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História Saudade - Tocando Verdades


Escrita por: Faela2

Notas do Autor


Eu cheguei e nem demorei uma vida.


Obrigada a todas as pessoas do twitter. Conheci pessoas maravilhosas com Saudade e nunca vou me esquecer disso.

Espero que gostem do capítulo, ele está menos intenso. As coisas estão chegando no lugar e a intensidade vai diminuir.

Só mais uma coisa.

Eu tive o prazer de conhecer a autora Suprema, eu não só a conheci, ela se tornou uma amiga importante e alguém que faz parte da minha rotina. Eu já dediquei alguns capítulos a ela. Suprema é alguém de um talento surpreendente, ela escreveu três poemas para Saudade e vou postá-los aos poucos.

Não sei se conseguirei escrever os próximos capítulos, já que possivelmente ela vai me matar por colocá-los aqui, mas é a vida que segue.
Obrigada por isso, Layla.

Desculpe os erros.
Boa leitura.

Capítulo 23 - Tocando Verdades


Eu tenho a sensação de vagar pelas ruas de Boston sem saber realmente os lugares que passo ou que passei. Estou tentando me concentrar para encontrar minha direção. Não sei exatamente onde estou. Só me sinto vagar. Suas declarações me entorpecem, sempre me sinto inebriada.

Não sei quando conseguirei acreditar nessa verdade. Passei noites o suficiente para duvidar de sois aconchegantes. Me senti rejeitada por tanto tempo, que a ver de braços abertos me parece surreal demais. Para falar a verdade escondida, sinto medo que minhas fantasias tenham se misturado com a realidade, e agora, não sei mais o que é palpável.

Estou há minutos ou horas andando, virando, contornando ruas que conheço, mas não reconheço. Me sinto presa em uma fantasia criada e, não sei se quero acordar. Apenas ando tentando me encontrar. Me arrasto para uma direção que me lembro não tão vagamente.

Ao longe vejo um prédio conhecido. Um prédio de tijolos vermelhos e janelas iguais. Entro, subo as escadas me lembrando das várias vezes que subi e desci pensando em uma mulher de casaco com seu característico batom vermelho e sua cicatriz, que agora eu sei ter gosto de maçã.

Eu sei.

É engraçado saber o gosto do seu beijo. Tão impossível, tão intocável.

Eu sei.

Escuto minhas botas ecoando no corredor silencioso. Passo a ponta dos dedos nas paredes com uma falta idiota. Sinto falta do simples.

Olho o número 204, giro a maçaneta sentindo o metal gelado, acredito que ela tenha sentindo minha falta tamém. Escuto aquele ranger antigo. Meus amigos estão sentados naquele sofá, daquele apartamento apertado. Zelena está na poltrona florida que odeio.

Eu não consigo mensurar a dimensão da saudade de uma cena, de um cheiro, de uma sala e de uma poltrona horrível. Estou parada pensando se devo ou não invadir meu antigo apartamento. Que pensamento ridículo, sei que sou bem vinda, mas a sensação de invasão não passa depois dessa constatação.

Ainda estou parada. Será que estou esperando ser convidada ou algo assim? Será que ainda estou atônita pela visita e pelo beijo? Pelo cheiro, pela entrega, pela amostra?

O que acabou de acontecer?

– Emma? - Ruby se apressa pelo conhecimento do meu estado. Não respondo, uma lágrima rola e tenho dúvidas sobre o motivo. – O que aconteceu?

– Eu preciso voltar para Camden.

“Então o que estou fazendo aqui?”

Meu dia se resume a vagar e aparecer.

Reparo os detalhes do meu antigo espaço e está tudo lá. Cada mancha, cada fresta. A janela que sentei várias vezes para ouvir e chorar está com seus centímetros entreabertos. Entro procurando alguma diferença do que deixei. Vou para meu quarto escutando perguntas ao fundo, bem ao fundo. Meus móveis largados ainda estão largados e minuciosamente limpos.

Minha estante vazia está impecável e minhas folhas em Camden. O calendário ainda está atrás porta com a data 14 de outubro circulada - o dia do meu falso recomeço. - Sento na cama que abrigou minhas desilusões observando meu esconderijo desejado. Me senti abraçada tantas vezes aqui. Me senti feliz pela solidão e o silêncio. Ela está limpa, feita.

A imagem de três pessoas preocupadas paradas na porta não ganha minha atenção. Me deito para absorver a falta do meu momento naquele lugar.

O igual se tornou diferente.

Meu antes e depois se misturaram.

– Eu estava no apartamento da Regina.

Meu sinal de consciência foi interpretada como uma autorização para se aproximarem. Foi quase engraçado. Ruby sentou de um lado, Killian do outro e Zelena se encostou na escrivaninha que usei para escrever minhas folhas amarelas mais de uma vez.

A preocupação deles é adorável, não sabem que minhas diferentes partes estão se compreendendo, estou me montando. É bom me encontrar depois de...não sei quando me perdi naqueles olhos.

Eu sei que estão ansiosos com a nova informação. Os deixo esperar mais um pouco, quero continuar o observar a falta de uma poeira sequer. Começo a questionar minha decisão em fugir. Eu fugi de um coração quebrado e ele estava dentro de mim. Fugi de uma mulher que nunca deixou minhas manhãs. Me vendei achando que era o melhor para mim.

Sempre Malorie.

“O que é o melhor para mim?”

Eu larguei uma vida curta que amava para conquistar uma falsa felicidade, para viver a ilusão da superação. Sentindo meus amigos, sentada em minha cama, olhando minha parede, começo a pensar sobre felicidade.

– Loira, não nos mate. – Eu senti falta do cafajeste.

– Killian! – Ruby e Zelena quase formaram um coro.

Eu só consigo sorrir. É incrível ver minha amiga com alguém tão especial. Consigo sentir a felicidade dela. Ruby nunca ficou com alguém por tanto tempo. Estou sorrindo pelo pensamento. Meus amigos pensam que enlouqueci.

– Eu só saí de casa e apareci aqui. Eu entreguei o copo no escritório dela. Depois fui para o seu apartamento esperar e não sei o porquê. Eu só fiquei lá esperando e ela chegou. – Parece que estou contando aquele suspense que nunca sabemos o final, estão com os olhos fixos em minhas palavras. – Então ela chegou...

Os três inclinaram o corpo em minha direção, cada vez mais concentrados em minhas partes.

– Eu entrei e me lembrei daquela noite, da noite do primeiro beijo. Foi estranho estar lá de novo, foi estranho vê-la, e aí ela me beijou.

– Isso! – Foi a vez da Zelena quebrar a história de uma voz. – Desculpa, desculpa. Continua.

– Então eu saí de lá.

– O que? – Novamente o coro.

– Eu preciso voltar para Camden. – Tento dar uma explicação que não tenho. Me levanto e ando pelo quarto super lotado. – Eu não sei o que estou fazendo aqui, não sei o porquê de ter ido ao apartamento dela. Eu acho que precisava tocar nessa nova verdade.

– Não querendo atrapalhar o momento mágico, e a Lily? – Killian media as palavras. Me sinto tão leve. Consigo respirar. Responder essa pergunta se tornou fácil e simples.

– Nós terminamos.

O sorriso começou a brotar no rosto dos três. Regina conquistou meus amigos, assim como me conquistou, com seu humor ácido, seus sorrisos raros e seu jeito ríspido.

Regina é única e inteira.

– Você não vai voltar para Camden. – Zelena se move e para na minha frente com uma ordem escondida.

– Eu preciso voltar para Camden. Minhas coisas estão lá. – Eles não querem que eu volte para Camden? Eu preciso voltar.

“Eu preciso voltar?”

– Eu busco para você. – Ruby se levantou dando a suposta solução milagrosa. – O Killian fica com você.

– Pessoal, eu preciso voltar pra Camden. Estarei aqui no final de semana. – Minhas explicações são tão esfarrapadas que nem mesmo eu acreditaria.

“Por que estou me esforçando tanto? Do que eu ainda quero fugir?”

E como se minhas palavras habitassem apenas minha mente, os três começaram a se movimentar, começaram a se resolver.

Ruby foi para seu quarto e começou a revirar suas coisas. Zelena foi atrás da sua bolsa jogada em algum canto do apartamento.

– Eu preciso voltar! – Insisto na frase já desacreditada.

– Ruby, se sairmos agora, não chegaremos tarde e podemos voltar amanhã cedo. – Zelena vai com ela?

– Vou ligar para minha avó e avisar que estamos indo. – Os preparativos estão sendo feitos e eu apenas tento impedir. Me sinto ingênua por tentar.

– Você estão me ouvindo?

– Alô? Uma pizza de .....Só um minuto. Emma, pizza de calabresa? – Killian faz a pergunta como se o ano distante tivesse sido apagado do tempo.

– Nada de pizza.

– Uma pizza calabresa, por favor.

Acho que toda a confusão durou trinta minutos. Ruby e Zel me deram um beijo de despedida, enquanto eu estava sentada no sofá fingindo um emburramento. Como eu poderia me irritar pelo esforço familiar e carinhoso?

Aquela noite estava sendo aproveitada como em uma lembrança. Sabe aquela lembrança que te faz sorrir apenas ao ver um pôr do sol? Aquele sorriso relaxado e despreocupado de um momento tranquilo? Aquela paz ao ver uma gota transparente em uma folha quase pintada de verde?  Aquela lembrança que faz o mundo correr e você se vê parada no meio de uma avenida? Eu estou vivendo essa lembrança.

Me ouvia gargalhando de um amigo.

Que saudade desses momentos. Me perco na cena.

“Meu peito está calmo o suficiente para voltar?”

Pensar na hipótese já é um salto na minha mente. As horas com filmes, pizzas e cafajestes me despertaram esse desejo em voltar. Como seria?

Começo a criar rotinas de uma volta. Criar rotinas preenche minha mente ocupada demais. Vejo meus dias enquanto sinto a água de uma banho necessário. Imagino um café cheio de sorrisos fáceis para clientes rabugentos, vejo meu lago contente ao me ver concentrada por um livro completamente mergulhado. Vejo sábados e filmes ruins com amigos e amores.

Rotinas não tão distantes assim, não mais.

Termino o banho e me encaro no espelho embaçado, encaro meus cabelos, meu corpo, encaro procurando motivos para ser amada. Hoje eu estou sorrindo por cada fio desgrenhado, ela me viu e gostou de cada defeito, de cada desajeito.

Saio do banheiro com peças selecionadas minuciosamente do guarda-roupa extravagante da cabelo de fogo. Hoje vou dormir no meu quarto, na minha cama e há muito tempo não me sentia em casa.

Hoje eu estou em casa.

Meu sonhos foram tranquilos e acordei sentindo falta no livro de capa verde escrito Constitucional. Me acostumei a olhá-lo todas as manhãs.

Meus costumes e minhas rotinas.

Liguei para os meus pais, eu sentia o sorriso em cada som. Eles estavam felizes, eu não sabia o porquê. Eles me contaram da passagem de Ruby e foi engraçado ouvir “Adorei a ruiva da Ruby”, vou começar a chamá-la de Ruiva da Ruby, Zelena com certeza vai me matar.

Me sentei na sacada ouvindo aquele som infernal de buzinas descontroladas e carros irritados, meu amor pelo silêncio não se compara a saudade do lugar que me acolhe com sua perturbação. Até senti falta dos odiosos gritos da manhã. Observei as pessoas sempre ocupadas, apressadas e preocupadas com o que não importa. Pensei no homem de gravata e seu computador surrado. Senti falta das mulheres com seus encontros às quartas. Senti falta dos celulares mais importantes que um nascer do sol.

Senti falta do despercebido que sempre apreciei.

– Senti sua falta, Boston.

Em meio aos meus sorrisos a porta foi aberta e Ruby chega com uma Zelena apressada, ela piscou para mim e se foi. Cabelo de fogo trouxe minhas roupas, meu livro e minhas folhas. Ruby me conhece e sabe. Ela trouxe minhas importâncias.

Coloquei as poucas roupas no armário, os livros na instante e as folhas em mim. Sentei lembrando de quando escrevi cada linha, não sinto falta do platonismo, gosto do alcance da chegada. Ainda consigo sentir o toque da morena em cada página.

Passei boa parte da tarde juntando os pedaços da coragem. Lembro das várias vezes que pensei “Quero vê-la.”, me ignorei todas as vezes.

Não quero me ignorar.

Me apronto sorrindo pela coragem sólida.

Quero vê-la.

Não me importo com as peças que escolherei.

Só quero vê-la. De longe, escondida. Só quero vê-la.

Não importa como.

Quero vê-la.

Saio piscando um olho, quanto Ruby se arruma para trabalhar. Ela sorri da minha determinação. Estou tão decidida que sinto um certo medo de tudo desmoronar.

Tudo sempre desmorona.

“Não dessa vez.”

“Meu peito está calmo o suficiente para voltar?”

Meu peito está agitado o suficiente para voltar.

Vejo meu antigo trabalho e a porta do prédio que tanto anseio do lado. Entro e abraço meu chefe grisalho e amado – Que saudade! – Invado o balcão como se nunca tivesse saído. Eu quero preparar o pedido.

Ele será meu.

Será que ela achará simplista demais?

Minha coragem não se importa com essa dúvida. Olho o relógio que ganhou minha atenção às 7:55 por grandes dias. Hoje ele marca 16:59. Sua pontualidade torna tudo mais fácil. Respiro fundo, saio e espero.

O descompasso do meu corpo me deixa ansiosa, ou a ansiedade me descompassa?

Não importa.

Sinto vontade de gritar, de correr e me agitar. Estou nervosa.

Ela sai com seu casaco marinho, olha para os lados e me enxerga desacreditada. Eu estou em seus olhos castanhos. Ela arfa em uma respiração aliviada e sorri.

Aquele sorriso

Aquele sorriso pra mim.

Aquele sorriso que é meu.

Ela caminha e o barulho dos seus saltos se torna meu único som, e ele é lindo. As pessoas evaporaram, ou nos teletransportamos para nosso mundo.

“Nosso”

“Meu” mundo não é mais meu.

Estendo o copo carinhosamente preparado, sinto sua pele e me eletrizo. Ela bebe sem tirar os olhos de mim.

– Cappuccino? – Abaixo a cabeça com um meio sorriso de canto. Acho que enrubesci.

– Hoje é um dia Cappuccino. – Falo com minha certeza. Hoje é meu dia Cappuccino.

– Sim, hoje é.

Também é o dela.

 

 

Desarma-me

Com sua expressão fechada

Com seu olhar rígido

Com sua voz carregada

Desarma-me

Com a ausência de belos gestos

Com a falta de olhos ternos

Com a inexistência de um sorriso

Desarma-me

Com o amor que nego acreditar

Com a dor que se acumula em mim

Com a crença na inexistência de algo tão claro

Desarma-me

Com a indiferença

Com os casacos pretos

Com os pedidos vagos

Desarma-me

Com o emocional descrito

Por meio de gostos

Com o café puro

Com o badalar de um sino

Desarma-me

Te amar

Desarma-me a dor de sentir

Desarma-me esperar

Desarma-me enxergar o que seus olhos não podem ver

Desarma-me querer a ti

Como jamais irá querer

A mim.”

                                                                              Layla Rostirola


Notas Finais


Espero que tenham gostado.
Espero vocês no próximo.

Vou finalmente deixar meu twitter. @rafars_nl


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