História Same Mistake - Capítulo 22

30 de outubro de 2016:

Madri, Espanha:

Pov. Joana Pereira:

Depois que Cristiano e Júnior saíram, eu fui ler o email que minha mãe havia me mandado. Era raro falar com eles porque eles sempre estavam viajando e quase sempre iam para lugares de pobreza extrema e quando eles conseguiam essas brechas para mandar email, era porque tinha algo sério ou algum pedido de ajuda.

Quando abri o email, fui na minha caixa de entrada e vi logo a mensagem com título "Ajuda". Abri e comecei a ler.

Oi filha, estou enviando isso, porque a época natalícia está se aproximando e como sempre precisamos de toda doação possível. Você sempre foi uma das nossas fontes de doação, espero que continue sendo. Fale com seus colegas de trabalho, com os vizinhos e toda gente que conheça, nós realmente estamos precisando.

Nós iremos passar as festas de final de Ano entre a Jordânia e o Líbano, tentaremos fazer alguma comemoração no campo de refugiados e eu espero poder contar com a sua ajuda.

p.s: queria que pudesse vir, estamos morrendo de saudade.

p.s.2: aqui chegou a noticia que você está namorando o Ronaldo. Isso é sério?

p.s.3: consegui tirar essas fotos do campo de refugiados.

Bjs, mamãe.

Baixei as fotos e senti meu coração apertar ao ver aquelas imagens. Crianças brincando no chão de terra batida, mas ao invés de olhares de alegria, a gente via o medo estampado naqueles inocentes olhos. Casas que na verdade eram barracas, pessoas com o medo e a tristeza estampados no rosto.

Era tão angustiante ver aquilo.

Respirei fundo.

Mandei mensagens para todos os meus conhecidos.

Mais uma vez venho fazer aquele pedido de todo o ano. Meus pais estão na África e estão precisando de doações para a população... qualquer ajuda vale. Roupas, sapatos, brinquedos, material para estudo, tudo o que vocês puderem doar será muito bem-vindo. Obrigada desde já.

Eu entrava num estado de tristeza a cada email dos meus pais, eu sempre me perguntava porque eles abandonaram  tudo, me deixaram "sozinha" e quando essas fotos chegam a minha resposta vem acompanhando. Tem pessoas que precisam mais deles do que eu e querendo ou não essas pessoas precisam de mim. No final das contas, eles ajudam de forma presencial, enquanto eu fico aqui, em casa, apenas recolhendo algumas coisas que irão colocar alguns sorrisos nos rostos dessas pessoas.

Com a cabeça pesada, devido as fotos, eu resolvo desanuviar meus pensamentos e me divertir no Instagram. Curtir algumas fotos de pessoas que eu seguia e então parti para o "explorar". Milhares de páginas dedicadas ao Cristiano apareceram como sugestões para curtidas, fiz aquela média e distribui "likes". No meio de tantas fotos de Cristiano, Real Madrid e afins, uma foto me chamou a atenção. Fábio junto com a uma mulher loira.

Minha curiosidade não deixou a foto passar despercebida e eu tive que clicar nela. Fui direto na legenda para saber se eram parentes ou algo do tipo.

"saudade é uma palavra pequena, mas que foi escolhida para representar um sentimento enorme"

A legenda deixou minha curiosidade mais aguçada ainda, então eu entrei no perfil da loira. Por sorte não era bloqueado, então eu pude "fuçar". Haviam mais fotos dela com Fábio e sempre tinha uma legenda duvidosa. Foi ai que eu olhei o primeiro registro deles e me surpreendi. Eles namoravam desde 2015. Não era uma suposição minha, o primeiro registro deles era de 2015 e a garota, Patricia, se dizia feliz por estar NAMORANDO Fábio.

-Que cachorro! - falo olhando para a tela do meu celular.

Não me aguentei e olhei o story dela. Ela ia saber que eu olhei, mas eu estava me lixando para isso. Ainda tinha uma foto deles no aeroporto.

-Cretino!

Me mandou aquela mensagem melosa e se declarando para mim tendo namorada.

-Eu sou muito idiota! Olha a merda que eu ia fazer!

Agora eu passei a ter raiva de mim. Eu estava praticamente desistindo do meu milhão para ficar com ele e ele tem namorada.

Como eu não havia respondido a mensagem de declaração dele, eu abri a conversa e gravei um áudio.

-Espero que tenha feito uma ótima viagem para Toronto... como você mesmo disse, eu e Cristiano estamos imensamente felizes. Eu nunca encontrei um homem tão sincero e disposto a me ter ao seu lado. Espero que você seja feliz.

Olho o áudio ser enviado.

-Feliz no quinto dos infernos. - resmungo.

Deixo o celular na mesa e vou para o quarto tomar um banho e ficar pronta esperando Cristiano voltar do treino.

Debaixo do chuveiro eu me martirizei ainda mais. Eu estava cogitando abandonar tudo, deixar para trás meu dinheiro, o conforto que Cristiano está me proporcionando e eu iria fazer tudo isso por um cara que estava me enganando.

Quem inventou o ditado "o amor é uma flor roxa que nasce no coração de trouxa" está mais do que certo.

Ao sair do banho, me enrolei na toalha e fui para o closet. Algumas roupas estavam espalhadas por lá e eu já estava imaginando o trabalho que daria arrumar tudo e levar para casa.

-Ei, seu namorado é rico, ele pode pagar para fazerem esse trabalho para você. - digo olhando num dos espelhos daquele espaço.

Pego minhas peças intimas e visto.

-Meu Deus... como eu engordei. - falo olhando meu corpo no espelho.

Nas minhas pernas estavam aparecendo celulites e minha barriga estava parecendo de uma grávida em início de gestação.

Esqueço a roupa que estava em cima do banco. Aquela calça não ia caber em mim e a blusa ia deixar minha barriga desenhada. Pego um jeans mais folgado, uma regata e um moletom bem largo e um dos pares de "All star" que eu havia comprado com Claudia em Lisboa.

-Preciso começar a fazer uma dieta e me exercitar. - falo me admirando no espelho.

Tudo isso é culpa daquelas três cobras. Se Kátia não tivesse transado na cama de Cristiano a gente não ia precisar se mudar e eu não teria que ficar me dedicando a decoração de casa e esquecendo de malhar.

-Esses seus moletons estão fazendo o maior sucesso. - a voz de Cristiano me assusta.

Coloco a mão no peito e me encosto na parede.

-Misericórdia, homem... quer me matar? - pergunto vendo ele na porta do comodo.

Ele ri.

-Já voltou? - questiono.

-Já? Já passaram duas horas que eu saí. - ele fala.

Nossa, o tempo está passando rápido.

-Podemos ir levar as coisas em casa? - ele pergunta.

-Claro... vamos.

As sacolas já estavam na sala, para facilitar.

-Ah... Ricardo me falou que estão especulando uma gravidez... - Cristiano fala.

Quero morrer!

-Quando você estiver indo para a academia, me chame, por favor. - peço.

Ele solta uma gargalhada.

-Se acostuma com a ideia de que qualquer roupa larga, qualquer sombra de barriguinha irá gerar essas especulações. - ele meio que tenta minimizar.

-A pessoa não pode nem engordar um pouco que já falam que está gravida... que saco. - reclamo.

-Ah... eu falei com o Jorge e ele disse que devemos segurar isso pelo menos até a final da Champions. - ele fala.

Agora eu não quero mais dar prazo nisso aqui.

-Hum... não se preocupa com isso. Vamos voltar ao "até quando for rentável para nós". - digo.

Ele franze o cenho.

-Aconteceu algo para mudar de ideia assim tão rápido? - ele me questiona.

Fui feita de idiota!

-É que essa pressão toda me deixou confusa... mas agora eu já estou bem e confortável. - minto.

Ele dá de ombros.

-Então tudo bem. Agora vamos. - ele fala.

Pego minha mochilinha da Louis Vuitton e jogo meu celular dentro. Eu estava amando aquele acessório, era tão fofo e mais prático, além do mais eu não corria o risco de ficar deixando o peso sobre somente um ombro.

Saímos do quarto e pegamos as sacolas. Na verdade Cristiano saiu carregando as sacolas para o carro e depois seguimos para casa.

-Júnior estava querendo que eu deixasse ele fazer uma festa do pijama. - Cristiano comenta enquanto saímos de carro.

-E por que você não deixa?

-Porque dá muito trabalho... imagina o trabalho em controlar um bando de crianças. - ele justifica.

-É só liberar apenas para os amiguinhos mais próximos. - opino.

-Vou ver isso com minha mãe... ver se ela pode. - ele fala.

-Ele quer festa do pijama no quarto novo... não precisa incomodar ela, eu posso tomar conta.

Não quero ela no mesmo ambiente que eu.

-Se é assim... tudo bem. Vou falar com ele e depois ligar para os pais das crianças.

A distância da casa que ele havia alugado, para a casa que era dele, era bem pequena.

Ele abriu o portão de casa e nós entramos com o carro. Por fora a casa continuava a mesma.

-Jorge falou comigo que você deveria postar alguns dos seus presentes nas redes sociais... - Cristiano comenta desligando o carro.

-É que eu achei melhor não sair divulgando de cara... estamos fazendo uma linha discreta, eu não posso começar a fazer marketing agora. Seus fãs ainda estão se acostumando comigo. - falo.

-É, você tem razão. - ele concorda.

Saltamos do carro.

-Mas eu posso postar algo sobre isso. - ele fala pegando as sacolas.

-Vai fazer o que? - pergunto sem entender.

-Vai andando na minha frente que eu vou te filmar... para mostrar esse presente da Louis Vuitton.

-Sério isso?

-Sério. Você tem que estar no mercado também...

-Tá, eu faço o que? Só vou andar?

-Só vai andando na minha frente, deixa o resto comigo.

Dou de ombros.

-Dá o sinal. - falo.

Ele mexia no celular com a mão direita e na esquerda carregava as sacolas. 

-Pode começar a andar. - ele avisa.

Saio andando no sentido da porta da casa dele.

-Little bear. - Cristiano chama.

Olho para trás e ele apontava o celular para mim. Dou risada e ergo minha mão na frente do meu rosto.

-Perfeito. - ele fala.

-Deixa eu ver. - peço.

Ele se aproxima e me mostra.

No vídeo ele começava filmando as sacolas na mão, depois seus pés e por fim o meu caminhar. Não nego que o vídeo parecia de um casal apaixonado, ainda mais porque ele me chamou por um apelido e eu sorri.

-Tenho que admitir, somos ótimos atores. - falo.

Ele ri e clica para postar o curto vídeo.

-Ah... você terá que acumular mais uma tarefa. - ele me avisa.

-Que seria? - pergunto.

-Ricardo é quem fica ligado nas notícias que saem sobre mim, mas agora ele vai precisar trabalhar com o Jorge numa outra coisa... então precisamos que você fique atenta sobre tudo e vá nos deixando ciente. - ele fala.

-Tudo bem... eu fico sem fazer praticamente nada mesmo. - digo e dou de ombros.

-Depois que Ricardo terminar o que tem que fazer com Jorge, você pode fazer outras coisas... pode investir na carreira de modelo. - ele sugeri.

Dou risada.

-Eu sendo modelo? Nunca tive jeito quando criança, imagina agora. - falo.

-Agora você tem um nome de peso para apoiar sua carreira. - ele fala e pisca para mim.

-De grávida a modelo? - solto uma gargalhada.

-Está nas suas mãos.