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História Sasuke e Hinata - Capítulo Único


Escrita por: MJthequeen

Notas do Autor


A maioria das histórias de amor não começam com uma tragédia, tampouco terminam com uma. A maioria das histórias de amor acontecem a todo instante, em qualquer lugar.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Hinata

Conheci Hinata quando tínhamos 13 anos. Ela tinha a franja abaixo das sobrancelhas e o cabelo curto, curto demais. Tentava sorrir quando me via nos corredores, mas aquelas bochechas tremendo me diziam que ela tinha um pouco de medo de mim.

Quase nunca falava comigo; mas, quando o fazia, eu tentava prestar atenção, tentava mesmo. Mas Hinata falava baixo demais e nada de muito interessante saía de sua boca. Eram coisas sobre o tempo, quando estávamos sozinhos e ela se sentia desconfortável com o silêncio. Coisas sobre a última notícia bombástica ou o filme prestes a ser lançado. Não que eu não quisesse conversar com ela, Hinata simplesmente não era significante.

Pelo menos não aos 13 anos, vestindo o uniforme do único colégio que havia em Konoha. Cidade pequena, todo mundo conhecia todo mundo. Quer dizer, nem todos conheciam Hinata. Mas isso porque ela passava despercebida; era baixa, muito baixa. E extremamente branca, como nuvens. Tão branca que o calor a tornava cor-de-rosa.

Aos 13 anos, Hinata não passava de uma figura em meio às outras – uma figura que só chamava atenção por causa dos olhos enormes.

Sasuke

Conheci Sasuke no mesmo dia em que conheci o Naruto. Eu gostava muito de Naruto, que era a pessoa mais gentil com quem eu já tinha falado, então achei que Sasuke também seria. Todos falavam muito bem dele e de como era bonito... Eu não sei se Sakura simplesmente elevou muito minhas expectativas, mas Sasuke não era nada impressionante.

Eu não gostava dos seus olhos negros e enigmáticos. Nem de sua cara fechada. Nem do cabelo que claramente precisava de um corte. Sasuke me lembrava papai e isso não era bom ou confortável. Ele me assustava um pouco, ao contrário do que Naruto fazia.

Quando Naruto sorria, Sasuke apertava ainda mais os lábios. Quando Naruto falava, Sasuke parecia querer tampar os ouvidos, pois tudo era alto e escandaloso demais para ele.

Eu pensei que, bem, eu não podia estar, hm, apaixonada por um garoto e não gostar do melhor amigo dele. Garotos dão tanta importância à opinião dos amigos quanto garotas fazem, e Deus sabia como eu sempre ouvia tudo o que Sakura e Ino tinham para dizer. Então sempre que acontecia de estarmos sozinhos, raramente, eu tentava puxar algum assunto.

Se eu falava como estava frio, Sasuke dizia “uhum”. É difícil dizer se isso era um sim ou não. Se eu falava de algum filme, Sasuke dizia “aham”. Suas críticas monossilábicas superavam qualquer resenha em jornais. Se eu demonstrava minha opinião sobre a última notícia, Sasuke dizia “hm”. E então eu desistia, pois era mais fácil conversar com um cachorro.

Então eu entendi que Sasuke não gostava de mim. Grande coisa, eu também não gostava dele.

Hinata

Aos 16, o cabelo dela cresceu na mesma velocidade que o maldito sutiã. Eu não vi como, mas num momento Hinata era só uma garotinha como todas as outras, e na outra ela poderia deixar uma vendedora muito brava por não ter o tamanho certo.

Infelizmente, eu não fui o único cara a notar isso. Ela desenvolveu um gosto peculiar por moletons desde então e nunca a vi sem vestir um. Mesmo no calor, Hinata se vestia como se estivéssemos no inverno. Foi estranho, isso quase fez dela bonita. Não, essa não era a palavra, pois Hinata era definitivamente bonita agora que tinha ficado mais velha; talvez não de forma explicita como Ino, mas bonita. Beleza tinha deixado de ser seu problema. A palavra era outra, então: atraente. O jeito como ela queria esconder o corpo quase fez dela atraente.

De qualquer forma, acho que ela me preferia quando tínhamos 13 anos. Hinata não sorria mais quando passava perto de mim. Nem parecia perceber quando chovia ou estava ensolarado e eu estava do seu lado – era só Naruto aparecer, porém, e ela era a garota do tempo em sua melhor forma. Nuvens isso, sol aquilo, e para ela eu não estava lá.

O único tonto o suficiente para não entender aquilo era o próprio Naruto. Eu tentava esconder a risada toda vez que ele dava algum comentário avoado para ela. Hinata definitivamente percebia e não gostava.

Sasuke

Tenten tomou gosto por dizer que ela era diferente das outras garotas e que eu era também. Ela dedicava seu tempo para a agência de jazz que tinha acabado de entrar – certo, eu não dedicava meu tempo para nada importante naquela época, mas não demonstrava isso como Sakura e Ino. Tenten também gostava de comentar que elas tinham se tornado insuportáveis desde que tanguinhas se tornaram preferíveis. Eu lhe dizia que Sakura e Ino sempre foram como foram e não tinha nada de errado nisso, mas Tenten me ignorava.

Ela não era a única. Às vezes eu sentia que, por mais focada eu estivesse em tornar Naruto um grande amigo – e ele abria a boca para dizer que era amigos de todos – mais amigo ele realmente se tornava. Eu era péssima nisso, mas Sasuke não precisava rir todas as vezes de mim.

Talvez eu não devesse ficar ofendida. Todo mundo era chacota para Sasuke Uchiha.

Vai ver ele achava que eu não percebia como os lábios dele tremiam mais que o normal, ou como as sobrancelhas se juntavam e uma veia surgia perto de seus cílios. Não era uma risada comum, mas definitivamente estava lá.

Quanto mais eu via seu rosto toda vez que Naruto estava por perto, mais eu me perguntava se, afinal, Tenten não estava certa sobre as garotas. Eram todas piradas. Elas comentavam o dia todo e a noite toda no telefone sobre como Sasuke era gato. Definitivamente ele não era feio, mas era comum. Eu podia apontar um milhão de garotos claros com cabelos e olhos pretos. Mas eu só conhecia um loiro de olhos azuis.

Será que Sasuke sabia que era genérico? E que eu podia achar aquela personalidade confiante demais e fria em páginas de vários livros? Na verdade, Neji bem batia com aquela descrição... Decidido, eu tinha um Sasuke dormindo no quarto ao lado!

Hinata

Por muitos anos achei que Hinata não tinha cara alguma além da de bom dia e a “Naruto está aqui”, um rosto muito parecido com o de bom dia, só que mais vermelho. Eu estava errado. Ela também tinha a expressão muito triste, triste demais.

Eu vi pela primeira vez quando Naruto decidiu que erguer Shion e beijá-la era uma boa ideia. Eu não tinha ideia se o colégio estava gritando porque ele tinha acabado de marcar um ponto para o time, ou porque o casal os agradava. Hinata não parecia contente com nenhum dos dois. Eu encontrei o rosto dela em meio a multidão da arquibancada, facilmente reconhecível por causa do tom de seus olhos – e pensar que um dia tinha pensado que ela se misturava fácil.

Tinha os lábios entreabertos, sobrancelhas caídas e os olhos cheios de lágrimas. Quando se virou e foi embora, sobre protestos de uma amiga que não me importava muito, não me viu. Nos minutos que restavam da nossa pausa, me perguntei se ela um dia tinha achado que realmente tinha alguma chance. Que Naruto de repente a perceberia depois de todo aquele tempo.

Determinei que ela tinha se machucado por ser estúpida o suficiente para isso. Hinata caiu na armadilha que ela mesmo montou. Fim.

Sasuke

Sasuke achava que eu era boba ou cega. Vindo dele, talvez os dois.

Ele estava na prateleira de livros ao lado da minha. E tinha estado próximo da mesa que eu escolhi para sentar pela manhã. Então, se ele não estava me seguindo, era uma estranha coincidência. Neji uma vez me disse que coincidências não acontecem e, apesar de eu não acreditar nele, talvez aquele fosse realmente o caso. Talvez fosse mais que... Coincidência. 

Encarei Sasuke e ele me encarou. Pisquei uma vez e ele se manteve firme. Deus, eu não tinha coragem. Não podia confrontá-lo, mas esperava que meu olhar vidrado na lombada dos livros fosse o suficiente para espantá-lo. Sasuke nunca tinha mesmo gostado de estar perto de mim, então por que, justamente no momento em que eu mais queria, ele não ia embora?

— Hm – Sasuke chamou no melhor jeito Sasuke de ser.

— Aham? – Minha boca se moveu sozinha e eu pisquei, meio chocada. Queria ir embora dali, mas estava curiosa sobre o que ele queria.

Sasuke também piscou e mexeu os olhos de um lado para o outro, parecendo confuso.

— Hoje está frio – disse por fim.

Eu mexi a cabeça, olhando pelas janelas. Algumas pessoas se abanavam do lado de fora.

— Na verdade está bem ensolarado... – respondi num fio de voz, sem entender nada.

Sasuke olhou pela janela como se quisesse explodi-la. Ou explodir a si mesmo por ter dito alguma besteira. Ele ficou quieto por mais alguns segundos e aquilo estava me incomodando.

— Tudo bem, Sasuke? – Perguntei e pude vê-lo suspirar aliviado, como se eu tivesse acabado de resolver todo o problema, qualquer que fosse ele.

— Sim, e você?

— Estou bem.

— Ótimo – Sasuke se virou como se aquela resposta fosse o suficiente e foi embora.

Hinata

Nos dias seguintes, depois do jogo, eu mal via Hinata. Alguém comentou qualquer coisa sobre como ela estava triste e não saía dos lugares mais afastados. Era estranho não vê-la com a mesma frequência de antes; eu só a via quando Naruto estava por perto, e como ela provavelmente queria ignorar Naruto e sua nova namorada, isso queria dizer que não me ver era o prêmio mais que merecido.

Mas algo me incomodava e eu odiava ser incomodado ou ter pensamentos constantes sobre um único tema. Depois de alguns dias eu finalmente encontrei a resposta do meu problema com Hinata. Sem querer, eu tinha a assistido durante todo esse tempo; isso queria dizer que eu era quase tão confidente dela quanto aquela tal de Mitsashi. Um jeito diferente de confidente, acho.

De qualquer forma, isso queria dizer que eu me sentia responsável por ela de algum jeito. Provavelmente do jeito “acompanhei aquela série até o fim e agora preciso saber o final”. Eu não queria um final sem conclusão; então fui atrás dela.

Hinata deveria realmente tomar cuidado quando estivesse sozinha na rua, pois eu tinha a seguido até a biblioteca e ela nada tinha percebido. Ou foi o que eu achei. Ela me encarou e eu encarei de volta, impassível. Só naquele momento eu percebi o que estava fazendo; confrontando uma garota sobre a vida pessoal dela, que nada tinha a ver comigo. 

Não tinha a mínima ideia de como eu ia fazer isso; mas já estava lá.

— Hm.

Sasuke

Quando eu contei para Tenten o que tinha acontecido, ela concordou que Sasuke era estranho. É óbvio, nós duas já sabíamos disso. E então ela me perguntou se eu realmente não sabia sobre o que ele queria falar. É claro que não. Eu nunca tive nenhum tipo de envolvimento com Sasuke, ele não passava do garoto que não gostava muito de mim e que era amigo de Naruto.

Sim, eu só pensava em Sasuke quando pensava em Naruto, pois era a única coisa que costumávamos ter um comum. Sim, era, pois eu não tinha mais coragem de olhar na cara de Naruto. Não por enquanto. Eu ficava feliz por ele, mas estava triste o suficiente por mim.

Eu não sabia o que pensar mais do que tinha acontecido, então simplesmente parei. Só fui encontrar Sasuke algumas semanas depois, quando ele resolveu passar o intervalo nas arquibancadas como alguns – e eu – faziam.  Sem querer, eu desviei o olhar da revista que lia para encará-lo.

Sasuke Uchiha estava sozinho. Não havia Naruto do seu lado, rindo como eu gostava de vê-lo rir. Nem Sakura em seu calcanhar, do jeito que eu provavelmente parecia quando Naruto estava por perto. Nem Suigetsu bem humorado ou Karin brigando com ele. Me lembrei como sempre era esquisito quando estávamos a sós e voltei olhar para a revista, uma leitora dedicada.

Se Sasuke me notou naquele dia? Eu diria que deve ser difícil para ele notar qualquer coisa ao seu redor.

Hinata

Hinata deve ter abandonado o uso de moletons algum momento perto de nossa formatura. Não sei dizer se isso a fez criar gosto por outras coisas mais incomuns, mas sei dizer que ela definitivamente ficava melhor sem qualquer casaco.

Deve ter sido na mesma época que reparei que ela ficava bonita de cabelo preso e que tinha olhos tão grandes quanto agradáveis. Só no jeito como ela encarava as coisas e as pessoas de uma ponta à outra, eu podia descobrir o que ela amava.

Ela amava o primo, que ia sempre cumprimentá-la na testa quando nossas salas se encontravam na educação física. Ela amava as amigas, apesar de nunca encará-las quando conversavam, provavelmente distraída com o assunto. Ela amava a Mitsashi, mesmo quando essa a fazia rodopiar pelo campo, imitando algum movimento de dança. Principalmente, Hinata amava os lugares em que estava: era por isso que ela sempre observava o gramado, ou o céu, ou as plantas e os armários cuidadosamente.

Eu tinha muito tempo livre, determinei. É por isso que a observava tanto. Porque Hinata tinha deixado de ser a coisa menos interessante para se tornar a mais. Ela era a única de quem eu não sabia muita coisa; Sakura sempre me deixava saber de cada passo seu e Ino competia com ela para ver quem tinha mais notícias úteis – e isso queria dizer sobre a vida de qualquer um. Qualquer um menos Hinata, que as duas pareciam concordar não me preocupar. A casa de Naruto era quase minha segunda casa e Suigetsu parecia ver algo interessante em mim, já que não me deixava de lado.

Assim sendo, você podia dizer que eu tinha muitos mais amigos que Hinata. Não porque ela não era educada ou simpática. Eles deviam vê-la do mesmo modo como eu fazia quando tinha 13 anos.

Sasuke

Naquele tempo eu estava sempre pegando Tenten olhando por cima dos meus ombros. Ela ria sozinha de forma muito esquisita. Quando eu olhava para trás, em busca de respostas, não havia nada lá. Tenten me cochichava que ter andando com Ino e Sakura todo aquele tempo tinha afetado sua cabeça. Eu não respondia nada, mas ria em silêncio, sabendo que ela nunca teria coragem de dizer isso na cara das duas.

Só reparei que, afinal, ela olhava para Sasuke, um tempo depois. Ele gostava de me olhar quando nossas turmas estavam juntas. Na primeira vez eu pensei que ele não tinha mais o que fazer; o celular tinha acabado a bateria. Não havia nenhum livro interessante. Naruto falava demais para Sasuke absorver mais que 10 palavras.

Na segunda vez eu não pude encará-lo. Então pensei que ele estava claramente com dó de mim. Ele tinha reparado como às vezes eu não me continha e encarava Naruto e Shion. Como eu ainda ria toda vez que Naruto falava algo engraçado e eu podia ouvir do outro lado da arquibancada.

Na décima vez eu já tinha me cansado e não havia mais o que pensar. Sasuke provavelmente tinha tomado gosto por encarar as pessoas, depois de tanto tempo sendo encarado. Em nenhuma das vezes eu pensei que podia tirar o olhar do chão, levantar o rosto e perguntar o que ele queria. Não, eu não podia fazer isso. Me faltava coragem até para falar com Tenten sobre. Era como se os olhares de Uchiha Sasuke e seu rosto muito comum fossem me perseguir assim que soubessem que falava dele.

Certo dia entrei no ginásio da escola, uma dor de cabeça e uma Sakura muito convincente me fizeram notar que eu não precisava de aulas de física. Muitas pessoas matavam aula, eu teria que ser muito azarada para ser pega na primeira vez. Não que eu achasse o que estava fazendo correto, mas estávamos prestes a nos formar e um descanso de tanta cobrança faria bem, foi o que eu decidi.

Eu passei duas horas com o fone de ouvido e uma história em quadrinhos muito interessante que Kiba tinha recomendado. Só percebi que as aulas tinham acabado quando Sakura bateu no meu joelho e disse que precisava ir para casa. Ela quis me acompanhar, mas sem vontade de voltar para casa cedo, disse que iria depois.

Me dirigi até as arquibancadas do campo, parando na lanchonete só para comprar um doce que combinava muito com a música que eu estava ouvindo. As pessoas do próximo período já começavam a chegar e o sol continuava forte.  Só quando cheguei nas arquibancadas que tive vontade de ir embora.

Sasuke também estava de fones de ouvido, mas estava sentado e o sol batia em seus ombros. O rosto coberto por um celular grande demais. Estava sozinho e eu pensei que se eu me sentasse bem longe não ia atrapalhá-lo, ou então que ele não me notaria. Ser observada com várias pessoas ao redor era uma coisa, mas ser observada completamente sozinha era muito diferente. Mesmo assim minha vontade de me sentar tinha passado e dei meia volta da forma mais silenciosa que pude.

Ou Sasuke era muito atento, ou não ouvia música nenhuma – e eu não via por que usar fones sem som algum.

— Pode ficar – disse e se levantou. Me virei confusa; ele não precisava sair.

— Hm?

— Você gosta daqui, pode ficar – e guardou o celular no bolso, um dos fones caindo dentro da camiseta.

Eu só tive reação quando Sasuke passou do meu lado, um degrau de diferença entre nós e nossas alturas eram as mesmas. Provavelmente porque ele estava mais baixo, eu me senti menos intimidada.

— Hm... é um lugar muito grande, você não precisa ir – expliquei, não querendo parecer mal educada. Não tinha mesmo sentido ele sair dali só porque eu gostava do lugar.

Sasuke me olhou e dessa vez eu realmente olhei para ele, sentindo a ponta do meu nariz esquentar conforme os segundos passavam. Ele tinha olhos comuns, mais discretos que os do meu primo e menos ambiciosos que os de Naruto.

Mas nenhum dos dois já tinha me encarado daquela forma.

Hinata

Daquela vez acho que sentei perto dela sem ser convidado só para ver sua reação. Hinata provavelmente não tinha uma expressão brava, mas eu descobri que tinha uma surpresa. Ela entreabria os lábios e me encarava com as sobrancelhas levemente arqueadas. Sua testa mal mudava.

Não acho que ela gostava quando eu aparecia do nada, mas se pensava em algum xingamento, não me dizia nada. Notei que ela parou de tentar entender por que eu me aproximava e eu me convencia que o motivo era algo entre dó e curiosidade. Dó porque ela ainda levantava os olhos toda vez que Naruto passava e curiosidade porque eu não tinha ideia de exatamente quem Hinata era.

Além das conversas banais sobre o tempo e seus sorrisos tranquilos que diziam que ela gostava de todo mundo.

Sasuke

Sasuke provavelmente tinha feito perguntas demais quando era criança. Por isso não tinha restado nenhuma e ele não perguntava nada. Mas eu já tinha parado de me incomodar com isso.

Até o dia que ele disse que ia chover. Ia mesmo, concordei. O céu estava cinza. Ele disse que gostava de chuva, ou foi o que eu entendi entre uma página do livro e outra. Gosto de chuva, falei. Mas prefiro o sol e essa parte eu não disse. Ele falou que chuva o lembrava de alguns bons filmes que tinha assistido. Legal, gosto de filmes. Perguntei quais e ele tinha uma lista imensa. Precisei fechar o livro e olhar para ele enquanto falava.

Percebi que Sasuke Uchiha realmente tinha algo para falar dos filmes que assistia. Algo além dos “muito bom” que Ino dizia às vezes, ou do “eu já vi” que Tenten insistia em falar com muito orgulho.

Nós dois trocamos números porque a conversa não tinha acabado quando o sinal tocou.

Hinata

Acho que só conversamos sobre músicas quando a roda gigante já estava no ponto mais alto. Hinata insistia em dizer que a banda preferida dela tinha letras muito melhores do que a minha preferida. Foi a primeira vez que ela realmente discutiu comigo por causa de algo e a primeira vez que tive vontade de cobrir sua bendita boca.

Com um pano, minha mão, qualquer coisa, antes que ela começasse a cantar todas as letras que sabia de cor só para reafirmar que estava certa. Hinata nunca se importava em admitir que estivesse errada, mas mexer com as músicas preferidas dela era um caso diferente. E pensar que até o começo do dia ela mal conseguia me encarar de tão envergonhada.

Não que eu entendesse o porquê, já que nós dois tínhamos concordado que aquilo não era um encontro.

Eu pensei que não podia ter momento melhor para o parque resolver tocar minha música preferida tão alto que a cabine vibrava. Hinata parou de falar na hora, o choque no rosto dela. Então se virou e me olhou como se eu mesmo tivesse planejado aquilo. Um misto de horror e indignação que me arrancou um sorriso engraçado. Hinata mexeu a cabeça e sorriu também.

Eu estava prestes a dizer algumas palavras de consolo sobre a ironia do destino, quando ela se inclinou sobre a grade, o vestido de alcinhas grossas demais mostrando suas costas brancas como leite. Havia uma diferença de tom dos braços, demonstrando que ela ficava no sol de camiseta.

Quase ergui a mão para tocá-la, mas recuei no último minuto.

— Sabia que eu não gostava quando você me ignorava quando éramos mais novos...? – Hinata chamou minha atenção, a voz dela baixa e suave. Circulava desenhos imaginários no ferro, o nariz quase o tocando.

— Eu não te ignorava – respondi simplesmente, cruzando os braços e jogando o corpo para trás.

Hinata deitou sobre os braços e me encarou, arqueando novamente a sobrancelha. Dessa vez pude ver sua testa enrugada.

Sasuke

Neji acreditava, quando mais novo, que existem pessoas por ai mais abençoadas que outras. Elas têm mais sorte que as outras e conseguem as coisas mais facilmente. Eu nunca concordei com esse pensamento, Neji nunca mais o repetiu para mim. Se ele continua ou não acreditando nisso é um grande mistério que não tenho vontade de resolver.

Mas se existe por ai esse tipo de pessoa, eu dizia que Sasuke era o rei deles. Quando achei que tínhamos intimidade o suficiente para isso, já se passava dois meses que conversávamos casualmente e já tínhamos nos formado há um, disse isso para ele. Que era muito sortudo. Que as coisas giravam ao seu redor.

Então Sasuke me disse sobre a morte dos seus pais.

— Eu não te ignorava – escutei a resposta dele depois do que pareceu alguns segundos. A música já tinha diminuído o volume e eu podia ouvir minha própria respiração. 

Encarei-o com um sorriso muito pequeno nos lábios; o brilho da lua refletia em seu cabelo muito negro e criava sombras em seu pescoço.

— Uma conversa não é uma conversa só com “hm” e “aham” – expliquei, muito paciente.

Sasuke me encarou, ponderando se devia me responder como queria ou como deveria. Eu só esperei.

— Você não era muito interessante. – Foi o que ele me disse. Eu pisquei algumas vezes e abri a boca para falar algo, mas nada veio, pois ele tinha razão. Eu não tinha mesmo muitos assuntos. Voltei a olhar para as pessoas que pareciam muito pequenas ali de cima, uma brisa fresca massageando meus ombros – Ou eu era muito cego.

Virei surpresa, me arrumando na cadeira de repente.

— Bem, pensando assim, acho que nós dois tínhamos culpa.

— Ou éramos só muito diferentes – ele deu de ombros e eu sorri novamente.

— Você acha que somos parecidos agora?

Sasuke me encarou como já não fazia há um bom tempo. Eu encarei de volta, me sentindo muito confortável. E então Sasuke se aproximou do meu rosto e fez o que eu achava que ele faria; ele me deu nosso primeiro beijo no canto dos meus lábios e depois bem no meio. Passou o braço na minha cintura e fez cócegas em meu quadril. Foi como se eu estivesse em outro lugar; um lugar muito alto, mas não perigoso. Um lugar muito quente, mas extremamente aconchegante.

Ele se separou de mim, mas eu mantive nossas testas juntas, puxando o tecido da jaqueta dele com a ponta dos meus dedos. Estava muito feliz.

— Sasuke...? – chamei, só para ter certeza que ele estava mesmo ali e aquilo estava acontecendo.

— Hinata.  

 

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado ;)


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