História Savior - Smile

"Eu estou a cem pés de distância. Mas eu caio quando estou perto de você." -Mercy, Shawn Mendes 

Yuko andava de um lado para o outro pela floricultura enquanto ouvia o relato de Yuri sobre os acontecimentos da noite passada. Era impossível não se sentir desconfortável diante de tudo, ainda mais quando o indivíduo havia aparecido e desaparecido da varanda com tamanha velocidade e facilidade que apenas em imaginar a situação calafrios percorriam o corpo da garota.

― E o que acha de ir até a polícia? Sabe, ele pode voltar.

Um suspiro deixou os lábios de Yuri, era próximo ao horário de almoço e juntos os dois saíram trancando a porta de vidro e pendurando o aviso de que logo estariam de volta.

― Estamos quase no inverno, tudo o que sei é que era um homem, alto e que trajava sobretudo preto e botas, não são vestes incomuns na época do ano em que estamos, ninguém me daria ouvidos.

Atravessaram a rua e logo entraram na cafeteria que sempre costumavam lanchar, era exatamente de frente para a floricultura e extremamente confortável, um dos lugares preferidos de Yuri e Yuko.

O lugar era de uma aparência rústica, mesas e cadeiras eram distribuídas na área externa e interna, a primeira impressão era de um lugar pequeno, porém seu interior era enorme e uma imensa lareira proporcionava o calor necessário para espantar o frio do inverno que se aproximava, durante todo o dia funcionava perfeitamente como uma cafeteria e doceria, durante a noite tudo se transformava e o lugar era um dos pubs mais frequentados da cidade, com algumas bandas e músicos que se apresentavam nos fins de semana sob o pequeno palco na lateral do lugar.

Os funcionários costumavam ser altamente atenciosos e o dono do apesar de possuir uma aparência estranhamente jovem para ser tão bem sucedido e um semblante sempre sério, fazia questão de dar a maior atenção a cada um de seus clientes. Tudo ali continha um ar misterioso e tranquilo que acalmava os nervos de Yuri.

— Então esqueça isso, vamos ver se hoje ele irá aparecer novamente. Sabe, você precisa se distrair!

Logo dois cardápios foram dispostos sob a mesa por um dos funcionários sorridentes do lugar, e Yuko o reconheceu de imediato, era o rapaz das margaridas do dia anterior.

— Boa tarde, o que vai ser hoje ?

— Você é o rapaz das margaridas, quase não o reconheci sorridente assim. — Yuko não pôde deixar de sorrir ao perceber o quanto o rapaz havia ficado corado com a observação.

— Eu sou Otabek, prazer em conhece-los, qual vai ser o pedido de hoje?

— Nós queremos dois chás de Sakura e dois pedaços de bolo de chocolate por favor, meu amigo aqui não está tendo um bom dia.

Yuri ignorou a conversa por alguns instantes e passou a observar o lugar um pouco mais, para a sua surpresa avistou as margaridas que o rapaz, que agora sabia se chamar Otabek, havia comprado no dia anterior, estavam em um lindo vaso marrom sob o balcão principal do lugar, ao seu lado o dono do estabelecimento permanecia sentado, o cotovelo apoiado sob o balcão e o rosto descansava em sua mão, os cabelos loiros caiam escondendo um dos olhos, o semblante de tédio era evidente e a carranca sempre séria faziam da cena levemente cômica, vez ou outra o loiro admirava as flores e um leve sorrisinho surgia em seus lábios, naquele exato momento Yuri entendeu exatamente o que Otabek fazia trabalhando na cafeteria, era o tal companheiro misterioso do dono do lugar.

— É, acho que não estou mesmo. — Um riso frouxo brotou nos lábios de Yuri suspirou e apoiou-se em uma das mãos sob a mesa.

Assim que Otabek se afastou, Yuko tratou de iniciar sua missão de convencer Yuri a sair naquela noite, queria distrair o amigo de tanta preocupação e ajudá-lo a esquecer o medo que sentia.

— Sabe, o que acha de aparecer por aqui hoje a noite? Tem música e é super bem frequentado.

— Não sei se é uma boa idéia, acho que vou deixar para outro dia.

— Haa Yuri Katsuki, você vai sair daquele apartamento essa noite nem que eu o arraste. — A cara de manha da garota era o sinal mais evidente de que Yuri iria de qualquer maneira naquela noite, o grande problema era sua falta de confiança e medo que o deixavam receoso.

Logo o pedido foi posto sob a mesa e ambos comeram falando sobre assuntos banais, nada de real importância, até que Yuko percebeu o exato instante em que viu o amigo empalidecer, todo o seu rosto perdeu a cor e os olhos lacrimejaram deixando suas escleras vermelhas, lágrimas se acumularam porém foram limpas com tamanha rapidez que ninguém seria capaz de perceber se não o estivesse observando da forma como ela estava. Seguiu a direção em que o japonês olhava, mais precisamente a entrada do local e pôde ver um rapaz entrando, era alto, esguio, trajava um sobretudo preto e fechado, um chapéu preto e botas.

— Y-Yuko! É ele! Foi ele quem me seguiu!

— Mas como isso é possível?

Assim que Yuri fez menção em falar algo a voz do dono do estabelecimento cortou seus pensamentos, como se estivesse ouvido a conversa o garoto loiro pulou do banco e bateu no balcão como em comemoração, sorriu e tratou de sair de trás do balcão.

— Até que enfim Victor! Achei que meu cantor não apareceria hoje! — A voz foi corrida e desesperada, quase como se estivesse justificando a entrada do rapaz misterioso chamou a atenção de todos os clientes, e claro confundiu ainda mais os pensamentos de Yuri. Um cantor ? Teria confundido o rapaz com seu perseguidor?

— É claro que eu apareceria. — A voz marcante ressoou pelo lugar, prontamente o sobretudo foi retirado e pendurado em uma das cadeiras mais próximas revelando calças jeans rasgadas e uma camiseta branca simplista, assim que retirou seu chapéu longos cabelos platinados se espalharam pelos ombros e costas, desciam longos em toda sua glória até pouco mais alto que a cintura, uma das laterais era raspada proporcionando um lindo corte undercut nas madeixas do rapaz, seus olhos azuis como esmeralda logo varreram o local e se arregalaram ao se cruzar com os de Yuri, um sorriso travesso foi dado antes de sua atenção se voltar novamente para o dono do logar e um de seus amigos mais próximos, Yuri Plisetsky, Yurio como gostava de ser chamado.

O japonês jurou que por alguns segundos o rapaz sorridente pareceu possuir presas, mas é claro que sua cabeça lhe pregaria qualquer peça por conta do medo e da confusão ao confundi-lo com seu perseguidor.

Logo o novo indivíduo, Victor, seguiu Yurio e Otabek para o pequeno palco do lugar, provavelmente conversavam sobre os preparativos para a apresentação da noite. Yuri suspirou em alívio pelo engano.

— Yuri, ainda acha que ele é seu perseguidor? — A garota olhava com curiosidade para o palco.

— Não, não existe a menor chance de ser ele, um rapaz tão novo e... bonito.

Um sorrisinho travesso tomou conta do rosto de Yuko, que logo recebeu um guardanapo voador em sua direção como resposta as provocações.

— Está decidido, nós iremos aparecer por aqui a noite, afinal você não iria perder o bonitão se apresentando, não é? — Mais uma vez desviou do guardanapo jogado por Yuri e logo se levantou ainda rindo do amigo, assim que pagaram a conta ambos voltaram para a floricultura e Yuri não pôde deixar de se sentir um tanto quanto animado e ansioso para a noite.