Aquela manhã havia se tornado penosa e cansativa para todos os presentes, inclusive para Sasuke, que não pregara os olhos a noite inteira. O velório de seu pai se estendeu por toda a madrugada e, apesar da noite fria e um tanto chuvosa, ainda houve aqueles que se prestaram a estar presentes naquele doloroso momento de luto. Para o jovem Uchiha, ele já não sabia dizer o que era mais triste, o falecimento de seu amado pai ou a angústia inconsolável de sua mãe.
Durante o funeral, Sasuke precisou ausentar-se algumas vezes, dispersando-se pelo saguão principal da casa, onde o corpo de seu pai era velado, na intenção de que sua mãe não presenciasse seus olhos vermelhos quando as lágrimas se tornavam quase que insuportáveis em serem contidas, ainda mais ao ver o rosto entristecido da duquesa que mantinha-se a acariciar o esposo. Da forma como ela o encarava, Sasuke podia jurar que ela esperava o momento em que seu esposo abriria os olhos, sorriria cansado e a cortejaria, como sempre fazia ao vê-la pela manhã. Doloroso era saber que isso não se repetiria jamais.
Durante o enterro, sua mãe ainda não perdera a elegância de uma duquesa, mas Sasuke podia ver através da barreira invisível de sua postura, seu renomado título, e seu véu negro sobre a cabeça, que a pobre Mikoto desmoronava por dentro. Mas ela era esposa de Fugaku e carregava o sobrenome dos Uchihas. Demonstrar fraqueza, até mesmo num momento como este, não era opção. O enterro foi realizado um pouco antes das nove da manhã, e a família Uchiha, seus fieis criados e alguns amigos, reverenciaram e se despediram pela última vez do bondoso duque, antes de partirem de volta pra suas casas. O céu ainda estava fechado e cinzento. A chuva caia levemente, lavando lágrimas e lama, menos a dor e a saudade dos que ainda viviam.
xxx...
Um trovejo baixo ecoou pelo saguão, trazendo os pensamentos do jovem de volta a mente, enquanto ele refletia sobre os problemas que viriam. Depois de ter finalmente chegado a mansão, ele se recolheu no silêncio do salão principal, sentado num discreto banco ao lado da enorme escadaria, o mesmo local que costumava sentar quando criança para se refugiar das obrigações. Talvez este continuasse sendo o motivo pelo qual escolhera sentar-se ali. Naquela altura, os criados já haviam retomado seus afazeres, e os amigos e vizinhos que presenciaram o sepultamento também já haviam retornado as suas casas, enquanto que sua mãe finalmente subira para descansar. Sasuke peguntava-se quando iria ter vontade de fazer o mesmo.
- Talvez o senhor devesse deixar os tristes pensamentos de lado por enquanto, subir para tomar um bom banho e tentar dormir um pouco.
A voz suave e reconfortante ao seu lado fez Sasuke levantar o rosto que mantivera apoiado entre as mãos, avistando a figura grisalha adiante, mesmo através da vista embaçada pelas lágrimas e a ardência do choro que ele ainda buscava controlar.
- Eu estou bem. Só estou organizando meus pensamentos. Pode voltar ao seus afazeres, Kakashi. Obrigado...
Houve uma batida na porta principal do outro lado do salão e Kakashi apressou-se para atendê-la, deixando de lado sua incansável tentativa de fazer o jovem Sasuke recompor-se. Ele atravessou o espaçoso salão até alcançar finalmente as ilustradas maçanetas da enorme porta dupla de carvalho, interrompendo-se para endireitar a postura, agora impecável, e abriu a porta de modo cortês, espantando-se ao ver quem era. A figura indesejável de sempre e que não tardou em aparacer naquele momento. O homem de longo casaco vermelho escuro, e com uma vasta cabeleira negra amarrada em um comprido rabo de cavalo, atravessou a enorme entrada sem se dar ao trabalho de cumprimentar Kakashi, girando sua bengala com maestria e retirando o chapéu, analisando minuciosamente o interior escuro do salão.
- Lorde Uchiha Madara, é um prazer em vê-lo. - dizia Kakashi num alto tom de voz, mas com uma falsa reverência.
- Posso dizer o mesmo, Kakashi. - dizia o homem de meia idade, que alegrou-se ao avistar a figura de Sasuke levantando-se do canto da escada. - Meu sobrinho querido, que tragédia que ocorreu nesta casa! Vim trazer minhas mais sinceras condolências neste doloroso momento!
A expressão no rosto daquele homem era fingida e teatral, mas era polida o bastante para convencer qualquer um que não o conhecesse bem, o que não era o caso de Sasuke, já que ele também sabia o motivo de seu tio estar ali. E não era pelo funeral de seu irmão mais novo. Sasuke o cumprimentou com um ligeiro aceno de cabeça, mantendo uma expressão dura e séria em seu rosto.
- Agradeço o senhor, meu tio, mas devo dizer que está um pouco atrasado. Meu pai foi sepultado esta manhã.
- Sim, é verdade, fiquei sabendo de um guarda lá fora. O tempo chuvoso não permitiu que eu me apressasse, por mais que eu ordenasse que meu lacaio chicoteassem os cavalos para que corressem. É uma pena muito grande não ter presenciado o enterro do meu irmão mais jovem. Onde está Mikoto??
Sasuke suspirou diante de todo aquele teatro, o qual certamente era a última coisa que desejava naquele momento, recostando-se sobre um dos pilares laterais que sustentavam o teto e ornamemtavam o salão, cruzando os braços a frente do peito. A impaciência agora dominava as expressões de seu rosto cansado, o que lhe fazia adotar uma postura mais ofensiva.
- Ela está lá em cima, descansando. Receio que ela não possa recebê-lo agora.
- Oh, sério?Bem, nesse caso... Já que a duquesa não pode me receber...
Madara recuava levemente enquanto voltava-se na direção da saída, sendo interrompido pela voz do sobrinho.
- Este é um assunto que só diz respeito a ela? Pois eu, como o futuro Duque de Greenleaf, posso muito bem estar cuidando de qualquer coisa em sua ausência.
O rosto de Madara foi tomado por uma súbita surpresa, e ele se virou para encarar os olhos frios e sérios do sobrinho. Sua voz falhou por um instante, antes dele absorver aquelas palavras.
- V-você? O Duque de Greenleaf? Pensei que Itachi era o único na sucessão. Ele não é mais velho do que você?
- É, mas ele não parece estar muito interessado, do contrário estaria aqui. Já você tardou, mas não falhou em chegar.
O velho Uchiha deixou com que uma leve risada lhe escapasse das narinas com claro ar de deboche, e caminhou brevemente pelo salão, manejando sua bengala enquanto era atenciosamente observado por Sasuke e Kakashi.
- É, vejo que seus anos morando no centro da capital afiou sua língua e o deixou ousado, ao contrário daquele moleque chorão que saiu daqui há anos da barra da nobre duquesa. Uma triste escolha de Fugaku, já que você é completamente o oposto de seu irmão, que seria um ótimo governante.
- Ouça bem se-...
Kakashi foi cortado por Sasuke que o interrompeu com um ligeiro aceno, saindo de sua posição e aproximando-se de seu tio. Os olhos altos e faiscantes não desviavam das expressões enrugadas do homem a sua frente nem por um instante, numa confrontação visual intensa.
- Tem razão. Itachi é de longe o mais indicado entre nós, mas ao ver do meu pai, ele preferiu deixar as coisas sobre o meu comando ao invés de confia-las a você, e acredito que este seja o mesmo pensamento do nosso rei.
Madara franziu o cenho, deixando a raiva arder em sua pele ao ser confrontado pelo garoto que não tinha metade de sua idade, mas ao pensar nisso, ele deixou a raiva de lado, expulsando-a de dentro de si após um longo suspiro, voltando a expressão cínica de sempre.
- É bem o tipo que faz o meu irmãozinho tolo. Sempre com suas crenças falhas. Confiar toda a fortuna, o título e o poder da família a um garoto como você? Diga-me, jovem Sasuke, você ao menos alcançou a maior idade para tomar posse?
Sasuke trincou fortemente o maxilar diante das provocações do tio, e controlou-se para não deixar de lado os bons modos que sua mãe tanto lhe ensinou na infância, resistindo a vontade de apanha-lo pelo colarinho e arremessa-lo para fora daquela casa. Uma ideia tentadora, afinal. No entanto, sua desgastante realidade o forçava ter que encarar aquele homem que se dizia da família, e o pior, dar uma resposta a ele.
- Se por algum motivo o que eu disse lhe incomoda, caro sobrinho, devo dizer que o rei inclinará facilmente em me por no comando, já que agora eu sou o mais viável a governança destas terras. Bem, deixe-me ver... - dizia ele enquanto contava nos dedos enluvados, com certo sarcasmo. - Por pelo menos três bons anos, já que pelos meus cálculos você deve ter dezessete anos, agora.
- Eu ainda posso não ter alcançado a maior idade para tomar a posse de meu título, mas sei dos direitos que possuo. Afinal, minha idade será revogada no exato momento que eu contrair matrimônio, já que aos olhos da lei e do Rei, um chefe de família não possui quaisquer impedimento para tomar posses ou controles de herança!
A resposta de Sasuke fora rápida, cortante e precisa, sendo recebida por seu tio de forma inesperada. De alguma maneira, o incrível Madara não havia pensado naquilo, abrindo um enorme espaço para ser confrontado e vencido diante de seus argumentos ofensivos, o que o fez engolir o bolo do amargor que descera ácidamente até o estômago, enjoando-o. Aquele garoto chegara ao ápice da irritância.
- Se não tem mais nada a dizer, meu caro tio, gostaria que se retirasse. Sugiro que possa estar indo agora mesmo até o rei para tentar persuadi-lo a todo custo de me impedir de tomar posse de meu título, mas lhe afirmo que seu tempo para isto é bem curto.
Madara permitiu que o ar lhe escapasse asperamente pelas narinas, dando as costas ao sobrinho e esbarrando-se em Kakashi, na direção da saída. Seus passos firmes ecoavam sobre a tapeçaria fina do saguão, até que o Lorde Uchiha alcançasse o assoalho livre de mogno, sumindo após atravessar a passagem da enorme porta dupla.
Assim que teve a certeza de que seu tio havia partido, Sasuke finalmente pôde respirar aliviado, deslizando as costas sobre a coluna e deslizando até o chão, onde caíra sentado, levando as mãos ao rosto e apoiando os cotovelos sobre os joelhos dobrados. Novamente um suspiro se seguiu e ele levou a mão destra até os cabelos, desalinhando-os até a nuca, ao qual encontravam-se completamente molhados de suor pelo nervosismo.
- Você foi bastante corajoso, jovem Sasuke. Poucos são os que tem estômago para encarar o Lorde Madara. Ele sabe muito bem como ser indesejável e inconveniente.
- É, ainda bem que nem chegou a incomodar a minha mãe. Peço que ela não tenha conhecimento da presença dele por enquanto. Deixe-a descansar em paz...
- E quanto a você, jovem Sasuke?
Sasuke ficou em silêncio por um instante, pensativo. Mesmo que ainda estivesse tenso e nervoso pela discussão com seu tio, tinha que admitir que ele estava certo. Sasuke ainda era muito jovem e até mesmo seu pai sabia que, para assumir a herança, ele deveria se casar o mais breve possível. Foi por isso que ele tanto lhe pediu. Sasuke engoliu seco e coçou os olhos com as costas das mãos, voltando-se para Kakashi e encarando-o do chão, ainda sentado.
- Acho que agora vou tomar aquele banho e tirar aquele cochilo...
xxx...
Depois de muito esforço, que quase se tornaram em vão, finalmente Tsunade conseguira arrancar Sakura de seu quarto e convencê-la a lhe acompanhar até ao centro da cidade, com a promessa de que lhe compraria mais livros na volta, já que a mesma vivia a reclamar de que todos os que haviam na casa ela já teria lido pelo menos duas vezes. O dia estava úmido e as densas nuvens bloqueavam a passagem dos raios de sol, tornando aquela manhã cinzenta, como de costume naquela época do ano. As estradas estavam lamacentas por conta da chuva que teimara ainda pela manhã, mas as duas seguiram para o centro em sua carruagem enferrujada, guiada pelo fiel Iruka, outro criado da casa que recusava-se a deixar seu posto, mesmo sem receber seu salário corretamente. Sakura suspeitava que o rapaz não deixasse o trabalho por conta de Shizune, ao qual ele cortejava silenciosamente quando os dois estavam pelos cantos, mas não se atrevia a dizer nada a Tsunade. Era um segredo que ela dividia com os dois, mesmo que eles não soubessem de seu conhecimento sobre o caso.
O caminho foi silencioso, diante apenas dos solavancos da carruagem sobre os buracos na estrada, ao qual Tsunade geralmente costumava reclamar, porém, ela estava estranhamente quieta naquela manhã e elegante no seu belo e favorito vestido verde com flores bordadas em tom de prata, que ela normalmente usava em ocasiões mais especiais. Ao contrário de Sakura que, apesar da relutância de Tsunade em obrigá-la a se vestir de forma melhor, acabou saindo com seu simples vestido azul celeste da mesma cor da fita em seu cabelo, ao qual os prendiam atrás da nuca. A cara emburrada estava sempre presente e ela encarava Tsunade com desconfiança.
Depois do longo trajeto finalmente chegaram ao centro, onde Sakura já podia ouvir o som dos cascos dos cavalos sobre as ruas de pedras bem ladrilhadas, assim como a movimentação crescente de rodas, passos e vozes. Os jardins permaneciam com o mesmo tom verde, a melhor parte do centro, além dos pequenos postes à lamparina que espalhavam-se ao longo das ruas, e a bela fonte localizada no centro do jardim, bem no meio da pequena cidade.
Freando os cavalos, Iruka ajudou Tsunade a descer, acompanhada de Sakura que saltou da carruagem em seguida, animando-se ao avistar a enorme livraria do outro lado da rua, quase ocultada pelas lojas de chapéus e perfumes ao lado, que por sua vez, possuíam o triplo de fregueses.
- Nem pense em se afastar agora! - dizia Tsunade envolvendo sua manta em torno dos ombros e puxando um pequeno relógio de bolso de dentro do decote avantajado. - Primeiro, desceremos ao porto.
- Mas e quanto ao prometido??
- Não teime e me acompanhe logo.
- Não sei o que quer com este maldito porto!
- Cuide do vocabulário, mocinha. Não é próprio para uma dama!
Sakura revirou os olhos mas acompanhou Tsunade até o fim da rua, onde o movimento crescente de pessoas amontoadas cobriam todo o espaço para se locomoverem. As duas atravessaram a multidão de operários e mercantes a negociarem aos berros, até avistarem o momento em que o enorme navio já atracava ao porto, sendo recebido com bastante euforia pelos trabalhadores. A grande rampa foi descida e as pessoas já deixavam a enorme embarcação uma a uma, sendo observadas de forma atenta pela ansiosa Senju.
- Vamos, vamos... cadê você... - sussurrava ela, olhando por cima dos vários ombros e observando alguns homens que ainda desciam.
- O que você disse? - perguntou Sakura, torcendo o nariz.
- Nada. - respondia Tsunade, balançando seu leque de forma nervosa a se abanar.
- O que estamos esperando, afinal??
- Boas notícias. - retrucava Tsunade, ainda sem desviar sua atenção da rampa do navio.
- Pra quê?
Sakura franziu a testa sem entender bem o que Tsunade lhe dizia, ainda mais pela algazarra que os mercantes e seus criados faziam em meio ao porto. Dando de ombros, ela chegou a conclusão de que, seja lá quem fosse que a Madame estivesse esperando, não lhe interessaria em nada. A jovem rosada deu meia volta, varrendo o local tumultuado com os olhos, pensando o que poderia fazer enquanto esperava, até avistar em meio a bagunça três crianças que acenavam aos pulos, gritando seu nome.
- Senhorita Sakura!! Aqui, aqui!!
Sem pensar duas vezes, Sakura seguiu na direção das crianças, atravessando a parede de pessoas até alcançá-las e distanciando-se de Tsunade, sem que esta desse falta de sua ausência.
- Crianças, o que fazem aqui? - perguntava ela de forma branda, repousando as mãos sobre a fina cintura enquanto encarava os pequenos.
- Vim com meu avô ao porto. Ele disse que devo aprender sobre os negócios da família!
O pequeno Konohamaru era neto do Grande Mercante Sarutobi, um dos homens de grande influência daquela cidade, mas, apesar do honrado sobrenome, o menino era incrivelmente travesso, tal como suas inseparáveis companhias: a pequena e meiga Moegui e o melequento Udon.
- E estão sozinhos aqui? Cadê o senhor Sarutobi?
- Eu fugi do velhote. Ele é terrivelmente chato!
- Na verdade, estamos aqui para proteger a porquinha do abate! - dizia Moegui puxando a saia do vestido de Sakura e apontando para trás de alguns caixotes, onde havia um pequeno leitãozinho nos braços de Udon.
- O que vocês estão fazendo com esta porquinha?
- Escondendo ela. Meu vô disse que ela viraria assado hoje a noite, mas nós tivemos pena. Nós nos divertimos bastante com ela! - respondeu Konohamaru, certamente orgulhoso de seu feito ao esconder o pobre animal.
Udon aproximou-se com a porquinha no colo de forma que Konohamaru, Moegui e até mesmo Sakura pudessem acariciar sua pequena cabeça.
- E como vocês pretendem chamá-la?
- Ainda não pensamos nisso... - respondeu Moegui.
Tsunade mantinha toda a sua atenção focada na saída do navio, até finalmente se dar conta de que Sakura não estava mais por perto.
- Inferno de menina!!
A loira dava algumas voltas ao redor, procurando Sakura como se esta fosse capaz de se esconder até mesmo debaixo de uma pedra, até que uma jovial voz masculina chamara por seu nome. Virando-se num susto, Tsunade avistou o momento em que o sorridente rapaz descia a rampa, encarando-a com seus belos olhos azuis brilhantes e seus dentes brancos e perfeitos a mostra. Os cabelos louros do rapaz estavam altos e bagunçados, esvoaçando ao toque da mais leve brisa do mar, e ele largou sua sacola aos seus pés, abraçando a Madame com delicadeza enquanto a impregnava com seu cheiro salgado.
- Madame, quanto tempo!
Tsunade parecia surpresa com a presença do rapaz, mas logo retribuiu ao abraço, apertando-o de forma tão firme ao ponto de quase quebrá-lo, sufocando-o em seu vasto decote.
- Menino, como você cresceu! Está um verdadeiro homem, agora!
- Obrigado, madame! - O sorriso dele continuava de forma escancarada, enquanto ele recuperava o fôlego e endireitava a coluna. - Que bom que a senhora veio, estou muito grato. Veio só a senhora??
- Não. Vim com Sakura, mas essa menina teimosa já sumiu do meu lado!
- Ah, não se preocupe. Eu vou ajudá-la a procurá-la, afinal, não deve ser difícil de achar aqueles cabelos rosados por aqui, não é mesmo?
Sakura ainda estava junto com as crianças a acariciar a pequena porquinha, até ouvir em meio ao enorme barulho seu nome sendo gritado de longe.
- Crianças, tenho que ir ou a madame vai me matar!
- Tudo bem, Sakura! Nós nos vemos depois!!
- Boa sorte com a porquinha!
Sakura virava-se para retornar à beira do porto, até que uma carroça atravessou em meio ao seu caminho rapidamente, jogando a água acumulada da calçada na saia de seu vestido. Controlando-se para não usar de um vocabulário agressivo naquele momento, ela inclinou-se numa tentativa falha de limpar o tecido úmido, até ser surpreendida ao ouvir seu nome soando de uma bela voz masculina.
- Sakura?
Num susto, a rosada ergueu o rosto, lançando seus brilhantes orbes verdes diretamente para os belíssimos olhos azuis que a contemplavam de volta, o que fez Sakura perder quaisquer senso de reação por um instante. O jovem alto, de ombros largos, corpo grande, cabelos louros e sorriso expressivo, não desviou sua atenção nem por um segundo, o que mais pareceu horas a fio. Naquele instante, Sakura pôde sentir seu coração acelerar em um único pulo, e seus pensamentos se perderam na beleza do rapaz a sua frente.
- Sakura, lembra-se de mim? A quanto tempo!!
Do meio da multidão que já se espalhava pelo porto, Sakura ouviu de longe a voz da Madame se aproximar, avistando-a de relance no momento em que ela encontrou os dois.
- Naruto, que bom que tenha encontrado essa garota teimosa!
- N-Naruto?
O sorriso de Naruto tornou-se mais largo ao ouvir seu nome ser pronunciado por aqueles pequenos lábios surpresos, enquanto Sakura piscava freneticamente em meio as confusas lembranças súbitas. Sem delongas, o jovem aproximou-se e a abraçou com força, quase que engolindo aquela pequena e frágil figura em seus braços longos.
- A quanto tempo! Você mudou bastante! Ficou até parecida com uma moça!
Diante do repentino abraço, Sakura ficou imóvel enquanto tinha sua cintura envolvida pelos braços do loiro, de forma a ter o corpo de um rapaz assim tão próximo ao seu e em um lugar tão aberto, porém, ela não poderia se negar a sentir o leve cheiro doce dos cabelos rebeldes dele, que escorriam pelo canto do rosto dele e roçavam no dela. Virando os olhos lentamente, ela avistou de canto o momento em que Tsunade ria de forma maliciosa, escondendo a expressão debochosa através do leque, algo que fez Sakura corar. Naruto a soltou em seguida, voltando a manter uma distância segura dos dois assim que reparou na forma desconcertada que Sakura parecia agir.
- Sakura, você não vai dizer nada ao Naruto? - Tsunade arqueava uma de suas sobrancelhas e abanava-se de forma frenética com o leque.
- Algum problema, Sakura? - Os olhos de Naruto adotavam um leve ar de preocupação ao fitar a jovem.
Percebendo seu olhar e o de Tsunade, Sakura apenas o reverenciou de cabeça baixa, enquanto segurava a barra suja de seu vestido.
- Me desculpe. Eu só sujei o vestido e estou um pouco sem jeito por conta. Estou muito feliz em vê-lo também, Naruto... você cresceu bastante...
- Ah, que pena. Como sujou seu vestido??
Sem qualquer cerimônia, Naruto se aproximou novamente, inclinando-se para tocar levemente a barra da saia de Sakura, avistando a mancha.
- Podemos passar em uma loja antes de seguirmos para almoçar. Eu compro um novo pra você.
- Não tem problema algum, é apenas água. Logo secará. Eu só fui um pouco descuidada, só isso.
Assim que terminou a frase, Sakura se deu conta que talvez sua resposta tivesse soado áspera demais, o que fez Naruto desmanchar o sorriso levemente sem jeito. Ela não tinha a intenção de ser grossa, mas talvez aquilo servisse para que ele se afastasse um pouco, dando limites para sua intimidade com a rosada, ao qual ela ainda não conseguia se acostumar.
Naruto recuou lentamente, apanhando sua sacola no chão e a lançando por cima do ombro sobre o pesado casaco azul marinho.
- Bem, sendo assim, se você não se incomoda, senhorita Sakura, devo dizer que nem mesmo essa mancha em seu vestido apagaria seu lindo brilho e beleza esta manhã.
Sakura sentiu novamente a pele de seu rosto arder ao ouvir as palavras de Naruto, que soaram quase como um galanteio. Ela agradeceu o fato de Tsunade cortar aquele clima constrangedor com suas risadinhas cínicas.
- Esse Naruto realmente se tornou num belo cavalheiro, não é mesmo? - dizia Tsunade se aproximando e dando tapinhas no braço do rapaz, aproveitando para apaupalos, impressionando-se com o tamanho dos músculos. - E minha nossa, como está forte... Olha só que beleza isso aqui... Meu Deus. Érr... Bem, vamos seguindo. Aposto que está faminto!
- É verdade, madame, mas se não se importar, gostaria de convidá-las para almoçarem comigo aqui no centro, já que tenho alguns assuntos a tratarem ainda e que requerem prioridade.
- Ah, mas é claro meu querido! Será um prazer acompanhá-lo numa refeição aqui no centro, o que é uma pena, já que eu havia solicitado a Shizune que providenciasse um bom almoço.
Novamente os risinhos de Tsunade escapavam nervosamente da mulher, enquanto ela escondia parcialmente o rosto através do leque. Sakura encarava a tutora ao canto dos olhos, admirando-se diante de suas artimanhas, afinal, ela havia deixado claro para Shizune antes de partirem que não preparasse nada para o almoço das duas. De repente, as coisas começavam a clarear na mente de Sakura na medida em que ela compreendia bem a situação. Não importa quanto tempo passasse, Tsunade continuava a velha Madame ardilosa de sempre.
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