Era um tanto impossível para eu ficar longe daquele hospital diante daquela situação, mas naquela noite eu realmente precisava sair para espairecer um pouco depois das coisas que Lucy havia me dito. Minha culpa me consumia dentro de mim toda vez que eu lembrava a noite anterior ao acidente de Lauren, mas minha cabeça também não parava de girar diante das palavras da outra mulher. Demorei um bom tempo para conseguir dormir naquela noite, mas assim que consegui, dormi o suficiente para vários dias de insônia que eu tive durante aquela semana.
Logo eu teria que voltar a minha rotina de shows e minha vida corrida que tem sido desde que havia decidido seguir minha carreira sozinha. Eu tive que adiar meus shows mais recentes depois do acidente da Lauren, não poderia seguir trabalhando sabendo que Lauren estava enfiando em uma cama de hospital, mesmo que não tenha sido nada realmente grave.
As especulações nas redes sociais e na mídia voltaram à tona de uma forma avassaladora depois desse acidente. Eu simplesmente adiei meus shows sem da uma explicação concreta e isso foi o suficiente para vir a baixo todo o esforço que a gestão havia tido para apagar imagem que as pessoas tinham sobre eu e Lauren como um casal. Eu estava tendo que aguentar todos eles me pressionando sobre isso e procurando formas de consertar, o que segundo eles, era uma completa merda. Os fãs estavam loucos nas redes sociais e preocupados também, é claro, mas hoje mesmo sairia finalmente uma nota oficial falando como estava o estado de Lauren.
Eu estive evitando ao máximo os paparazzi e as minhas redes sociais com medo de pontos negativos ou de alguma forma acabar rompendo algo do contrato sem querer, infelizmente eu não tinha mais controle da minha vida há muito tempo.
- Hija? – a voz familiar de minha soou junto com três leves batidas na porta de meu quarto.
Eu havia acabado de acordar, mas não havia me levantado ainda por estar perdida demais em meus pensamentos enquanto encarava a janela do meu quarto. O tempo lá fora não era um dos melhores assim como o meu humor naquela manhã. Nuvens negras se formavam trazendo consigo uma frieza súbita e mórbida que atingia qualquer um naquela cidade emocionalmente falando. Eu não queria levantar da cama pela primeira vez em dias, eu me sentia cansada não só fisicamente, mas também emocionalmente.
- Bom dia mama – disse me virando para ela e lhe dando o melhor sorriso que eu consegui.
Ela depositou um beijo em minha testa e se sentou na ponta de minha cama.
Não importa quanto tempo se passasse e quantos anos eu tivesse, minha mãe sempre iria me tratar como se eu fosse um filhote e ela a mamãe urso que precisa estar me esquentando e me ajudando a todo o momento. Eu não reclamava de minha mãe me tratar dessa forma ou querer cuidar de mim a todo instante, era bom tê-la sempre por perto, me mantinha sã em meio a todo o caos que é ter a vida que eu tenho.
- Como está?
- Eu estou bem – respondi me ajeitando na cama para que ficasse sentada.
- Não parece muito bem hoje – seu semblante mostrava preocupação.
- Só estou cansada mama.
- Tem certeza, hija? – seu olhar desconfiado me lembrava da infância quando mentia para faltar à aula, senti vontade de rir, mas me segurei.
Ela esticou sua mão até a minha testa e eu franzi o cenho pelo seu gesto até então sem sentido.
- Deus, Camila! Você está com febre – finalmente disse enquanto ainda tentava ver a minha temperatura com a costa de sua mão.
- Não, eu estou bem, mama – segurei em sua mão com delicadeza tirando-a de minha testa.
- Não, não está Camila. Você parece pálida e fraca, olhe para você! Eu vou ligar para um médico vir aqui te examinar.
- Não, mãe. Eu vou ficar bem, eu prometo – disse tentando me ajeitar na cama enquanto ela me olhava um tanto apreensiva – Roger marcou uma reunião com a equipe, eu não posso faltar. Minha agenda de shows volta ao normal daqui dois dias, não posso remarcar e muito menos adiar mais uma vez os meus shows.
- Não só pode como vai! Você não vai sair dessa cama até estar melhor, Karla.
- Mãe...
- Não adianta tentar me convencer e ai de você se levantar dessa cama nesse estado!
Eu abri minha boca para protestar mais uma vez, mas fiquei apenas encarando a mulher um tanto brava e preocupada a minha frente. Ela tinha razão, eu não estava em condições de sair daquela cama, estava fraca demais para isso só não queria admitir, queria voltar ao hospital e visitar Lauren mais uma vez antes de voltar a minha rotina cansativa.
Suspirei desistindo de rebater minha mãe e ela então saiu de meu quarto para ligar para o medico que viria ver meu estado de saúde.
Eu confesso que eu realmente queria descansar por bastante tempo, mas eu não poderia simplesmente largar tudo por um capricho. Eu não poderia deixar os meus fãs nas mãos, se sou quem sou hoje é graças a eles e quero retribuir isso para o resto da minha vida.
Eu amava estar no palco e sentir toda a energia vinda daqueles milhares de pessoas em minha volta cantando as minhas musicas, os meus sentimentos, era uma adrenalina única e eu amava demais tudo isso, mas há momentos em que precisamos cuidar da nossa saúde mental e estável. Eu estava realmente precisando de um bom descanso e eu esperava que não tivesse nada grave acontecendo comigo para então voltar aos palcos dentro de dois dias.
Lauren havia acordado ontem e eu havia ido até o hospital para vê-la, mas acabei esbarrando em Lucy e depois da nossa conversa, me senti um tanto fora de órbita para conversar com Lauren naquele momento. Eu pretendia visita-la antes de ir embora e eu faria, só precisava cuidar de mim mesma antes disso.
Voltei a me deitar como estava antes de minha mãe entrar em meu quarto e interromper a minha linha de pensamentos. O céu parecia se fechar cada vez mais, estava carregado de nuvens pesadas, dava para ver em meio ao cinza os raios formando relâmpagos que logo se transformariam em trovões.
Flashback
Esperança era a única coisa que eu nunca achei que fosse perder em toda a minha vida, mas estar ali parada diante daquela situação estava me fazendo achar o contrario sobre essa minha ideia de manter esperanças. Minha esperança estava morrendo a cada segundo que se passava ali, as coisas pareciam andar em algum tipo de câmera lenta, talvez fosse um meio de minha mente mantê-la ali comigo o máximo que ela conseguisse antes de acontecer o que eu já sabia que estava prestes a acontecer.
Eu mantinha meus olhos fielmente fixos sobre aquele verde intenso que eu tanto havia admirado por anos. Hoje aqueles olhos verdes pareciam estar numa tonalidades completamente diferentes, e não é um diferente na qual eu já tenha visto antes, era algo novo para mim. Parecia transmitir o que ela não saberia dizer em palavras, e no fundo eu sabia que não se tratava de algo bom. Nada relacionado a nós nesses últimos tempos se tratava de algo bom, e tudo bem que em parte tenha sido culpa da vida que temos, mas não queria que ninguém visse o que tivemos como algo doentio ou abusivo. Éramos duas vitimas da vida que escolhemos ter.
Ela não respondeu ao meu até logo, e isso me doeu bem mais do que eu pudesse imaginar naquele momento. Eu precisava daquele "até logo" dela, era a única coisa que não me deixaria desmoronar, que não me faria perder as ultimas esperanças que tinha sobre isso tudo.
- Lauren... – minha voz estava entre cortada carregada de desespero e angustia, mas tentei ao máximo não transparecer isso para ela.
Eu apenas a observava praticamente suplicando com o olhar para ela me responder, mas no fundo eu sabia que isso não iria acontecer.
- Tchau Camila – foi última coisa que eu ouvi de sua voz rouca familiar.
Depois que ela saiu por aquela porta foi como se de alguma forma ela levasse consigo a minha força vital. Eu estava sentido o meu corpo de alguma forma perder todo o calor que nele continha, principalmente quando ela estava por perto para ascender algum tipo de chama no meu interior, e naquele momento, a chama havia se apagado. Todos os sentidos também estavam indo embora junto com ela, eu não conseguia me mover, como se tudo a minha volta parasse diante de meus olhos enquanto eu estava congelada.
Ela estava indo embora e mesmo que algo dentro de mim gritasse para ir atrás dela e pedir para que ela fique meu corpo não respondia aos meus comandos, eu estava dando ouvidos apenas a minha razão naquele momento.
- Mila? – aquela voz que eu bem conhecia como sendo a de Dinah, soou próxima a mim, mas não me movi, eu continuava estática. – O que aconteceu? Você está bem?
A voz dela parecia soar ao longe, como se tudo começasse a girar em torno de mim agora e meus ouvidos capturassem apenas ruído inaudíveis. Eu estava perdendo meu chão e meus sentidos por completo. Meu corpo anestesiado assim como tudo dentro e fora de mim, o estado de choque havia me pegado de surpresa e eu nunca imaginei que ficaria dessa forma por algo assim. Eu sei que parece drama, mas eu realmente queria que fosse drama naquele momento, mas não era, nem um pouco.
- Camila! – a voz de Dinah pareceu mais alta e isso de alguma forma me fez despertar de um transe.
Dinah estava me sacudindo e a voz parecia mais alta, pelo hálito dela em meu rosto pude notar de alguma forma que ainda havia álcool em seu organismo, mas ela havia acordado e estava ali do meu lado tentando descobrir porque eu havia dado pane do nada. Será que ela viu tudo o que aconteceu?
Eu não disse nada, não parei para da explicação a Dinah que me olhava preocupada mesmo estando ainda sobre o efeito do álcool. Abracei Dinah tão forte que se fosse a outro momento ela teria me empurrado da forma brincalhona que ela sempre fazia, mas ela não o fez, ao contrario, me abraçou como se a vida dela dependesse daquele abraço, e a minha dependia. Eu estava chorando desesperadamente nos braços dela, eu podia sentir os braços dela subirem junto com meus ombros a cada vez que eu soluçava em prantos. Ela nada falava e isso era o suficiente para mim. Eu só queria ficar nos braços da minha melhor amiga e chorar tudo o que eu queria colocar tudo pra fora que estava preso em minha garganta durante tanto tempo, só queria tirar todo aquele peso das minhas costas de alguma forma.
Eu chorei lagrimas o suficiente para ver meu reflexo nelas, e cada minuto que se passava parecia que eu morreria a qualquer minuto desidratada ou sem ar porque eu não conseguia parar de forma alguma, mas era melhor isso, eu estava me livrando de um peso bem maior e eu me sentiria um pouco melhor quando isso passasse.
- Está tudo bem Chancho, estou aqui com você – Dinah sussurrou para mim e eu a apertei mais em meus braços recebendo um beijo casto no topo de minha cabeça.
- Desculpa...
- Pelo que? – assim que ela me perguntou me afastei um pouco de seus braços.
- Por ter sido uma péssima amiga todo esse tempo, por não ter pensado em você e nas outras como deveria. Sei lá, sinto que tudo isso está completamente errado, não eram para as coisas aconteceram da forma que aconteceram, sabe? Eu não me arrependo de ter seguido meus sonhos, mas eu me arrependo de não ter sido da forma que eu queria, de ter gerado tanta confusão entre nossos fãs, de ter deixado vocês na mão quando juramos que iniciaríamos e encerraríamos tudo isso junta de uma vez só – falei tudo de uma forma um tanto apressada pelo nervosismo que eu estava sentindo tomar conta de mim. A emoção daquele momento estava me dominando e eu só conseguia me sentir péssima sobre absolutamente tudo.
- Você está medonhamente errada, Camila – ela começou a falar, mas eu não estava conseguindo focar em seu rosto, eu iria desabafar mais uma vez – Você é uma das melhores pessoas que já conheci em toda a minha vida. Você cometeu alguns erros, mas nada que fosse separar isso tudo que temos. Você sabe muito bem que nem tudo é nossa culpa. Eu sinto muito que acabamos machucando nossos fãs ou os fazendo briga entre si, eu entendo, isso me parte muito o coração e eu já me senti muito culpada por isso. Afinal, eles nos têm como inspiração, como um apoio, e um simples erro pode destruir um deles. Eu sei como se sente. Mas você não fez nada de errado quando decidiu seguir os seus sonhos, ok? Você foi extremamente corajosa em deixar o grupo no age do sucesso para tentar algo sozinha, foi um tiro no escuro, você seguiu seu coração, não tem nada de errado nisso. Eu sou a pessoa mais orgulhosa do mundo por tudo o que você tem conquistado apenas sendo você mesma. Eu não poderia estar mais feliz por tudo o que você tem hoje...
- E eu não teria nada disso se não fosse você e as outras meninas. Eu sou muito grata por tudo o que passamos e eu sinto muita falta do que éramos antes... – suspirei fitando nossas mãos entrelaçadas.
Então, ela levantou o meu rosto me lançando um sorriso antes de falar:
- Nós te amamos e sentimos sua falta, nunca esqueça que tudo o que passamos ficará guardado para sempre em nossas memorias e você faz parte delas, ok?
- Eu te amo, Cheechee.
- Eu também te amo muito Mila – ela voltou a beijar minha testa e eu forcei um sorriso.
Voltei a abraçar Dinah apertado e ela retribuiu. Eu estava feliz por ter Dinah ao meu lado nem que seja apenas por alguns dias, eu precisava que alguém estivesse ali comigo naquele momento.
- Mas me diga você não estava naquele estado por causa disso, não é? – ela perguntou de repente assim que se desvinculou de meus braços novamente.
Por um momento eu me esqueci do que havia acontecido ali há minutos atrás, mas agora que Dinah havia me lembrando, parecia que a anestesia do meu corpo estava passando o efeito e todo ele estava voltando a doer de uma forma quase insuportável.
- Não...
- O que aconteceu entre você e ela?
Só de ouvir aquele "ela" eu senti meu corpo inteiro tremer e meu olho começarem a lacrimejar prestes a desmoronar mais uma vez, mas eu me segurei.
- Ela foi embora.
- Você pode vê-la novamente...
- Não, Dinah. – fechei meus olhos com força tentando acalmar a minha respiração, assim que os abri e voltei a olhar para Dinah, meu coração doeu ainda mais – Eu vi nos olhos dela, eu vi claramente o adeus bem ali. Hoje foi a ultima vez, o ultimo adeus, e ela nem precisou falar muita coisa para eu saber disso, eu senti isso desde o momento em que saímos daquela boate. Acabou qualquer vinculo Dinah. Eu...
- Camila! – ela me interrompeu fazendo-me concentrar os olhos e em seu rosto.
Dinah soltou um suspiro e segurou em minha mão me puxando para minha cama onde sentamos na ponta e ela segurou em minhas mãos. Olhei para ela que tinha um sorriso fraca nos lábios, e mesmo bêbada, eu ainda conseguia ver a minha Dinah ali.
- Em todos esses anos sendo sua amiga, eu sempre testemunhei as varias vezes em que você e Lauren tiveram os piores momentos. Eu até tinha ciúmes no inicio porque parecia que eu nunca teria sua amizade como Lauren tinha a sua, mas isso passou depois que conheci as duas melhor e notei que eu não teria porque ter ciúmes, algo dentro de mim sabia e eu também percebia que não era apenas uma amizade. Todo mundo sempre viu o quão diferentes vocês olhavam uma para outra, é como se houvesse algum fio invisível do destino ligando você a ela e vice versa. É nítido, é transparente que há algo forte o bastante para passar por cima de qualquer coisa. É uma coisa linda e verdadeira que seria um verdadeiro conto de fadas se não vivêssemos da forma que vivemos. Nenhuma gestão ou contrato pode apagar o que tem aqui dentro, Chancho – ela agora estava apontando para o meu peito esquerdo onde meu coração batia acelerado – Posso estar bêbada, mas tenho consciência de que isso não acabou e nunca vai acabar. A Lauren é sua e sempre foi ninguém nunca conseguiu desfazer isso e não é agora que vai acontecer.
- Mas chega uma hora que cansa Dinah. Passamos por muita coisa, e nós duas concordamos que nunca poderemos ser felizes juntas no mundo em que vivemos.
- Não! – ela se levantou da cama e ficou de frente para mim enquanto eu a olhava – Não podem deixar o dinheiro e toda aquela merda vencer, eu não vou deixar.
- A gente vive nesse vai e vem, vivemos nos desencontrando. Acho mesmo que não nascemos para ficar juntas... – minha voz havia voltado a falhar e senti uma lagrima quente escorrer na minha bochecha.
- Droga Camila! – ela se exaltou de repente me assustando – Deixa-me explicar pra você mais uma vez. Você conhece a Lauren tanto quanto eu, então em que mundo Lauren deixaria de ficar com o amor da vida dela para ficar a favor do poder, da gana alheia? E você? Quem ela escolheria?
Eu fiquei completamente em silencio, eu estava tentando processar o que exatamente ela queria dizer com isso e eu entendi só que eu não sabia o que falar sobre isso.
- Você acha que eu devo...
- Se você não for eu mesma arrasto você pelos cabelos até lá, garota.
Não pude deixar de rir da resposta dela, eu amava a forma que Dinah lidava com as coisas e como tentava me ajudar também, mesmo bêbada e sem saber o que estava falando ela estava certa.
- Obrigado – disse sorrindo para ela.
- Você agradece depois quando eu estiver sóbria, agora vai atrás da outra dramática problemática e fiquem bem, não aceito que volte aqui sem ter me dito que transou com ela e estão felizes.
- Dinah! – a repreendi dando uma risada e ficando de pé enquanto limpava as lagrimas já secas no meu rosto.
- Eu estou falando sério, anda logo! – ela praticamente me empurrou para fora daquele quarto e me despedi dando um beijo na bochecha dela e agradecendo mais uma vez.
Assim que cheguei à porta da sala eu tive que respirar fundo para acalmar os meus nervosos que estavam à flor da pele pela adrenalina. Eu estava indo atrás dela, Dinah tinha razão, seria um erro deixar que os outros vencessem depois de tanto tempo de luta de ambas as partes. Lá estava eu indo mais uma vez contra a razão e seguindo meu coração. Eu preferia que fosse o meu coração porque sem Lauren o meu mundo jamais seria o mesmo, abrir aquela porta e entrar naquele carro significava que minha vida iria mudar completamente, e eu queria aquilo como nunca quis nada antes.
Mais um suspiro antes de finalmente abrir aquela porta e praticamente correr em direção ao carro, mas assim que cheguei à porta do carro o meu celular começou a tocar desesperadamente e eu xinguei mentalmente por ser obrigada a atender, caso fosse Roger ou alguém importante e assim que olhei o visor do meu celular, minha respiração falhou. Era ela.
- Alo? Lauren? – falei assim que atendi.
- Alô. É Camila? – uma voz grossa e masculina falou do outro lado me assustando e me deixando confusa.
- Sim, sou eu. Quem fala?
- Sou o policial Foster. Bom, a senhora é alguma parente de Lauren Michelle Jauregui?
Policial? O que diabos Lauren havia feito e o que estava acontecendo? Céus! Eu já estava me sentindo extremamente nervosa.
- Na verdade não, mas somos intimas. Por quê? O que aconteceu?
- Peço que a senhora mantenha a sua calma, não ajudará em nada se ficar nervosa. A senhorita Jauregui está bem até onde sei, mas ela sofreu um acidente grave de carro, não saberei informar ainda qual o estado real dela, mas ela está viva, já está aqui no hospital. A senhorita está listada como a primeira nos contatos de emergência por isso estou te ligando. Se quiser pode vir até o hospital ou pode ligar para um parente dela, preciso que alguém apareça.
- Estou indo para ai – disse e não esperei ele falar mais nada.
Meu coração se encontrava acelerado até demais, parecia que iria explodir do meu peito a qualquer minuto. Minhas mãos tremiam e demorei um bom tempo pra conseguir finalmente ligar o carro, meus olhos marejados devido as lagrimas que queriam sair, mas não saiam. Eu não estava em um estado normal, mas eu precisava de alguma forma chegar naquele hospital.
Não sei como, mas eu consegui de alguma forma arrancar com o carro dali o mais rápido que eu pude.
Fim do flashback
- Não é nada de tão grave assim – dizia o homem, alto e ruivo devidamente vestido, para os meus pais – Ela só não tem se alimentado direito e nem tomado muita agua. Certifique-se que ela irá comer direito e tomar bastante agua que tudo irá ficar bem. O soro que ela tomou havia remédio para conter a febre e repor o liquido do corpo dela, mas preciso que siga tudo o que eu lhes expliquei ok? Se ela apresentar febre ou alguma coisa do tipo, me liguem e eu estarei aqui.
- Muito obrigado doutor – disse meu pai sorrindo para o homem e o acompanhando para fora do meu quarto e deixando apenas eu e minha mãe ali.
Ela suspirou e caminhou em minha direção com um sorriso fraco nos lábios, mesmo eu estando melhor, ela ainda parecia preocupada comigo.
- Eu preciso ir ao hospital agora – disse enquanto me sentava na cama.
- Não Camila, você tem que descansar, ouviu o que o medico falou.
- Mas eu tenho que vê-la, mama.
- Ela não irá embora de lá e nem de Miami, você pode vê-la depois, agora você tem que descansar hija.
- No mama – balancei a cabeça em negativo e fui saindo de minha cama para ficar de pé – Ela não vai sair de lá hoje e nem de Miami, mas eu vou. Eu preciso ir vê-la, não posso voltar a minha turnê sem antes vê-la, por favor, você tem que me entender.
Minha mãe me encarou por alguns minutos e nada falou, ela não falaria nada, ela sempre fazia isso quando queria me repreender, mas sabia que nada adiantaria e que eu faria mesmo assim. Ela respeitava as minhas decisões, ela confiava em mim. Mas acho que dessa vez ela tinha uma cara um tanto decepcionada, pois estava preocupada com a minha saúde.
- Não se preocupe ok? Eu juro que vou me cuidar, eu já estou me sentindo muito melhor, só precisava de um empurrãozinho. – estava me trocando e indo ao banheiro para escovar os meus dentes – Eu vou tomar um café bem reforçado no hospital com algo mastigável, e assim que ver Lauren eu vou direto para a reunião com o Roger. Alias, ele irá até o hospital comigo, não irei dirigir, ele mandou o motorista.
- Você tem certeza, Camila?
- Nunca tive tanta certeza, eu preciso disso.
- Então ok, eu vou confiar você. Mas você tem que se cuidar de verdade, Camila. Por favor.
- Não se preocupe mama, vai ficar tudo bem.
[...]
Estar de volta naquele hospital me deixava um pouco apreensiva. Eu não falava com Lauren há dias desde aquela noite, só apenas a via e às vezes conversava com ela enquanto ela estava desacordada. Depois que ela acordou, não tive uma oportunidade de finalmente poder falar com ela diretamente, nem que seja para dar um simples "oi". Na verdade, eu realmente não sabia o que eu iria falar para ela, não tinha o que falar, e se tinha eu não sabia como iria começar a falar. Eu estava uma bagunça por dentro, e não dava para me organizar de uma hora para outra e agora.
O hospital continuava lotado de paparazzi de plantão a fim de fotos minhas ou das outras meninas na qual eu apostava que já haviam vindo visitar Lauren mais cedo. Eu decidi entrar pelos fundos do hospital onde não havia nenhum deles ali para me importunar.
- Bom dia – disse assim que cheguei até a recepção.
A recepcionista, cujo nome era Rosie, uma senhora simpática e de bom humor, me recebeu com um sorriso aberto na qual eu já estava acostumada a ver todas as manhãs.
- Bom dia, querida. Como está?
- Eu estou bem, obrigado. E a senhora?
- Eu estou bem também. Veio visita-la novamente?
- Sim, eu vim. – suspirei lhe dando um sorriso.
- É realmente lindo ver isso vindo de você. Ela parece ser bem querida, mas as pessoas a que vem visita-la não são como você. Eu sei que ela é uma cantora famosa, eu não a conheço e nem ouvi falar, mas, além disso, eu a enxergo como uma boa pessoa.
- Por que não são como eu?
- Não sei explicar, você parece ter mais conexão com ela, eu realmente não sei o que acontece, mas é a impressão que eu tenho de você.
Não pude deixar de dar um sorriso bobo com o que a mulher estava falando.
- Digamos que ela é uma das pessoas mais importantes da minha vida...
- Eu entendo.
- Mas então, ela está tendo alguma visita agora?
- Deixe me ver aqui – ela deu outro sorriso e voltou-se para o seu computador digitando algumas coisas e olhando atenta para a tela do mesmo – Na verdade tem sim. Tem alguém com ela lá nesse exato momento, mas acho que não vai demorar a sair, já faz muito tempo que entrou lá.
- Tudo bem, vou esperar na sala de espera. – sorri uma ultima vez antes de caminhar para aquela familiar sala, porém parei no meio do caminho ao lembrar-se de algo e voltei ao balcão da recepção. – Oi, na verdade eu gostaria muito de visitar outra pessoa.
- Quem seria essa pessoa?
- Bem... Acho que o nome dela é Amber, Amber Hills! Aparentemente ela está fazendo sessões de quimioterapia, ela tem leucemia. Ela está aqui, não está? –perguntei mordendo o lábio em receio.
Amber era a garotinha que havia falado comigo quando eu estava aqui nos primeiros dias com Lauren. Foi para ela que eu contei que entre mim e Lauren havia sim algo. Não que eu tivesse contado por pena, por ela ter leucemia. Mas quando olhei para aqueles olhos brilhantes repletos de coragem, sua coragem pareceu repercutir dentro de mim mesma me dando o impulso para lhe contar sem problemas. Eu prometi que iria visita-la com Lauren, mas já que Lauren ainda não recebeu alta, precisava vê-la, precisava saber se ela estava bem e se recuperando de sua doença.
- Ah, ela está em um quarto naquele corredor ali – falou Rosie apontando para um corredor que ficava a minha direita – O quarto dela é o numero 02, ela está recebendo visitas apenas por hoje.
- Ah obrigada – agradeci mais uma vez e segui para o quarto na qual ela havia me falado.
Eu já havia conhecido antes alguns fãs que tinham doenças graves como a de Amber, mas nunca mais havia tido noticias deles depois. Eu esperava realmente que estivesse bem e superado a doença. Amber seria a primeira na qual eu teria um segundo contato e longe de câmeras, não queria que usassem isso para promover a minha imagem, queria apenas fazer bem a uma pessoa. Não como idola e fã, apenas como amigas quem sabe.
Eu estava me aproximando do quarto quando ouvi murmúrios vindo dele, mas até então esses murmúrios eram inaudíveis. A cada vez que eu me aproximava da porta, eles se tornavam mais claros para que eu entendesse o dialogo.
- É um tumor no cérebro – a voz mais grossa dizia e eu parei próxima a porta.
Eu não queria interromper a conversa e muito menos me intrometer em algum assunto na qual eu não deveria. Eu sei que é errado também ficar ouvindo ali perto da porta, mas eu não tinha para onde ir agora, e eu queria muito ver Amber.
- Meu Deus...
- Nós iremos remover ao menos tentar, mas receio que devo avisa-la que não há possibilidade de remover o tumor por completo. No máximo 99% dele podem ser removidos – diz a voz do que julguei ser o médico que estava cuidando do caso de Amber. – Se optar pela radioterapia e a quimioterapia, Amber tem chances de viver de 5 a 10 anos.
Silencio.
A mulher que falava com o medico eu deduzi que fosse a mãe de Amber e isso me apertou o coração de uma forma inexplicável. Amber não havia tido melhoras, na verdade, ela havia piorado e haviam achado outro problema. Eu estava me sentindo tão impotente e patética por vir aqui fazer uma surpresa idiota achando que ela iria gostar, mas minha visita não iria melhorar seu estado ou fazê-la se curar e eu estava me sentindo péssima com isso.
- E se fizer a cirurgia? – a voz da mulher surgiu outra vez quebrando o silencio e pude ouvir o medico suspirar.
- Bom, o tumor está localizado na parte do cérebro onde a memoria e a personalidade reside, teremos que tirar muita coisa para conseguir remover o tumor, e ela correrá o risco de perder a memoria. – ele fez uma breve pausa antes continuar a falar – Mas se isso acontecer, ela os últimos anos da vida dela será tentando viver uma vida que não é dela. Eu sei que quer ficar e aproveitar ao máximo o tempo de vida de sua filha, mas a senhora tem que pensar nela.
- Não... – a mulher agora interrompeu o medico, pelo fugando ela parecia estar chorando agora – Tem outra opção?
Mais uma pausa.
- Sim, tem outra opção. Poderíamos fazer um tratamento centralizado com gama, mas só daria três ou cinco anos de vida a sua filha.
Dava-se para ouvir o choro da mulher e até sentir a sua dor de ter que fazer uma escolha tão difícil como essa. Ainda tinha o risco de morte que era imenso. Nunca vou saber como será a dor de perder um filho assim dessa forma tão precoce, mas eu tinha uma noção do que era sentir aquilo e isso estava partindo o meu coração em milhões de pedaços.
- Faça a cirurgia – a voz da mulher, agora tremula, soou mais uma vez de forma firme.
- A senhora tem certeza? Toda a memoria e personalidade dela irão sumir e a senhora terá que passar os últimos anos da vida dela tentando criar novas memorias porque toda a sua historia será completamente apagada e...
- Para! – sua voz havia se tornado um pouco mais alta – Só faça a droga da cirurgia.
- Ok, irei preparar tudo para que faça a cirurgia dentro de dois dias.
O medico iria sair do quarto, então tive que despertar de meus pensamentos para sair dali e não parece que eu estava ouvindo por trás da porta.
Meu impulso foi caminhar de volta as pressas em direção à saída, eu precisava tomar algum ar antes de entrar naquele quarto ou no quarto de Lauren. Eu estava me sentindo muito mal por saber que a vida daquela garotinha tão doce tinha prazo de validade, ela não merecia isso, ela era muito jovem para ir embora tão cedo. Ela não iria ter as experiências que todo mundo tem que passar um dia, não se apaixonaria, não teria o coração partido, não deixaria teria uma família. Era duro demais para eu imaginar que enquanto eu estou vivendo um sonho, alguém está preso a uma cama de hospital apenas esperando a sua hora de ir. Ela e nem ninguém merecia aquilo.
Eu tinha que fazer alguma coisa por ela, mesmo não fazendo ideia do que seria. Eu sei que eu não poderia fazer nada para mudar o estado de saúde dela, mas eu queria dar algo que ela irá lembrar até o fim, queria da amor e mostrar que ela pode ser forte para aguentar tudo que irá passar.
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