História Scared Of Happy - Três.

Largou o travesseiro no chão e passou a mão pelo rosto sem saber o que fazer. Quando a latina voltou, pensou que voltaria a dormir, porém , tudo o que Camila fez foi se manter o máximo que pode longe de Lauren, nem mesmo tocava no apoio do braço entre as duas, se ela queria distância, ela teria.

[...]

Dinah estava arrumando a blusa na frente do espelho quando Camila saiu da cabine para lavar as mãos.

- Você vai na churrascaria? - Camila suspirou dando de ombros. 

- Não sei, provavelmente não. - Respondeu  baixo. - Não vejo necessidade de ir.  

- Se eu tivesse no seu lugar realmente, usava seu aplicativo em português para aprender a perguntar como chega em uma balada gay e passava a noite lá. Aposto que nenhuma garota lá dentro perderia a oportunidade com você, não só por ser você, mas porque você é gostosa. - Camila não sabia se ria ou se dava um sermão na amiga por cogitar tal coisa. 

- Dinah, eu amo a Lauren. - Sussurrou olhando para os lados, mas logo se repreendeu mentalmente, não era porque a namorada era psicótica que tinha que ser também, não tinha nada a esconder. - Nem no vale das merdas eu faria algo assim com ela. - Pegou sua mochila vendo a amiga dar de ombros. 

- Só estou dizendo que falam que esse estado é o que tem mais gente bonita. – Camila sorriu abraçando o braço da loira enquanto saiam do banheiro cercadas de seguranças. Por mais que seu humor tivesse gélido, era bom rir com as palhaçadas fora de hora de Dinah.

- Eu não acredito que com essa merda toda você fez isso, Lauren. - A hispânica encolheu os ombros, entrando no quarto.

- Não... Eu não fiz por querer, foi meio automático. Quando eu vi já tinha saído. - Tentou explicar, mas saindo de sua boca só parecia mais idiota. 

- Quando você ver você já vai ter perdido ela, Lauren. Eu só vou te falar isso. E eu vou te matar por ter magoado-a. Ainda mais, digo. - Lauren trincou os dentes. 

- Lucy, eu sei de tudo isso. Eu vou tentar consertar as coisas. - Seus olhos se encheram de lágrimas. - Eu juro que não fiz por querer. 

- Nunca você faz nada por querer, Lauren. É impressionante, sinceramente. - Lauren se deitou na cama, vendo seu celular vibrar. Ela pegou o aparelho, vendo o nome de sua mãe no visor. 

- Feliz aniversário, meu amor. - Ouvir a voz de sua mãe foi a melhor coisa que já lhe aconteceu no dia de hoje. 

- Obrigada, mãe. - Disse com a voz um pouco embargada, não conseguindo engolir o choro. 

- O que foi? Você tá chorando? 

- To. - Admitiu sem vontade e viu Lucy conectar seus fones no notebook e em seguida colocá-los no ouvido, como se não quisesse escutar a conversa dela. 

Menos mal. 

- O que houve, minha querida? 

- Eu sou uma idiota, mãe. Eu sou uma completa idiota. 

- Que isso, meu amor. O que houve? 

- Eu briguei... Com todo o mundo. - Lauren soluçava como um bebê, como se ela tivesse 5 anos e fosse contar que brigou na escola. 

- Quem é todo o mundo? 

- Camila, Ally, Dinah, Normani... Todo o mundo. 

- Por que? 

- Eu não sei, eu só... A gente brigou, foi uma coisa em cima da outra. Eu to com medo de perder a garota que eu amo. 

- Laur, minha querida, você só vai perder ela se você quiser. Eu já te falei que você não precisa ter medo de ser quem você é, sim? É muito menos de amar. Isso só tá acabando com o seu relacionamento. Você não tem que ter vergonha de amar quem você ama. A Camila também te ama, honestamente, não tem nada de impeça vocês duas. Você é a única que pode se a ajudar, Laur. Infelizmente, eu não posso fazer nada. E eu queria poder... Como eu queria. 

- Eu... Eu ia falar com ela ontem à noite, mas tinha alguém no corredor e eu... 

- Lauren. Vai falar com ela agora. 

- Mas... 

- Agora. 

- Eu vou, mas antes deixa eu dizer que eu estou com muita saudades suas. 

- Eu também, meu anjinho. Vamos nos ver em breve, sim? 

- Tudo bem. Obrigada, mãe. 

- Lauren. Você não precisasse ter medo de nada, lembre-se. 

- Vou me lembrar. - A ligação foi encerrada e Lauren se levantou, saindo de seu quarto e batendo firmemente na porta do quarto da latina. 

- Lauren? - Camila deu um sorriso irônico. - O que faz aqui? Não tem medo que uma formiga passe e te veja na porta do meu quarto?

- A gente precisa conversar. - Lauren disse seria. 

Camila abriu mais a porta e deu espaço para a hispânica entrar.

Lauren mordia fortemente a parte de dentro da boca enquanto tentava se manter o máximo de espaço da janela. Camila cruzou os braços encostando-se à porta. 

- Eu...- Passou a mão na testa. - Eu não quero te perder. - Foi tudo o que conseguiu falar, o discurso que tinha pronto a um bom tempo adiantou de nada pois os olhos brilhantes de Camila lhe tiravam qualquer foco. 

- Eu não aguento mais, Lauren. - E lá estava Camila com os olhos molhados mais uma vez naquele dia. Sentou-se na cama com a mão no rosto. Mesmo em saber se podia, a hispânica se aproximou.

- Eu sinto muito. - Sussurrou se sentando ao lado da namorada. - Eu odeio fazê-la passar por isso. - Levou a mão esquerda para as costas da latina e passou a ponta dos dedos por sua coluna como sempre costumavam fazer, principalmente depois do sexo. 

- Você sabe o que eu escutei hoje? - Lauren negou distraída com as pontas de seus cabelos cheirosos. - Como você é Lucy eram bonitas juntas. - A morena parou o que estava fazendo para encarar a imensidão castanha completamente apagada. 

- Camz... - Ela negou limpando uma lagrima.

- Não é a primeira vez e provavelmente não será a última. - Se levantou arrumando o casaco por causa do frio. - Eu só não sei ainda posso suportar. Realmente não sei. - Lauren levantou desesperada com a hipótese que passou pela sua cabeça.

- Não me ama mais? - Camila riu do seu jeito irônico. 

- Eu te amo mais que a mim mesma, chega a ser doentio. Mas... - Colocou as mãos na cintura. - Lauren eu lutei sozinha por muito tempo pra me aceitar, pra aceitar como eu sou, quem eu sou. Eu não quero alguém que tem vergonha de mim por isso, não é o que eu quero pra minha vida.  

- Eu não tenho vergonha de você, eu nunca poderia ter.

- Então porque toda essa negação?! - Lauren ficou estática sem saber o que falar. - Não tem mais nada que nos impeça.

 - Eu sei, eu sei. - Tentou se aproximar. - Eu vou resolver isso. - 

- Aparece ali. - Camila apontou pra varanda onde poderia ser ouvido o gritos ensurdecedores dos fãs que já sabiam que a latina estava ali, pois já havia acenado. Lauren olhou pra sacada, engoliu em seco e suspirou. 

- Eu não posso. - Negou.

- Então eu não acredito quando você diz que não quer me perder. - Lauren se levantou de súbito e foi até o banheiro do quarto da latina, lavando o rosto devagar, como se estivesse adiando.

Camila secou as lágrimas observando a cena, não podendo acreditar no que iria acontecer em seguida. 

Lauren secou o rosto com cuidado, se encarando no espelho pouco tempo depois. De alguma forma, a mais nova sabia que era difícil para a hispânica, ela só não entendia porque a maior dizia a amar tanto e simplesmente não demonstrava isso. 

Pelo menos não em público. 

Camila foi até sua namorada, envolvendo os braços pelo corpo dela, ficando com o tronco encostado nas costas dela. A latina também se via no espelho, os olhos inchados e vermelhos, as olheiras enormes, parecendo tão acabada que nem ela queria se olhar por muito tempo. Seus olhos se encontraram através do vidro, Camila sentiu a mão de Lauren sobre a sua, acariciando-a por um momento antes de levar os dedos até seus lábios, beijando um por um e em seguida entrelaçando seus dedos. 

A hispânica se virou na direção da latina, colocando a testa na dela. Ela não precisou dizer nada antes de sentir os braços magros a sua volta, a apertando, dizendo silenciosamente que, de alguma forma, ela sempre estaria ali. 

Era isso que as pessoas não entendiam. Não importa o quanto elas se machucassem, parecia que no final sempre iriam voltar uma para a outra porque era ali que elas pertenciam. 

Lauren não sabia dizer a quantidade de tempo que ficou encolhida no abraço de sua amada, podiam ser segundos ou dias, ela realmente não se importou. Era tudo o que ela precisava não só pelos últimos dias, mas pelo que a menina havia pedido para ela fazer e pelo o que ia acontecer depois. 

- Você tá com medo? - Camila indagou em um sussurro, acariciando os cabelos dela sem soltá-la. 

- Não.

- Não mente pra mim. 

- Estou. 

- Por que você tem tanto medo? 

- Eu não sei. - Lauren respondeu e a voz dela era só um fio, Camila só escutava porque o banheiro estava silencioso e a boca dela estava perto de seu ouvido. - Me desculpa, eu não sei. 

- Shh, tá tudo bem. 

Lauren abriu os olhos no momento em que ela percebeu que não adiantaria nada ficar abraçada com Camila o dia todo se ela não aparecesse naquela merda de sacada. 

A latina quis reclamar quando Lauren separou o abraço de forma delicada, como se ela também não quisesse desfazer o contato. Havia tanto tempo que elas não tinham momentos assim sem brigar que parecia um sonho. 

Lauren passou a mão nos cabelos antes de abrir a porta de correr de vidro que a impedia de chegar a sacada e simplesmente colocou a cara para fora. Os berros das pessoas praticamente a ensurdeceram, mas ela sorriu e jogou beijos, vendo alguma pessoa se cutucarem como se finalmente percebessem que era a mesma sacada de Camila. 

Lauren mandou mais beijos e acenou com as mãos antes de sair e finalmente fechar o vidro perguntando-se se ela não estava surda. 

Camila ia abrir a boca para dizer algo, mas a hispânica não quis saber, apenas acabou com a distância entre elas e grudou seus lábios. 

Quanto tempo tinha que elas não se beijavam mesmo?

Camila sorria sentindo os lábios grosso da outra pressionamos contra os seus, agarrou os cabelos de sua nuca com força e então respirou.

- Eu te amo, garota. - Lauren fechou os olhos escutando a respiração alterada de Camila, colocou suas testas e repetiu. -        Eu te amo muito.        - 

- Eu também te amo. - A latina respondeu. 

[...]

Camila tinha o rosto enterrado no pescoço pálido de Lauren enquanto brincava com seu umbigo, não conseguiu segurar a risadinha quando a gargalhada infantil e adorável da morena soou um pouco alto. 

- Você sabe que eu sinto cócegas. - Segurou sua mão entre as suas e puxou para beijar a palma. 

- Você é fresca. - Negou enquanto recuava sua mão para poder se levantar. Lauren murmurou tentando segura-la, mas foi impossível, a latina já estava enrolada no lençol branco mexendo em alguma coisa em sua bolsa.

- Daqui a pouco nós vamos ter que levantar, fica aqui comigo. - Camila soltou uma risadinha enquanto pegava um embrulho pequeno de dentro da mala. Quando se virou quase desistiu da surpresa ao ver sua morena de bruços a olhando, as costas estavam completamente nuas e a linda tatuagem a mostra. - Vem. – Negou rapidamente e voltou a andar em sua direção.

- Eu tenho uma coisa para você. - Sorriu sapeca se sentando longe do alcance das mãos apressadas.

- Me dê um beijo, é tudo que preciso. - Piscou. 

- Me deixe lhe dar um presente. - Tirou o embrulho das costas e entendeu animadamente na direção da morena, que como uma criança, sorriu animada e sentando-se sem se preocupar em tapar os seios, deixando Camila babando. 

- Não precisava. - Dizia exasperada enquanto rasgava o papel, que se tivesse visto direito, tinha pequenas libélulas estampadas. 

- Você é pior que criança com presente e eu sei disso. - Era uma verdade consagrada. Se tinha uma coisa que gostava era de ganhar presente, ainda mais em  seu aniversário. Lauren mal pode conter o sorriso quando pegou o Ray Ban Classic preto em mãos. 

- Camila! - Disse com a mão na boca. 

- Gostou? Lembrei como ficou triste quando o seu quebrou e não achou outro como esse, então... - Lauren se sentiu tão sortuda por ter um ser humano como Camila ao seu lado, que se preocupava e via até os mínimos detalhes de tudo que lhe rodava. Sentiu-se mal por não poder aprecia-la como deveria, mas sabia que um dia, um dia faria tudo valer a pena.

- Eu te amo, obrigada. - Seu sorriso valia cada minuto. 

- Ande, experimente. - Lauren jogou os cabelos desgrenhados para o lado e então colocou os óculos, mandando um beijo pra namorada. 

- Se eles pudessem te ver agora acho que não sobreviveriam. - Então a pose sexual em que estava, foi completamente destruída por uma risada infantil e braços, que rodearam Camila fortemente.