História Saranghae - Capítulo Único

— Estás apaixonada por — Disse Kang Sora sorrindo e sentando-se ao lado de Shin Hye. - Dá para ver apenas pela forma como olhas para ele. — Suspirou aliviada ao tirar os seus saltos altos e colocar os pés nus na relva parcialmente molhada. 

— E como é que é eu olho, exactamente? 

Ela aponta para uma flor e depois para uma abelha. E desenha os círculos com o dedo anelar. 

— Como a lua olha para o sol. - O cabelo cai-lhe para a cara, mas ela apanha-o e volta a colocá-lo por trás da orelha. —Como se, pela primeira vez na tua vida, te sentisses quente. 

Shin sorriu percebendo exactamente as palavras da sua única e querida amiga. Mas preferia não pensar nisso com muita afinco. Olhou então para o outro lado, mas os seus olhos não eram capazes de se desviar de Jong Suk por mais de dois minutos. E ficou então a observá-lo, enquanto ele corria no campo de futebol. O sorriso jovial, a forma como o seu cabelo balançava a cada passo de corrida que dava. Ou a forma como os seus olhos brilhavam quando a bola se aproximava. Nem se apercebia do quão feliz e encantada se sentia só de apenas poder observá-lo. O amor tem destas coisas, certo? 

Enquanto isso as flores emolduram-lhe as costas, criam daquelas paisagens de sonho onde se quer ser fotografado. E Suk faz exactamente isso, na sua memória grava a imagem mais bela que alguma vez conseguirá de Shin Hye. Os olhos postos nele com um ligeiro sorriso doce e as flores mais rosa que alguma tinha visto. Talvez fosse coisa do amor, certo? 

— Achas que dizer amo-te tão cedo é algo de mau? — Perguntou para Sora que tinha o telemóvel na mão. 

— Não, não acho. Se é verdadeiro, apenas diz-lhe. — Sorriu. — Vocês andam neste impasse faz meses já. Não vos devia ter levado a beber! Depois beijaram-se e agora ignoram-se e ficam a espreitar-se seja na faculdade, ou aqui no campo. Decidam-se de uma vez por todas. Precisamos todos de respirar. 

E quem tinha os pulmões presos era ela. Shin Hye sentia as cordas bem presas à volta do seu tórax, que a impediam de dizer-lhe em palavras o afinco que tinha por Suk. Incomodava? Definitivamente. Iria fazer algo para mudar isso? Não tinha tantas certezas. Apesar dos sentimentos, observá-lo à distância preservava-lhe a fantasia de um amor glorioso e cheio de bons momentos. E, se ao tentarem um relacionamento, as coisas não corressem como ela queria ou como ele queria? E se a sua imaginação fosse infinitamente melhor que qualquer aventura que os dois tivessem?

Suspirou e voltou a suspirar com a cabeça a latejar-lhe de dor. Massajou as têmporas antes de beber um golo do seu leitinho de banana, que guardava na carteira branca. Tinha sido ele a oferecer-lhe, num daqueles jogos de amigos secretos do clube de jornalismo. Sorria só de se lembrar do momento. Tinha ficado feliz com o gesto, ainda mais por ele saber a sua cor favorita e por ter gasto uma considerável quantia para a adquirir. 

Alguém gritou no campo. Olhou apenas para encontrar Jong Suk a correr de um lado para o outro, depois de ter marcado o primeiro golo da partida. Foi abraçado pelos colegas de equipa e depois acenou na direcção dela. Shin levantou a mão, mas pousou-a antes de acenar. Um grupo de jovens não muito longe tinha acenado de volta e gritavam "Fighting Oppa!". Eram bonitas e bem vestidas, tinham cartas cor-de-rosa nas mãos, claramente declarações de amor, para o jovem mais bonito da equipa. Por alguma razão ele parou de sorrir, olhou bem na direcção de Sora e depois de ela responder com um encolher de ombros voltou-se para a equipa e continuou o jogo. 

— As borboletas vivem a melhor vida. — Comentou Shin Hye tentando tocar numa que tinha pousado no banco. Era completamente branca, normal e sem interesse. Mas fascinava-a por completo, com as suas asas a bater de forma calma e delicada. 

— E porquê? Vivem tão pouco tempo! 

— Exactamente. Vivem uma semana e vivem-na ao máximo, sabendo que os dias são escassos e precisam fazer tudo para que eles valham alguma coisa. E nós, que temos dias a mais, vamos e esperamos que nos caiam do céu todas as aventuras e coisas boas. 

— Estás a dizer que tu querias ser como uma borboleta e poder dizer ao Suk o que sentes? Ou que vais ser apenas humana e deixar a oportunidade passar? 

— Sora. Achas que viver na sombra dos acontecimentos seria uma melhor maneira de viver vida? 

— Definitivamente não. Devíamos todos ser a estrela principal da nossa vida. 

— Então porque é que, estando aqui, me sinto mais uma antagonista? 

— Porque não te dás crédito suficiente para assumir o papel principal. 

A maior parte das jovens começavam agora a ir embora. Algumas desistiam com a dor de pés por estarem de saltos durante muito tempo sem onde se sentarem. Outras tinham outras coisas para fazer e onde ir, confiavam nas suas colegas para entregar as palavras de amor escritas em papel com cheiro. 

A rega automática foi ligada, molhando uma parte da t-shirt branca de Shin Hye. Ela resmungou, levantando-se ainda assustada. 

— Eu já volto. — Disse pousando a garrafa de leite ao lado de Sora. — Vou ver se tenho mais alguma t-shirt no meu armário. 

Sacudiu as calças de ganga para tirar o pólen e depois seguiu em direcção dos edifícios da faculdade. Foi distraída dos seus pensamentos quando ouviu os gritos e o apito final da partida. A equipa de Suk tinha ganho o jogo. 

— Shin-Hye-nah! — Ouviu alguém gritar. Ao principio nem lhe reconheceu a cara, mas depois voltou-se para trás e Jong Suk corria na sua direcção. 

— Sunbae? — Ficou quieta e confusa vendo-o aproximar-se cada vez mais. 

— É assim, eu vou fazer algo que já devia ter feito há muito tempo, mas que, por alguma razão, nunca fiz. Hye-nah. Por favor chama-me de oppa. — Pegou-lhe na mão antes de depositar um beijo curto e sentido nos lábios dela.— Saranghaeyo. 

— Sunbae..? — O seu coração batia a mil e tinha quase a sensação que iria explodir naquele momento. A cabeça doía-lhe ainda mais, mas não sabia se era da dor de cabeça ou da confusão de sentimentos e pensamentos que lhe atravessavam a alma numa velocidade astronómica. 

— Oppa. Por favor chama-me oppa. 

— Oppa... - Disse timidamente. Agarrou-lhe as duas mãos e chegou-se mais perto dele. Ficou nas pontas dos pés tentando alcançar-lhe os lábios. - Saranghae. - Sussurrou antes de o beijar de volta.