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História Samurai NOT - Capítulo 11


Escrita por: phmmoura

Capítulo 11 - Capítulo 11


O que é… isso?

O cheiro a preenchia, tão forte e familiar. Sua cabeça doía, a mente tonta e lente e seu corpo dormente. Mesmo assim, Ei sabia o que o cheiro era. Não era apenas familiar; ele trazia lembranças dolorosas. Ainda assim ela não conseguia lembrar o nome.

Ela tentou abrir os olhos, mas era impossível; as pálpebras pesavam demais. Como o resto de seu corpo. Kanashibari…? Era idiotice, ela sabia, mas foi a primeira coisa que cruzou sua mente.

Para assustar as crianças, Dai-jii costumava dizer que se elas fossem mal comportadas, um youkai as visitaria e as deixariam paralisadas quando acordassem. Isso se conseguirem acordar, quer dizer, ele costumava dizer com uma risada perversa.

Sua mãe dizia uma história diferente. De acordo com ela, era apena um fantasma solitário que gostava de pregar peças em crianças como ele e que não faria nenhum mal. Apesar de Ei não acreditar em nenhuma das histórias, ela gostava muito mais da versão de Dai-jii.

O cheiro ficou mais forte, agitando sua mente nublada. Mesmo assim, ela não conseguia lembrar o nome, o que apenas a deixou mais ansiosa. Pouco a pouco ela sentiu seu corpo despertando enquanto a dormência ficava mais fraca, mas nenhuma parte dela se mexia respondia. Tentando se acalmar, Ei respirou fundo.

Tinha algo errado com o ar, algo pesado e gelado que mandava calafrios através de seu corpo. Morte… Ei sabia o que o cheiro era agora. Sangue…

Ei tentou mexer seu corpo, sua mão, ou qualquer coisa, mas nada a obedecia. Medo a inundou e sua respiração ficou rasa e rápida.

Eu não posso… e-eu preciso me acalmar, Ei pensou através de seu pânico. Se lembre das palavras de Tadayoshi. Ela respirou fundo. O cheiro ficou mais forte, mas ela ignorou, focando toda a energia que tinha em abrir os olhos. Pouco a pouco suas pálpebras se mexeram, mas ela se arrependeu no mesmo instante. Um par de olhos a encarava de volta, poucos centímetros de seu rosto. Se pudesse, ela teria gritado.

Ignorando seus instintos, Ei não fechou os olhos. Demorou um tempo, mas ela finalmente reconheceu a marca atravessando aquele rosto. O gêmeo da cicatriz estava deitado sobre a mesa ao lado dela. Ei tentou falar, mas sua garganta estava seca demais para falar. O melhor que ela conseguiu foi um sussurro. Mas Cicatriz não reagiu, seu rosto com a mesma expressão o tempo todo.

Ei sabia, mas escolheu ignorar tudo e acreditar que era apenas uma brincadeira idiota, como as de Tadayoshi. Será que ele pediu pra Cicatriz fazer isso? Sim, parece mesmo algo que aquele espadachim idiota faria. Uma brincadeira dessas, ela se forçou a pensar. Mas com o passar do tempo, ela não podia mais ignorar o fato de que Cicatriz não se mexeu nenhum pouco. Sua expressão, olhos, tudo era igual; pálido, vazio, frio… morto.

A respiração dela ficou ainda mais rasa e rápida. Ela tentou se afastar do cadáver, mas seu corpo mal se mexeu. Apenas seus dedos tremeram. Ei focou na sua mão e conseguiu colocar a palma na mesa. Usando toda a força que tinha no momento, ela empurrou. Na metade do caminho seu braço cedeu, sua mão escorregou e ela bateu o queixo com força na mesa. A dor era tanta que ela quase desmaiou.

Com sua visão vendo em dobro, ela ignorou a dor, focou os olhos e viu porque sua mão escorregou. Algo vermelho e viscoso cobria a mesa… sangue! Ei gritou, mas a voz dela estava presa na garganta.

Sua respiração parou, suas pernas não a obedeciam, seu corpo latejava e sua cabeça estava pesada. Mesmo assim, só tinha uma coisa na mente de Ei; ela tinha que se afastar do corpo, do cheiro, do sangue. Ela forçou suas pernas e mãos a levantarem ela de novo. Ela não sabia como, mas conseguiu ficar de pé, mesmo se seu corpo inteiro protestasse em dor.

Tadayoshi… Tadayoshi… Com a imagem do espadachim em sua cabeça, Ei lutou para manter a consciência e conseguiu se arrastar ao longo da parede. Ela não tinha ideia para onde ir, mas tinha que encontrar ele. Em sua pressa, nunca notou o cheiro de sangue ficando mais forte enquanto se aproximava da cozinha.

Quando finalmente notou, o corpo dela tremeu e suou e ela quase perdeu toda força de novo. Ela agarrou a parede com uma mão e a mesa com a outra. Eu… não posso mais fugir… não mais…

Ela tentou engolir saliva, mas sua garganta estava seca demais para isso. Se… se eu quero chegar aonde Tadayoshi está… Ei sabia que se arrependeria, mas também sabia que tinha que esticar sua mão trêmula e puxar aquela cortina.

Era pior do que imaginava. A dona, que os tinha tratado com tanta bondade, que tinha um sorriso tão gentil, estava deitada em cima de algo, encarando o teto com os olhos arregalados, o rosto cheio de terror. O algo debaixo dela era o outro gêmeo.

As pernas de Ei perderam toda força e ela caiu com força no chão. Seus joelhos nunca doeram tanto, mas mesmo assim ela ignorou a dor e tentou se controlar. Se perdesse a consciência agora, ela poderia morrer como eles.

Se estiver numa situação ruim, você deve ficar calma e checar tudo, a voz de Tadayoshi sussurrava na cabeça dela. Sim… eu me lembro disso… Se eu não conseguir fugir, eu preciso pelo menos descobrir o que tá acontecendo, ou nas palavras dele, descobrir o quão fundo é a merda. Essas palavras a fizeram rir naquela hora. Agora, apesar de tudo e antes que percebesse, elas a fizeram esboçar um pequeno sorriso nervoso.

Eu escolhi olhar atrás da cortina, ela pensou, reafirmando sua decisão. Respirando fundo, ela se forçou a olhar para os cadáveres. A expressão da dona e do gêmeo eram iguais; cheia de dor, lamento e terror. Ei acreditava que tinha se acostumado com a morte a essa altura, que mesmo se ela não estivesse pronta para tirar uma vida, ela não ficaria apenas paralisada diante da morte.

Mas ela não estava preparada para ver as pessoas que estavam vivas quando fechou os olhos nesse estado, e vomitou. O cheiro misturou no ar com o odor de sangue e comida. Ela quase vomitou de novo, mas de algum jeito conseguiu segurar. Depois de limpar a boca, ela se arrastou mais perto.

A dona ainda agarrava a lâmina que atingiu seu coração. Pelo ferimento, o sangue encharcou suas roupas e se espalhou no chão e no seu neto. É… pequena demais… pra ser uma arma, Ei pensou, segurando outra vontade de vomitar. Com dificuldades, ela descobriu que era uma faca de cozinha e um pensamento sombrio cruzou a mente dela. Ela morreu tentando parar a faca… ou se matou?

O que matara o rapaz não foi fácil de encontrar com a avó em cima dele. Ele deitava de lado com as roupas tingidas de vermelho e nenhum ferimento ou corte aparente. Não é o sangue dele? Depois de empurrar a senhora, Ei finalmente conseguiu descobrir. Debaixo de todo o sangue, tinha um ferimento de punhalada em sua garganta. Pelo tamanho, era de uma faca. Os dois morreram com um golpe cada…

Antes que percebesse, ela tremia se se abraçou, mas não chorou. Tadayoshi… ela tentou chamá-lo, mas ainda não tinha voz para chamar o homem que confiava. Sem forças para levantar, ela recuou o mais rápido podia, até algo bloquear seu caminho. Por um ínfimo instante, ela rezou que fosse a parede, mas mesmo sem olhar, Ei conseguia dizer que era uma pessoa.

Ela parou de respirar e sua mente congelou. Minha espada… minha espada… Sua mão trêmula respondeu e foi até a cintura. Mas seu coração afundou quando percebeu que não tinha nada lá. Onde… está minha arma? Sem ela, eu não consigo fazer nada! Sem ela, sou apenas uma criança!

Então a imagem do guerreiro caído e ela incapaz de fazer qualquer coisa cruzou sua mente. Mesmo se eu tivesse minha espada, o que eu poderia fazer…? O pensamento pareceu uma facada no seu estômago.

— Tada…yoshi… — foi apenas um sussurro, mas ela finalmente encontrara sua voz.

— O que? — a voz veio acima dela.

Ei virou a cabeça, olhou para cima e viu o homem que negava ser um samurai bloqueando seu caminho. Junto com o alívio veio as lágrimas e ela não fez nada para pará-las.

Tadayoshi disse nada enquanto afagou a cabeça dela até ela estar vazia. Depois que ela limpou o rosto, ele ofereceu a mão. Ei agarrou e ele a puxou para cima, mas as pernas delas mal aguentavam seu peso e ela precisou segurar o braço dele com força para continuar em pé.

– O que… aconteceu…? — a garganta dela estava seca demais e sua voz foi nada além de rouca.

Tadayoshi a encarou, seus olhos escuros pálidos e vazios. — Me desculpe. Não queria que visse isso…

Ei sentiu o aposento ficar frio e fechou os olhos. Ela tentou respirar, mas era difícil e ela agarrou seu peito. Quando a dor finalmente se foi, ela abriu os olhos devagar e viu Tadayoshi segurando uma faca vagamente familiar.

—O quê…? — Apesar de limpa, o pouco de vermelho no cabo era evidente. Sangue. — Você…?

Tadayoshi a encarou nos olhos.

— Eu os matei.



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