História Save Me - Quando a morte chega...

Já tinham passado 3 dias desde que meus pais sabiam. Digamos que as coisas não estavam melhores, acho que até estavam piores. Jungkook appa andava um pouco estranho e raramente estava em casa, ele parecia ainda estar em negação. Minha omma andava por aí com um olhar triste que me partia o coração. Meus avós passavam por cá todos os dias para me ver, mas eu preferia que não o fizessem pois estava cansado de ver pessoas chorando por minha causa. Tae e Hoseok também já tinham passado por cá, Tae tentou brincar com o assunto, já Hoseok parecia bastante perturbado com a situação.  

Jimin passada os dias comigo, pois minha mãe não estava com cabeça para trabalhar por isso ele estava sempre livre. Ele tentava ao máximo animar-me e até trazia alguns jogos para jogarmos, mas por vezes eu nem me conseguia mexer. Chanyeol tentou me ligar várias vezes mas eu não atendia, eu não ia atender se ele continuasse com aquela ideia estúpida de encontrar uma cura que não existe. 

Ouvi alguém bater na porta interrompendo meus pensamentos. 

-Entre...- falei. Jimin entrou no quarto e sorriu. 

-Então pequeno, como se sente?- sentou-se na cama de Chanyeol. 

-Mal- ri.  

-Isso vai acabar porque chegou o seu anjo da guarda- levantou os braços e fez uma careta estranha- Sou Park Jimin, seu anjo da guarda- engrossou a voz.  

-Acho que sua voz fina combina bem com o papel de anjo- ri. Jimin era realmente uma lufada de ar fresco. Percebia porquê que minha omma gostava tanto dele. 

-Você quer fazer o quê?- perguntou calmamente. Olhei pela janela.  

-Eu queria fazer uma coisa mas você promete que faz comigo.  

-Claro que sim, como seu anjo da guarda, minha função é seguir você e certificar-me que nada de mal acontece.  

-Leve-me a Busan- falei seriamente.  

-Não- Jimin falou serio. 

-Jimin...por favor- implorei. 

-Porquê que você quer ir lá?-perguntou não me entendendo. 

-Porque minha omma nunca me levou lá, e eu sempre tive curiosidade de ir.  

-Porquê? 

-Minha omma me contou muitas histórias sobre o local, gostava de ver e ter uma perceção real  do local- Jimin suspirou.  

-Eu não o posso levar, não quero arranjar problemas com sua omma.  

Oiço a porta se abrir bruscamente. Jungkook appa estava ali nos encarando.  

-Nós levamos você- Jungkook olhou para Jimin. Fiquei supreendido com o que appa tinha acabado de falar. 

-Porquê nós?- Jimin perguntou confuso. 

-Porque não? Acho que ninguém conhece melhor o local do que nós. Você ainda viveu lá uns tempos tal como eu.  

-Jungkook você está bem?- Jimin perguntou desconfiado- Esta atitude não parece sua.  

-Eu apenas quero que o meu filho viva seus últimos dias da melhor forma possível. E se ele quer ir a Busan, vamos a Busan- sorriu para mim. Senti meus olhos marejarem. O apoio de meu appa era muito importante para mim. 

Jungkook appa foi com Jimin falar com a omma. Eu acho que ela não ia gostar da ideia, mas Jungkook appa conseguia ser muito persuasivo.  

Mais tarde, Jungkook appa entrou no quarto e começou fazendo minhas malas. 

-Omma deixou?- perguntei me sentando na cama.  

-Ela estava sendo teimosa, mas eu consegui lhe dar a volta- Jungkook appa já tinha feito minha mala. Felizmente ele era vampiro e fazia as coisas rapidamente.  

-Obrigado por estar a fazer isto appa- falei. Appa veio até mim e acariciou meus cabelos.  

-Eu percebi que estava agindo mal, estava sendo egoísta- sorri levemente.  

-Onde está Jimin?-perguntei. 

-Ele foi a casa buscar suas coisas- Jungkook appa sentou-me como deve ser - Eu arranjei  uma coisa para você- saiu do quarto e apareceu com uma cadeira de rodas- É para você conseguir se descolar visto que o seu corpo está cada vez mais fraco. 

Meu coração apertou ao ver meu appa com uma cadeira de rodas. Nunca pensei que fosse chegar a este ponto.  

-Obrigado, appa...- falei com a voz tremula.  

-Bom, você vai tomar um banho primeiro- riu. Jungkook appa foi até mim e me pegou no colo me levando para o banheiro. Já lá dentro me deu banho, depois me vestiu e colocou-me na cadeira. Era confortável.  

Jungkook appa me levou para baixo e depois voltou ao quarto para ir buscar as nossas malas. Minha omma estava preparando algo para eu comer.  

-Você tem de se alimentar, está ouvindo?- falou apressadamente enquanto fazia algo para comer. Quando terminou, me deu e eu comi na cadeira. Assim que terminei de comer, Jungkook appa despediu-se de omma, fiz o mesmo. Os abraços de minha omma era os melhores, mas acho que sou suspeito pois quem não gosta do abraço de uma mãe?  

Jimin encontrou-se connosco na estação de comboio.  

-Vi que já tirou a carta- falou para me animar. Jimin era um tolo.  

… 

Já estávamos a entrar na casa de Jungkook appa. A casa era gigante tal como todas as outras.  

-Porquê que você tem casas tão grandes?-perguntei. Jimin empurrou minha cadeira para o centro do espaço.  

-Não sei- Jungkook appa sorriu- A única coisa que eu sei é que você tem de ir dormir que já é tarde. 

Bufei mas fiz o que appa falou. 

No dia seguinte,  appa e Jimin me levaram até á praia. Estava frio mas ainda assim foi agradável. Também me levaram a uma zona onde havia uma espécie de armazém. Appa falou que ali era onde vivia Jay Park antes de morrer, depois disso todos desabitaram o local. Estava a gostar de Busan.  

… 

Já tinham passado dois dias desde que estávamos em Busan. Apesar de ser bastante cansativo, estava a gostar bastante de andar por aí com Jungkook appa e Jimin. Jungkook appa já não estava zangado com Jimin, pelo menos eles estavam se dando bastante bem. 

Estávamos sentados na areia apreciando o pôr do sol. Amanhã voltaríamos para casa. 

-Você tem falado com Chanyeol?- Jungkook appa perguntou.  

-Não- suspirei.  

-Ele não liga para você?- perguntou seriamente.  

-Liga...mas eu não atendo- falei serio. 

-Porquê?-me encarou confuso. 

-Eu quero que ele volte  appa, mas ele continua com aquela ideia de encontrar a cura e bla bla bla- suspirei.  

-Eu faria o mesmo- Jungkook appa confessou- Seu irmão só está tentando, você sabe o quão importante você é para ele. 

-Sim, eu sei... 

-Acho que é notável aos olhos de qualquer um que ele o ama demais- Jimin falou passando o braço pelo meu pescoço. Encarei-o.  

-Seu irmão pode ser muito cabeça dura mas ele ama você. 

-Eu sei disso- falei cansado do assunto. Não gostava de falar de Chanyeol perto de meu appa, era estranho pois ele acha que somos  apenas irmãos.  

… 

Já estava em casa á 4 dias. Podia dizer que já nem me sentia vivo. Passava os dias a dormir, ou a tentar, pois dormir me ajudava a esquecer. O pior é que eu nem conseguia comer, há uns dias ainda era possível com muita dificuldade, mas agora vomitava cada pedacinho de comida que metesse no estômago. 

Hoje era o aniversário de Sun Hee. Estavam todos cá em casa a celebrar. Eu estava sozinho em meu quarto, já tinha tentado ir lá a baixo mas não consegui. As vezes Jimin, Taehyung ou Hoseok vinham cá a cima ver como estava. Era maçante.  

Ouvi alguém bater á porta. Mais uma visita.  

-Você está bem?- Tae entrou.  

-Você acha que eu estou bem?- falei com a voz rouca. Senti meus olhos marejados. Toda a situação andava me deixando irritado com tudo e com todos. Estava cansado das dores, cansado de ver as pessoas que amo me olharem com pena, cansado de viver... 

-Eu falei com Chanyeol...- Tae sentou-me na ponta da minha cama.  

-Falou?- tentei parecer indiferente.  

-Você devia atender o celular.  

Bufei e olhei para a janela.  

-Eu não vou atender o celular se ele não disser que vai voltar.  

-Você é teimoso- suspirou- Nós vamos cantar os parabéns a Sun Hee, quer que eu o leve lá para cantar também?-perguntou. Assenti. Tae me pegou no colo e me sentou na cadeira de rodas. Tapou-me com um cobertor quente e levou-me para o jardim que era onde estava a decorrer a festa. Todos sorriram assim que me viram.  

-Veio me cantar os parabéns?- Sun Hee perguntou.  

-Claro- sorri forçadamente.  

Já era de noite. Havia uma mesa no jardim cheia de doces e com o bolo de Sun Hee. Começamos a cantar os parabéns. Todos sorriam enquanto cantavam, era ótimo ver aqueles sorrisos de novo. Há muito tempo que eu não via minha família sorrir tão genuinamente. Meu coração acelerou. Senti meus olhos marejarem. Parei de cantar e fiquei apenas os observando, vendo os traços de cada rosto ali presente. Sorri genuinamente.  

De repente, uma dor me atingiu. Senti uma brisa fria chocar contra o meu corpo me fazendo encolher e fechar os olhos com força. Quando abri os olhos todos batiam palmas e abraçavam Sun Hee. Sorri novamente.  

Minha visão começou a ficar turva. Pestanejei rapidamente tentando ficar normal, mas isso não aconteceu. Meu sorriso foi desvanecendo tal como um pôr de sol. Eu sabia que estava na hora da escuridão me invadir por completo. Olhei  para as pessoas que se encontravam á minha volta, mesmo com a visão turva conseguia ver seus rostos, conseguia ver os rostos das pessoas que amo uma última vez.  

Minha vida não foi perfeita, não foi longa, mas posso dizer que o pouco tempo de vivi foi intenso. Lembro-me de todos os sorrisos partilhados, todas as gargalhadas, todas as lágrimas, todas as dores. Levo pessoas muito especiais no  coração. Minha omma, uma mulher com um rosto jovem e doce, uma mulher com muita paixão e força, a mulher que mais amo nesta vida. Meu appa, a pessoa mais forte que conheci, o meu ídolo. Tae e Hoseok, os meus tios esquisitos mas que me arrancavam sorrisos enormes. Jimin, um amigo em que podia confiar minha vida. Yoongi, a pessoa mais sábia que podia ter por perto. Sun Hee, a minha maninha de outra mãe. Chanyeol, meu irmão e meu amado,  a pessoa que me mostrou o que é o verdadeiro amor, a pessoa que me fez sentir especial, que me fez sentir amado, a pessoa que me fez sentir completo... Enfim, posso dizer que estes anos que passei não teriam sido os mesmos se não tivesse estas pessoas do meu lado. 

Agora estava na altura de partir. Fechei os olhos lentamente deixando a morte tomar conta do meu corpo.  

Jimin Pov 

Olhei para Baekhyun que estava calado. Seus olhos estavam fechados. 

-Adormeceu...-sorri levemente.  

-Baek!- Sun Hee bateu no seu braço sorridente- Baekhyun!- bateu novamente mas Baek não reagiu. Olhei para Jungkook e Stephanie. Jungkook notou que algo estava errado e foi até ao filho.  

-Baekhyun...- abanou-o levemente. Nada. Stephanie aproximou-se desesperada e levou dois dedos ao pescoço de Baek.  

-Não sinto nada...- falou desesperada. Tentou novamente e olhou para nós já com lágrimas escorrendo pelo seu rosto- Não sinto nada!!- gritou. 

Jungkook jogou tudo o que estava na mesa para o chão e pegou no corpo do filho o colocando sobre a mesa.  

-Temos de tentar transformá-lo- falou em pânico.  

-Eu faço- Stephanie falou. Stephanie foi até ao pescoço do filho e mordeu. Comecei a ouvir barulhos vindos do céu. Era Stephanie. Um raio caiu mesmo no jardim, nos assustando. Stephanie olhou para mim com a boca cheia de sangue. Ela chorava descontroladamente. Mordeu Baekhyun novamente e depois afastou-se- Não está a acontecer nada!  

Jungkook abraçou-a com força e chorou com ela.

-Ele morreu...- falou.

Eu não sabia o que fazer, toda a gente estava em choque. Acho que ninguém estava preparado para que isto acontecesse.  

Mais raios começaram a cair no jardim. Uma arvore começou a arder. Fodasse. Peguei numa mangueira e tentar acalmar o fogo que parecia incontrolável. Senti uma pinga em meu rosto. Estava chovendo. Suspirei aliviado. 

Voltei para perto deles. A chuva molhava o corpo de Baekhyun. Olhei para Stephanie e Jungkook que pareciam despedaçados. Os olhos de Stephanie brilhavam tal como os raios que caíam do céu. De repente, vários raios atingiram o jardim criando um circulo em volta de Stephanie, Jungkook e Baekhyun. Afastei-me pois estava demasiado perto.  

-O que é que está a acontecer?- perguntei para Yoongi. Encarei-o. Yoongi parecia não conseguir tirar os olhos do que estava acontecendo.  

-Não faço a mínima ideia, nunca tinha visto nada assim.   

Chanyeol Pov 

Estava voltando para casa. Não aguentava mais toda esta ignorância da parte de Baekhyun. Taehyung me falou que ele estava cada vez pior e eu tive de fazer uma escolha. Não podia deixar Baekhyun, por isso estava cedendo e voltando para casa.  

Ouvi a trovoada no céu. Estranho, ainda á pouco o tempo estava calmo. Parei de andar e olhei para o céu. Reparei que os clarões só vinham de uma zona do céu.  

Esperem...aquilo não é onde fica nossa casa? 

Omma... 

Algo se passava. Senti pingos em meu rosto.  

-Baekhyun... 

Comecei a correr o mais rápido possível. Quando cheguei a casa ouvi o barulho forte dos raios. A sala estava sendo iluminava pela luz que vinha do jardim. Corri até lá. Vi toda gente de costas olhando para algo que não conseguia perceber o que era. 

-O que é que se está a passar?- perguntei assustado. Passei entre eles e fiquei em frente a uma espécie de muralha feita de raios. Conseguia ver minha omma e meu appa lá dentro. Olhei para a mesa e vi Baekhyun completamente inconsciente. Naquele momento meu mundo caiu.  

Caí de joelhos no chão. Eu devia ter estado ao lado dele, ele me avisou mas eu não quis aceitar. Eu recusei-me a acreditar que Baekhyun ia morrer e agora estava ali e nem me consegui despedir dele.  

Senti a mão de alguém em meu ombro. Olhei para cima e vi Yoongi me olhando com pena. 

-Lamentamos muito- falou.  

Baekhyun ainda era tão novo, ele não podia morrer. Por alguma razão ele nasceu, ele conseguiu sobreviver ao parto, eu consegui o salvar. Não podia desistir. Eu prometi a mim mesmo que não desistiria.  

Levantei-me e olhei para aqueles raios. Dei um passo em frente e olhei para trás.  

-Nós não sabemos o que vai acontecer se você tocar nos raios- Yoongi falou hesitante. Assenti.  

Andei determinado até aos raios e comecei a atravessa-los. Era um pouco doloroso mas suportável. Assim que entrei, minha omma começou a chorar mais.  

-Nós não conseguimos o salvar- Jungkook appa falou tristemente. Senti meus olhos marejarem assim que vi o estado de Baekhyun. Passei a mão pelo seu rosto.  

-Desculpe não ter estado aqui- uma lágrima escorreu pelo meu rosto- Desculpe ter sido egoísta e tê-lo deixado sozinho todo este tempo- acariciei o seu rosto e aproximei-me. Fiquei a poucos milímetros do seu rosto. Seu corpo estava ficando gelado- Eu amo você, e por isso eu não desistirei- beijei seus lábios calmamente sem me importar com meus pais ali- eu tentarei...-falei levando minha boca até seu pescoço- eu farei com que seja possível, pois nosso amor é forte, e se eu o salvei uma vez, porque não duas?- ferrei meus dentes na sua pele.