro fora preso para trás por uma presilha em formato de borboleta. Apenas algumas mechas da frente escapavam do penteado, propositalmente. O vestido era longo, cheio de detalhes e com um decote realmente ousado. Mas, por ser Elaine quem estava o vestindo, e não Elizabeth ou Diane, não havia riscos do tecido ceder e a garota de repente se ver parcialmente despida em público.

_ Você também está. _ acrescentou quando Lianne parou ao seu lado. A mulher sorriu, alisando o rosto da filha. Ela já não fazia uso de antidepressivos, e nem de calmantes para conseguir dormir. Conseguia olhar para a garota e sustentar o olhar.

Todavia, Lianne ainda se culpava muito. Em sua cabeça, ela tinha cinquenta porcento de culpa no que houve com Elaine. Ela deveria ter adivinhado que algo errado estava acontecendo. Que Oliver estava a manipulando, e manipulando sua filha. Ela devia ter sentido, devia ter notado algo fora do lugar. Lianne duvidava que um dia aquele peso em sua consciência deixaria de existir.

Elaine descera do jipe preto de Meliodas.

Elizabeth estava eufórica, muito animada com a situação. Diane havia bebido antes de sair de casa e King a ajudava caminhar sobre o salto que usava. O ginásio do colégio estava abarrotado de alunos. E, ainda assim, vendo tudo aquilo, Elaine sentia-se perdida. Fora de orbita. Desligada de tudo aquilo, como se todos os outros fossem AM, e ela, FM.

Então, ela o viu sob uma árvore em frente o ginásio. Não dava para ter certeza sob a luz do único poste aceso da rua, mas Ban não parecia estar de terno ou de smoking ou qualquer roupa um pouco mais formal.

Elaine virou-se, vendo seus amigos já dentro do ginásio, misturando-se aos demais formandos. Sorriu, voltando-se para seu namorado. Não iria para lá, era mais divertido passar sua formatura com Ban, apenas os dois.

_ Oi, garotão. _ ela disse, parando em sua frente com um sorriso de orelha a orelha. Agora Elaine tinha certeza de que Ban realmente não usava roupas formais.

_ Oi, pequena. _ ele lhe respondeu, percorrendo o corpo da garota com os olhos enquanto falava. Já havia feito isso umas quatro vezes desde que a avistou saindo do jipe de Meliodas. Não podia evitar.

Elaine estava diferente aquela noite. O vestido era tão claro e tão fino que dava impressão de que era parte de seu corpo, de sua pele, e que ele parecia ter sido desenhado especialmente para a loira. _ Tá tão gatinha, Elaine. Acho que terei sérios problemas hoje.

Elaine apenas riu, envolvendo a cintura do homem com seus braços e ficando na ponta dos pés para beija-lo. Não usava salto alto, e ainda que usasse, teria que esticar-se para alcançar os lábios de Ban.

_ Opa. _ ele a afastou com um sorriso torto. _ É a sua formatura, loirinha. Podemos continuar isso depois.

A pequena bufou. Não queria ir para o ginásio, cumprimentar seus colegas por pura educação e ouvir aquela baboseira toda de "Eu vou sentir sua falta" , "Melhores amigos para sempre". Ela preferia ir para outro lugar, qualquer um, apenas ela e Ban.

_ Eu não quero transar. _ ela disse amuada, corando em seguida. _ Quer dizer... você entendeu! Não era o que eu tinha em mente...

Ban segurou o queixo delicado de Elaine, forçando-a a continuar encarando-o.

_ O que você tinha em mente?

_ Eu não sei... só não quero ir para lá. _ segurou com as duas mãos a palma aberta de Ban, beijando-a. _ Quero ficar com você... só com você.

[...]

_ Isso não era do Meliodas?

_ Era. Do verbo não é mais.

Elaine riu, sentando-se ao lado de Ban. Ele ligou o motor da picape de duas portas, a qual Elaine havia visto apenas uma vez, na posse de Meliodas. Já fazia muito tempo.

A noite fora muito divertida. Elaine e Ban haviam ido até o distrito de Shinjuku, onde comeram até seus estômagos protestarem no Omoide Yokocho. Também perambularam pelo Golden Gai, onde Ban dissera que possuía as melhores bebidas de Tóquio e fizera Elaine provar uma dose de pelo menos cinco. A loira já estava risonha quando chegaram as ruas iluminadas com neon de Kabukicho, onde velhos ricos e bêbados abarrotavam os vários bares e clubes do local.

_ Olha! _ Elaine apontou para um canto da rua, iluminado como todo o resto de Kabukicho. _ Tá brilhando! _ e em seguida riu, abertamente, chacoalhando-se toda ao faze-lo, ainda apontando para a luz multicolorida.

Ban passou os braços por debaixo dos joelhos da loira, a erguendo do chão como se ela pesasse tanto quanto uma pluma.

_ Olha! _ ela apontou para o céu, provavelmente para as estrelas ou para  a lua cheia que embelezava o azul escuro da noite. _ Tá brilhando! _ e riu novamente, gargalhando alto. O som aquecia o coração de Ban, uma sensação bem parecida a de uma bebida doce aquecendo sua garganta e seus pulmões.

Acabaram dormindo na picape. Ban no banco de motorista, com os pés sobre o painel, o banco totalmente arrastado para trás. Elaine em seu peito, com os braços finos em volta de seu pescoço. Ao acordar, ele a passou para o banco ao lado e ela sequer acordou em algum momento. Durante a volta, Elaine permaneceu dormindo, às vezes balbuciando o nome de Ban, mas nunca abrindo os olhos.

_ Seu... _ King murmurou ao ver o homem passar pela porta da sala com Elaine no colo. _ Onde diabos levou ela?! Eu liguei a noite toda!

_ Ah, querido! Ela esqueceu o celular em cima da cama! _ Lianne comentou, surgindo no alto da escada. Ela desceu os degraus de dois em dois, os cabelos castanhos e cheios ondulando sobre os ombros.

King lembrava mais sua mãe, enquanto Elaine era uma mescla de ambos os pais.

Ban apenas assentiu para a mulher antes de subir a escada com Elaine. A depositou sobre sua cama, alisando a bochecha corada e quente da garota. Sorriu, imaginando o que ela estaria sonhando.

Depositou um beijo sobre os cabelos desgrenhados, tirando sua jaqueta e a cobrindo com ela. Ela iria sentir seu cheiro e iria continuar dormindo por um bom tempo; o suficiente para Ban ir até seu apartamento, comer algo e tomar um banho antes de vir vê-la novamente.

*

Já era fevereiro, e ela ainda se encontrava perdida.

Seu irmão já havia se matriculado em Educação Física, o que era irônico; King era o ser humano mais preguiçoso que Elaine conhecia. Ela simplesmente não conseguia imagina-lo fazendo abdominais e correndo com um calção de academia. Elaine não conseguia nem imagina-lo fazendo polichinelos, mas tudo bem. É claro que o apoiou, se era isso que ele queria.

Diane escolhera jornalismo, o que, nesse caso, lhe caia como uma luva, levando em consideração o seu gosto por fofocas e sua mania de falar, falar, falar... e falar mais um pouco. Quanto a Elizabeth, essa, até mês passado, estava tão confusa quanto Elaine. Mas ela acabara pesquisando com afinco vários e vários cursos, e acabara se apaixonando por pediatria _ e não psiquiatria, coisa que Meliodas vivia se confundindo e espalhando por aí que a namorada iria ser médica de biruta e ele seria seu primeiro paciente.

E, por último, mas não menos importante, Meliodas simplesmente dissera que não faria faculdade, que iria se ocupar administrando o seu bar e que essa decisão já havia sido tomada a anos.

Contudo, Elaine permanecia perdida e sem saber o que fazer.

_ Eu desisto. _ bufou jogando longe um livro de autoajuda que lia desde a semana passada. _ Vou aprender a fazer brinco de pena e vou vender no centro.

Ban abriu um olho, despertando de seu cochilo.

_ Tá tudo bem você ainda tá confusa, garotinha...

Ela suspirou.

_ Não é isso. Não é só isso.

O homem sorriu, estendendo um braço e puxando-a para o seu peito.

_ Não precisa ser assim, sabia? _ disse gentilmente, alisando os cabelos curtos a fim de acalma-la.

Funcionou.

_ Eu estou com medo... _ admitiu baixinho, escondendo o rosto no peito de Ban.

_ Não tem o que temer. _ ele garantiu. _ A vida não é só isso, loirinha. _ Elaine sorriu, erguendo o rosto para encara-lo. Os últimos meses, Ban havia acrescentado mais aquele apelido.

Elaine gostava.

_ Se não tá pronta para uma faculdade, não a faça ainda. Nós podemos viajar, sabia?

Ela ponderou por alguns minutos, encarando-o curiosa. Ban nunca havia falado de viajar.

_ Viajar? _ repetiu com um sorriso bobo. _ Viajar para onde?

Ban pôs um braço atrás da nuca, também sorrindo. Estavam deitados sobre uma toalha de piquenique, na grama baixa do jardim de Elaine.

_ Não sei ainda. _ ele afastou uma mecha loira para atrás da orelha de Elaine. _ Para o Arizona, talvez. Quero conhecer a Reserva Hopi.

_ Hopi? _ Elaine ecoou, curiosa e surpresa.

_ É. _ confirmou. _ E depois para o México, provar Polvorón e Garapiñados. _ Elaine riu novamente, as sobrancelhas franzidas com os nomes esquisitos que nunca ouvira antes. Ela esperava que fossem algum tipo de comida típica. Se não, ela não fazia ideia do que diabo seria essas coisas com nome de bebida barata.

Ban, por outro lado, parecia muito animado enquanto contava seus planos.

_ Há muita coisa para a nós descobrirmos. _ finalizou. _ Um mundo inteiro.

A loira repousou o queixo no peito largo de Ban, encarando-o de forma divertida e apaixonada.

_ Nós?

_ Sim. _ ele segurou o rosto miúdo com suas duas mãos. _ Eu já havia pensado nisso há muito tempo. Não queria permanecer aqui para sempre. Eu tinha o Meliodas, e seu irmão admitindo ou não, eu tinha a ele também. Vez ou outra Diane conversava comigo quando ela ia até o bar, e  também tinha Elizabeth, que sempre esteve com o Meliodas e acabou se tornando uma boa amiga. E Hawk, tão prestativo e leal... mas... _ ele suspirou. _ Ainda assim, eu estava sozinho. Tinha os melhores amigos que eu poderia ter, mas ainda era solitário, faltava algo. E eu comecei a planejar essas viagens para dar um sentido a minha vida, e comecei a querer conhecer tudo o que eu pudesse. Porque sei lá... era divertido planejar. Me fazia sentir que eu tinha um objetivo na vida. Diminuía o vazio dentro de mim.

Elaine beijou as duas mãos que seguravam seu rosto, profundamente tocada. Era engraçado, e esquisito, mas ela sentia-se do mesmo modo.

Ela tivera uma ótima família. Ainda que seus pais vivessem se cutucando, ainda que o homem fosse um irresponsável e a mulher uma viciada em trabalho, eles a amavam e dariam tudo para ver ela e o irmão felizes e seguros. Elaine tinha plena certeza disso. Sempre teve. E tinha avós amorosos e gentis, e nunca lhe faltara nem amor e nem nada material.

E então veio Oliver, como um furacão em sua vida, levando sua inocência e sua instabilidade mental.

Contudo, mesmo antes de Oliver, Elaine lembrava de sentir-se vazia e oca. Ela nunca entendeu. Ela tinha tudo, literalmente tudo, mas ainda assim, faltava algo, e Elaine às vezes se desesperava porque ela não tinha a remota ideia do que seria essa coisa tão importante que lhe impedia de ser plenamente feliz.

Mas agora ela sabia. Ela sentia dentro do seu peito que agora tudo estava bem, em seu devido lugar, e não sentia mais aquele vazio dilacerante que costumava sentir.

_ Eu vou com você. _ Elaine afirmou, sentindo-se muito lúcida e agitada. _ Eu vou com você para qualquer lugar, Ban.

Se pessoas pudessem explodir de felicidade, Ban teria explodido.

*  *  *

Ela estava trancada. Os pais discutiam no corredor, nervosos e apreensivos. Elaine podia ouvi-los nitidamente através das paredes.

_ Não podem fazer isso! Não podem! _ dizia Eric.

_ Mas vão fazer! _ Lianne cochichou, a voz apavorada. _ O advogado dele abriu um processo para transferir ele! Transferi-lo para uma penitenciária da Austrália. Para ser julgado lá!

_ Isso vai atrasar tudo... além de que lá eles não aprovam a pena de morte e no máximo ele vai pegar vinte anos, e ainda vão liberar ele antes por bom comportamento ou qualquer outra merda. _ um som abafado ecoou no corredor, a parede de gesso tremulou um pouco.

Eric havia a socado. Um quadro caiu com o impacto.

_ É minha culpa, é minha culpa... _ a mãe começou a balbuciar, parecendo em pânico.

Elaine sumiu debaixo das cobertas, apanhando seu celular deixado de lado e começando a digitar uma mensagem com os dedos trêmulos. Trinta minutos depois, Ban estava alisando seus cabelos e tentando parar seu choro.

Tudo que Elaine pensava é que Oliver logo estaria solto e iria caça-la como se ela fosse um rinoceronte raríssimo. E ela tremia só de imaginar o que ele faria com ela quando a apanhasse.

_ Eu não vou deixar nada acontecer com você, loirinha. _ dizia enquanto fazia círculos na nuca da garota, querendo acalma-la o quanto antes. Lhe doía vê-la tão assustada. _ Eu vou proteger você, ele não vai te alcançar.

Ela ergueu o rosto úmido e inchado.

_ Promete?

_ Prometo.

Elaine se aninhou entre as pernas de Ban, deitando a cabeça sobre sua coxa e fechando os olhos exaustos, depois de quase três dias consecutivos sem dormir.

*

Quando Elaine telefonara para a sua avó materna, ela lhe dissera para ter fé, e que tudo ficaria bem. Mas nada ficou bem. As coisas só pioraram.

Em Abril, um homem chamado Martin Davis _ acusado de tráfico de pessoas e porte ilegal de armas _ fugiu da penitenciária em que estava aguardando seu julgando.

E junto com Martin Davis, Oliver White.

Elaine estava em pânico. Sempre pensava em Oliver, solto, caçando-a. Sabia que ele estava procurando-a, tremia sempre que lembrava que ele havia fugido. Tinha pesadelos quando conseguia dormir, vomitava quando conseguia comer. Nesse ritmo, ela perdeu cinco quilos em duas semanas.

Ban passava mais tempo na casa da garota que em qualquer outro lugar. Havia camisas suas espalhadas pelo quarto de Elaine, meias, coturnos e sua escova de dentes. Ban estava sempre com ela. A ajudava a comer, e a ajudava quando vomitava. A ajudava quando tinha crises de pânico e começava a chorar, e a ajudava quando estava tão trêmula que não conseguia ficar de pé. Também a ajudava a tomar banho, e lhe vestia, como alguém vestiria uma criança pequena.

O quarto de Elaine era uma confusão de colchões, lençóis, roupas e caixas de remédio para os nervos. Todos dormiam ali; Eric, Meliodas, King, Diane e Elizabeth. Todos amontoados em colchões espalhados pelo quarto, enquanto Ban dormia com Elaine na cama.

Ela se sentia mais segura assim.

Lianne estava internada em um hospital psiquiátrico. Havia tentado pular de uma janela do primeiro andar, apenas ralou os cotovelos. Mas ainda assim, Eric achara melhor a deixar resguardada por algumas semanas.

Quando ela voltou, estava com dois pedaços de esparadrapo sobre o dorso de cada mão, um sobre o outro, em um perfeito "X". Lianne chorava muito e pedia perdão a Elaine. Perdão por não ter descoberto o que o Oliver estava fazendo as escondidas, e perdão por ter sido fraca e por ter desejado desaparecer.

Mas, mesmo com todas as suas crises de pânico, paranoias constantes e a sensação de que algo ruim iria lhe acontecer, a qualquer momento, Elaine tinha fé e acreditava que tudo ficaria bem no final.

Ban havia prometido que Oliver não a alcançaria, Elaine acreditava piamente em Ban.

_ Isso é uma loucura, eu não vejo a luz do sol há três semanas. _ Diane sussurrou para Elizabeth. _ De alguma forma, isso lembra Anne Frank. Uma versão de Anne Frank completamente louca.

*  *  *

Junho chegara.

Faziam dois meses que Oliver havia fugido. Dois meses em uma completa loucura. Todos começaram a acreditar que Oliver havia conseguido sair de Tóquio, e que Elaine estava segura. Lentamente, ela mesma começou a se acalmar. Lentamente, ao lembrar que Oliver havia fugido, já não tremia como um broto de bambu.

As coisas estavam voltando ao normal. Muito lentamente.

_ Isso que eu chamo de gostar de doce. _ Ban comentou, correndo os olhos pelo carrinho de compras que Elaine empurrava.

A loira se esgueirou sobre uma prateleira, ficando na ponta dos pés para alcançar um vidro de calda de caramelo.

Ban sorriu de lado, o apanhando sem esforço algum.

_ Baixinha. _ ela mostrou a língua, como uma criança de seis anos faria. _ Para quê tudo isso? _ correu os olhos novamente pelo carrinho de compras, curioso com tanta coisa doce em uma compra só.

_ Quero cozinhar, só isso. _ respondeu parcamente, puxando uma caixa de gelatina de morango e a jogando no carrinho. Encarou Ban, sorrindo timidamente. _ Na verdade, queria que a gente cozinhasse juntos...

Ban sorriu. Não um meio sorriso, ou um sorrisinho de canto. O homem sorriu, de orelha a orelha, os olhos escarlates cintilando como dois rubis expostos ao sol.

_ O que diabos vamos fazer com isso? _ indagou encarando uns saquinhos que dizia em letras garrafais: DRAGÃO AZUL.

O outro apenas sorriu em resposta. Continuou tamborilando os dedos, impaciente. Havia apenas dois carrinhos na frente deles, mas Ban não queria ficar ali, em uma fila de supermercado, por mais dez minutos ou mais. Queria ir cozinhar com Elaine.

A loirinha soltou uma lufada de ar, ficando na ponta dos pés para dar uma boa olhada ao redor, apenas para ter algo para se distrair. Não havia nada além que carrinhos de compras, filas enormes, crianças chorando e velhos conversando sobre a família.

Então, desistindo de encontrar algo interessante para ocupar a mente enquanto esperava, Elaine se dobrou, apoiando a cabeça no corrimão do carro. Suspirou, cansada e entediada. Ficou desse modo por longos minutos, até as pálpebras fecharem inconscientemente e ela cochilar ali mesmo.

A caixa passou o cartão de um casal novamente, e, novamente, algo deu errado. Ban bufou, batucando o pé no piso branco do supermercado. Pensou em ir para outra fila, porém as outras estavam bem maiores.

O casal começou a discutir, ali, em público. Todos se esgueiraram para olhar, curiosos. Um grupo de jovens juntou-se a fila, ficando três carrinhos atrás de Ban. Enquanto todos cochichavam sobre o casal que brigava, os jovens comentavam sobre "Pernas finas" e "Garota magricela".

Ban os olhou por cima do ombro, prestando mais atenção.

_ ... eu não, fica você. _ dizia um, que ao que parecia, estava sendo zoado pelo resto do grupo.

_ Você é viado, é? _ o que parecia mais sem noção disse, empurrando o garoto alvo das brincadeiras. _ Magricela ou não, o importante é o que tem entre as pernas. _ e os outros riram, assentindo em concordância.

O garoto que estava sendo alvo de chacota estava vermelho como um pimentão. De raiva.

_ Eu não sou cachorro para comer osso. _ bufou, e os outros riram alto, como se tivessem ouvido uma ótima piada.

Elaine se remexeu, mas não acordou totalmente.

O senhor sem noção do grupo deu uma boa olhada na garota adormecida, inclinando a cabeça um pouco para o lado com um sorriso malicioso.

_ Ela é pequena. _ comentou baixinho, mas Ban estava ouvindo por estar prestando muito atenção ao que ele dizia. _ Eu iria querer comer ela. _ sorriu, fazendo Ban trincar o maxilar. _ Deve ser apertada como uma virgem.

Elaine se remexeu novamente, balbuciando algo sem sentido. No entanto, ao ouvir um guincho agudo, semelhante a de um cachorrinho machucado, ela abriu os olhos e se endireitou, atordoada e confusa. Viu Ban arremessando alguém em um amontoado de fraudas na promoção, e então despertou, como se só naquele momento ela de fato tivesse acordado.

Os outros garotos estavam paralisados, observando o amigo ser encurralado pelo grandalhão.

_ Ban! _ ela o chamou, sua voz ecoando nos corredores do supermercado.

O casal que discutia olhava, os velhos olhavam, as crianças que choravam por conta de algum cereal caro, olhavam.

O homem ergueu o punho bem alto, o garoto se encolheu, esperando o soco. Ban sorriu, saindo de cima dele e virando-se para voltar para onde estava. O garoto suspirou de alívio, levantando-se em um segundo. Então, Ban voltou-se para ele outra vez, acertando um soco em seu queixo que o fez ser impulsionado para trás e cair estatelado no corredor de produtos de limpeza.

Elaine encarou Ban boquiaberta enquanto ele se aproximava com um sorriso torto. Ele passou um braço sobre seus ombros, virando-a para frente. Ela continuou o encarando, os olhos saltados para fora das orbitas. Enquanto colocava as compras dentro do carrinho, ainda o encarava, e ele ainda sorria. Quando a caixa entregou a nota fiscal e o troco, suas mãos estão tremulas e algumas moedas caíram ruidosamente.

Muito calmamente, Ban guardou as compras e fechou a mala da picape com um baque surdo. Elaine ainda o encarava, lívida e apreensiva.

_ Ele estava falando de você. _ explicou enquanto ligava o motor.

_ Tudo aquilo porque estava falando de mim? _ retrucou secamente, passando o cinto de segurança.

Ban franziu a testa, virando-se para encara-la.

_ Estava falando coisas nojentas, Elaine. Não estava simplesmente falando de você. _ ele acelerou, saindo do estacionamento. Bufou, as mãos apertando o volante com mais força do que seria necessário. _ Todos eles estavam. Eu deveria esperar eles saírem e...

_ Não. _ Elaine o cortou, chacoalhando a cabeça energicamente. Algumas mechas escaparam do rabo de cavalo frouxo. _ Pare com isso... _ encarou as mãos do homem que ainda apertavam o volante tensamente. Os tendões estavam ressaltados sob a pele. Vê-lo dessa forma fazia Elaine ficar agitada. _ Você é muito ciumento...

_ Não é ciúmes. _ ele rosnou. _ Eles estavam falando um monte de merda, Elaine.

Ela assentiu lentamente, voltando-se para a estrada. Encarou o para-brisa, acalmando-se um pouco enquanto observava o sinal fechar. Cerca de cinco minutos depois, ele continuou fechado. Os outros motoristas começaram a buzinar, como se isso fizesse o transito andar magicamente.

Elaine o encarou. Ban ainda estava irritado, sabia disso. Ela desafivelou o cinto de segurança, aninhando-se junto ao seu braço. Como esperava, Ban relaxou em um segundo, o que a fez sorrir e inspirar seu cheiro.

_ Obrigada. _ brincou com um fiapo da calça rasgada do homem. Sorriu quando lhe beijou a testa, fechando os olhos para cochilar enquanto o transito permanecia estagnado.

*

Em Agosto, o clima em volta da casa de Elaine estava calmo e sereno, depois de tantos meses em um completo caos. Os policiais vinham só uma vez por semana, para falarem a mesma coisa: Oliver White permanecia desaparecido, e que era muito provável que o maldito conseguiu sair do país.

Helbram estava quase sempre com King, em seu quarto, conversando sobre a faculdade dele ou qualquer outra trivialidade. Pareciam compensar os anos afastados. E, é claro, Diane sempre aparecia também. E King pedia para ela ter paciência, que queria aproveitar a companhia de seu velho amigo.

No começo, Diane gritava com King e dizia que ele era o seu namorado, e não escondia o quanto odiava Helbram. Mas, nas últimas semanas, ela começou a se aproximar do esverdeado e agora ela própria perguntava por ele quando por ventura Helbram não se encontrava por lá. O que era bom. King sentia-se desnorteado sendo alvo dessa disputa por atenção.

Meliodas e Elizabeth não paravam de falar de Londres, que iriam para lá nas férias. Também continuavam com a terrível mania de desaparecerem de repente, e reaparecem descabelados e com as roupas pelo avesso. Elaine duvidava que um dia parariam com isso.

Lianne não tentara pular do primeiro andar outra vez, e nem murmurava constantemente que a culpa era dela. Se ocupava no jardim da casa, adubando plantas e semeando rosas de diversas cores.

Elaine a observava sempre da janela do seu quarto, aliviada por sua mãe não querer mais morrer. Ou, ao menos não tentar morrer. Era só questão de tempo e paciência, Lianne ficaria bem.

Eric revezava entre ficar de olho na filha e na ex-esposa. Embora Elaine tenha melhorado bastante e não precisasse mais que todos dormissem em seu quarto, o pai ainda mantinha um pé atrás, preocupado e apreensivo. Sentia-se do mesmo modo com relação a Lianne, estava sempre brechando as persianas da janela da sala, atento aos atos da mulher.

Em Setembro, o Outono davas seus primeiros sinais de vida. Por onde Elaine andava, havia folhas secas pelo chão, até que em uma bela manhã cinzenta, o chão simplesmente estava coberto de folhas secas e Elaine tinha que caminhar e chutar uma porção delas do caminho.

King estava na casa de Helbram. Não havia ninguém em casa além de Lianne, dando uma olhada numa roseira amarela no jardim. Elaine subiu os degraus da escada lentamente, pensando se seu suéter azul estaria enxuto. Havia o lavado no dia anterior, queria usa-lo para ir ao cinema com Ban.

Ela tirou o celular do bolso, mandando uma mensagem para seu namorado. Pôs a sacola que segurava sobre a cama, havia ido comprar Donuts em uma loja que um casal de americanos abrira a pouco tempo. Queria que Ban provasse os Donuts, tinha certeza que ele iria adora-los.

Ban lhe respondeu que estava saindo de casa, e que era para Elaine estar pronta quando ele chegasse ou ele iria puni-la. Elaine sorriu, jogando o celular sobre sua cama. Seguiu para o banheiro, disposta a demorar no banho, a fim de saber o que Ban faria. Quando a banheira ficou cheia, Elaine fechou as torneiras e deixou a toalha cair aos seus pés, se enfiando na água morna. Fez uma concha com as mãos, molhando o rosto. Depois afundou na água, voltando a superfície para repousar a nuca na borda da banheira.

Balançou os pés sob a água, os olhos fechados, um sorrisinho erguendo o canto dos lábios.

_ Ai! _ Lianne chupou o dedo que furara na roseira, sentindo-o arder. Ao tira-lo da boca, ainda sangrava. Sangrava muito para algo tão banal.

Ela deixou o jardim, passando pelo hall e entrando em casa com o dedo enrolado no cachecol, que agora tinha um ponto vermelho escarlate. Procurou pela caixa de primeiros socorros, xingando Eric mentalmente por ter sumido com ela. Era a cara de seu ex-marido perder as coisas dentro da sua própria casa.

Um vento mais forte balançou todas as plantas do jardim. As roseiras, as margaridas, as mudinhas e até o vaso que abrigava um pequeno cacto saiu do lugar.

Oliver escalou o ipê amarelo, atrepando-se no beiral da janela de Elaine e caindo para dentro do quarto com um barulho alto. Havia quebrado um jarro colorido que Lianne havia feito para a filha.

_ Droga. _ a mulher rosnou ao sair da dispensa. Sobiu os degraus da escada, murmurando alguma ofensa ao ex-marido, como se ele estivesse ao seu lado. Foi até o quarto dele e não achou nada além que aquela bagunça que ela bem lembrava.

Rosnou, saindo do quarto e fechando a porta atrás de si. Ia descer a escada e procurar naquele velho baú que ela sabia que Eric guardava debaixo da pia da cozinha. Mas ela ouviu algo, a voz de sua filha, a chamando calmamente, como fazia quando queria perguntar se ela por ventura viu seu par de meias novo.

Lianne virou nos calcanhares, subindo os dois degraus que havia descido e caminhando em direção ao quarto de Elaine, ainda com o dedo enrolado em seu cachecol. Franziu as sobrancelhas, vendo o jarro quebrado no piso. Empurrou um caco grande que estava em seu caminho com suas botas sem salto. Empurrou a porta do banheiro que estava entreaberta, se perguntando como o beiral da janela estava sujo de terra, o jarrinho que havia presentado sua filha não tinha terra, só pedrinhas coloridas.

Seus joelhos cederam quando ela viu Oliver. Ele estava de costas, sobre a banheira, o corpo todo chacoalhava. Estatelada no chão, Lianne viu os braços finos de Elaine balançando debilmente em todas as direções, as pernas chutando o corpo do homem em uma tentativa falha de afasta-lo. De se salvar.

Ele estava com as mãos em volta de seu pescoço, mantendo-a debaixo da água. Afogando-a e asfixiando-a.

É engraçado como alguém pode pensar em tantas coisas em tão pouco tempo. Uma vida inteira em um segundo. Mas não era Elaine quem estava pensando. Elaine apenas pensava em conseguir puxar ar para os pulmões, estava angustiada e sua cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento.

Era Lianne. Enquanto via as tentativas vãs de sua filha, ela lembrou-se de quando ela era apenas uma criança. Lembrou-se de quando ela deu seus primeiros passos, de quando seus primeiros dentes começaram a nascer e Elaine chorava sem parar, mordendo tudo que lhe davam. Recordou do primeiro momento que a viu. Era um bebê tão pequeno, e tão bonito. Tinha poucos fios sobre a cabeça frágil, dourados, como os de Eric. E tinha bochechas rosadas, e lábios cheios e igualmente rosados.

Naquele momento, enquanto via Elaine ao lado do irmão, ambos empacotados em mantas de cores diferentes, Lianne chorou. Não acreditava que ela havia trazido ao mundo duas coisinhas tão lindas.

_ Pare de lutar... _ Oliver balbuciou, apertando os dedos em volta do pescoço de Elaine. _ Pare, desgraçada!

Lianne engatinhou para dentro do banheiro, não conseguia levantar. Suas pernas estavam bambas, trêmulas como nunca esteve. Ela agarrou as pernas do homem, puxando-o para longe. Mas ele chutou seu rosto, sem sequer virar-se para o fazer.

_ Por favor! _ berrou, agarrando as pernas de Oliver outra vez. Ele não ligou. _ Por favor, pare! _ ela agarrou a camisa suja de lama de Oliver, puxando-a com todas as forças que tinha. _ Pare! _ a camisa cedeu, rasgando-se como se fosse um papel barato. Mas Oliver não largou Elaine, o olhar psicótico, fixo no rosto da garota sob a água inquieta da banheira. As borbulhas na superfície diminuíam, mas continuavam lá.

Elaine ainda lutava.

Lianne sabia que não iria conseguir afastar Oliver. Ele era o dobro em tamanho, quase o triplo em largura, e estava louco e decidido a matar sua filha.

Não. Por Deus, ela não podia deixar isso acontecer. Ela tinha que impedir, ela tinha que fazer algo.

Engatinhou de volta para a porta. Levantou usando a maçaneta de apoio, passando para o quarto com as pernas que ameaçavam ceder a qualquer momento. O celular sobre a cama não parava de tocar, a tela acesa. Mas Lianne não o via, não o escutava.

Apanhou um caco de porcelana _ o mesmo que havia tirado de seu caminho _ , e voltou para o banheiro. Não tinha certeza se conseguiria fazer grande estrago com aquilo, mas tinha que ao menos machuca-lo. Tinha que o fazer urrar de dor e se esquecer de Elaine momentaneamente.

Ela ainda balançava um pouco os braços, mas as pernas já estavam quietas dentro da banheira. Elaine estava perdendo a consciência.

Lianne apunhalou as costas nuas de Oliver, e ele arqueou-se de imediato, gritando de susto e de dor. No mesmo instante, a porta do banheiro bateu contra a parede e Ban estagnou diante do que encontrou, mas ao contrário de Lianne, não pensou em nada a não ser em Elaine sob Oliver, tentando desesperadamente sentir oxigênio encher seu peito.

Ele agarrou o tronco do homem, o puxando com força para longe da banheira. Mas Oliver agarrou o rosto de Elaine, que tossia violentamente e respirava com lufadas pesadas.

_ Largue-a! _ Lianne implorou novamente, vendo o que homem estava fazendo. _ Por favor, largue-a!

Mas Oliver não a largou. Segurou os cabelos curtos e molhados de Elaine, arremessando sua cabeça contra a borda da banheira.

_ Por favor!

Ban estava rosnando como um cachorro louco e enraivecido. Parou de puxar Oliver pelo tronco, sujo do sangue que escorria do ferimento do homem. Em vez de tentar afasta-lo de Elaine, se ajoelhou-se ao lado da banheira e puxou o corpo dela para si, impedindo por alguns segundos que Oliver batesse sua cabeça contra a porcelana branca como leite.

Os vizinhos estavam ouvindo a toda aquela inquietação. Cercavam a casa nervosos, telefonando para a policia local.

Eric estacionou o carro de qualquer jeito, saltando para fora e correndo com o filho para averiguar o que estava acontecendo. Temia que sua ex-esposa tivesse tentado pular do primeiro andar novamente ou que Elaine estivesse surtando. Não cogitou, nem por um segundo, o que realmente estava havendo.

Não esperava por isso. Ninguém esperava.

Quando alcançou o quarto da filha, de onde provinha todo aquela gritaria, deparou-se com Lianne berrando em meio a uma luta corporal com Oliver. Ela lutava mesmo, com socos e chutes, puxões de cabelo e arranhões.

Ele queria fugir. Queria correr de volta para o quarto e pular a janela. Lianne tentava impedir.

Foi quando King empurrou o pai do caminho e correu para a banheira que ele, Eric,  viu Ban e sua filha.

_ Não! _ King berrou, já chorando ao lado de Ban. _ Não, não, não! _ ele começou a puxar os próprios cabelos, caindo no piso do banheiro e arrastando-se para trás até bater as costas na parede. _ Não! _ soluçou, vendo Ban tentando parar aquele ferimento desesperadamente. Não sabia o que o assustava mais: todo aquele sangue ou o corpo imóvel de sua irmã.

Quando Ban a puxou totalmente para fora da banheira e a deitou no piso, sua cabeça tombou para o lado de King, e ele viu que sua pele clara agora estava meia azulada, de uma forma nada saudável, e seus lábios estavam roxos. Estava tão quieta, e sangrava tanto...

Seu coração apertou ao perceber que Elaine parecia morta.

Àquela altura do campeonato, Ban já estava com as roupas completamente molhadas e sujas de sangue. Cobria a têmpora de Elaine com as duas mãos, o sangue escorrendo por entre seus dedos. A nuca também estava machucada e o sangue escorria por entre as listras da cerâmica branca.

Ali, vendo Elaine sangrando como um balde furado, imóvel e azulada, Ban chorou. Fazia anos que ele não chorava. Seu primo lhe dizia que chorar era coisa que fracos faziam, e então Ban parou de chorar, para não ser surrado por ele. Acabou que não chorou nunca mais.

Até ver sua luz se extinguindo, se apagando a cada segundo.

Ban sempre tinha a sensação de que Elaine lembrava uma flor. Uma margarida. Ela era tão branca e seus cabelos tão loiros, além de ter uma aparência frágil e delicada. Mas agora, tinha a sensação de ver uma flor murcha e sem vida. O homem havia quebrado o coração apenas uma vez na vida: quando sua família morreu. Quebrou de um jeito que ele tinha certeza que nunca mais conseguiria remendar, e que nunca mais quebraria outra vez.

Mas Ban estava errado, completamente errado.

 Quantas vezes um coração pode ser quebrado?

Ao longe, ele ouviu o som de viaturas cercando a casa. Parecia distante demais, como se tivesse vindo de uma tevê em baixo volume.

_ Você vai ficar bem. _ disse secando as lágrimas e apanhando o corpo da garota do chão. Levantou, levando-a consigo. _ Você vai ficar bem, garotinha. Vamos viajar o mundo juntos, só eu e você. _ soluçou, apertando-a contra o peito enquanto descia os degraus. _ Por favor, lute só um pouco mais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Look do Ban: http://modajovemmasculina.com/wp-content/uploads/2015/03/coturno-calca-destroyed-moda.jpg
Look da Elaine: http://data.whicdn.com/images/225826112/large.jpg

Gente, eu estou desidratada ;-; sério, cês não tem noção do quanto que eu chorei escrevendo esse capítulo. ainda tô chorando ;-; 💔💔💔
recapitulando: esse é o penúltimo capítulo. Vai ter o próximo, o último, e um extra.


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