História Samsara - Quando nos tornamos mais próximos

SAMSARA
Capítulo 5 – Quando nos tornamos mais próximos

 

Dois dias haviam se passado desde que Luhan encontrara Sehun naquele lugar aconchegante e calmo. Estava preocupado por não ter recebido uma ligação e não ter visto o mesmo na escola dentre esses dias. Sehun disse que o veria novamente e o jovem estava começando a desejar isso.

 

Sua preocupação ia além do simples desejo em rever seu mais novo, por mais estranho que isso possa parecer, amigo. Aparentemente ele estava com problemas e precisava da sua ajuda, apesar de Sehun ter o perfil daqueles que recusam auxilio e tentam resolver tudo sozinhos. Enquanto conversavam na cafeteria, Luhan não se conteve em analisar cada traço de personalidade do seu acompanhante, uma de suas características marcantes era a observação, e pôde notar essa rispidez típica. 

 

Escolheu ignorar desejos e preocupações e tentar focar na lição de física que a horas consumia suas sinapses. O menor era incrivelmente horrível com cálculos e não conseguira desenvolver uma questão sequer do exercício proposto. Cansado, parou para comer algo, desceu as escadas, indo em direção a cozinha, de certo que encontraria algo apetitoso.

 

- Mama? Ainda tem aqueles bolinhos da lua do último jantar? – Parou em frente a um pequeno balcão, enquanto observava sua mãe lavar alguns objetos de jardinagem na pia.

 

- Mmm... devo ter alguns, mas se comê-los agora não terá fome no jantar, meu anjo – Virou-se para sua cria, tomando um susto ao notar sua expressão exausta – Mas o que andou fazendo?

 

- Física... Aish! Não consigo mesmo entender aquilo! – Segurou sua cabeça com as mãos, como se tentasse conter uma explosão que aconteceria a qualquer momento.

 

Ela sorriu com os olhos.

 

- Talvez possa pedir ajuda a alguns dos seus novos colegas, alguém deve ser bom com essa matéria. Vocês podem estudar juntos – Disse após abrir a geladeira e retirar um número pequeno de bolinhos, alguns ainda mordidos.

 

Luhan acenou com a cabeça de acordo, devorando, como de costume, os bolinhos a sua frente.

 

 

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Quem conseguisse notar via dois jovens, quase da mesma idade, assentados na grama do conhecido parque, observando o nada.

 

- Então, o que faremos de fato? – O mais alto perguntara, deitando na grama logo em seguida.

 

- Antes disso, acho que me deve uns pedidos de desculpa não? – Sorriu sarcasticamente.

 

- Não seja idiota! Você quem me deve desculpas, seu rosto machucou minhas mãos – Sehun soltou pequenas gargalhadas, mostrando suas mãos cobertas por band-aids, recebendo um soco de leve no peito.

 

Os dois trocaram leves socos e riram juntos como crianças que brigam e fazem as pazes no mesmo instante.

 

- Não sei ao certo, mas o mais seguro a fazer é nos aproximarmos dele e tentar descobrir o que houve e por quê ele não lembra. Sabe? Minha vó contava histórias sobre ladrões de memórias e acho que possamos estar lidando com um – Disse, deitando ao lado do maior.

 

- Tsc, é isso? Vamos por nossa confiança numa bobagem supersticiosa? Se esses ladrões realmente existirem por que roubariam justamente as memórias de Luhan?

 

- É o que precisamos descobrir, vocês conversaram sobre algo? E, ei, não estamos em condições de desacreditar em algo, você mais do que eu deveria saber disso – Minseok ergueu o corpo, sentando novamente, limpando fiapos de grama do cabelo.

 

- É... sobre isso, não conversamos, ele não entenderia – Desviou o olhar acenando a cabeça em discordância.

 

- Por hora vamos apenas nos concentrar em trazê-lo cada vez mais perto, mais perto da gente. Possa ser que acabe se lembrando com o tempo.

 

- E então, o que vamos fazer de fato? – Sehun repetiu a mesma pergunta, estava insatisfeito com a primeira resposta de Minseok.

 

- Já saíram, certo? Agora ele precisa lembrar de mim, digo, conhecer a mim. Estou pensando em chama-lo para o grupo de estudos e... - Antes que conseguisse terminar a frase, fora interrompido por um salto brusco de Sehun que se pôs de pé.

 

- Boa sorte então. Estudos? Tsc, duvido que consiga se aproximar de alguém com isso. De qualquer forma, sabe onde me encontrar – Com uma despedida, acenou, virou e caminhou em direção a lugar algum. 

 

Minseok percebera a tonalidade de ciúmes na voz de Sehun, apesar dos dois já terem chegado à conclusão de que não são inimigos e prometerem que jamais brigariam de novo pelo amor de Luhan, o mais novo ainda sentia insegurança. Mas esse era um problema para outra hora, Minseok estava concentrado em encontrar Luhan novamente, em conhecê-lo de novo, ama-lo de novo, senti-lo por perto mais uma vez.

 

 

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Luhan estava concentrado. Mais uma vez tentava compreender e resolver aquele exercício sobre vetores tridimensionais, por hora, decidiu se desligar do mundo real e tentar esquecer o que acontecera dois dias atrás, mas uma ligação um tanto quanto inusitada acabou atrapalhando os seus planos.

 

- L-Luhan? Esse é seu nome certo? – Bravejou a voz meiga e de tonalidade um pouco infantil.

 

- É sim, quem está falando? Como conseguiu meu número?

 

- Acho que você não me conhece, sou amigo de Sehun e ela havia me passado seu número – A voz atrás da linha ofegava e tremia como se estivesse falando com alguém importante que não via a muito tempo.

 

- Você está bem? – Riu um pouco da situação – Mas por que me ligou?

 

- É que... – Suspirou em hesitação – Tenho um grupo de estudos e queria saber se está interessado em participar, podemos estudar juntos, se quiser claro – Suspirou novamente agora em alivio.

 

- Woah, essa ligação veio no momento certo, estou precisando de ajuda com alguns cálculos.. M-Mas quem é você? É da minha turma? Não lembro de Sehun conversando com outros garotos.

 

- Minseok, Kim Minseok, Prazer. Sim, sou da sua turma e é o bastante que precisa saber por enquanto e Ah! Antes que acabe esquecendo, podemos começar amanhã? Estarei livre à tarde. Te dou o endereço de manhã durante a aula – Minseok agora trocava o nervosismo e ansiedade do início da conversa por autoconfiança e determinação.

 

A conversa encerrou por ali e, por mais confuso e inusitado que possa parecer, Luhan estava ansioso para que o outro dia chegasse o mais rápido possível.

 

O Jovem de características chinesas acreditava que dormindo cedo a aurora chegaria mais cedo ainda e, talvez, estivesse certo. Em sua percepção a manhã tinha raiado mais veloz e mal podia esperar para ingressar ao grupo de estudos. Via naquilo tudo uma chance de fazer novos amigos e conseguir entender de uma vez a tão complicada física, então por mais bizarro que as coincidências possam ser só tinha coisas a ganhar.

 

Acordou, disposto, comeu, disposto, correu e saiu de casa às pressas sem se despedir direito de sua mãe. Chegando na escola, procurou pelo garoto que havia ligado, mas não percebera que não sabia quais eram suas características, apenas conhecia sua voz. Fora abordado por um garoto aparentemente mais velho, com cabelos negros e um sorriso que cativava até os mais gélidos corações.

 

- Nos veremos mais tarde hoje? – Tocou em seu ombro, chamando-lhe a atenção.

 

Luhan, por um momento, achou que aquilo poderia ser perigoso e, involuntariamente, soltou um pequeno suspiro - um pouco agudo -  recheado de insegurança e medo.

 

- M-Minseok certo? – Luhan, ainda um pouco apreensivo, tentava estabelecer laços.

 

- Correto! Aqui, pegue, este é o endereço de onde começaremos nossos estudos. Estarei te esperando lá, por favor, não falte – Sorriu.

 

- Não faltarei – Luhan corou um pouco, aquele sorriso conseguiu mexer consigo e estava começando a se perguntar se não havia visto esse garoto em algum momento antes.

 

- Agora preciso ir, a aula começará em instantes. Nos vemos mais tarde – Despediu-se com um aceno. Ao contrário de Sehun, Minseok preferia uma abordagem mais sútil e calma.

 

Durante a aula, Luhan não conseguia parar de notar cada característica de Minseok, apesar de procurar o rosto de Sehun algumas vezes na sala, seu olhar sempre voltava a Minseok. Por alguma razão, sentia seu corpo possesso por descargas elétricas cada vez que repetia o nome do mesmo mentalmente. Não entendia que espécie de sentimento poderia ser esse, entretanto estava disposto a descobrir.

 

O aprendizado ia bem. Após algumas aulas de matemática e sociologia, o sinal avisando sobre o fim daquele processo soou e o menor, depois de se despedir do maior de cabelos negros, voltou correndo para casa, mal poderia esperar para que desse o horário que haviam combinado. Luhan, por diversas vezes, não conseguia entender o que se passava em seu interior, nunca esteve tão confuso, pois ao mesmo tempo em que se sentia ansioso se questionava sobre o porquê daquela ansiedade. Estava indo estudar. “São apenas estudos”, pensava o menor.

 

Banhou seu corpo e em alguns instantes estava pronto para partir, por ter passado em algumas lojas antes de chegar em casa o horário estava apertado e precisava sair o quanto antes, porém foi abordada por sua mãe antes de conseguir colocar o pé fora de casa.

 

- Onde está indo? – Uma voz feminina soou ainda distante.

 

Luhan freou seu movimento acelerado e podia notar em suas feições algo próximo de medo e frustração.

 

- Mama, estou indo estudar com alguns amigos. Lembra que essa foi sua sugestão? – Respondeu ainda na porta.

 

- Mas por que hoje? Pensei que ficaríamos juntos, hoje é quarta feira e é o dia de cozinharmos juntos, esqueceu? – Mei se aproximou, agora Luhan conseguia ver seu semblante triste.

 

- Aish! Como pude esquecer? – Bateu na própria testa, em reprovação ao seu esquecimento – Mama, sinto muito, mas é que eu disse que não faltaria. Podemos cozinhar amanhã, ok? Agora preciso mesmo ir, estou atrasado! – Decidiu encerrar a conversa por ali, sabia como era sua mãe e que aquilo iria ser estendido por um longo diálogo e que tomaria muito tempo.

 

- Esse garoto, me lembra tanto... – Mei interrompeu sua própria fala como alguém que está prestes a cometer um grave erro ao contar algo secreto. Por sorte, Luhan estava longe o suficiente para não ouvir.

 

 

 

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O local descrito no papel não era muito longe dali e Luhan poderia ir a pé. Conseguiu chegar em tempo, era um bairro afastado com enormes casas e com enormes jardins e logo atrás uma pequena floresta de arvores de pequeno porte completavam o cenário.

 

Parando em frente à casa que batia com o número que estava no papel, o garoto tocou a campainha, esperando ser atendido logo.

 

- Então você veio... vamos, entre, podemos começar o mais breve possível! – Kim Minseok não demorou a abrir e receber aquele garoto tímido e sem jeito, porém incrivelmente lindo e vulnerável aos seus olhos.

 

- E-Estou entrando – Avisou com sua voz tremula.

 

- Não se preocupe, pode deixar seus sapatos aqui mesmo.

 

Ao adentrar, Luhan ficou perplexo com o tamanho do ambiente, por dentro era uma casa com uma arquitetura e decoração tipicamente coreana. Uma enorme mesa baixa localizava-se no centro do que parecia ser a sala com algumas almofadas em volta e um relógio antigo que marcava a passagem do tempo com seu pendulo. Por um instante, ficou parado admirando o local até ser empurrado por Minseok, forçando-o a dar passos largos em direção a mesa.

 

- Sente-se, acho que podemos começar – Disse Minseok puxando uma almofada e sentando.

 

- Mas e os outros? Não vamos espera-los? – Questionou, repetindo a ação do mais velho.

 

- Não haverá outros, seremos apenas eu e você. Disse a eles que hoje eu seria inteiramente seu – Sorriu.

 

Luhan imediatamente corou, engolindo em seco, desviando o olhar daquele sorriso que passou a mexer tanto consigo.

 

- Mas então, por onde começamos? Me diga, em qual matéria você tem mais dificuldade? – Minseok pegou alguns cadernos já dispostos ao seu lado e os abriu.

 

- D-Desculpa, mas é que... por que seu rosto contém tantos curativos? Por acaso andou brigando com alguém? - Nesse momento não pode deixar de pensar em Sehun.

 

- Ah... isso? – Sorriu novamente – Não se preocupe, tudo está resolvido agora.

 

Luhan perdeu as contas de quantas vezes o pediam para não se preocupar e quanto mais diziam, mais a preocupação se instalava.

 

- Física, podemos começar por física.

 

Aquele foi o ponto de partida para os dois iniciarem os estudos. Minseok tinha uma habilidade incrível com os números e conseguia fazer com que Luhan compreendesse conceitos e fundamentos tão facilmente que o mesmo ficava abobado com tudo aquilo. O mais divertido, ao ver do chinês, eram as piadas que o mais velho conseguia fazer com o assunto, tornando todo aquele estudo uma brincadeira. Luhan desejou por um ínfimo momento que o tempo parasse.

 

- Então você pega multiplica a distância pelo tempo e consegue encontrar a resposta, viu como é simples? – Suspirou. Depois de duras horas e meia sem parar resolvendo exercícios, Minseok tinha esgotado seu corpo e sua mente – Acho que podemos fazer uma pausa, o que me diz de comer algo?

 

- Uma ótima ideia! – Os olhos de Luhan brilhavam como uma joia esculpida.

 

Durante as aulas, Luhan estava tão concentrado que não notou os olhares incessantes de Minseok em si. Nos pensamentos do mais velho, aquele momento era algo pelo qual ele havia esperado durante todo esse tempo e não conseguia acreditar que Luhan estava tão perto de si. A vontade que tinha de toma-lo em seus braços e não soltar nunca mais era incessável, mas tinha consciência que não poderia fazer algo assim, não tão cedo, apenas precisava que Luhan estivesse mais próximo, apenas precisava que os dois fossem ao menos amigos. 

 

Minseok levantou e foi em direção a cozinha, trazendo uma bandeja com dois sanduíches preparados pelo mesmo e dois copos de suco com um canudo peculiar. O menor não conseguia conter sua emoção, então Minseok colocou a bandeja na mesa sentando a frente do outro.

 

- Atacar! – Gritou, rindo de toda a situação.

 

Luhan, ao ouvir aquele comando, não pestanejou e agarrou um dos sanduíches como se o mundo fosse acabar e aquela sendo a última ação do garoto antes do fim,  e Minseok não ficou atrás. Os dois acabaram fazendo uma competição involuntária para ver quem comeria o sanduíche num menor tempo e Luhan acabou vencendo.

 

- Você fica parecendo um Baozi com as bochechas cheias de comida desse jeito – Riu indescritivelmente, bebendo um pouco de suco para tentar conter as gargalhadas.

 

- Baozi? Mas o que é isso? – Minseok perguntou, mesmo sabendo a resposta, ainda com a boca cheia.

 

- É um pão tipicamente chinês, gordinho e recheado assim como essas bochechas – Riu ainda mais, percebendo o maior corar um pouco.

 

Enfim terminaram de comer, beberam o suco ao mesmo tempo e estavam satisfeitos, porém indispostos a voltar aos estudos.

 

- Ei, quer ver uma coisa legal? – Minseok levantou, dando a mão para que Luhan levantasse em seguida.

 

- Quero sim – Aceitou a ajuda – Mas onde vamos?

 

- Apenas siga-me, quero te mostrar uma coisa – Minseok o guiava pela mão em direção a saída e depois em direção a mesma floresta situada um pouco atrás das casas.

 

Os dois caminharam quase ao mesmo passo, apenas conseguiam rir o tempo todo sem saber exatamente do que riam, somente riam e o trajeto pareceu não demorar muito. Lidando com algumas curvas e alguns desvios por entre arvores, atravessando uma ponte sobre um riacho e pulando alguns troncos e pedras pararam em frente a uma pequena elevação.

 

- Aqui está! Logo ali em cima tem um lugar abandonado a um bom tempo – Apontou, Minseok, em direção a uma cabana localizada no topo da elevação. 

 

- Mas o que vamos fazer? – Luhan ainda não entendia onde estava a coisa legal.

 

- Vamos até lá! Podemos fazer daquela nossa base secreta, onde juntos poderemos estudar e fazer o que quisermos. Afinal, é isso que os amigos fazem, não é? – Minseok novamente sorriu, esperando uma resposta de volta.

 

- A-Amigos? – Aquela palavra fez os pensamentos do jovem voarem novamente em direção a Sehun – Sim, claro! – Retribuiu com outro sorriso e os dois sorriram juntos novamente. Um gesto simples, mas que carregava uma infinidade de palavras e emoções que não coube a nenhum dos dois professar naquele momento.

 

Kim Minseok conduziu Luhan por uma última vez em direção a agora chamada base secreta. Durante a subida conversavam sobre explorar o local e o que poderiam fazer ali. Podia perceber que realmente estavam mais próximos.

 

Pararam em frente à entrada, um vão coberto por alguma espécie de tecido felpudo. Contaram até três e juntos removeram o que cobria a porta e estranhamente notaram que o lugar estava ocupado. Alguém havia o encontrado primeiro. O estranho encontrava-se assentado numa poltrona velha e de aspecto rústico, virado de costas para ambos, podendo ser notado por eles apenas sua cabeleira castanha. Ao perceber a chegada de visitas, o estranho virou e apenas escutou alguém dizer.

 

 - Sehun?!