História Sândalo... - Renascer

(...)

Sai bem cedinho de sua casa, e ainda o deixei dormindo. Peguei um táxi e logo estava em casa, eu me sentia nas nuvens, como uma adolescente apaixonada. Antes que minha mão chegasse na maçaneta da porta, a mesma se abriu, e com uma cara nada feliz minha mãe apareceu.

Rai... - Seu olhar parecia que iria me partir ao meio.

Erm... Mãe! - Tento disfarçar usando uma voz alegre.

Entre mocinha! - Ela diz batendo o pé no chão. - Sente-se!

Mãe, tudo bem? - Disse meio receosa.

Onde você passou o dia e a noite ontem? - A ruiva me dá um olhar investigativo.

Err... - Eu não sabia o que dizer.

Você foi pra casa dele? - A mais velha diz irritada.

Dele quem? - A encarei piscando os olhos algumas vezes.

Ru... - Ela limpa a garganta - Takanori... Takanori Matsumoto.

Veja bem... Ele tava meio mal sabe? Eu... Eu só cuidei dele, só isso. - Sinto uma pontada nas costas, e não evito fazer uma careta de dor.

O que foi? - Freya me encara.

Nada... - Me senti estranha por um momento. Se a senhora me der licença, eu vou tomar um banho. - Me levantei, e sai caminhando.

Essa menina aprontou alguma... - Ela resmunga sozinha.

Respirei fundo tirando minha roupa, uma dor persistia em minhas costas, liguei a água, e deixei a banheira enchendo.

"Merda... Porquê minhas costas estãos doendo tanto?!"

Senti um líquido quente e expesso escorrer nas minhas costas, passei as mãos e me surpreendi, era mesmo sangue como imaginei. Me virei de costas, me posicionei em frente ao espelho, e fiquei realmente espantada, e um pouco petrificada.

MÃEEEEEEE! - Não pude evitar o grito, e correndo desesperada ela abriu a porta do banheiro.

RAI O QUE... Oh meu Deus... Rai... - Freya caminhou até mim espantada.

Mãe, o que é isso?

Rai... Você dormiu com ele? Quero dizer, vocês fizeram sexo?

Mãe... - Respondi revirando os olhos.

Rai, seu selo foi quebrado, corrompido.

Em? - A olhei confusa.

A mágia que restringia os seus poderes... - A ruiva abaixa a cabeça.

Mãe? O selo da mágia foi quebrado. Como assim? - Soltei um risinho nervoso. - Do que a senhora tá falando?

O selo que restringia sua força, seus poderes, o seu verdadeiro eu, ele foi quebrado. - Freya parecia confusa e sem saber como explicar.

Tá isso eu... - Um gemido de dor escapou - Eu já entendi essa parte. Prossiga com o resto.

Oh, então... é... Agora tudo o que foi oprimido está solto, tudo do que você é corre solto agora em seu sangue e suas veias.

Ok. Mas porquê causa, rasão, motivo ou circunstância eu estou sangrando, e nas costas? E tipo, isso tá doendo pra caralho.

São... - Ela desvia o olhar.

Mãe...? Aish! Vamos ver se entendi, ok? - Respirei fundo entrando na banheira. - O Takanori é o tal impuro Lucian ou Ruki seja como for, certo?

Sim. - A mais velha afirma.

Ele é um caído, condenado á vagar na terra sem morrer, e como alimento só poderá beber sangue humano. - A ruiva afirma novamente. - Eu não me lembro mais dele, por que a senhora fez uma mágia que nos bloqueace, mas acabou só apagando da minha cabeça a figura dele.

Sim minha flor.

Ok... Então, o selo que restringia minha descendência arcana foi quebrado. A senhora achou que eu nunca fosse me apaixonar pelo inimigo, e me entregar a ele no prazer carnal. O impuro aquele que corromperia o selo que estava me privando de mim mesma. Certo?

Sim, tudo correto.

Agora...? - A encarei. - Como vamos controlar tudo? Confesso que estou com medo e apavorada... - Sorri tristonha - Mãe, sinto que uma força enorme vai invadir o meu corpo, meu ser, e tomar conta de mim. - Sinto uma lágrima escorrer.

Rai... Xiiii, a mamãe está aqui, então, não tenha medo.

Me desculpe... Eu fui uma trouxa caíndo em cada uma se suas armadilhas... - Minha voz é fraca em meio ao choro - TSC! Agora não adianta eu chorar pelo leite derramado. O que está feito, está feito, não podemos voltar atrás. - Dei um sorriso parecendo uma maluca. - Eu... Eu a decepcionei, mãe... - Respirei fundo a olhando nos olhos.

Rai, Rai minha pequena... - Vejo algumas lágrimas brotarem em seus olhos. - Não diga bobagens, você nunca me decepcionou, ao contrário, eu quem a decepcionei, e machuquei os seus sentimentos várias e várias vezes. Me perdoe meu anjo. - Sinto seus lábios quente tocarem a minha testa, num beijo terno, maternal e cheio de afeto.

Obriga... - Uma dor aguda percorreu minhas costas, senti como se láminas super afiadas saíssem pra fora de minha pele.

RAI! - Com olhar preocupado segurando meus ombros, Freya grita meu nome.

Gyyaaaaa!!! - Segurei firme na borda da banheira.

Olhando para baixo vi a transparente água se tornar vermelha, minha pele parecia estar sendo cortada de dentro para fora, uma dor intensa como láminas saindo de dentro de mim tomou conta de meu ser. Freya insistia em chamar o meu nome, me dizendo para aguentar firme, e que eu não poderia desistir e dormir agora. Sorri de lado, com a cabeça baixa, já estava fraca pela perda de sangue, e fraca pela dor aguda, eu sentia todo o meu corpo tremer, e se gelar aos poucos enquanto eu suava fria. Senti uma força esmagadora tomar conta de mim, eu não sabia se era bom ou se era ruim, eu não fazia a miníma ideia do que pensar ou como agir.

A voz de minha mãe ficava cada vez mais longe, e mais longe, tudo á minha volta se escureceu, minhas forças se esvaiam aos poucos, minha consciência já não era mais minha, ela estava longe a vagar. Aos pouco senti que meu corpo cair, eu não segurava em mais nada, só esperei que me chocasse com alguma coisa, foi aí que senti as mãos gentis de Freya me segurar, enquanto afagava meus cabelos.

"Tudo bem, aguente só mais um pouquinho hãm? Já está quase completo a sua transição."

Senti que minhas costas estavam pesadas, e algumas penas ou plumas pretas e brancas caíram sobre a água, com a força que me restava toquei aquelas duas lindas plumas sobre a água,  sorri feliz. Vi aparecer uma sombra atrás de minha mãe, pareciam lindas asas a se mexer, Freya sorriu feliz me dizendo que fui bem, sorri mais uma vez e antes de perder a consciência, olhei aquela sombra que era realmente eu, um pouco difícil acreditar, mas eu estava desperta para um novo mundo caminhar.

"Minha querida Lótus..."