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História Scandales Victorienne - :: Capítulo 16 -


Escrita por: MaiBearfout

Notas do Autor


Primeiramente só quero pedir desculpas a todos que acompanham a fic e ficaram a espera de uma atualização. Devo me justificar dizendo que desta vez perdi meu notebook de vez, já que a bênção do meu irmãozinho derramou leite nele, pra minha alegria. Ô minino que me dá prejuízo! Shuasdhau
Terei que atualizar a fic pelo celular, e como é necessário uma paciência além do normal pra isso, estou me desdobrando pra fazer o melhor possível.
Desde já peço desculpas pelo atraso e tbm por qualquer erro no capítulo, e agradeço a todos que ainda acompanham a fic. Quero dedicar este capítulo especialmente as leitoras:

:: KuuhakuV, JujubinhaLim, valysilva e Mira-a. ::

Obrigada pelo apoio de vcs é preocupação. Sou absolutamente grata. ❤

Aproveitem e Boa leitura!

Capítulo 16 - :: Capítulo 16 -


Os dias em Greenleaf tornaram-se breves por conta do inverno que estava cada vez mais próximo, no entanto, Sakura sabia que sua ansiedade também contribuía inegavelmente para isso, não lhe restando tempo para se acostumar com tudo o que acontecia em sua vida, antes terrivelmente tediosa, e agora cheia de acontecimentos impossíveis de digerir.

Afinal, a menos de um mês atrás era apenas a donzela problemática local, impossível de se cortejar, impossível de se conquistar os sentimentos hostis, e agora, simplesmente, estava noiva de um jovem que recém conhecera e que era nada menos do que o herdeiro do título de Duque. Como o destino costuma ser engraçado para aqueles que o desafiam, não é mesmo? Apesar de que, nem sempre este goza de bom humor. Mesmo assim, as surpresas são sempre certas.

Aquela manhã fora especialmente fria, apesar do Outono ainda não ter cessado, e ela acordou com ruídos baixos em algum lugar de seu quarto. Os cobertores pesados a protegiam com o reconfortante calor, e ela não tinha intenção alguma de se levantar, até que a barreira de panos grossos fora puxado com brusquidão, fazendo com que seu corpo sofresse com o impacto do ar frio do quarto. A luz não era forte, mas ainda assim foi difícil abrir os olhos, e após um longo gemido misto de irritação e dengo, ela finalmente atentou-se a observar quem incomodava seu sono àquela hora. A mulher franzina de cabelos curtos e negros poderia ser o alvo de toda sua irritação e desprezo, se não fosse pelo sorriso alegre e inconveniente da mesma.

- Senhorita Sakura, acorde!

Sakura fez uma pequena carranca emburrada antes de olhar ao redor, ainda meio perdida, e puxar novamente os cobertores para cima de si.

- Não perturbe, Shizune. Não quero levantar agora.

A mulher suspirou demonstrando impaciência, antes de puxar novamente os cobertores, desta vez sem dar chance para que a jovem teimosa se cobrisse novamente.

- Vamos, senhorita! Tem visita a lhe esperar na sala!

Sakura abriu os olhos em um pequeno susto, encarando Shizune ainda atordoada. Sentando-se na cama, ela esfregou os olhos, arregalando-os em seguida.

- Não precisa se assustar desta forma, não é o jovem Duque que está lá embaixo.

- E-eu não pensei que era...!

Shizune deu de ombros, procurando conter o pequeno sorriso de deboche diante do evidente embaraço de Sakura, até direcionar-se ao banheiro, deixando a porta aberta.

- O seu banho já está pronto, então se apresse. Milady Hyuuga a aguarda.

- Heim?

Sakura franziu o cenho diante da surpresa, mas Shizune deixou o quarto sem dar maiores explicações. Será que ouviu bem? O que Lady Hinata fazia tão cedo em sua casa?

xxx...

Assim que desceu o primeiro lance da escadaria, Sakura já podia avistar Hinata acomodada em uma das poltronas da sala ao lado de Tsunade, sendo servidas por Shizune. Limpando a garganta de forma audível para não pegá-las de surpresa diante dos cochichos, desceu o restante da escadaria, desta vez sob o olhar atento das três mulheres na sala.

- Olha só quem desceu para se juntar a nós, a Bela Adormecida! – exclamou Tsunade em sua típica inconveniência logo pela manhã.

- Milady Hyuuga, que surpresa vê-la. – indagou Sakura em um meio sorriso, mas não grande o suficiente para revelar as marcas em seu rosto amassado, aproveitando para ignorar o comentário de Madame.

- Milady Haruno, me desculpe por aparecer tão cedo e incomodá-la em seu sono, ainda mais sem ter avisado brevemente.

A voz gentil e tímida de Hinata fora cortada por Tsunade de imediato, que rindo com escárnio, direcionou-se a moça.

- Não se preocupe querida, Sakura nem tinha nada melhor pra fazer hoje. E a propósito, Sakura, Lady Hyuuga veio convidá-la para fazer companhia a ela até o centro, para ajudá-la a escolher o seu vestido de noiva.

- E por que eu? Não era mais fácil pedir a uma das criadas do Marquês? – indagou Sakura de forma incrédula, sem quaisquer preocupação em ponderar seu tom de voz.

- Sakura, olhe os modos!

- Tudo bem, eu que fui deselegante em aparecer aqui desta forma, me desculpe Milady... – A jovem Hyuuga esboçou um sorriso gentil e sem jeito, enquanto já se levantava para retirar-se. - Não era minha intenção ser inconveniente. Se me derem licença agora... Mas de qualquer forma, muito obrigada pelo chá.

- Sakura, pelo amor! A moça só queria sua companhia!

A voz ríspida e urgente de Tsunade fez Sakura revirar os olhos com impaciência, desta vez atentando-se para remediar o mal entendido.

- Espere, Hinata. Não foi minha intenção e desculpe se pareci grossa. Eu só estou surpresa, mas eu vou sim acompanhá-la.

- Por favor, não se sinta obrigada de forma alguma...!

- Não se preocupe, minha querida. – disse Tsunade ao bebericar um pouco de seu chá. – Vai ser ótimo pra vocês duas saírem, conversarem, se enturmarem melhor e é claro, fazer um bom dia de compras. Não há nada melhor!

- E por que não se junta a nós, Madame Senju? – perguntou Sakura, arqueando as sobrancelhas de maneira sugestiva, fazendo a loira à frente encolher-se em seu assento.

- Bem, é... eu até iria, mas esse clima frio faz minhas juntas doerem, então eu prefiro voltar pra minha cama, meus pés estão me matando.

“- Era o que eu suspeitava.”

Sakura suspirou profundamente diante de tamanho cinismo, e, apesar de realmente desejar voltar para sua cama e passar o resto da manhã deitada, ela deveria ajudar Hinata. Pela segunda vez.

- Vamos, Hinata? – indagou ela em meio a um gentil sorriso

- Sim, claro! – respondeu a Hyuuga, despedindo-se de Tsunade e Shizune antes de acompanhar a jovem de madeixas rosadas até a saída da casa.

xxx...

Estar ao lado de Hyuuga Hinata era um tanto que embaraçoso, ainda mais diante de toda a conclusão “precipitada” que Sakura tirou da jovem, ao vê-la pela primeira vez. É claro que a julgou ser como as demais moças ricas da sociedade nobre, e, apesar dela não ser totalmente igual, ela também não era totalmente diferente. Ao que pôde perceber, durante boa parte da manhã em que esteve junto a ela, é de que se trata de uma moça muito gentil e de poucas palavras, assim como sofisticada, mas sem muito exagero, ainda que sua riqueza fosse muito superior a dos Yamanakas. Pelo menos tinha bom gosto em se vestir, usando um elegante vestido azul marinho de mangas longas, que realçava significantemente a palidez de sua pele e os olhos de um frágil tom cinza, combinando harmoniosamente com seus cabelos em quase mesmo tom escuro de suas vestes. Apenas o chapéu não lhe caía bem, talvez pelo fato de Sakura achá-los ridículos de qualquer forma e em qualquer ocasião.

O ar gelado e o céu cinzento obrigara boa parte dos nobres a permanecerem em casa àquela manhã, o que deixava as lojas mais acessíveis as duas, que partiram em direção ao exato destino. A refinada - e absurdamente cara - loja de vestidos de Lady Yuuhi.

Sakura jamais havia pisado os pés ali, e nem nunca antes tivera interesse, mas não negava que o interior da loja possuía uma elegância absoluta, talvez tão bela quanto à de um Palácio, onde o aroma suave de perfume tornava o ambiente mais calmo e agradável do que sua decoração já sugeria. Assim que chegaram, logo foram atendidas por uma esbelta e elegante mulher de cabelos negros e olhar vibrante, que aproximou-se de imediato com um largo sorriso direcionado primeiramente para a jovem Hyuuga.

- Milady Hinata, que prazer maravilhoso tê-la em minha loja depois de tanto tempo! Você está uma mulher perfeita!

- Lady Kurenai, obrigada. A senhora está incrivelmente bem! Realmente encantadora!

Sakura revirou os olhos. Ainda que nunca antes estivesse naquela loja, ela conhecia bem aquela mulher que de encantadora não tinha nada. Provavelmente, só pisava no chão pelo único motivo de não poder voar. Era casada com o filho mais jovem de Lorde Sarutobi, e tio de Konohamaru, o Lorde Asuma. Todos os domingos compareciam as missas matinais, mas jamais foi de trocar qualquer palavra com alguém que não pertencesse a nata da burguesia. Tsunade uma vez disse que ela negava o fato de ter vindo de família de camponeses um dia, isso antes de trabalhar na casa do senhor Sarutobi e fisgar o caçula.

E depois era Sakura a escandalosa.

Após o amistoso abraço, a mulher de cabelos negros voltou-se na direção de Sakura, onde seu sorriso tornou-se mais largo do que o comum, tal como o brilho exagerado em seus olhos, e ela aproximou-se da moça a abraçando sem nenhuma cerimônia e com uma intimidade jamais existente. Será que ela ao menos a reconheceu? Sakura sempre acreditou que, pela cor de seus cabelos e a fama que a acompanhava, ela jamais poderia ser confundida, muito menos cumprimentada daquela forma. Certamente, não era do que se tratava.

- Querida, que prazer tê-la em minha loja! Você jamais veio aqui antes, fico tão lisonjeada que tenha decidido aparecer!

“ – O que tinha no chá dessa mulher?”

Finalmente interrompendo o abraço, Kurenai afastou-se lentamente, ainda tocando Sakura em seus ombros enquanto a encarava com empolgação.

- Como você é linda! E essa cor tão delicada de seus cabelos maravilhosos... Magnifique! Aposto que Lady Hinata a trouxe aqui para escolher seu vestido de noiva para o casamento com o jovem Duque, Oui!

“ – Agora está explicado toda a repentina prestatividade e simpatia...”

Pensou Sakura em meio a um sorriso sem jeito, antes de Kurenai ser interrompida por Hinata, ao qual estava mais sem jeito ainda.

- Desculpe Milady Yuuhi, mas Lady Sakura está apenas me acompanhando para me ajudar a escolher o meu vestido de noiva.

Um ligeiro embaraço passou pelo rosto maquiado de Kurenai, que afastou-se na medida em que arquejava alguma coisa, rumando na direção de Hinata outra vez.

- Oh, sim! Claro, claro, como pude esquecer?! É que, eu ainda estou um pouco anestesiada pelo comunicado de noivado do Duque, desde a festa de casamento de Lady Yamanaka, que acabei me embaralhando um pouco. Mas ainda assim, é uma grande honra. Terei um dos meus modelos a vestir a futura esposa do Marquês no altar, assim como espero ter um que vista a esposa do Duque. Um sonho realizado! Quem sabe a própria rainha? Uma maravilha! Sigam-me queridas, s'il vous plaît!

Seguindo pelo condecorado corredor, Kurenai guiou as jovens até uma porta dupla branca que, ao abri-las, revelou o mais genuíno paraíso dos vestidos, ao qual se enchia os olhos com tamanha elegância e beleza em suas mais diversas formas. Só pelo brilho nos olhos de Hinata, Sakura teve certeza que aquela amanhã não terminaria tão cedo.

xxx...

- Milady, você tem certeza do que está fazendo?

A voz de Rin soou urgente e cheia de preocupação, apesar do sussurro, e ela mantinha seus passos acelerados para acompanhar uma apressada Karin à frente, ao qual pouco parecia se importar com o apelo da acompanhante.

- Não me amole com essa sua ladainha covarde! É claro que eu sei o que eu estou fazendo e não me irrite logo cedo! Muito ajuda quem pouco atrapalha!

Assim que dobraram a esquina, as duas já podiam avistar o condecorado letreiro da perfumaria numa placa branca de madeira com letras douradas, e Karin agarrou de imediato as maçanetas da ilustrada porta dupla do estabelecimento, no entanto, a loja estava fechada, para maior irritação de sua parte.

- Mas que diabos! Esses malditos preguiçosos não abrirão a loja hoje?

- Por favor, Milady. Não se esqueça que a senhorita recusou o pedido do Marquês para acompanhar a noiva dele na escolha do vestido hoje cedo, alegando indisposição para sair. Se ele descobrir que estamos aqui depois de recusar seu pedido, ficará deveras furioso! A situação já não está favorável para a senhorita.

- Quieta, Rin! Eu não ligo para as imbecilidades do Marquês, tão pouco para a sonsa de sua noiva. Jamais perderia meu tempo a ajudando. Agora se não quer me ajudar, não me atrapalhe! Ao menos fique aqui cuidando da rua, caso alguém se aproxime!

A ruiva contornou a loja sob o olhar atento e assustado de Rin, mas essa nada disse, pois não se atreveria interromper sua senhora novamente.

Alcançando uma baixa escadaria, Karin adentrou um estreito e úmido corredor ao lado da loja, atentando para cada detalhe que revelasse a presença de quem fosse em seu interior, mas para seu infortúnio, encontrava-se tão silencioso quanto sua fachada. A Uzumaki passou a examinar com cautela as janelas, até que alguns ruídos detiveram sua atenção para mais a fundo no corredor. Uma pequena porta fora aberta e, galgando apressadamente o breve lance de escadas, a ruiva flagrou a tempo o momento em que o jovial atendente da loja deixava o recinto, aparentemente de maneira furtiva, enquanto carregava uma sacola em suas costas.

- Há! Aí está você! – gritou Karin enquanto apontava o dedo para o rapaz, como quem acusa um criminoso. – Saindo na surdina, achando mesmo que poderia aplicar os seus golpes sujos sem a devida punição!

O jovem manteve os olhos arregalados assim que reconheceu a moça, no entanto, toda a sua surpresa fora substituída por um sorriso confrontador. O mesmo de quem se diverte com a situação, o que para Karin se tratava do pior dos insultos.

- Olá, Milady! Que enorme surpresa ver sua bela figura aqui tão cedo! Devo dizer que sua elegância é um grande contraste quanto a este corredor sujo e molhado. Estou impressionado com sua visita, mas devo dizer que infelizmente meu tempo é curto.

- É claro que está com pressa, não é mesmo? Afinal, depois de aplicar todos os seus golpes, nada mais apropriado do que fugir como um rato para o esgoto!

- Nossa, mas que língua afiada é a sua, Milady! Sorte sua que trabalho com perfumes, não com veneno, caso contrário teria uma inesgotável fonte de renda.

- Me poupe de seu lastimável senso de humor que é tão patético quanto seu profissionalismo! Você utiliza dessa aparência de bom moço para enganar as damas com essas suas falsas fragrâncias baratas, como se fosse realmente capaz dos milagres que você jurou que cumpriria!

Suigetsu arqueou as sobrancelhas brevemente, como quem parecia confuso com tudo o que ouvia, até que a resposta para as acusações que sofria apontasse em sua mente, como um rápido flash de luz.

- Oh, você está falando dos perfumes que eu te dei? Mas é claro!

- É claro que estou falando dos perfumes! Do que mais eu viria tratar com você, seu farsante!

- Olha, moça... – disse o rapaz em meio a um longo suspiro, após coçar ligeiramente a própria nuca. – Por que está tão irritada com isso? Até onde eu sei, a senhorita não pagou pelos frascos e as fragrâncias são ótimas. Acreditou mesmo que um simples perfume conquistaria tão fácil alguém, assim?

- Ora, não insulte minha inteligência! – disse Karin em nítida irritação em sua voz, que aumentava cada vez mais diante da indiferença do rapaz, mesmo com todas as suas acusações – Eu não cairia nesse conto de fadas, a questão é seu baixo nível em ter que apelar pra isso para ter que vender seu perfume barato! E esse cheiro enjoativo de frutas cítricas ainda não saiu da minha pele!!

Assim que terminara a frase, Karin foi surpreendida por Suigetsu que, envolvendo seus fortes braços em torno da fina cintura da ruiva irritada, a puxou para ele num gesto bruto e imediato, mergulhando seus lábios contra aos da jovem a sua frente, disferindo um longo e intensivo beijo, ao qual ela, mortificada pela ação repentina do rapaz, mal tinha fôlego para ao menos rebatê-lo naquele instante. O beijo continuou ardente até que o rapaz a soltasse, deixando-a visivelmente atordoada e sem qualquer reação.

- Desculpe por isso, Milady. É o aroma deste perfume que acabou me enfeitiçando quanto a cor suave e convidativa desses lábios rosados, carnudos e de doce sabor. O que é incrível, já que pela quantidade de veneno que destila, jurei serem amargos como fel, o que chega até ser engraçado. Agora, se me der licença, preciso ir.

- Seu patife! Aproveitou de um momento de distração para me agarrar a força! Saiba você que tomarei providências para que seja expulso dessa cidade! Também cuidarei de espalhar a sua fama de farsante para que jamais volte a trabalhar em quaisquer perfumaria, pelo resto de sua miserável vida! Você jamais pisará nesta cidade novamente!!

- Não grite, boneca. De qualquer forma, não perca seu tempo. Já estou deixando a cidade, e perfumaria era apenas um hobbie pra mim. De qualquer modo, tenha um bom dia, lindeza! Até breve!

Despedindo-se com uma piscadela para a moça, Suigetsu deixou o corredor em seguida, pulando uma mureta à frente antes de sumir do campo de visão de Karin.

Nunca antes, em toda a sua vida, se sentiu tão desrespeitada. Aquele abusado não sairia ileso depois do que fez. Trêmula de raiva, ela tocou os lábios que ainda queimavam pelo beijo intenso, e isso a estava sufocando. Em seguida, Rin surgiu no corredor, tão assustada quanto de costume, aproximando-se da ruiva com evidente preocupação em seus olhos arregalados.

- Milady, você está bem? Eu escutei a senhorita gritar!

- Tudo bem, Rin. Eu já resolvi o que precisava resolver. – disse ela lutando para manter a compostura e disfarçar os lábios avermelhados. Não adiantaria nada dizer a Rin sobre o ocorrido, tão pouco levar o caso as autoridades locais. Naruto acabaria sabendo e isso poderia complicar sua situação. Apesar da raiva, tinha que admitir que o melhor a se fazer era deixar de lado.

- Mas a senhorita estava falando com alguém? Quem?!

- Sim, estava. Achei o patife que nos deu os perfumes e o coloquei em seu devido lugar. Tenho certeza que ele nunca mais enganará ninguém com seus truques baratos...

- E pra onde ele foi, Milady? – Perguntou Rin enquanto olhava atentamente ao redor.

- Ele fugiu... Ficou tão envergonhado que saiu correndo. Agora deixe de me importunar e vamos logo sair daqui, antes que o Marquês note a nossa ausência!

Karin apressava-se em deixar o corredor na companhia de Rin, e, apesar da discussão não ter de nenhuma forma saído como imaginou, ao menos havia sido solucionada. Já quanto aos detalhes sobre o que aconteceu, aquele seria um vergonhoso segredo que ela compartilharia apenas com o crápula que a atacou e as paredes sujas daquele corredor imundo. Talvez, quem sabe, assim que passar mais a sua raiva, ela não repense sobre os detalhes do ocorrido quando estivesse a sós?

xxx...

Depois da maçante manhã em busca daquele que seria o vestido perfeito para o casamento, Hinata optou por tirar suas medidas para que Lady Yuuhi pudesse fazer um vestido que fosse único e atendesse todas as suas exigências. Apesar de Sakura considerar desnecessária toda a experimentação excessiva quantos aos demais vestidos, ao menos Hinata parecia satisfeita. O vestido ficaria pronto na semana do casamento, um prazo urgente talvez, mas tudo já estava encaminhado, o que era mais importante.

- Você deveria já pensar no seu próprio vestido, Lady Sakura. Afinal, seu casamento também acontecerá em breve. – disse Hinata em meio a um gentil sorriso, enquanto as duas caminhavam tranquilas pelo Jardim Central até o ponto marcado para encontrarem a carruagem.

- Bem, eu não estou com tanta pressa... – respondeu Sakura em mesmo tom amigável, atentando-se mais aos detalhes da vegetação de folhas secas ao redor, do que a própria conversa.

- Mas vocês já devem ter uma data prevista, não é mesmo? Ouvi Naruto dizer que o Duque parecia ter certa pressa quanto a cerimônia. Isso é tão bonito!

- Você acha? – perguntou Sakura, voltando finalmente sua atenção para a moça ao seu lado.

- Sim, claro. Desculpe parecer intrometida, mas é bem visível os sentimentos do Duque pela senhorita. Na verdade, me lembra bastante quando eu e Naruto nos conhecemos.

As bochechas de Hinata ruborizaram ligeiramente, e agora ela esboçava um discreto e tímido sorriso motivado por suas lembranças quanto ao Marquês. Aquilo era no mínimo curioso.

- Hinata, posso fazer uma pergunta um pouco estranha? – disse Sakura em tom receoso, o que fez a Hyuuga atentar-se ainda mais a conversa.

- Sim, claro.

- Bem... como você soube que estava... apaixonada?

Ao terminar a frase, Sakura mal podia acreditar no que acabara de dizer, e agora seu rosto queimava, suplicando internamente para que Hinata não suspeitasse de uma pergunta tão estúpida, mas ao contrário, Hinata apenas sorriu, baixando a cabeça ligeiramente.

- Bem, eu não tenho tanta certeza. Na verdade, minha irmã mais jovem e meu primo já me perguntaram a mesma coisa, talvez por conta das circunstâncias em que encontrei Naruto pela primeira vez. Ele invadiu meu quarto durante minha hospedagem numa estalagem de beira de Estrada. Uma longa história, mas pelo o que entendi, ele estava sendo perseguido por alguns homens depois de um mal entendido. Trapaceando num jogo de cartas, se não me engano. Ele se escondeu no meu armário e eu o dei cobertura, depois passamos boa parte da noite conversando até que as coisas estivessem calmas o suficiente para que pudesse sair. Eu sei que é estranho e até mesmo absurdo, assim como não acredito que superei minha timidez ao falar com ele, pois tudo acontecia tão rápido... mas... a forma como ele me olhava, tão alegre e genuíno, acho que foi o suficiente para eu me encantar por ele. Depois daquele dia nós nos encontrávamos com uma frequência enorme, e meu coração palpitava desenfreado todas as vezes que aqueles olhos azuis estavam em mim. Era como se houvessem milhares de borboletas em meu estômago e, quando estávamos juntos, eu sentia que nada mais importava. Bem, ainda é assim até hoje, e eu sei que com o Naruto é a mesma coisa.

Sakura baixou o olhar por um instante e, apesar de realmente achar absurda a forma como Naruto e Hinata se conheceram, tinha que admitir que ao menos os sentimentos entre os dois eram reais, assim como era tocante ouvi-la falar tão abertamente assim deles. No entanto, ela foi surpreendida com o suave toque da Hyuuga em seu braço, mantendo seus olhos cinzas e brilhantes atentos.

- Da mesma forma como já vi o Duque olhar pra você!

Aquilo pareceu pegar Sakura de surpresa, ao qual sentiu seu rosto arder de vergonha diante de tais palavras ditas assim, tão imediatamente.

- A-Acha mesmo?

Hinata sorriu de forma mais aberta, encarando Sakura com suavidade.

- Sim. Todo mundo percebeu isso. Está nítido. Ficou ainda mais claro quando ele partiu desesperado para lhe salvar daquele trágico dia, com o ataque dos lobos. Os sentimentos do Duque e os seus são discretos, mas sem sombra de dúvidas existentes. Isto é algo que qualquer bom observador pode ver.

As expressões de Sakura se tornaram suavemente surpresas, e ela parecia refletir em cada palavra dita por Hinata, - ao qual jamais antes observara - e de repente ela sentiu-se como uma tola por achar que haveria alguma razão em tudo o que ouvira. De qualquer modo, ela não gostaria de pensar sobre isso agora. A razão não permitiria. Ela não deveria fantasiar “sinais” que, para ela, claramente não existiam.

- Obrigada, Hinata. Sabe, hoje a manhã foi bem diferente do que de costume, mas muito agradável. Fico feliz pelo seu convite. E sinceramente? Naruto não poderia ter escolhido alguém melhor para ser sua noiva, pois você é tão gentil, delicada, paciente e amável... Admito que muitas vezes eu gostaria de ser assim. De qualquer modo, tenho certeza que cuidará tão bem do Marquês quanto ele cuidará de você.

Os olhos da Hyuuga ganharam um brilho notável e suas bochechas coraram. Sem dúvidas, ouvir aquilo de Sakura era reconfortante e um sinal de que conseguiria nela aquilo que jamais teve antes: uma amiga.

- Obrigada, Sakura... Mas saiba que você possui sim sua delicadeza, além de ser uma mulher forte, determinada e admirável. Eu também gostaria de ser assim como você.

- Ouvir isso me parece bem absurdo! – dizia Sakura diante de um riso abafado – Mas isto serve como aprendizado. Temos muito o que aprender uma com a outra e quem sabe ter sua companhia não me ensina a ser mais paciente com as situações diárias? Mas sinceramente, acho que não combina muito comigo.

As duas moças se divertiam abertamente com a conversa, no entanto, uma voz masculina chamara de imediato a atenção de ambas, que se viraram para observar de quem se tratava, e a surpresa não poderia ser mais desagradável para Sakura.

- Mas olha só o que temos aqui!

- Lorde Akasuna. Que desprazer vê-lo tão cedo.

- Lady Sakura. Pelo visto sua aparência encantadora ainda não condiz com seus “bons modos”. – disse o ruivo enquanto se aproximava, manejando sua bengala com maestria sobre a calçada de ladrilhos em que seguiam.

- O que quer?

- Calma, senhorita. Eu a vi passando e achei apropriado vir lhe dar os parabéns por seu noivado. Confesso que a notícia me deixou surpreso, mas acredito que fiquei mais conformado ao descobrir que se tratava do herdeiro do Duque, aquele quem teve direito á sua mão.

- Sakura, quem é este senhor? – perguntou Hinata assustada, ao qual foi logo interrompida pela rosada que se pôs à frente.

- É apenas um estorvo. Nada mais do que isso.

- Justo você achar isso de mim, afinal, sou apenas um aristocrata de classe média. Meus galanteios lhe irritam, mas parece que se tratando do Duque, tudo já lhe é suficiente e aceitável. Afinal, Milady, eu não lhe era interessante só por minha falta de título? Aquilo que o Duque tem que eu não tenho por acaso seria justamente a riqueza??

Alcançando o limite de sua paciência e motivada apenas pela irritação do momento, Sakura desferiu um soco imediato e certeiro contra o rosto do ruivo que, sem defesa ou ao menos esperar por aquilo, tombou pelo barranco, rolando pela ladeira lamacenta de grama e terra até despencar no lago abaixo, ao qual permanecia inerte e parcialmente mergulhado nas águas esverdeadas.

- Isso é pra você aprender a não se intrometer em um assunto quem em nada lhe diz respeito. Se nunca aceitei seus galanteios é porque você é um ridículo! Fique com os sapos e girinos que é o seu lugar!! – Ofegante e massageando o próprio punho, Sakura voltou-se para Hinata ao seu lado, que observava tudo perplexa. – Como eu disse, delicadeza e refinamento são algo que não combinam comigo. Vamos indo.

xxx...

Uma fina garoa cobria os campos no exato momento em que a carruagem alcançou a propriedade da Senju, e o céu fechado comprometia o resto da manhã inteira, o que provavelmente se estenderia até a tarde, mas ao menos conseguiram voltar a tempo do Centro. As rodas finas de madeira atravessavam alguns buracos e cascalhos, sacudindo a carruagem ligeiramente até que está fosse freada pelo lacaio, trazendo assim um certo alívio as duas moças já enjoadas dentro da cabine.

- E eu sempre achei que o pobre Iruka é quem era o mau condutor.

Hinata riu de forma ruidosa do comentário da rosada, até avistar a porta da carruagem ser aberta pelo lacaio.

- Muito obrigada por aceitar me fazer companhia esta manhã, Lady Sakura. Foi muito proveitoso e divertido, até mesmo por ter golpeado aquele rapaz daquela forma. Só espero que não tenha problemas...

Sakura deu de ombros demonstrando seu total desinteresse quanto ao bem estar de Lorde Akasuna, e um pequeno e alegre sorriso debochado apontou em seu rosto.

- Não terei. De qualquer forma, agradeço eu pelo convite. Espero que tenha sido útil minha presença. Se precisar, me chame. Até mais, Milady. Leve meus cumprimentos ao Naruto.

Hinata assentiu gentilmente com a cabeça e Sakura, suspendendo as saias de seu vestido de forma que não a atrapalhasse, desceu a carruagem com pressa, atravessando a pequena entrada de terra até a varanda para escapar do sereno que estava cada vez mais forte. A carruagem partiu em seguida, sumindo de vista assim que atravessou os portões, e quando Sakura acreditou finalmente que poderia se jogar em uma das poltronas na sala e aproveitar o resto daquele dia preguiçoso, logo abandonou a ideia ao ouvir Tsunade berrar seu nome no interior da casa.

- O que é?! – respondeu a jovem impaciente, adentrando o corredor que levava até a primeira sala da casa, onde Tsunade estava sentada com as pernas esticadas e os pés apoiados em um tamborete.

- Finalmente você chegou! – Disse a loira com certo ânimo, mas sem mover um músculo se quer do local onde estava acomodada. – Recebi uma visita do mensageiro da duquesa. Ela e o jovem Sasuke nos convidam para um jantar formal, onde ele pedirá a mim oficialmente a sua mão. Esteja pronta cedo, não quero me atrasar.

- Está falando sério? Quer dizer... Eu não tenho o visto desde o casamento de Ino, então isto pra mim é uma surpresa.

- Não deveria. Se ele quer mesmo a sua mão tem que me pedir primeiro. E ele que não vá achando que facilitarei as coisas pra ele! Se acha que só porquê somos falidos ele pode tomar qualquer decisão quanto a você, está muito enganado!

Sakura suspirou profundamente, procurando conter o riso. Se continuasse ali, provavelmente a ouviria falar até mais tarde, e nisso não tinha qualquer interesse.

- Certo. A senhora tem toda razão, mas já que ele preparou um jantar com esta finalidade, que assim seja. Se me der licença, vou subir pro meu quarto.

- Não se atrase pro jantar! – gritou Tsunade antes que Sakura deixasse a sala.

- Não correrei esse risco. – respondeu a moça antes de finalmente subir as escadas.

xxx...

Sasuke estava nervoso. Caminhava por toda a sala numa ansiedade que não cabia em si, examinando a cada minuto alguma das janelas da casa em busca de qualquer sinal, mas não havia nenhuma presença em seu jardim silencioso que acusasse a aproximação de Sakura e a senhora Tsunade. Por falar “nela”, era estranho reagir assim, mas ultimamente percebeu que sempre ficava inquieto quando estava a espera da jovem moça, e talvez o maior nervosismo se dê a importância daquela noite em si, e levando em conta que Sakura já estava quinze minutos atrasada só o ajudava a revirar-se do avesso. Respirou fundo ao perceber que uma criada entrava na sala de jantar para dar algum último retoque à mesa, e disfarçando o incômodo, esperou que a mulher saísse para passar a mão no rosto de forma impaciente. O jantar já estava praticamente pronto e elas ainda não haviam chegado.

Atravessou a sala de jantar, batendo a bengala no chão para melhor apoiar o tornozelo, mesmo que já estivesse bem fisicamente, se comparado a antes, mas a duquesa insistia que continuasse a usar a bengala para não se esforçar tanto, e alcançando a outra sala, viu sua mãe descer as escadas, deslumbrante em um elegante vestido preto de mangas longas. Suas vestes ainda não haviam abandonado o luto, mas suas expressões estavam cada dia mais acesas, e ela abriu um lindo sorriso ao ver o filho, aproximando-se de seu caçula para admirá-lo.

- Quanta elegância! É uma pena que tenha puxado completamente para mim, mas ainda assim me trás lembranças de seu pai. – dizia ela à frente de seu filho, enquanto estendia suas delicadas mãos para endireitar-lhe a gravata.

- Itachi é mais parecido com ele. – respondeu Sasuke, observando os discretos sinais do tempo já presentes no rosto de sua mãe, mas que ainda assim não perdera sua habitual beleza.

- Sim, é verdade. Itachi, aparentemente, é completamente o seu pai, mas sua personalidade é igual a minha. Já você tem o mesmo temperamento do Duque, assim como o bom senso e a grande capacidade para tomar decisões.

- Nem sempre tão sensatas.

Rindo do comentário do filho, a duquesa ajeitou-lhe também o casaco preto, endireitando sobre os ombros e alinhando a camisa branca por dentro do colete.

- Nervoso?

- Um pouco.

- Kakashi disse que esteve inquieto a tarde inteira e achou que fosse por causa da chuva, com medo de que não parasse a tempo para o jantar.

- Kakashi sempre muito observador. Até demais.

- Ele conhece bem você. Se duvidar, melhor do que eu.

Colocando uma teimosa mecha de cabelo para trás do rosto do filho, a duquesa sorriu diante de seu caçula ao ver o belo homem em que este se tornara, a fazendo lembrar da época em que o arrumava ainda quando garoto para irem à igreja. Sem dúvidas, o tempo passou rápido demais.

Uma batida na porta fez com que os dois Uchihas se virassem para Kakashi, que já adentrava a sala, estando parado em frente ao batente.

- Milorde e duquesa. Madame Tsunade e Milady Sakura acabam de chegar.

- Ótimo, Kakashi. Diga que já estamos indo. – respondeu a Duquesa.

Com um aceno, Kakashi deixou a sala, e tanto Sasuke quanto sua mãe já se preparavam para recebe-las.

- Boa sorte. – Sussurrou Mikoto para o filho de forma que somente este a ouvisse.

- Obrigado. – respondeu ele em meio a um sorriso amarelo. – Estou preparado.

A porta dupla de carvalho envernizado foi aberta por Kakashi, dando passagem para a jovem moça, e nesse instante Sasuke teve certeza de que não estava preparado como imaginou.

A sala pareceu ganhar mais vida com sua genuína presença. O cabelo rosado perfeitamente preso em um impecável coque, e a pequena figura vestia um lindo vestido cor de pérola, com saia bufante e mangas que pendiam pelos ombros nus, em sua suave pele rosada. O pescoço estava livre de qualquer adorno, mas ainda assim sua curva até o ombro chamava a atenção, sendo até mesmo tentador. Os olhos brilhavam ofuscante sobre a luz do candelabro da sala, e os lábios rubros, assim como as delicadas bochechas, davam a ela o ar gracioso que sempre tinha. Sentindo engolir em seco toda a confiança que criara, Sasuke se viu sem reação por um instante, até que Sakura estivesse a sua frente para cumprimenta-lo.

- Boa noite, Milorde Uchiha.

Após piscar os olhos por alguns instantes, ainda totalmente atônito, finalmente pôde reagir ao estender a mão para apanhar a da jovem adiante, ao qual inclinando-se, levou seus lábios com delicadeza a superfície daquela mão pequena e delicada.

- Boa noite, Milady. Estás encantadora...

- Obrigada. Também está verdadeiramente belo esta noite.

Após receber o caloroso beijo do rapaz, ela se inclinou num cortês e feminino cumprimento, até que sua atenção se voltasse para a Duquesa.

- Boa noite, duquesa Uchiha.

- Boa noite, querida! Entrem e fiquem a vontade! – disse a duquesa ao abraçar a jovem calorosamente, depois de cumprimentar Tsunade.

- Perdoe-nos por nosso atraso. – indagou a loira que estava igualmente exuberante. – Houve um pequeno imprevisto na estrada, mas felizmente tudo deu certo. Espero não ter chegado muito tarde.

- Oh, céus! Claro que não, chegaram bem a tempo! A estrada fica realmente um caos durante esta estação, não é mesmo?

Ao lado de Sakura, Sasuke inclinou-se ligeiramente, sussurrando para a mesma.

- O que houve?

- Perdoe-me pelo atraso. – respondia a jovem em mesmo tom. – Tsunade vive me apressando tanto que se esquece dela, e acabou sendo o motivo da demora ao se vestir. Mas é claro que criaria uma desculpa.

Sasuke riu baixo, procurando conter-se.

- Certo. Alguma novidade?

- O de sempre. Acompanhei Lady Hyuuga Hinata até o centro esta manhã e acabei socando a cara de um patife. Longa história.

- Sério mesmo?

- Vamos entrando? – indagou a duquesa, tomando à frente. - O jantar já deve estar servido.

- Lhe conto outra hora... – sussurrou Sakura em mais baixo tom, antes de se por a acompanhar a duquesa e Tsunade, seguida de Sasuke.

Rumando na direção da sala de jantar, todos se acomodaram na elegante e farta mesa retangular repleta de pratarias, bandejas contendo as mais diversas frutas e taças de vidro fino. Puxando a cadeira para Sakura, ele a esperou sentar antes de ocupar o espaço livre ao lado, estando Tsunade à frente e Mikoto sentada na ponta.

Não demorou para que Kakashi surgisse, preenchendo as taças com vinho para o saboreio dos presentes, uma ótima forma de abrir o apetite. Tomando a taça em mãos, Sasuke a ergueu, pronunciando-se para seu breve comunicado.

- Quero agradecer pela sua presença nesta noite, Madame Senju, assim como a presença de Milady Sakura. Perdoem-me pela urgência do convite entregue em cima da hora, mas eu tive a necessidade de preparar este jantar para deixar claro as minhas intenções com Sakura, tal como reforçar nosso enlace para o matrimônio ao qual desejamos realizar em breve. Diante desta oportunidade ao qual estamos aqui reunidos, desejo pedir a senhora, Tsunade Senju, a permissão para que me case com sua filha, assim como desejo sua bênção.

Direcionando a taça para a Senju a sua frente, Sasuke manteve-se em sua postura impecável e formal, enquanto que Tsunade, diante da expressão séria que mantinha, finalmente esboçou um sorriso que serviu como alívio imediato para o Uchiha.

- Eu e Sakura já conversamos sobre isso. Esclarecemos dúvidas e deixei claro minha opinião. Sakura sempre deu muito trabalho desde pequena, principalmente se tratando de relacionamentos, mas, levando em conta a profundidade que o envolvimento entre vocês alcançou e a forma como vejo Sakura empolgada, tendo sua palavra de que a fará feliz, eu dou sim a minha bênção. Só quero que cuide bem da minha pequena encrenqueira, assim como eu tenho certeza que ela cuidará bem de você, rapaz.

Sakura estremeceu. Diante de todas as possibilidades do que Tsunade responderia, desde um simples “tudo bem” até a resposta mais vergonhosa, ela não esperava palavras tão sinceras e tocantes. Sentiu um aperto enorme, pois sabia a farsa que estava vivendo. Desde o princípio estava ciente, mas nunca pensara em como isto poderia afetar Tsunade, ainda que indiretamente. Por um instante ela tivera a certeza de que decepcionar aquela mulher com o futuro divórcio era algo certo.

Sasuke inclinou a cabeça, antes de levantar a taça novamente.

- Agradeço sua confiança, Madame Senju. Que brindamos a esta nova fase, a este noivado agora oficial, e a um futuro e breve matrimônio.

- Que brindamos!

Tomando em mãos cada um sua taça, brindavam então o momento, sorvendo em pequenos goles o apreciativo vinho. Sakura ainda estava tensa, mal experimentando a bebida, até ser surpreendida pelo suave toque da mão de Sasuke a cobrir-lhe a sua, segurando com gentileza. De alguma forma, ele havia percebido seu nervosismo, mas agora, sentindo o calor reconfortante de sua mão, seus medos sumiam aos poucos de sua mente, trazendo-lhe novamente a determinação que precisava.

Mikoto sorria num misto de emoção e orgulho, e após secar o canto dos olhos com um guardanapo, ela voltou-se para o filho, indagando.

- Agora que este noivado é oficial, quando pretendem se casar?

- Isso mesmo. – completou Tsunade com evidente interesse – Isto tem sido meio que um segredo.

Sasuke riu gracioso, antes de responder as duas mulheres que o observavam, sem ainda tirar sua mão sobre a de Sakura.

- Pretendemos que seja em breve. Acho que não há necessidade de esperar tanto. Acredito que até a metade do mês seguinte. Ainda preciso ir ao cartório para cuidar do registro, mas não pretendo fazer uma cerimônia lá.

- E temos a questão da cerimônia também. – disse Mikoto com certo entusiasmo nos olhos.

- Não pretendo realizar uma cerimônia grande. Não acho necessário... – indagou Sakura com receio, encolhendo-se em seus ombros diante o evidente desconforto. A festa era o último detalhe que desejava pensar.

- Bobagem. Todos esperam uma festa, afinal, Sasuke será o futuro Duque de Greenleaf!

- Tsunade tem razão. – completou Mikoto. – E pelo visto não temos muito tempo para dúvidas.

- Veremos isto em outra ocasião e com mais calma. Não faltará oportunidade. – concluiu Sasuke.

A figura elegante de Kakashi adentrou a sala, aproximando-se com cuidando da mesa e chamando a atenção dos presentes.

- Perdoem-me, mas se me derem licença, o jantar já será servido.

- Perfeito, Kakashi. Permita que entrem, por favor.

Acatando a ordem da viúva, o mordomo se retirou em seguida, até que os demais criados adentrassem a sala de jantar, carregando cada um uma bandeja reluzente de prata.

- Senhoras e meu senhor, permitam agora que a refeição seja servida. Quero que aproveitem e saboreiem o cardápio preparado especialmente para esta noite, sendo a entrada de: Peitos de vitela e ave ao Curry com arroz cozido. Para o prato principal: Sopa à la Reine, badejo gratinado e bacalhau crocante com molho de ostras. Espero que estejam servidos, e claro, deixem espaço para a sobremesa.

Os pratos foram servidos, e estes já tomavam a sala com seu delicioso aroma. A refeição seguiu calma e prazerosa, com pratos de se encher os olhos e levar o paladar ao mais genuíno dos paraísos.

- Meu Deus, mas este bacalhau com molho de ostras está divino! Adoraria que Shizune preparasse outra hora, mas a pobrezinha não tem muita prática em cozinhar.

- Sério? – indagou Mikoto com uma surpresa inocente, limpando suavemente o canto dos lábios com o guardanapo e voltando-se novamente ao vinho. – Acredito que temos o bastante aqui, então, se desejar, podemos lhe conceder um pouco para que possa estar levando em sua viagem de volta para casa.

- Ador-

O chute de Sakura foi certeiro por baixo da mesa, fazendo Tsunade dar um pequeno sobressalto em seu assento, diante do susto. Sakura encarava a loira de forma firme, o que era um sinal claro de seu descontentamento. É claro que estava demorando para Tsunade envergonha-la de alguma forma, durante o jantar.

- Não se preocupe, duquesa. Lembrei que ostras demais me fazem mal... – retrucou a loira diante do pretexto inventado.

- Tem certeza? Posso pedir que retirem o molho.

- Não, não se incomode, duquesa. Madame realmente não pode exagerar com peixes e frutos do mar de nenhum tipo, mas obrigada mesmo assim. – insistiu Sakura em meio a um sorriso forçado e sem jeito.

- Sendo assim, tudo bem. – respondeu a Duquesa sem muito entender.

- Mas mudando de assunto, sua casa é esplêndida, duquesa, ainda mais totalmente iluminada desta forma. A decoração é magnífica!

- Muito obrigada, Madame Senju. Confesso que tive enorme trabalho para decorar esta casa, e modéstia a parte, estou orgulhosa de meu trabalho. – respondia a duquesa enquanto esbanjava alguns risinhos baixos, lisonjeada pelo elogio de Tsunade.

- Nisso eu tenho que concordar. – continuou Sakura, participando da conversa. – A casa também é bem grande e receptiva.

- Oh, sim. Aqui é bem grande. A casa pertencia aos pais de meu marido, e quando ele assumiu o posto de Duque, construiu ainda mais quartos. Seu sonho era que os filhos e suas esposas morassem conosco, assim como os futuros netos. Bem...é triste que não tenha sido como ele queria. Logo Itachi saiu de casa em busca de suas aventuras e...no fim só resta a mim, Sasuke, Kakashi e nossos fiéis criados. Mas não posso reclamar de nada.

- O pequeno Itachi? Lembro-me dele das manhãs durante a missa ou no parque. Realmente ouvi rumores, mas nunca mais o vi depois que partiu. Deve estar um homem feito. – Indagou Tsunade, observando uma serviçal retirar os pratos e talheres sujos.

- Sim, ele teve seus motivos. Mas tenho certeza que ele voltará ainda. Quem sabe para o casamento de seu irmão.

Sasuke tocou a mão da mãe com suavidade e trazendo-lhe reconforto, ao qual retribuiu sua carícia. Ele sabia a dor que ela sentia pela ausência de seu irmão, e por isso deveria permanecer ao lado dela, custe o que custar.

- Bem, continuando com o assunto passado, a casa é realmente grande e, como Sasuke disse que você gosta de ler, acho que adoraria conhecer a nossa biblioteca, Sakura.

- Uma biblioteca?!

Os olhos de Sakura se arregalaram, tomados por um brilho genuíno, e ela parecia uma criança surpresa sem saber pra onde olhar.

- Sim, esqueci de falar pra você. – respondeu Sasuke em meio a um sorriso. – Pra ser sincero, deveria ser surpresa.

- Meu Deus, como pôde me esconder isso? – continuou a rosada em tom divertido.

- Um erro terrível, Sasuke. Agora essa menina vai atormentá-lo enquanto você não mostrar a ela.

- Sendo assim, Sasuke, não a torture mais. Mostre a ela.

Diante do sorriso incentivador da mãe, e a ansiedade de Sakura, Sasuke levantou-se seguido da jovem, ao qual a guiou para o lado leste da casa. Seguindo pelo breve corredor iluminado e cheio de quadros que se estendiam, parou assim que alcançou uma nova porta dupla, desta vez mais estreita, sendo a última no corredor.

- Esta biblioteca foi criada por meu pai, e ele passava boa parte de seu tempo aqui, lendo seus livros. Na verdade, esteve fechada desde que adoeceu, por isso não repare na poeira.

- Acha mesmo que isso vai me incomodar? De jeito algum!

Sasuke sorriu e assentiu com a cabeça antes de abrir a porta, revelando a imensidão de livros nas enormes prateleiras, bem mais do que Sakura já viu em toda a sua vida. Maravilhada e totalmente atônita, ela adentrou a luxuosa sala, observando cada detalhe ao seu redor, desde a cara tapeçaria persa no chão, até os móveis que decoravam o ambiente, almofadas, uma mesa, um lustre ao centro e uma única janela grande, ao qual Sasuke já tratava de abri-la, arejando o local com o ar frio de uma noite de outono.

- Fique a vontade. – disse o moreno para a jovem ainda maravilhada.

Direcionando-se as prateleiras, ela observava cada título dos livros, vendo as raridades a serem lidas.

- Aqui tem mais exemplares do que na própria livraria no centro da cidade! E...meu Deus... – puxando um dos livros na estante, ela tocou a capa como quem olha o maior dos tesouros a sua frente, até que seus olhos brilhantes se erguessem a Sasuke novamente.

- O que foi? – perguntou o Uchiha preocupado.

- Este livro...Ele é o meu favorito. Eu o lia sempre quando criança, mas a livraria acabou o perdendo. Conta a história do romance entre uma moça rica e um rapaz pobre que vivem um amor proibido por suas famílias até que eles decidem se suicidar para viverem seus sentimentos na eternidade.

Sasuke fez uma pequena careta de reprovação, enquanto Sakura parecia radiante ao contar a história.

- Me parece trágico.

- Um pouco. Mas a história linda e o único romance que me conquistou. – alguns risos baixos escapavam da moça que parecia estar pensando em algo, o que deixava Sasuke curioso.

- O que foi?

- Nada. Pensando bem, essa história se parece conosco, só que você é a moça rica e eu o rapaz pobre.

- Bobagem. – respondeu o rapaz em meio a uma gargalhada.

- Estou falando sério. Nunca leu este livro antes?

- Já ouvi falar. Estudava Literatura antes de voltar pra casa.

- Mesmo? Não me disse isso.

Sasuke deu de ombros.

- Em outro momento. Você também precisa me dizer o por que de ter socado alguém, quando esteve no centro hoje.

- Longa história, mas como eu disse, era só um patife. Mas me diga, qual a sua parte predileta?

- No livro?

- Sim!

- Não me lembro. – respondia o rapaz, optando por se sentar em um pequeno sofá em meio a sala, já que ficar muito tempo de pé o incomodava por conta do tornozelo.

- Então releia. Quem sabe não se lembra?

Sakura sentou-se ao lado dele, oferecendo-lhe o pequeno livro de capa verde com bordas em dourado.

- Agora? Como vou fazer?

- Abra em qualquer página e leia onde seu olhar cair. Gostaria de ouvi-lo.

Vendo que recusar-se seria inútil, Sasuke escorou a bengala contra a escrivaninha, apanhando o livro com delicadeza e o folheando. Um frágil cheiro de poeira se propagava, e ele observava as folhas passarem rapidamente, um tanto perdido, até que que seus olhos caíram sobre um pequeno parágrafo.

“- (...) Quem é aquela dama, que dá a mão ao cavalheiro agora? Ah, ela ensina as luzes a brilhar! ... Parece pender da face da noite como um brinco precioso da orelha de um etíope! Ela é bela demais pra ser amada e pura demais pra esse mundo! Como uma pomba branca entre corvos, ela surge em meio às amigas. Ao final da dança, tentarei tocar sua mão, pra assim purificar a minha. Meu coração amou até agora? Não, juram meus olhos. Até esta noite eu não conhecia a verdadeira beleza...

(...) Seus olhos irradiam, sua pele alva é intocável, seus lábios remetem a pura beleza. Uma maçã que pedes pra ser mordida. Ah, mas teus olhos... o farol que me guias no caminho que trajeto até ti. Não há estrela que se compare, pois eles brilham tão intensos quanto à lua com o sol a tocá-la. E pairados em mim neste instante, perco a minha consciência e minha razão...”

Erguendo o olhar para a moça, Sasuke podia ver aqueles enormes olhos verdes fixados nele, atentos a cada palavra que parecia maravilha-la a cada frase terminada.

– E eu não posso resistir de beija-la agora...

- Não me lembro desta parte no livro... – indagou Sakura em um sussurro, sentindo seu peito estufar a cada respiração profunda. Aos poucos perdia os sentidos e no estômago parecia haver as milhares de borboletas que Hinata contou, e de repente, nada mais importava ao seu redor, a não ser aqueles olhos negros e intensos a encara-la no fundo de sua alma, sem jamais desviar-se.

- É porque não está no livro... – respondeu o Uchiha em mesmo tom, e seu corpo era inclinado mais á frente, dominado pelos olhos arrebatadores de Sakura ainda a encara-lo, e seus lábios se aproximaram dos da moça, num ato completamente involuntário.

Sakura sentiu seu corpo tencionar, e sua mente parecia ter parado, tal como sua respiração. Seus músculos enrijeceram ao sentir o calor do Uchiha tão próximo de si, os olhos negros afundados nos seus, e se viu tomada pelo repentino desespero quando o viu se aproximar o suficiente para roçar seus lábios aos dela. Numa reação inusitada e indesejável, diante do desespero de quem jamais antes fora beijada e agora se via tão vulnerável, desejando algo que não era o certo, ela inclinou-se para trás de forma súbita, o que fez com que Sasuke também recuasse, assustado.

Os olhos de Sakura estavam arregalados e ligeiramente marejados. Sua respiração estava ofegante, mas foi a expressão surpresa e assustada que fez Sasuke sentir uma terrível vergonha, seguida por um profundo incômodo que o forçou a se levantar imediatamente, apanhando a bengala.

- Meu Deus, me desculpe...Eu não sei o que estava fazendo!

- Sasuke, não diga isso. Eu que...

- Não, Sakura. Por favor. É melhor nós irmos indo.

- Sasuke...

- Sakura, querida. Já está tarde, vamos logo!

A voz de Tsunade soando do outro lado do cômodo fez com que Sasuke se direcionasse a porta com certa urgência, desta vez parecendo evitar olhar Sakura nos olhos.

- Se gosta do livro, pode levá-lo. Dou a você de presente, mas é melhor irmos indo.

Fechando o livro com delicadeza e se maldizendo internamente, Sakura colocou o livro sobre a mesa ao lado e direcionou-se até a porta, passando por Sasuke. O rapaz mantinha uma expressão baixa e envergonhada, e, vendo que talvez não fosse o melhor momento, Sakura atravessou a passagem, rumando para o corredor enquanto era observada pelo rapaz inquieto, ao qual se remoía internamente.

- O que foi que eu fiz...


Notas Finais


Bem, queridas. Só pra esclarecimento, o primeiro trecho que Sasuke lê é uma referência a Romeu e Julieta, sendo extraído do livro, mas o segundo parágrafo já é de minha autoria, uma adaptação para se encaixar na história, então não será encontrada no livro original.

De qualquer forma, o que acharam da investida inesperada de Sasuke? E a reação de Sakura? Me digam o que acharam do capítulo nos comentários! Beijinhos e até a próxima!


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