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História Salve-me - O fim é sempre um novo começo - FINAL


Escrita por: Ixteeer

Notas do Autor


Hello, cabritos! É, gente, eu voltei rapidinho u..u eu REALMENTE espero que vocês gostem do rumo que a minha história pegou. Do jeito que eu preferi a encerrar, estou contando com isso ;w; <33 também aviso de antecedência que ME PERDOEM se os trechos da música que eu coloquei no capítulo ficarem toscos ;w; eu não sei por qual razão, mas eu simplesmente tive NECESSIDADE de enfiar música aí. Então perdoam a tia se ficar um negócio coisado.
Relevem eventuais erros e boa leitura! <33

Capítulo 7 - O fim é sempre um novo começo - FINAL


Fanfic / Fanfiction Salve-me - O fim é sempre um novo começo - FINAL

 

_ CAPÍTULO SETE _

 O fim é sempre um novo começo

 

Eu ainda estou aqui
Perdido em mil versões irreais de mim

 

Ban não falara uma única palavra quando saíra de dentro de casa com Elaine em seus braços. Estava transtornado, qualquer um que pusesse os olhos no homem saberia disso.

Havia três viaturas em frente a casa, e cinco policiais entraram para averiguar o local. Os outros tentaram, em vão, questionarem Ban, mas o homem sequer assentia. Quando os policiais fizeram menção de tomar o corpo de Elaine, Ban mostrou os dentes, como um animal selvagem. Os oficiais decidiram apenas deixa-lo quieto, levando em consideração o visível desequilíbrio mental. Foram ver o motivo da demora dos colegas de profissão, e Ban ficara sentado na calçada alta da casa vizinha, com Elaine no colo.

Os vizinhos olhavam para a menina, começando a entenderem a história pouco a pouco. Mataram a menina Elaine, diziam horrorizados, ceifaram a vida dela. Maldito seja!

Ban não ofereceu resistência ao entregar Elaine para os socorristas da ambulância. A depositou numa maca com cuidado, como se ela fosse de vidro, frágil e quebrável. Uma socorrista o olhou com pena enquanto dois colegas de trabalho colocavam Elaine dentro da ambulância. Ela estava tão imóvel, naquela coloração que apenas os mortos adquirem. Meio azul, meio cinza. Era triste, embora fizesse parte de sua rotina, uma garota tão nova, aparentemente com um namorado maravilhoso e que a amava, morrer assim. 

Mas qual foi sua surpresa ao usar o estetoscópio e ouvir os batimentos cardíacos de Elaine. Lento, fora do ritmo. Como um passarinho cantando uma última vez antes de morrer. Haviam cobrido o corpo nu de Elaine com um lençol fino e branco, até seu pescoço. Ban segurava sua mão gelada, esfregando-a delicadamente como se para deixa-la quente outra vez. Os dedos finos e curtos estavam com aquela cor horrível, e a ponta dos dedos estavam azuis.

_ Ela ainda tá viva. _ a socorrista anuncia, mas não estava tinha esperança de que Elaine permanecesse viva até o hospital. Olhava Ban como olharia para uma criança se despedindo de seu peixinho de estimação. Com pena e com receio de como ele reagiria quando por fim o coração frágil de Elaine parasse.

Mas ele não parou. Elaine ainda estava lutando. 

 

Estou aqui por trás de todo o caos
Em que a vida se fez

 

Ban sentou-se num banco de estofado azul escuro. As roupas ainda estavam úmidas e sujas de sangue. Todos olhavam para ele, até mesmo os seguranças e as duas recepcionistas. Mas ele estava alheio a tudo ao seu redor, seu pensamento estava totalmente voltado para Elaine. Encarava o corredor para onde a levaram sobre a maca, como se de repente um médico fosse sair de lá e avisar que estava tudo bem, que Elaine já estava fora de perigo e que agora ela apenas precisava descansar. Mas o médico nunca vinha, e Ban ficava mais transtornado a cada minuto de espera. 

Não me deixe, ele pensava, é tudo o que eu peço. Apenas não me deixe, Elaine. Lute só um pouco mais.

Tenta me reconhecer no temporal
Me espera

 

[...]

 

_ É o Oliver White. _ o policial anunciou para o grupo de repórteres que o cercava. _ Fugitivo há cinco meses, acusado de tentar estuprar a enteada.

Oliver sai de dentro de casa escoltado por cinco policiais. Os repórteres o abordam, fazendo-lhe perguntas que ele jamais responderia. A vizinhança gritava ofensas e cuspia em sua direção. 

Diane estava no primeiro andar da casa, tentando acalmar King juntamente com Helbram. Ele não parava de repetir, enquanto puxava os cabelos e soluçava, que a irmã havia morrido.

Lianne sai de dentro de casa, os cabelos desgrenhados e a pele cheia de hematomas. E, é claro, que os repórteres a abordaram também enquanto a mulher descia os degraus do hall, parecendo muito decidida a algo. Ela afastou um microfone com um tapa, encarando os vizinhos que ainda estavam enfurecidos em volta dos policiais que resguardavam Oliver.

_ Ele matou a minha filha! _ berra apontando um dedo trêmulo para o ex-marido, de costas para ela. _ Matou minha filha de forma grotesca! 

_ Isso vai dá merda. _ uma policial comenta dentro de uma viatura com os colegas. _ O bairro em peso tá aí. Não podemos simplesmente atirar na população.

O policial que estava ao seu lado, comendo um sanduíche, assentiu em concordância, também observando o tumulto.

_ E nem vamos. _ dá de ombros, de boca cheia. _ Não vou arriscar o meu cargo pra salvar o couro desse porco.

Lianne sabia o que suas palavras iriam ocasionar. Sabia que havia pessoas demais ali, demais para os policias conseguirem conter. E era de seu desejo que acontecesse exatamente o que estava propenso a acontecer.

_ Chamamos reforços? _ um policial mais novo pergunta ao resto do grupo. Estava com um aparelho na mão, esperando a resposta. 

Eles se entreolham, depois todos olham ao mesmo tempo para a população que berrava e debandava para longe, levando Oliver.

_ Não. _ o mais gordinho responde. _ Esse demônio vai ser transferido para a Austrália se chegar vivo a delegacia. _ bate no ombro do rapaz que guardava o aparelho no bolso da calça. _ Aprenda, filho. As coisas saem do controle às vezes. _ pisca, e o mais novo assente, entendendo-o perfeitamente.

 

 

_ Cristo! Que é aquilo?! _ Elizabeth põe o rosto para fora da janela, olhando atordoada para o grande tumulto no meio da praça, apenas duas ruas depois da casa de Elaine. Meliodas estaciona em um acostamento, saindo do jipe sem sequer bater a porta. Elizabeth corre atrás dele, se enfiando no meio da confusão e chocando-se contra suas costas quando ele estagna no lugar.

Ele iria mandar ela voltar pro carro, mas já era tarde. Elizabeth já havia visto que diabos era aquilo, e agora virava-se de costas e vomitava compulsivamente.

Oliver estava preso a um poste por uma mangueira que matinha seus braços grudados ao lado do corpo e envolvia seu troco como uma cobra. O supercílio estava aberto, os olhos inchados. O lábio estava bastante machucado e sagrava no canto. A pior parte era o corpo, completamente nu e surrado.

Elizabeth tinha sensação de estar na idade média. Quando finalmente não havia mais nada para vomitar, limpou a boca com o dorso da mão e endireitou-se. 

_ Vamos, Elaine deve estar precisando de nós. _ diz para Meliodas, recusando-se a virar e ver aquilo outra vez.

Ele concorda, entrelaçando sua mão a dela e puxando-a para longe dali.

_ Li... anne. _ o homem balbucia enquanto sente algo molhar seus pés. A mulher até o presente momento assistia a tudo em silencio, quieta num canto. _ Li... anne.

Ela se aproxima. Ele suspira aliviado. Ela vai me salvar, pensa, vai impedir que terminem de me matar. 

Lianne para diante de Oliver, inexpressiva. Ele acha que ela vá beija-lo, ou abraça-lo. Mas Lianne apenas ergue uma mão, deixando cair o isqueiro aceso que segurava. 

Sorri, andando para trás enquanto as chamas subiam num segundo.

 

*  *  *


Tenta não se acostumar
Eu volto já
Me espera

 

Elaine permanecia imóvel e ligada a aquela máquina enorme e barulhenta que a mantinha viva. Estava em coma há dois meses por conta do longo período em que fora asfixiada e afogada. Os médicos diziam que se ela chegasse a acordar, era muito provável que tivesse alguma sequela resultante das pancadas na cabeça. 

Ban permanecia ao seu lado, segurando sua mão e conversando com ela constantemente. Falava sobre o México, o Arizona, a Reserva Hopi e o mundo inteiro que iriam descobrir juntos. Às vezes chorava com a sensação terrível de estar falando sozinho. Era dilacerante encarar Elaine e ela não o encarar de voltar com seus olhos cor de caramelo. 

Os pais da garota também estavam sempre no hospital. Eric e Lianne revezavam entre si, enquanto Ban permanecia na salinha o dia inteiro, às vezes esquecendo-se até de comer.

O lugar estava sempre cheio de buquês de flores e pelúcias, presentes de pessoas que ouviam falar sobre "o caso Elaine" e viam vê-la. Chegara a um ponto de que Lianne começara a levar os presentes para o quarto da filha, pois estavam ocupando muito espaço.

King sumira por quase um mês inteiro, reaparecendo transtornado. Evitava ir ver Elaine, não queria ter aquelas lembranças horríveis. 

Diane e Elizabeth apareciam várias vezes durante a semana para falar um pouco com Elaine, alisando o dorso de sua mão delicada e coberta de esparadrapo. 

Meliodas estava sempre ligando para Ban, mas assim como King, evitava ir até o hospital em que Elaine estava internada. Às vezes sentia vontade de mandar Ban parar de ter esperanças, para ser menos doloroso quando Elaine tivesse morte cerebral. Ele já havia perdido uma família inteira, Meliodas não gostava de pensar em quando Ban a perdesse também.

Mas Ban não perdia as esperanças. Não saia do lado de Elaine, esperando pelo momento que ela abriria os olhos emoldurados por longos cílios loiros. 

Eu que tanto me perdi
Em sãs desilusões
Ideais de mim

 

Gowther começou a aparecer quando fizeram-se dez meses que Elaine estava naquele estado. Ficava horas a fio encarando-a com a cabeça inclinada para um lado, parecendo divagar consigo mesmo. Sempre que vinha, depositava uma única margarida entre suas mãos entrelaçadas. Ban a retirava de lá assim que o Gowther ia embora, jogando-a no lixo com violência.

Aquilo fazia Elaine parecer cada vez mais um cadáver.

 

Com um ano e poucos meses, Guila começou a vir junto com Gowther.

Guila, a amiga de Jericho.

Dizia que estava começando se preocupar, e que era pra Ban se conformar que Elaine não acordaria mais. Iria lhe poupar de um sofrimento ainda maior que a morte de sua namorada, que nutrir esperanças vãs seria mais doloroso que qualquer outra coisa.

Mas Ban permanecia acreditando que Elaine abriria os olhos a qualquer momento, estava sempre alerta, esperando.

No fim de junho, ela fizera dezenove anos. Foi a coisa mais deprimente que os médicos daquele hospital presenciaram aquele ano.

Os pais de Elaine choravam abraçados, King estava num canto do quarto, também chorando. Elizabeth e Diane tentavam acalma-lo, enquanto Meliodas alisava um braço de Ban, o rosto virado para o lado contrário ao corpo de Elaine.

Ban apenas encarava a loira, implorando mentalmente para que abrisse os olhos e cessasse aquela dor que sentia em seu peito. Mas ela não abriu. E não abriu no ano seguinte, e nem no outro. Quando fizera vinte e dois anos, também não abriu em nenhum momento. Permanecera quieta e sem dá sinais de que abriria um dia.

Mas, ainda assim, Ban continuava acreditando.

Não me esqueci
De quem eu sou
E o quanto devo a você

 

*  *  *

 

Tenta me reconhecer no temporal
Me espera

 

Elaine estava sempre divagando entre a realidade e sua mente. Quase sempre não tinha certeza se o que ouvia e sentia era real ou fruto de sua enorme vontade de acordar. Ela sentia constantemente o calor da mão de Ban envolvendo a sua mão, e desejava aperta-la, retribuir o afago, mas não importava o tamanho do seu desejo, seu corpo não respondia os comandos do seu cérebro. 

Era estranho não ter noção de tempo e espaço. Às vezes tudo desaparecia repentinamente, e então sua consciência voltava, tão de repente quanto se fora. E ela ouvia as vozes de seus amigos ao longe, longe demais para entender o que diziam. Ouvia seus pais também, e até mesmo vozes que desconhecia. Ficava desesperada, querendo entender o que diziam. E quando era Ban que falava, seu desespero triplicava. Queria pedir que falasse mais alto, mas seus lábios não se moviam e suas cordas vocais não a obedeciam. 

Elaine também sentia quando uma enfermeira a limpava. Sentia o lenço umedecido passando por sua pele, e a voz maternal ao longe, dizendo-lhe coisas que não compreendia. Ela não sabia ao certo quando começou a compreender, mas em dado momento, ela começou lentamente a entender as vozes que ouvia ao seu redor.

_ É engraçado como mesmo no leito de morte a beleza não a deixou. _ Elaine ouviu  Gowther comentar uma vez, e ficara muito irritada. Queria gritar que não estava morrendo, até que parou e deu-se conta da situação. Estava deitada em uma superfície dura, e ouvia bipes estranhos. Não conseguia se mover, nem mesmo abrir os olhos, e estava sempre daquele modo. Como uma das mudinhas de sua mãe. Eu estou morrendo? , se perguntou, e naquele momento Ban podia jurar que vira as sobrancelhas da garota franzirem minimamente.

Tenta não se acostumar
Eu volto já
Me espera

 

A partir dali, Elaine tentara mais arduamente retomar o controle do próprio corpo. Focava em uma parte específica, os dedos das mãos ou dos pés, e esfossava-se para move-los. Mas nada acontecia. Era tão frustante. Frustante e assustador. Não queria aceitar que virou uma mudinha, que estava vegetando, e que logo seu cérebro também seria inútil como seu corpo, e ela certamente morreria quando isso acontecesse.

Não gostava da ideia de morrer. Não gostava de ideia de estar em algum lugar que Ban não estivesse. Queria apenas acordar, e perceber que tudo não possou de um sonho maluco e sem sentido. Queria acordar em seu quarto, e ser punida por não estar pronta quando Ban chegasse e a visse desarrumada. Seria bom, pensou, daria tudo pra ver a reação dele. E naquele momento, Ban sentiu seu coração falhar duas batidas ao ver as bochechas de Elaine ficarem repentinamente rosadas. Não era nada muito alarmante, mas Ban não havia enlouquecido ainda. Ela corou, ele viu. Mas ao olhar ao redor, procurando pelos pais de Elaine ou por algum enfermeiro, percebeu que foi apenas ele que presenciou o feito.

Não acreditariam nele. Todos estavam desesperançados e sequer desfaçavam que não acreditava quando Ban dizia-lhe que por ventura Elaine franziu as sobrancelhas, ou moveu os lábios muito sutilmente. Achavam que ele estava ficando louco a aquela altura, imaginando coisas por desejar tanto que sua namorada reagisse.

_ O que você tá pensando? _ Elaine o ouviu perguntar, e sua voz estava bem próxima. Provavelmente Ban estava sussurrando em seu ouvido. _ Eu sei que tá pensando em algo, garotinha. Apenas me fale. _ E Elaine desejou com toda a sua força de vontade mover os lábios e falar, mas eles não se moveram, e sua voz não saiu.

Quando fizeram-se quatro anos que Elaine permanecia em coma, Ban passou a ler para ela. 

_ É só com o coração que conseguimos ver de verdade. _ ela o ouviu dizer. Reconheceu imediatamente sendo uma trecho do O pequeno príncipe, livro que lia muito quando criança. _ O que é essencial é invisível aos olhos. _ e então Ban ficara encarando a face adormecida de Elaine, esperando. E esperou, e esperou, até que de repente viu o canto dos lábios sem cor tremularem um pouco, voltando ao estado em que estavam segundos depois. 

Ficara eufórico.

_ Ela riu! _ disse para os outros, que estavam no refeitório do hospital. _ Elaine riu! _ mas todos o olharam com pena, sem coragem para repetirem que ele estava imaginando coisas novamente.

No aniversário de vinte e quatro anos de Elaine, não havia ninguém além de Ban, Gowther e Guila. O médico que cuidava de Elaine havia conversado com Eric e Lianne uma semana antes. Explicou detalhadamente que as chances da jovem acordar eram quase nulas, e que em dezembro teriam de desligar os aparelhos que a mantinham viva, por conta do protocolo do hospital e do quadro persistente de coma que ela apresentava. Eles precisavam autorizar, precisavam assinar o documento de autorização, e Ban tentara rasgar tal documento quando o vira. 

Ele não aceitava. Ele ainda acreditava, e continuava esperando. 

Todavia, em outubro a esperança de Ban começou a morrer, como uma planta murchando. Ele começou a se perguntar se os outros não estavam certos, se ele não estava ficando maluco e fantasiou que Elaine estava reagindo de alguma forma. Ela permanecia daquele mesmo jeito, sem cor e imóvel, com uma agulha em cada pulso, a alimentando. Era tão deprimente. Aquela coisa nem devia ter gosto, e mesmo que tivesse, Elaine ainda não o sentiria, por estar sendo alimentada daquele modo deprimente. 

Tudo ali era deprimente. As persianas brancas que deixavam o quarto numa penumbra, a máquina barulhenta que mantinha Elaine viva, os buquês que murchavam num canto da sala, e a própria Elaine estava deprimente. Mais magra do que já foi um dia, com aquela roupa fina e cor de azul claro que piorava sua aparência fragilizada. O cabelo sem brilho algum, pesado e espalhado sobre o travesseiro branco. O anel dourado um pouco frouxo em seu anular.

Ali, admitindo o estado em que Elaine estava, Ban começava a sentir a ficha cair. Ela não vai acordar, pensou com a garganta formando um nó, ela está sofrendo, tenho que lhe dar paz. Ban se odiou por ser egoísta ao ponto de não querer lhe dar a sua paz. Queria Elaine, era tudo o que ele queria. A única coisa que ele precisava, e a única coisa que preenchia o seu vazio. Não queria abrir mão dela.

Não aceitava que a morte a roubaria dele.

 

*  *  *

 

_ King não entra aqui de jeito nenhum. _ Diane comenta, parada na porta do quarto. _ Diz que é como se fosse vê-la lendo algo, como se fosse enlouquecer.

O homem não a responde. Abre o guarda-roupa e fica encarando o amontoado de tecidos coloridos. As roupas de Elaine. Ela ficaria louca em ver o estado em que estavam.

Ban sorri com o pensamento, apanhando um suéter rosa claro com listras brancas na horizontal. Tinha o cheiro dela. Tudo ali tinha. 

_ Ela gosta desse. _ diz jogando o suéter por cima de um ombro. Apanha uma jardineira jeans, a encarando por alguns minutos. Sentia que já a havia visto. Quando colocou a suéter e a jardineira em cima da cama bagunçada, ele lembrou. 

Elaine estava vestindo-a junto com aquele suéter no dia em que se encontraram no café de Gowther. Estava tão bonita aquele dia. Sempre estava, mas aquele dia ela brilhava. De dentro pra fora. E mesmo que Ban não tivesse consciência, foi naquele dia que se apaixonou por Elaine.

Faltavam dois dias para dezembro. Ban não queria que ela tivesse vestida com aquela coisa no momento que desligassem os aparelhos. Queria que estivesse o mais próxima do que um dia foi. Poderia fingir que ela estava apenas dormindo.

Eric havia comentado que iria cremar o corpo da filha. Lianne estava de acordo, King sumira por mais alguns dias ao ouvir isso, e Ban se encolheu, fingindo não ter ouvido nada. Não queria imaginar Elaine sendo queimada. Era infantil, mas ele imaginava que ela iria sofrer. Como se ela fosse sentir algo no momento da cremação, mesmo que morta.

No dia seguinte, buscou alguns livros. Pediu perdão por não saber ao certo se eram seus preferidos, mas que esperava que ela os aproveitasse bastante, seja lá para onde ela fosse quando aqueles aparelhos fossem desligados. Eles seriam queimados juntos com seu corpo, a pedido de Ban. 

Gowther trouxera um biscoito de canela do tamanho de seu punho fechado. Diane e Elizabeth, cartinhas escritas com canetas coloridas. Guila deixara sua tiara rosa que sempre estava usando, e os avós de Elaine trouxeram um caderno de desenho velho que  ela costumava usar quando passava um tempo com eles.

Estava tudo pronto. Quando os aparelhos fossem desligados, iam leva-la direto para o lugar que a cremariam, junto com os presentes que haviam trazido. Aconteceria às 2h. Eram nove da manhã. Todos já haviam falado o que tinham para falar para Elaine, chorado e pedido desculpas por qualquer coisa que tenha a feito (Guila). Apenas Ban quis ficar lá, ao lado de Elaine, no momento que desligassem os aparelhos. Não tinha mais esperanças, só queria estar com ela até seu último minuto de vida. 

 

Mesmo quando me descuido
Me desloco
Me deslumbro
Perco o foco

 

Às 12h30, a enfermeira que cuidava da limpeza de Elaine viera. Ban passou para trás de uma cortina cor de creme no canto da sala, não queria ver o corpo dela naquele estado. Sentia que estava violando sua privacidade, Elaine não ia querer que ele visse. 

_ Vai ficar tudo bem, querida. _ ele ouve a enfermeira de idade dizer. _ Você não vai mais sofrer.

A mulher desamarrava os nós da bata nas costas de Elaine. A vestiria com a roupa que Ban havia deixado aos pés da cama, depois de limpa-la. 

Limpa a pele clara com lenços umedecidos, cantarolando baixo. Não era a primeira vez que algo assim acontecia naquele hospital, a enfermeira já estava acostumada a passar por aquilo. 

Ela para de repente, encarando Elaine com a testa vincada.

_ Quer saber? Vou pentear seu cabelo, lindinha. _ diz docemente, batendo de leve sobre as mãos entrelaçados sobre o ventre de Elaine. _ E passar um batom em você.

Ban ouvi a porta bater de leve. A enfermeira provavelmente havia ido buscar uma escova de cabelo e um batom. Trincou os dentes. Elaine não gostava de batom. Gostava... ele engole em seco, tentando parar o pânico que crescia dentro de si ao perceber que logo, Elaine seria aquela que todos falariam sempre no passado. Ela tinha cabelos loiros. Ela vivia usando suéter. Ela era a namorada do Ban, aquele ruaceiro sem juízo.

Ele puxa ar, o nó se formando na garganta. Queria ir até Elaine e fugir com ela, mas não havia como ele fazer isso sem desliga-la dos aparelhos que a mantinha viva. 

A porta bate novamente, e Ban tenta desesperadamente se acalmar para ir dizer a enfermeira que não colocasse batom em Elaine. Mas então a cortina que o impossibilitava de ver Elaine é arrastada para o lado, revelando Jericho. 

A mulher estava de cabelo solto. Ainda o mantinha curto, porém num corte diferente. Não tinha os olhos delineados, ou usava o batom vermelho que estava sempre colorindo seus lábios. Parecia muito cansada, com olheiras e o olhar opaco.

Por um momento, Jericho se perguntou se Ban a iria expulsar dali aos gritos. Mas ele não fez nada. Apenas desviou o olhar para uma prateleira abarrotada de pacotes de luvas descartáveis e vidrinhos com remédios injetáveis.

_ Como você está? _ pergunta baixinho, também encarando a prateleira.

_ Morrendo. _ responde sem expressão alguma, sem sarcasmo, ou com aquele sorriso de lado que costumava ter quando estava sendo irônico. Já fazia muito tempo desde a última vez que sorriu daquele jeito. Ban não estava sendo irônico.

 

Perco o chão
E perco o ar
Me reconheço em teu olhar
Que é o fio pra me guiar
De volta

 

Jericho assente lentamente, também sem expressão. Devagar, os lábios começam a ficar trêmulos e os olhos, marejados.

_ Eu não queria que ela terminasse assim um dia. _ diz com a voz embargada. _ Não queria que ela morresse. _ uma lágrima pinga em sua bochecha. _ Ela era tão idiota e bobinha, não é justo que ela tivesse um destino desse. _ Ban se encolhe com o era. _ Nem um passado daquele. _ continua mais baixo, mas sua voz ainda ecoava pela sala. _ Ela era boa, sabe. Boa mesmo. Ela nem mesmo tentou me bater quando eu menti pra ela. Ou sequer me odiou depois daquela merda que eu inventei. Ela era boa. Do tipo que merece morrer bem velha, sabe. Com alguém que a amasse como você a amava. _ soluça. _ Como a ama. 

Ela olha para trás, para o corpo nu de Elaine. Já havia a visto quando entrou na sala, mas era o tipo de coisa que você precisa ver duas, três, cem vezes para começar a acreditar.

_ Não olhe. _ Ban rosna, assustando-a.

Jericho assente três vezes, mesmo que Ban ainda estivesse encarando aquela prateleira e não fosse ver. Fica longos minutos em silêncio, apenas ouvindo os bipes daquela máquina que mantinha Elaine respirando.

Começa a chorar. Chorar mesmo, com soluços altos e rosto contorcido.

_ I-isso não é j-justo! _ balbucia. _ Eu fiz tanta merda com ela, e a-agora nem posso pedir desculpas! N-não é justo essa b-bobinha acabar assim! N-não é!

Mesmo sem querer, Ban ver o corpo de Elaine por cima do ombro de Jericho. Desvia o olhar rápido, encarando a mulher em sua frente.

_ Ela não odiava você. _ diz esperando que isso a conforte, mas se encolhe. Não gostava daquilo, realmente não gostava de se referir a Elaine no passado.

Jericho assente várias vezes, soluçando.

_ E-eu sei! Acho que pre-preferia que ela odiasse! Diminuiria um pou-pouco a minha culpa! Isso é tão fodido, essa merda toda... _ baixa o olhar, cobrindo o rosto com as duas mãos trêmulas. _ Desculpa ter tentado estragar a vi-vida de vocês. _ ela inspira, sentindo um novo soluço vindo. _ Desculpa ter infernizado o tempo que vocês ti-tinham juntos.

Ban fica a encarando, inexpressivo. Sinceramente, não tinha raiva de Jericho. E nem muito menos pena. Não sentia nada. Estava dormente. Tudo o que sentia, era aquela dor dilacerando em seu peito. Como se ele estivesse inchando e fosse explodir a qualquer momento. 

_ Queria poder pedir desculpas a ela. _ diz alguns minutos depois, já mais calma. Não soluçava mais, apenas chorava, sem expressão alguma, encarando um ponto imaginário no peito de Ban. _ Queria ouvir a resposta dela. Mesmo que ela me mandasse para o inferno, queria ouvir o que ela di-diria.

A máquina cheia de fios que possibilitava a vida de Elaine dá um bipe alto, mais alto que os normais. Porém a mulher parece não perceber, absorta em seus devaneios.

_ Isso é tão fodido, essa merda to-toda. _ continua, chacoalhando a cabeça negativamente. _ Não é justo, n-não é. _ outro bipe, tão alto quanto o outro. Jericho continua chacoalhando a cabeça, voltando a soluçar. _ Não a-acredito que essa tolinha vai mo-morrer assim.

Ban tentava não olhar para a cama, mas seu coração estava dolorosamente acelerado. Ele havia ouvido os dois bipes agudos, e encarava Jericho com o maxilar trincado de tensão. 

Ela continuava encarando o seu peito, de um lado a outro, enquanto chorava.

_ Não é... _ um estrondo cala o lamento de Jericho. Ela encara Ban, os olhos vermelhos e inchados  saltados para fora das órbitas. Ele encarava algo sobre seu ombro, os olhos vidrados. Como um cego vendo a luz do dia pela primeira vez. Como uma fogueira ganhando vida depois de quase ter seu fogo extinto.

 De volta...

Elaine havia despertado de supetão, e caíra no piso da sala de peito para baixo. Tentava se erguer, mas estava sem forças nos braços e tornava a cair no piso. O cabelo também não ajudava, fazendo-a se atrapalhar. Quando ergueu o rosto na direção da respiração ruidosa de Jericho, Ban viu que Elaine estava com os olhos fortemente fechados, incomodados com a pouca claridade do cômodo.

Ela tateia ao seu redor debilmente, encontrando o gambiarra que mantinha seu soro ao lado da cama. Tenta levantar uma vez, falha. Tenta uma segunda, e falha novamente. Na terceira, as pernas conseguem sustentar o corpo, trêmulas como se Elaine pesasse uma tonelada.

Ban ver ela mover os lábios, sem emitir som algum. Os olhos ainda estavam fechados, e Elaine maneava a cabeça em várias direção, movendo lábios sem dizer nada. 

Ela movimenta a gambiarra. As rodinhas fazem um barulho agudo, um guincho. Fazia anos que não saia dali. O barulho atordoa Elaine, que se sobressalta e abre os olhos de susto. Seus ouvidos estavam sensíveis, como se ela fosse uma recém-nascida.

Elaine estava na direção da cortina cor de creme. De Ban. Ela nem mesmo viu Jericho, apenas Ban, ali, encarando-a com os olhos vermelhos vidrados nela. Como se fosse a primeira vez que a visse. Como se nunca tivesse a visto antes, e ela tivesse fazendo algo muito inusitado. Como dançar em cima de uma mesa de brilhar.

Elaine movimenta seu apoio outra vez. Ele guincha. Continua o movimentado na direção de Ban, e o objeto continua guinchando.

_ Jesus... _ Jericho vira-se lentamente, os olhos arregalados, trêmula da cabeça aos pés. Vê Elaine cada vez próxima, e se aproximando cada vez mais com ajuda daquele apoio quase duas vezes maior que ela. O sangue foge de seus rosto, o coração para por um segundo. _ Cristo. _ e então cai para frente, de peito para baixo, com os braços dobrados ao redor da cabeça.

A enfermeira entra na sala ao mesmo tempo que Elaine alcança Ban e se joga em seus braços. Como costumava fazer a muito tempo atrás. Com a mesma confiança que fazia seu coração aquecer de uma forma muito boa. 

Só por um segundo, Ban achou que a mulher também fosse desmaiar. Ela ficou olhando para Elaine, de costas para ela, nua e viva. Viva sem aquela porcaria de máquina barulhenta.

A escova que segurava cai com um baque surdo no chão. O batom também cai segundos depois. Mas a enfermeira não. Ela vira nos calcanhares e sai correndo, berrando algo no corredor. Ban não entendeu. Também não quis entender. Não importava, de qualquer forma.

Elaine olha para cima, o encarando. Move os lábios, tentando falar, mas parecia não estar conseguindo usar as cordas vocais. Ele presta mais atenção, alisando os cabelos longos que cascateavam em suas costas nuas.

_ Você quer água? _ ele supõe. Ela faz que sim. Mas Ban continua no mesmo lugar, encarando-a. Ela estava junto do seu corpo, suspensa por seus braços. O homem não conseguia acreditar que era verdade, que Elaine calou a boca de todos quando tudo parecia perdido.

Elaine move os lábios novamente, a testa vincada. Estava pedindo água, sua garganta estava seca como nunca a sentiu na vida.

Ban passou os braços por baixo de seus joelhos e a ergueu nos braços com muito cuidado. Tinha medo de quebrar algum osso, ela parecia tão frágil. A depositou sobre a cama, e então percebeu os furinhos em seus pulsos de onde brotava um pouco de sangue. Os cobriu desesperadamente com as mãos, de repente alerta como um cão de guarda. 

_ Merda!

Elaine não entendeu. Encarou seus pulsos também, não havia nada demais, nem sagrava tanto. Logo pararia. 

A porta é escancarada e ela se sobressalta, pulando sem sair do lugar.

_ É verdade! _ Miliodas sai da sala, encarando o corredor. _ King, vem cá, caralho!

King! 

_ Não, não, não! _ o homem magricela vinham esperneando nos braços de Diane, mas paralisou quando parou diante da porta. 

Diane, Meliodas! Estavam tão diferentes, e ao mesmo tempo, tão iguais...

_ E-E-E-Elaine. _ gagueja, e desmaia para trás, sendo apanhado por Diane. A surpresa de ver a loira desperta era tão grande que ninguém ainda havia dando-se conta da nudez de Elaine. Nem ela própria.

Quando percebeu, tomou um susto, mas não por de repente ter notado que estava despida na frente de todos, mas pelo estado em que estava. Com outro susto, nota a mecha loira pousada sobre sua coxa. A mecha do seu cabelo. 

O médico chega acompanhado da enfermeira, dos pais de Elaine e de Elizabeth.

Elizabeth corre em sua direção, abraçando-a forte, para logo então se afastar com pavor de ter a machucado. Mas Elaine estava bem, nenhum osso quebrado.

_ Eu nem consigo acreditar! _ admite, com as duas mãos entrelaçadas juntas ao peito inquieto. _ Você conseguiu, Elaine! 

_ Beba. _ o médico diz, estendendo o copo para ela. Ban faz menção de pega-lo, mas o médico nega com cabeça. Estava testando Elaine. 

Ela leva as duas mãos ao corpo descartável, levando-o aos lábios e bebendo a água rapidamente, não deixando escapar uma gota. O médico arqueia as sobrancelhas, pondo as mãos na cintura. Encara Elaine com incredulidade por cima dos óculos de grau, como se ela fosse um bichinho novo no zoológico. 

_ Mais. _ ela murmura, estendendo o corpo seco para ele. 

Eric e Lianne permaneceram quietos enquanto Elaine bebia vários e vários copos de água. Estavam em choque, não conseguiam fazer nada além que observar de olhos saltados.

Guila e Gowther chegam à sala juntos. Guila leva uma mão ao peito,aturdida, e Gowther tomba a cabeça para um lado.

_ Alguém me belisca? _ a mulher murmura encarando a cena que encontrou.

Gowther olha em volta. Depois olha Guila, e então volta sua atenção para Elaine, parecendo divagar, como sempre.

_ Só eu que estou vendo a senhorita Elaine sem as roupas? Isso é deveras constrangedor...

 

Eu ainda estou aqui...

 

*  *  *

 

_ Você lembra quem te deu isso? _ Ban questiona Elaine, apanhando a mão delicada e gesticulando para o anel em seu anular.

Ela pondera. Fica encarando o anel por longos minutos, até erguer a cabeça e assentir com um sorriso de orelha a orelha.

_ Você! 

_ Muito bem. _ ele aprova. Suspira, largando a mão da loira e encarando-a tensamente. Depois encara a porta do banheiro enquanto pensava sobre o que faria, voltando-se para Elaine em seguida.

_ Lembra o que tem aqui? 

Elaine faz uma careta.

_ Um banheiro.

Ban assente, pacientemente.

_ Lembra o que aconteceu aqui? _ tenta outra vez, observando-a cuidadosamente.

Ela pensa por um tempo, vasculhando as memórias. Cora de repente, baixando a cabeça com um sorriso de canto.

_ A gente se beijou pela primeira vez aí, não foi?

Ban suspira, mas inevitavelmente sorri enquanto alisa as bochechas rubras de Elaine. Ainda era estranho tê-la de volta. Estranho e imensamente aliviante. Podia ficar o dia inteiro observando-a, apenas pelo prazer de ver Elaine movimentando as pernas, os braços, os dedos, pondo uma mecha atrás da orelha. Sentia uma paz imensa em vê-la viva, bem, e de estar longe daquele temporal que parecia não ter fim nunca.

Com cautela, Ban vira a maçaneta e empurra a porta. Elaine o encara, depois encara o banheiro a sua frente. Fica um tempo no mesmo lugar, até passar para dentro a passos lentos, curiosa e apreensiva sobre o que teria ali.

_ Meu suéter azul! _ ela abraça a peça que encontrou pendurada na porta. 

_ Olhe em volta, Elaine. _ Ban pede pacientemente. Ela obedece. Corre os olhos pelo local, dos tapetes felpudos cor de rosa aos azulejos azuis. Olha o teto branco, a lâmpada de luz amarelada e depois encara Ban, confusa.

Ele suspira, apontando para a banheira. Ela segue seu indicador, encarando-a ainda confusa. Pisca, franzindo a testa. 

_ O que tem a banheira? 

_ Ela não te lembra nada? 

Elaine a encara novamente, frustrada. Se aproxima dela com o suéter junto ao peito, encarando-a de perto. Tava trincada num canto da borda. Elaine cerrou os olhos, vasculhando suas memórias. Ban espera, fitando-a com expectativa. 

Ela tem um fleche terrível do momento em que Oliver bateu sua cabeça na porcelana e ela sentiu a têmpora abrir.

_ Não quero. _ choraminga no peito de Ban, o corpo trêmulo. _ Não quero lembrar disso. 

Ban a afasta para beija-la.

_ Tudo bem. _ beija a testa de Elaine, afastando-se para olha-la nos olhos. _ Você está a salvo agora, garotinha. _ e a sinceridade nas palavras de Ban a acalmou em segundos. Ela sabia que ele falava a verdade. Estava tudo bem.

Já fazia pouco mais de um mês que Elaine havia acordado, e Ban notou que ela ficava nervosa quando por ventura um beijo tornava-se duradouro demais, com passadas de mãos nos cabelos e respirações ofegantes. Se perguntava se ela havia desenvolvido algum trauma, e o médico dissera que não era uma possibilidade difícil de ser verdade quando Ban perguntara para ele.

Ele vivia testando-a. Testando suas memórias, sua coordenação motora. Elaine ainda estava um pouco confusa e Ban tinha que lhe ajudar a lembrar de algumas coisas, mas ela não parecia ter sofrido um grande dano mental. Também conseguia andar, falar e apanhar coisas antes que caíssem quando arremessavam para ela e a mandavam  pensar rápido. Contudo, Elaine permanecia recuando quando Ban a beijava daquele modo que costumava a deixar desorientada. Tinha quase certeza de que tinha desenvolvido algum trauma e se preparava para ajuda-la a passar por cima do que quer que fosse que estivesse assustando-a.

_ Tudo bem eu continuar aqui enquanto você toma banho? _ pergunta calmamente, analisando-a.

Elaine pondera. Os pais estavam na casa de Helbram, com King e Diane. Elizabeth estava no restaurante de Meliodas, com ele próprio e Gowther.

 Gowther estava saindo com Guila, o que era bizarro. Todos acreditavam que ele era gay, quando na verdade era bissexual. Ele defendeu-se dizendo: eu nunca disse que era gay.

Elaine chacoalha a cabeça, frustrada por mais uma vez ter perdido o foco tão facilmente. Acontecia com frequência. Pensava em Ban, em seu cabelo, e de repente estava pensando se os filhos que teriam poderiam nascer com aquela cor de cabelo, e aí dava-se conta de que estava pensando em filhos e voltava para Ban, para logo depois devanear novamente. 

_ Quer que eu saia? _ Ban a questiona novamente, interpretando a demora para responder como um "não" para sua primeira pergunta. Elaine morde o lábio inferior.

A verdade é que ela não estava traumatizada. Estava com vergonha. Do próprio corpo. Já havia recuperado um pouco o seu peso, já não estava abaixo da média. Mas ainda assim, quando Elaine lembrava que Ban a viu naquele estado deplorável, ela travava. Era frustante. Não conseguia entender porque simplesmente não conseguia mandar a vergonha para o inferno.

_ Tudo bem. _ ele bagunça seus cabelos, fazendo menção de deixa-la sozinha para tomar banho, mas Elaine segura um braço seu rapidamente, como um reflexo.

_ Eu quero. _ murmura secamente, sentindo-se idiota.

_ Que eu saia?

_ Que fique. _ esclarece corando um pouco. Suspira, erguendo o olhar e encarando-o. _ Me ajude com isso, Ban.

Ele troca o peso de uma perna para outra, sentindo-o aliviado por Elaine estar falando sobre o que tanto lhe atordoava.

_ Você tem medo, é isso? _ supõe. _ É por isso que recua quando as coisas ficam intensas?

Elaine baixa a cabeça, envergonhada por ter feito Ban acreditar numa coisa dessa.

_ Não é medo. _ ela responde, espalmando as mãos no peito do homem. _ Eu... 

_ O quê? _ Ban a incentiva.

Elaine suspira, erguendo o olhar. O encara, sentindo o rosto esquentar pelo o que diria. Era constrangedor de admitir até para si mesma.

_ Estou com vergonha, Ban. _ ele franze as sobrancelhas, confuso. Elaine continua, corando mais. _ Do meu corpo. Sempre lembro que você me viu daquele jeito e... _ ela baixa a cabeça, desistindo de terminar sua explicação. Soava tão idiota e sem sentido. Mas na cabeça dela tinha todo o sentido do mundo.

_ Desculpe. _ ele se dobra para ficar quase da mesma altura dela, sorrindo ao segurar a face miúda entre as mãos. _ Juro que não queria ter te visto daquele jeito. _ beija a bochecha quente da loira, afastando-se para continuar a encarando. _ Não que o problema fosse o seu corpo em si, mas é que eu sentia que estava violando a sua privacidade. Desculpe. _ suspira. _ E desculpe ter deixado que os outros a vissem também.

Elaine faz uma careta.

_ Não me importo com os outros. _ dá de ombros. _ Não vou casar com os outros, e os outros não vão passar o resto de seus dias comigo. _ faz uma careta novamente, parecendo irritada consigo mesma.

Ban apenas maneia a cabeça, rindo torto.

_ Então tudo bem eu ficar aqui enquanto toma banho?

Elaine infla as bochechas, decidida.

_ Claro, claro...

Ele a observa se despir em silencio, de braços cruzados, testando-a. Elaine pareceu ponderar ao levar as mãos a barra do suéter amarelo que usava, porém não voltou atrás. O puxou para cima, passando-o pela cabeça e atrapalhando-se com o cabelo longo que parecia irrita-la. 

Num último momento de receio, ela baixou a calcinha e se enfiou rápido na banheira, constrangida. 

Ban a deixou quieta por longos minutos. Começou a vasculhar o banheiro apenas para ter algo para se distrair da imagem nua dentro daquela banheira. Ban não dizia, mas ele sim ficara um pouco traumatizado com aquele utensílio. 

Depois de um tempo, Elaine acabou se acostumando com a presença de Ban e começou a observa-lo zanzando pelo cômodo. Ficara encarando suas costas largas enquanto ele mexia em sua pia abarrotada de coisas, se perguntando o que ele estava procurando.

Ban vira-se para encara-la, sobressaltando-a por um momento.

_ Pra quê você usava isso? _ pergunta se aproximando com uma tesoura grande, que lembrava a que sua mãe usava para cortar as folhas secas das plantas.

Elaine se vira, ficando de costas para ele. 

_ Pra cortar meu cabelo... _ ela responde depois de alguns minutos checando suas memórias. _ É! Agora eu lembro. Minha mãe sempre insistia para me levar ao salão, mas eu meio que era traumatizada desde o dia que ela me enfiou num vestido de babados e me apresentou a todas as amigas dela do salão em que ela ia. _ Elaine ri. _ Foi horrível. Desde então eu comecei a cortar  o meu próprio cabelo. _ baixa o olhar, encarando as mechas loiras que boiavam na superfície da água. Franze a testa, como se só naquele momento ela tivesse se dado conta porque seu cabelo longo a irritava tanto.

Ban ri em seu pescoço, sobressaltando-a. Estava próximo demais, bem atrás de si.

_ Muito bem. _ cantarola positivamente. Junta o longo cabelo loiro para trás, assobiando baixo. Elaine permanecia quieta, sentindo os dedos de Ban em seu couro cabeludo. Era uma sensação boa, ela poderia dormir ali mesmo, sentindo-o acariciar seus cabelos. 

Um barulho a atordoa, e ela virar-se para olhar seu cabelo caindo no piso. Fica encarando aquele montinho dourado, depois apalpa todo o pescoço exposto. Era uma sensação familiar e aconchegante.

_ Tenho a impressão que você cortou demais. _ comenta baixinho, mas não parecia irritada. Inusitadamente envolve o pescoço de Ban, beijando-o. Ele retribui de imediato, correndo as mãos pelas costas nuas da loira. 

Elaine puxa a camisa de Ban para cima, impaciente. Torna a envolver seu pescoço com os braços finos, colando os seios ao peitoral do homem. Se beijam, e Elaine perde o resto de sua paciência. Sai de dentro da banheira, molhando o piso e molhando Ban ao puxa-lo pela nuca.

Ele se livra das calças urgentemente, chutando o jeans e a boxer para longe.

_ Ah, caralho... _ grunhe ao sentir a intimidade úmida o engolir, quente e aconchegante.

Elaine se remexe no piso, gemendo com os olhos fixos nos de Ban. Agora sequer lembrava de qualquer vergonha que outrora sentiu do próprio corpo. O modo que Ban a olhava, que a tocava, lhe fazia se sentir a mulher mais desejada do mundo. 

Ao ver Elaine se retesar inteira, Ban se choca contra seus quadris com mais força, apertando as coxas que circundavam sua cintura. Não tem tempo para nada além que observar Elaine gemer alto ao ejacular dentro dela.

Cai sobre seus seios, ouvindo o coração da mulher batendo acelerado. Era tão bom ouvi-lo. Era tão bom Elaine poder ter mais um momento desses com ele. E era tão bom saber que poderiam fazer quantas vezes quisessem, que poderiam fazer tantas coisas juntos, e que não havia mais nenhuma ameaça a espreita.

Ele ergue o rosto, encarando os mamilos ainda rijos. Belisca e morde eles, sorrindo com satisfação ao sentir Elaine agarrar os cabelos da sua nuca, incentivando-o.

Para pra encara-la, vendo que estava com o rosto totalmente vermelho, mas sorria.

_ Eu amo você, sabia?

Ela assente, sorrindo mais.

_ Sabia.

Ban a beija. Longa e profundamente, alisando as bochechas de Elaine com o polegar. Se afasta devagar, sorrindo de um jeito diferente. Sem ironia, sarcasmo ou piadinhas pervertidas. Apenas feliz.

_ Obrigado. 

Elaine franze a testa, confusa. Obrigado? 

_ Obrigado pelo o quê?

Ban a beija novamente antes de responder. A olhava como se ela fosse uma tolinha que não enxergasse o que estava bem debaixo do seu nariz.

_ Por me fazer ser melhor, garotinha. Por me salvar.

Ela finalmente entende, e assente lentamente. O puxa pela nuca, voltando a beija-lo com mais desejo. 

Bem, o que ela poderia dizer? Que ele havia a salvado desde o primeiro momento que pôs os olhos sobre ela, sobre aquele palco, naquele galpão alugado e cheio de gente mal encarada? Que a havia salvado quando não desistiu dela, mesmo quando ela ficara difícil de se compreender, distribuindo ódio como se fosse o seu talento? Ou que ele a havia salvado todas as vezes que lhe dissera que a amava, e que todas as vezes que repetia isso, Elaine sentia seu amor crescer um pouco mais, inflar, como um balão de gás? 

Será que um dia ela iria explodir?

Elaine contava que sim. A ideia de explodir de sentimentos bons lhe agradava muito. Não explodir literalmente, mas explodir por dentro. Explodir e se ver livre de quaisquer resquício de lembrança ruim ou pesadelos atordoantes. 

Elaine sabia que aconteceria em breve. Muito em breve. Logo ela iria se ver livre dos últimos rastros que Oliver deixara em sua vida. E quando isso acontecesse, Elaine sabia que não sentiria, não pensaria, e não sonharia com outra pessoa além dele. O seu primeiro e último amor.

Ban.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Gente, eu ouvi essa música antes, durante, e depois de escrever esse capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=zBUurckfIiE muito linda, ouçam ;--; <33 (NACIONAL MEXMO, A GENTE TEM QUE VALORIZAR OS NOSSO CANTORES TBM U.U)
É, eu quis meter hentai ¬U¬ mil perdões para quem não gosta, ̶f̶r̶e̶s̶c̶o̶s̶ , mas eu não me aguentei depois de toda esse drama aí kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


Eu até pensei em fazer uma coisa mais explícita na cena que o Oliver é pego, mas sei lá, é uma fic Fluffy neh, eu não quis trazer uma cena pesadona. Mas deu pra entender o que houve, neh? NEH? me digam que sim.

Recapitulando: esse é o último capítulo, o próximo é um extra!
Xoxos, cabritos. Até o extra! <333


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