História SAVE ME (Vkook - 2 temp.) - 02. desaparecido

— Tae, pare de chorar — Hobi acariciava meus fios castanhos. — Ele vai aparecer.

Fazia mais de vinte e quatro horas desde que havia ligado para tia Jess. A polícia nesse momento analisava o quarto de Jungkook a procura de algo que desse alguma pista indicando para onde ele pudesse ter ido.

Encarei Jin que mordiscava a pontinha do celular a espera de notícias, os outros meninos agora o procuravam em lugares que o Jeon frequentava.

— Eu sabia que tinha alguma coisa de errado acontecendo! — Digo entre soluços. — Mas ele não quis me dizer. A culpa é toda minha, eu sabia que tinha de fazer alguma coisa e eu o deixei sozinho.

— Não Tae, não é sua culpa! — O abraço do Hobi se mantinha firme envolta de mim.

A dor era insuportável, ela não cabia em meu peito. Parecia que um vazio crescia em meu estomago, se alastrando por todo o meu corpo, deixando-o fragilizado e sensível a qualquer tipo de aproximação. Nunca tinha cogitado a possibilidade de perder Jungkook, nunca havia pensado que algo poderia acontecer a ele, e agora ele estava desaparecido. Ele poderia estar em qualquer lugar, ferido, com fome...

— Eu quero ele de volta — sussurrei entre os soluços. — Eu não consigo viver assim Hobi.

Tia Jess estava sentada numa poltrona encarando o nada com grandes olheiras sob seus olhos parecendo abatida, Kelsey havia sido levada pelo pai assim que a polícia chegou a casa. Um dos detetives desceu as escadas com um olhar perdido que caiu sob a tia Jess.

— Não encontramos nada. Parece até que... parece até que ele queria que não fosse encontrado — suspirou esfregando a testa. — Vamos continuar as buscas pela localidade e comunicar a todas as outras as delegacias de Seul. Acharemos ele sra. Jeon, não se preocupe. Nós já vamos nos retirar, descanse um pouco, parece que não dorme há muito tempo.

Vejo todos os polícias se retirarem em um silêncio assustador.

— Vamos Tae, eu te levo para casa — Jin entrelaçou seus dedos nos meus puxando-me em direção à porta.

{...}

— Fique bem Tae, estamos aqui com você — Jin segurou minhas mãos nas suas, acariciando-as.

Desço do carro respirando fundo para não cair no choro outra vez. Abro a porta de casa deixando meu casaco em um lugar qualquer da sala. Minha mãe se levanta rápida do sofá vindo me abraçar.

— Taehyung — murmurou beijando minhas bochechas. — Como você está meu amor?

— Estou aguentando do jeito que posso — a afasto gentilmente sem conseguir encara-la nos olhos. — Se não se importa, quero ficar sozinho.

Me forço a subir as escadas até o meu quarto, tranco a porta e deixo as lágrimas fluírem feito cascatas de meus olhos cansados. Não sabia se conseguiria aguentar, tudo aquilo era demais para a minha cabeça, sem o Jungkook aqui eu... Poderia ter uma recaída e... E...

— Argh! — Dou um tapa fraco na minha própria testa. — Eu preciso de um banho frio.

Limpo as lágrimas com raiva, já chorei demais nessa vida, não queria mais chorar, queria erguer a cabeça e ser forte por Jungkook.

Caminho com passadas pesadas até o banheiro, despindo-me no caminho. Abro as torneiras da banheira e apoio as mãos no balcão da pia, encarando as cicatrizes esbranquiçadas na pele branca dos meus pulsos, sem perceber derramei mais algumas lágrimas. Encaro a figura acabada no espelho.

Eu estava horrível.

Certo de que não conseguia dormir por mais de três horas e acordar assustado, pelo menos um banho gelado viria a calhar. Água realmente estava gelada quando pus um pé dentro da banheira. A água lambia minha pele, deixando-a com uma sensação de formigamento, fazendo com que metade da tensão de meus músculos tensos se esvaísse, aquela sensação me deixava nostálgico.

Prendo a respiração e fico submerso, encarando o nada. Por que não podia simplesmente ficar ali, naquele lugar escuro e silencioso, onde os problemas eram esquecidos?

Quando a falta de ar se fez presente fui a forçado a submergir, arfando levemente.

Queria o Jeon aqui, era pedir demais?

{...}

— Vamos Taehyung, levante daí! Faz uma semana que não levanta dessa cama, surrupiando a geladeira na madrugada! — Ouço a voz da minha mãe e os cobertores são puxados com força, sinto frio e me encolho. — Por favor Tae, eu não aguento mais te ver assim. Sabe quantas vezes os seus amigos vieram aqui te procurar e eu tive que mentir na cara dura dizendo que você não estava em casa?

Grunhi abraçando meu próprio corpo.

— Me deixe aqui, quero ficar sozinho — murmuro com o constante mal-humor que acordava todos os dias.

Sinto o lado esquerdo da cama afundar e os braços da minha mãe me envolverem num abraço quentinho. Podia estar irritado? Podia, mas nunca recusava suas carícias carinhosas.

— Tae, por favor... — seus dedos magros se enroscaram nos meus fios agora pintados de loiro, acariciando minha nuca de leve. — Sei que está triste meu amor, mas não pode parar sua vida por conta disso. E-eu não vou suportar perder você também — sua voz tremulou.

Me senti horrível.

Como puder ser tão egoísta e me esquecer da minha própria mãe, depois de tudo o que passamos com a morte do papai, como pude deixá-la de lado com o medo constante de que tudo do meu passado viesse à tona?

— Me desculpe, vou me esforçar, pela senhora, eu prometo.

— É assim que se fala, você me deixa orgulhosa.

{...}

— Tae! — Ouço a voz do Yoongi hyung. — Taehyung!

Hoje era um dia especial, era para uma atividade extracurricular, duas universidades iriam se unir. Ou seja, a universidade onde estudo agora e a universidade em que os meninos estudam. Viro-me e todos estavam ali juntos, menos ele, o sorriso mínimo que tinha conseguido expressar desapareceu rapidamente com aquele pensamento. Eu tinha que parar com aquilo.

Jimin passou o braço por meu pescoço, bagunçando meus cabelos.

— Oi — murmuro baixinho.

— O que houve Tae? Fomos à sua sua casa várias vezes, mas você nunca estava — Jin inclinou a cabeça para o lado parecendo confuso.

Assoprei uma mexa da franja para o lado, suspirando e me sentindo culpado por mentir.

— Eu andei... Ocupado.

— Você está bem? — Namjoon pigarreou.

— Estou — chutei uma pedrinha para longe enfiado as mãos nos bolsos da calça. Forço um sorriso mínimo. — Mas e vocês? Estão bem?

— Acho que sim — Jin entrelaçou os dedos com os do Namjoon.

— Eu sinto falta dele — Jimin sussurrou alto o suficiente para que ouvíssemos.

Um silêncio se instalou em nós, cada um perdido em seus próprios pensamentos, o único barulho que podia se ouvir era dos outros estudantes ao nosso redor, sussurrando uns com os outros, e com certeza era sobre nós. Afinal éramos conhecidos como o grupinho problemático que tinha um deles desaparecido.

Era um silêncio confortante.

— Eu preciso ir ao banheiro — digo quebrando o clima.

Hoseok ri de mim e balança a cabeça, deu batidas leves no meu ombro.

— Nos vemos depois?

— Claro.

Me dirijo em direção ao prédio, ando pelos corredores devaneando e entro no primeiro banheiro que encontro. Suspiro e deixo a mochila cair no chão gélido com um baque surdo. Olho-me no espelho e jogo água em meu rosto para despertar. A porta de uma cabine se abre de repente e pelo reflexo do espelho vejo o Sean com um sorrisinho cínico.

— Taehyung... Já faz um tempo, não?