História Samsara - Quando você voltou para nós

SAMSARA
    Capítulo 1 – Quando você voltou para nós

Alguns raios solares vindos de pequenas frestas da janela invadiam aquele bagunçado quarto, chegavam a deslizar pelo rosto alvo do garoto na cama e o mesmo se remexia incomodado, Luhan não queria acordar. Não demorou mais que cinco segundos para que o alarme ressoasse pelos quatro cantos daquele cômodo, avisando ao agora acordado garoto que deveria se levantar para se arrumar para seu primeiro dia de aula, no então colégio novo, da cidade também nova.

Já devidamente arrumado, descia as escadas daquela nova casa, Luhan estava começando a odiar aquela palavra, o que era totalmente o contrário de sua mãe que estava feliz com tudo.

- Meu filho! - Sua progenitora apareceu de súbito, sorriu, selando a testa de seu garoto. Lu Mei ou apenas Mei como era conhecida, era uma mulher bonita, tinha os fios negros e lisos e uma pele alva mediante a de seu filho, sua notável beleza realmente não condizia com a sua idade - Querido, venha comer alguma coisa, eu fiz algumas torradas e sanduíches - Dizia Mei, arrastando seu filho até a cozinha, o mesmo bufava de cansaço, querendo voltar para sua amada cama.

- Não precisava disso tudo - Falou ele, olhando para toda aquela mesa farta, sentando-se em umas das cadeiras a sua frente.

- Precisa sim, é o seu primeiro dia de aula nesse novo colégio, meu Xiao precisa de bastante energia - Falou a mulher, beliscando a bochecha do garoto.

- Mama! Já falei para não me chamar mais assim, é vergonhoso - Suspirou, depois de beber alguns goles do suco - Estou satisfeito - Levantou-se, pegando duas maçãs na mesa, beijou a bochecha da mulher e se retirou dali.

- Mas querido, você só comeu um pouco! - Mei tentou chamar a atenção do filho, suspirou em seguida, o chinês era tão teimoso quanto uma pessoa que conhecia muito bem.

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Luhan mordiscava uma maçã no caminho de ida para a escola, estava um pouco nervoso para o seu primeiro dia, não era o tipo de pessoa que fazia amigos rapidamente, era completamente o oposto, sua timidez não permitia isso e havia também seu pequeno medo de não ter amizades por ser chinês. Foi nesses e em outros pensamentos que acabou chegando ao seu destino, o novo colégio estava ali a sua frente, garotos e garotas passavam contentes pelo grande portão de entrada, ficou observando o lugar por um tempo, entretanto logo uma sirene tocou, fazendo com que todos os alunos se apressassem em entrar. O garoto acelerou o passo, a última coisa que queria era ser o centro das atenções.

A sua sala estava cheia, muitos conversavam entre si, sobre faculdades, formaturas e outros assuntos que Luhan não entendia muito bem ou não tinha o mínimo interesse. A calmaria da sala apareceu no momento em que uma figura de idade se fez presente. “Certamente seria o professor”, pensou ele.

- Bom dia meus alunos, para quem não me conhece, sou Kim Donghae, o professor de História de vocês - O mais velho reverenciou, com um semblante calmo, mas bem observador - Vejo que temos um novo rosto por aqui - Olhou diretamente para o chinês que se encolheu lentamente na cadeira, justamente o que temia estava acontecendo, abaixou seu rosto um pouco envergonhado por ter tantos olhares voltados para si - Vamos meu jovem, levante-se e venha se apresentar para seus colegas - O garoto hesitou um pouco, mas logo se levantou, caminhando lentamente até a frente do quadro, estava com o rosto abaixado, mas logo ergueu sua cabeça.

- M-Me chamo Lu Han, vim de Beijing, espero que cuidem bem de mim - Falou em coreano, reverenciando em seguida, seu sotaque era bom, mas algumas palavras acabaram ficando com a pronúncia errada pelo seu nervosismo, o que acabou ocasionando alguns risinhos por parte da sala.

Rolou seus olhos pelo recinto, ouvia alguns cochichos, porém seu olhar foi vidrado rapidamente em um garoto diferente, parecia até mais novo que si pela sua aparência meio infantil, suas bochechas um pouco salientes e de cabelos escuros. O encarava sem piscar, parecia até ter visto um fantasma. O professor assentiu com a cabeça sorrindo, logo o mandando voltar ao seu lugar, Luhan suspirou, afundou em sua cadeira, fechou seus olhos, respirou fundo.

- Ei, novato - Uma voz feminina sussurrava a sua frente, Luhan abriu seus olhos encontrando uma garota de cabelos castanhos preso a um rabo de cavalo, era bonita e a mesma sorria para si, estendendo a mão - Me chamo Choi Haneul ou me chame apenas de Haneul, você parece ser legal, apesar do seu jeito tímido - Sorriu ela, após apertarem as mãos - Você irá gostar daqui - Falou de final, virando para a frente, a aula iria começar. O chinês ficou mais calmo por ter conhecido alguém legal que não caçoou de sua nacionalidade.

Voltou sua atenção para a aula, contudo ao pegar sua caneta em seu estojo, acabou derrubando o objeto no chão, ao seu lado, abaixou-se para pegá-la, porém teve sua mão interrompida por outra que acabou a tocando de leve, ergueu seu rosto, vendo aquele mesmo garoto de anteriormente que o encarava, sentiu meio que rapidamente um tipo de corrente elétrica subir por todo o seu corpo.

- Ah, me desculpe, eu ia pegar para você - Sorriu o garoto para si, lhe entregando a caneta, Luhan ainda estava um pouco parado pelo quase choque que se apossou de seu corpo, aquilo certamente foi estranho.

- Tudo bem, q-quer dizer, obrigado - Murmurou ao se levantar, vendo o outro rir de leve e voltar a sua postura.

Estava tão imerso aos seus próprios pensamentos que acabou não prestando muita atenção na aula que, por sorte, não demorou muito a acabar e teve alguns horários vagos pois o próximo professor que daria aula acabou faltando, estava adoentado.

Haneul fez questão de mostrar ao garoto todo o colégio, o chinês não tinha muito interesse em conhecer, porém a garota estava sendo muito legal consigo e também o lugar era bem grande, não queria se perder facilmente ali. Foram em pontos importantes do grande recinto e por fim pararam na quadra de esportes, era imensa, os dois resolveram se sentar ali, para descansarem um pouco. O colégio era enorme, porém faltavam poucos lugares para Luhan conhecer. Haneul se ofereceu para comprar algo para comerem, o garoto queria negar, mas a fome em si falou mais alto.

Já fazia uns quinze minutos que a garota não tinha voltado, Luhan pensou que deveria ser a fila que estivesse imensa, decidiu esperar mais um pouco.

Estava começando a ficar um pouco preocupado, iria procurar Haneul, estava para levantar quando ouviu passos pelo canto da quadra, olhou para o lado podendo ver um garoto alto e de cabeleira castanha, estava com uma bola de basquete nas mãos que quicava algumas vezes sobre o chão, ele não havia visto o menor ainda. Luhan tentou sair a passos lentos para não ser notado, porém, só tentou. Inutilmente caiu sentado sobre uma das cadeiras das arquibancadas, fazendo um pequeno baque ecoar pela quadra.

- Quem é você? - Perguntou o mais alto indiferente, observando as costas do outro até então desconhecido. Luhan não respondeu, apenas ficou inerte no mesmo local, não é que estivesse com medo, mas não queria que fizessem alguma brincadeira consigo. Como ficou parado, ouviu os passos alheios virem em sua direção. Luhan fechou os olhos.

- Eu falei com você, por acaso é surdo? - Perguntou de forma ignorante, virando o garoto de forma brusca.

Um leve baque da bola de basquete indo ao chão foi ouvido, o castanho encarava incrédulo com o que vira a sua frente. O menor estava confuso, o que aquele cara queria consigo?

- S-Sabia que iria voltar... -  Sorria, segurando com as suas mãos o rosto alvo do menor, então o garoto alto roubou-lhe os lábios de modo afoito.

Luhan arregalou os olhos, um desconhecido estava o beijando? Afastou rapidamente do outro, tapando sua boca.

- O que... o que pensa que está fazendo? - Falou de modo baixo, encarando o chão a sua frente.

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Os pensamentos de Luhan estavam caóticos, não conseguia entender o que tinha acontecido. Aquele seria seu primeiro beijo? Com um garoto? Desconhecido? Apenas tinha certeza do quanto aquilo era errado.

Imerso em delírios, o jovem não percebera que o maior tocava sua tez sutilmente, caminhando os dedos em direção a parte inferior do maxilar, segurando-o com as pontas dos dedos, fazendo o menor encara-lo olho no olho. Seus olhos inevitavelmente acompanharam a última ação.

- Esperei ansiosamente por esse dia em que poderia toma-lo para mim mais uma vez - Disse se aproximando num impulso apaixonado tentando selar seus lábios novamente.

- Mas o que está fazendo? Não se aproxime por favor! - Luhan tentava repelir o garoto com as mãos virando o rosto, mas não tinha força o suficiente para mantê-lo numa distância que considerava segura.

Uma silhueta familiar admirava a situação decidido a não interferir. Porém, não conseguira conter suas pernas que caminhavam em direção ao local onde os garotos estavam.

Desistindo de resistir, achou melhor tomar as circunstâncias para si ou a situação poderia sair de controle. Pobre mortal, preferia acreditar que estava fazendo o certo ao invés de admitir estar possesso. Por ciúmes? Talvez.

- Vejo que os dois já se reencontraram - Disse ao aproximar-se acenando com um leve sorriso - Os dois corpos se afastaram e viraram a atenção para quem acabara de chegar.

- Tsc, o que faz aqui, Minseok? - Perguntou insatisfeito aquele com a cabeleira castanha.

- Estava procurando por ele - Disse apontando para Luhan - Obrigado por encontra-lo - Continuou com sua voz tipicamente meiga.

- Reencontrar?! Procurando por mim? Alguém, por favor, me diz o que está acontecendo? - O menor perguntou estando confuso, assustado e um pouco irritado. Aquilo tudo era realmente errado.

- Não se faça de bobo, meu príncipe! - Disse o garoto com lábios ligeiramente pequenos ao se aproximar do menor, apoiando-se em seu ombro e beijando sua bochecha.

- E-ei! Sai de perto! - Afastou-o com as mãos, com a face avermelhada misturando raiva e vergonha - Não se aproximem por favor, eu não os conheço, me deixem em paz! - Disse ao pegar sua bolsa, apoiar sobre o ombro esquerdo e se dirigir até a saída da quadra.

Luhan escolheu ignorar o que tinha acontecido. Em sua concepção as pessoas daquela cidade eram no mínimo loucas, mas algo mais confuso o perturbava: Aquele beijo, ou melhor, o beijo. Tinha certeza de que nunca tinha visto nenhum dos dois garotos em sua ínfima vida, entretanto por que os lábios do maior pareciam tão familiares? Por que gostou tanto de beija-lo? Por que seu corpo vibrava em êxtase cada vez que lembrava daquele beijo?

Em sua concepção ele era o louco.

Oh Sehun tentou interferir indo atrás do rapaz sendo impedido por Kim Minseok.

- Não... - Acenou a cabeça em negativa o segurando por um dos braços - Algo está errado.

- Solte-me - Puxou seu braço bruscamente - Odeio admitir, mas tem razão, algo está errado - Mirou aquele que cruzava a saída da quadra e voltou o olhar para Kim.

- O que pode ter acontecido? - Disse Minseok sentando-se na ponta de uma das arquibancadas.

- Não sei, ele esqueceu de nós? Do que vivemos juntos? Das promessas que fizemos? - Encostou numa grade próxima a arquibancada apoiando o pé sobre a mesma.

- Mas por que apenas ele não lembra? Sehun, o que vivemos não pode ser esquecido.

- O que vivemos não pode ser esquecido. Acredita mesmo nisso? - Balbuciou, revirando os olhos sem esperanças e soltando um suspiro tedioso.

- Por hora, acho melhor esperarmos, não podemos concluir nada. Talvez ele esteja apenas confuso, o que fizemos não foi comum, não foi natural - Apoiou os cotovelos sobre os joelhos, cruzando as mãos, esboçando preocupação e medo.

- Que seja! Ele será meu de qualquer forma! - Falou indo em direção a saída da quadra com as mãos no bolso.

Minseok permaneceu sentando por alguns minutos, procurando respostas, não dando importância para a fala prepotente do mais novo. Levantou-se e foi para casa, afinal, o crepúsculo anunciava sua chegada.

- Desculpa a demora! Tive muitos imprevistos, a fila estava enorme, surgiram alguns garotos e não pude voltar a tempo. Espero que não est... - Haneul fora interrompida por sua visão assombrosa da quadra totalmente vazia – Para onde ele foi? Droga! Espero que tenha acertado o caminho de casa – Abriu um dos pacotes de salgadinhos de alga, achou melhor comer o que comprara enquanto voltava para casa.

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- Mama, Estou de volta! - O jovem depositava o anúncio da chegada tirando os sapatos e os deixando na entrada de sua casa.

Luhan percorreu o olhar por todos os cômodos da nova casa, estava começando a se acostumar com o que via.

 Após deixar a bolsa sobre uma pequena mesa ao lado da única janela da parte inferior, se dirigiu a cozinha certo de que iria encontrar algo apreciável aos olhos e ao estômago. Não estava errado, a mesa do jantar era farta, uma das habilidades de sua mãe envolvia cozinhar e isso ela fazia com maestria.

- Mama? – Sentou-se na mesa percorrendo a visão pela cozinha, procurando sua progenitora – Ela sempre exagera na comida. Somos apenas nós dois, para que tanta? – Pensava enquanto devorava um Bi Bim Bap. Tinha tanta fome que suas bochechas inchavam com o excesso de comida.

Depois de comer relativamente bem, subiu ao seu quarto para dormir. Teve um dia cansativo e seu corpo necessitava repor as energias que perdera. Antes tomou um banho e quando estava prestes a deitar suas lembranças foram invadidas novamente pelo beijo, agora intercalado por vários outros beijos.

O menor não conseguia distinguir o que era lembrança do que acreditava ser apenas desejo. Sentia-se culpado por desejar aquilo, mas tornou-se incontrolável.

Deitou e antes que conseguisse adormecer sentiu uma brisa fria permear seu quarto e ela sussurrou algo em seu ouvido. Algo que não era comum a ele. Ela disse: “Você se lembra?”