História Save The Day - Cinco

- Minha produtora. – Respondi, abrindo a porta para uma Selena descabelada e ofegante parada em minha varanda. A camisa do Guns n’ roses preta estava suja de terra assim como a legg que abraçava suas pernas. E, mesmo assim, a desgraçada ainda continuava sexy.

- Quem, em sã consciência, tem um jardim de Cactos colado na parede?! – Ela abriu os braços exasperada e pude notar pequenos pontos vermelhos na pele de seus braços. Sorri.

- Quem não quer ter sua propriedade sendo invadida. Está com sorte dos cachorros não terem te encontrado. – Estreitei os olhos e a latina arregalou os dela, olhando para trás. Sorri outra vez. 

- Acho melhor eu entrar. – Selena deu um passo para frente e Buddy latiu, a fazendo saltar no lugar, mas sorriu assim que encontrou o pequeno bichinho peludo. – Ai que coisa mais linda. – Ela disse já completamente dentro de minha casa e se agachando para pegar Buddy no colo. - Qual o nome?

Os castanhos brilhantes se voltaram para mim enquanto coçava a cabeça do cachorro.

- Não te interessa. - Forcei um sorriso o pegando de seus braços.

- Que nome diferente para um cachorro. - Rolei os olhos para o comentário e ouvi Dallas engasgar em um riso logo atrás de mim. - Hey, prazer. - Selena estendeu a mão direita em direção à minha irmã e abriu um sorriso charmoso em seguida. - Selena Gomez. Ela ainda não aprendeu à ser educada. - Disse me apontando, Dallas riu outra vez, fazendo-me fuzilá-la com os olhos.

- Dallas Lovato. - Minha irmã se apresentou, segurando a mão que lhe era oferecida. - Demi é a ovelha negra da família, mas juro que mamãe e eu tentamos educá-la. - Dallas respondeu me deixando boquiaberta.

- Dalls! - Exclamei irritada e ela deu de ombros.

- É a verdade.

- Então, são irmãs? - Selena indagou nos olhando divertida. - Vejo que beleza é uma forte característica da família.

Como relâmpago seguido por raio, minhas bochechas queimaram diante o elogio. Apertei Buddy um pouco mais contra meu peito e cocei nervosamente o pescoço do pequeno, enquanto o olhar penetrante da latina perfurava o meu e o canto esquerdo de seus lábios se erguiam em um sorriso presunçoso.

- Eu gosto dela. - Ouvi Dallas falar baixo ao meu lado como se fosse uma confissão, fazendo o meio sorriso de Selena se tornar maior.

- Não se engane, Dalls. - Falei entediada. - O capeta também era um anjo, mas olhe no que deu. - Completei dando as costas para as duas mulheres e seguindo de volta ao meu sofá.

Eu não dava importância das mulheres ficarem ali, desde que ficassem caladas e eu conseguisse assistir minha programação em paz, mas a vida não é perfeita como um conto de fadas e as duas não me deixariam em paz como eu gostaria que fosse o meu lindo e pleno final feliz. Eu já estava confortavelmente largada no sofá outra vez quando Selena bloqueou a visão que eu tinha da televisão.

- O que pensa que está fazendo? - A produtora indagou com os braços cruzados.

- Tentando assistir TV. Se você me der licença. - Abanei uma mão no ar em sinal para que a mulher saísse da minha frente, mas não adiantou.

- Você já viu que horas são? Já éramos para estarmos no centro!

- Oh que pena. - Debochei sem ao menos olhá-la.

- Perdão. - Ouvi Dallas atrás de mim. - Centro? Vocês vão sair?

- Sim. - Selena respondeu.

- Não. - Neguei firme ao mesmo tempo. - Nós não vamos.

- Ótimo. Então, vá se arrumar para sairmos. - Dallas deixou em cheque e eu gelei.

Veja, por mais que eu dissesse mil vezes não para Dallas, no final, eu sempre fazia o que ela mandava. Talvez tenha sido algum feitiço que mamãe tenha lançado em nós duas quando ainda éramos crianças. O importante era que Dallas sempre conseguia o que queria, a menos se eu conseguisse uma desculpa realmente forte para não ceder aos seus caprichos. E naquele momento, eu tinha uma desculpa bem diante de meus olhos. 

Era certo que eu não estava nada disposta à sair pela cidade com Selena, mas estava menos ainda a aturar minha querida irmã jogando pretendentes no meu colo durante todo aquele sábado.

- Na verdade, Dalls. - Coloquei Buddy no sofá e levantei para encarar minha irmã. - Eu realmente preciso fazer algumas compras com a Gomez. - Apontei o polegar para a produtora que arqueou as sobrancelhas com minha nova atitude.

- Você acabou de falar que não sairia com ela. - Minha irmã abriu os braços confusa e eu sorri amarelado.

- Eu me esqueci que era importante. - Encolhi os ombros, ainda sustentando o sorriso. - O programa está com uma roupagem nova para segunda-feira e eu preciso renovar meu figurino. Realmente precisamos resolver isso hoje. - Falei, com a cara mais deslavada do mundo.

Dallas franziu o cenho, mas não argumentou muito. Era nítido que a mulher não estava comprando muito minha história, mas também sabia que não poderia me pedir para largar algo relacionado ao trabalho para que ela agisse em minha inexistente vida amorosa.

- Okay, então. - Dallas deu a volta no sofá e se jogou no mesmo, pescando o controle remoto. - Vou aguardar para sair junto com vocês.

Rolei os olhos da minha irmã para a produtora logo atrás de mim que mantinha uma sobrancelha levantada.

- Então, você vai? - Ela perguntou desconfiada.

- Vou, mas não se anime muito.

- Tarde demais. - Selena retrucou e se jogou ao lado de Dallas no sofá, fazendo-me rolar os olhos com tanta força que me causou dor de cabeça.

Eu não devo ter demorado 15 minutos me arrumando, já que apenas vesti uma calça jeans escura e um par de tênis esportivos, mantendo o moletom cinza que já estava usando antes das duas mulheres invadirem a minha casa. Meu primeiro pensamento ao me olhar no espelho foi que Selena reclamaria até lhe faltar saliva da minha escolha para sair de casa, mas a única coisa que ela falou quando me viu foi:

- Vamos?

Acenei com a cabeça e as duas mulheres se levantaram do sofá ao mesmo tempo que peguei meu molho de chaves na mesa de centro. Dallas parecia ter se encontrado conversando com Selena e eu rolava os olhos a cada passo que dávamos até o portão da propriedade. 

- Demi nunca me apresentou esse povo badalado da televisão. - Minha irmã reclamou e eu rolei os olhos outra vez, desativando o alarme de meu carro e abrindo o portão da garagem.

- Estamos com uma nova roupagem no programa agora e toda sexta-feira teremos convidados especiais. As portas do estúdio estarão abertas para você. - Selena falou galante e eu quase vomitei com a conversa.

- Me desculpa atrapalhar o namoro. - Os olhos das duas pousaram em mim já dentro do carro. - Mas será que podemos? - Falei, apontando para a rua.

Shopping Central. Era o local que Selena instruiu para irmos. 

O centro estava movimentado como era de costume nos finais de semana. Dirigi por entre ruas e avenidas sem perder do retrovisor a kawasaki ninja que me seguia em cada curva que eu fazia. Não sabia se ela apenas estava me acompanhando ou realmente fiscalizando para me impedir de uma possível, e bem provável, fuga.

Estacionamos lado à lado no estacionamento superior do shopping e eu sai do carro no mesmo momento em que ela puxou o capacete da cabeça.

- Finalmente. - Ela resfolegou, tirando seu fiel par de luvas de couro. - Pensei que nunca chegaríamos. Você dirige feito uma tartaruga.

Fechei os olhos bem apertados e respirei fundo, me controlando para não quebrar o controle em minha mão ao apertar o botão que ativou o alarme do carro.

- E mesmo assim ficou colada na minha traseira o tempo todo. - Falei, seguindo para o elevador que nos levaria para o interior do shopping. - Irônico.

- Irônico não. Prudente. - Ela corrigiu ao meu lado. - Quem me garantiria que você não fugiria outra vez?

Entramos no elevador panorâmico e vi seu dedo apertar o quinto andar. Não seria uma viajem longa já que o estacionamento ficava no sétimo.

- E para onde eu fugiria se até invadir minha casa você foi capaz de invadir? - Gesticulei com um fiapo de controle para não alterar minha voz.

- Para o inferno que não seria, né? Já que eu sou o capeta.

Selena arqueou uma sobrancelha petulante e brincalhona e eu precisei morder minhas bochechas para não rir da piada feita sobre o que eu havia falado para Dallas ainda em minha casa.

A porta do elevador se abriu e Selena colocou a a mão livre na base de minha coluna, me guiando para o corredor.

- Liguei para uma amiga mais cedo e pedi que reservasse algumas peças para experimentarmos. - Ergui a sobrancelha com a informação e mais uma vez sua mão pousou na base de minha coluna, conduzindo-me para uma porta de vidro. - Aqui.

Ao passarmos pela porta, a música suave na voz sexy de Banks preencheu meus ouvidos e a fragrância sedutora do ambiente invadiu minhas narinas. A decoração era escura, formal e sexy. Três sofás grandes e redondos estavam distribuídos pelo espaço e uma mulher loira com olhos mais azuis do que o céu se aproximou com um sorriso acalorado para Selena.

- Só assim para você me procurar, não é mesmo? - A loira falou com um tom risonho e, sem reservas, abraçou minha produtora.

- Sabe que não é por mal, Ivy. Só agora me surgiu a oportunidade de voltar para Ohio. - Franzi o cenho com a palavra "voltar" proferida pela latina e então ela pareceu se lembrar da minha existência. - Oh. - Ela apontou para mim, fazendo os olhos azuis da loira correrem em minha direção. - Esse é o problema do qual falei.

Estreitei os olhos, fuzilando Selena que pouco parecia se importar com minhas feições assassinas, enquanto Ivy me analisava de baixo à cima. A loira vestia um terninho preto justo no corpo de deusa e, nos pés, um salto que eu jamais cogitaria usar na vida. Eu precisaria de paraquedas se resolvesse usar uma coisa daquele tamanho.

A mulher caminhou ao meu redor lentamente e Selena se afastou, indo até o balcão, parecendo interessada em alguns cosméticos expostos na vitrine. As mãos de Ivy vieram em minha cintura seguindo para meu busto para sentir o que eu escondia por baixo do moletom e então ela parou à minha frente com um braço cruzado na altura dos seios e dois dedos tamborilando em seu próprio queixo.

- Bom dia, Ohio. Certo? - A loira perguntou calma, pousando pela primeira vez os olhos iluminados nos meus olhos. Concordei com a cabeça e ela olhou por cima do ombro, na direção que Selena estava. - Você tem certeza do que me pediu, Gomez?

Pânico. O que aquela maluca havia pedido daquele lugar?

- Sim, Ivy. Apenas faça o seu trabalho. - Selena respondeu entediada, olhando algumas peças penduradas em uma arara e o meu pânico pareceu aumentar.

- O que ela pediu? - Perguntei quase desesperada e Ivy esboçou um sorriso torto com um olhar enigmático que me fez estremecer.

- Você já vai descobrir.