História Scars Of Talent - Chapter Eleven

Medo. Corria rápido pelas veias de Mark, fazendo seu coração acelerar. Ouvir a voz daquele homem que o havia maltratado tanto e havia tratado-o com tanta violência o fazia tremer. Olhou para o lado desesperado em busca de um abrigo, de um refúgio. De algo em que pudesse se apoiar se tudo desse errado.

E ao seu lado estava Jackson Wang.

O loiro parecia surpreso e estava, claramente, analisando o senhor de meia idade que acabara de sair enfurecido da casa dos Tuan. Soube, no instante em que pôs os olhos nele, que era o responsável pelas marcas no corpo de Mark. Tudo se encaixava. O modo raivoso do homem somado ao estado de pânico no qual o menor se encontrava era a resposta.

O bailarino era agredido por quem deveria protegê-lo.

-Até quando você vai ser esse viadinho de merda hein, Mark? - a essa altura, o mais novo já chorava - Faça as suas promiscuidades longe de casa, aqui no meu quintal eu não admito! - o homem, num gesto rápido, agarrou o braço de Mark.

Jackson, mais movido por impulso do que por qualquer outra coisa, agarrou a mão do mais velho, que sorriu irônico e logo se virou para o filho, que só sabia chorar.

-Arranjou um namoradinho pra te defender? Que lindo, realmente tocante, mas saiba que isso não vai funcionar. - apertou o braço magro do bailarino, que gemeu de dor.

-Solta ele. - disse Jackson, completamente enfurecido pela cena que presenciava.

-Se eu não soltar você vai fazer o que, seu merda? - Mark não conseguia acreditar no que havia acabado de acontecer.

Jackson havia dado um soco no rosto de Raymond Tuan.

O mais velho, com o impacto, cambaleou pra trás, levando Mark com ele. O menor ainda chorava, desesperado e assustado. Não sabia o que fazer e aquilo o deixava louco. Arregalou os olhos ao ver o pai agarrá-lo pela gola da camisa.

-Deveria ensinar bons modos ao seu namoradinho, Mark. - o sorriso de seu pai fez o mais novo ter náuseas. - Podemos mostrar pra ele que eu também sei bater, o que acha?

-Não se atreva. - Jackson começava a elevar seu tom de voz.

O Tuan mais velho jogou Mark no chão com brutalidade e chutou suas costelas com força, o que fez o bailarino gritar de dor. Jackson empurrou o senhor Tuan para longe e desferiu outro soco na face alheia. Ajoelhou-se ao lado do menor e o pegou no colo. O colocou no carro o mais rápido que pôde enquanto Raymond se recuperava do soco.

-Onde pensa que vai com ele? - gritou o mais velho cuja boca sangrava, mas ele não se importava.

-Para qualquer lugar longe de um monstro como você. - disse e bateu a porta do carro.

O homem socava o vidro da janela do carro com força, mas Jackson não se importava. Ver Mark, tão fragilizado, se contorcendo de dor no banco de trás do seu carro era um problema maior a ser resolvido. Focou nesse pensamento quando acelerou com o carro, deixando Raymond Tuan xingando-os para trás.

O caminho até o hospital foi rápido e silencioso, como era de se esperar. Ao chegarem, Jackson carregou Mark no colo da maneira que conseguiu até que os enfermeiros o levassem. Após alguns minutos, algo que surpreendeu o Wang aconteceu.

Im Jaebum estava no hospital.

Ao observar a figura de Jaebum, Jackson travou o maxilar. O que ele queria ali? Ele sabia que Mark estava ferido? Como poderia saber tão rapidamente?

-Ora ora, meus olhos estão vendo bem? Jackson Wang em um hospital, isso para mim é novidade. - a ironia e o deboche na fala de Jaebum eram palpáveis.

-Às vezes um mal se faz necessário por um bem maior. - o loiro encarou o moreno à sua frente com sua habitual expressão séria e dura, o que o outro já esperava. - O que faz aqui, Jaebum?

-Vim visitar meu funcionário que está internado aqui. - o empresário reprimiu um sorriso ao perceber que Jackson havia sido atingido por aquelas palavras, mesmo que não demonstrasse claramente.

Ele o conhecia muito bem.

-Mark está na sala de emergências agora, acho que não sai de lá tão cedo. - o desespero do loiro em afastá-lo do bailarino fazia o maior querer rir.

-Se você pode esperar, eu também posso. - o moreno disse e se sentou a duas cadeiras de distância do Wang.

Jackson nada disse, apenas pensava. Queria entender o porquê do interesse repentino de Jaebum pelo mais novo e o que o faria perder seu tempo para estar ali esperando por notícias de um funcionário que ele havia acabado de contratar.

Jaebum, por outro lado, queria entender qual era a relação existente entre Jackson e Mark. Queria entender o que fazia o loiro, que odeia hospitais, permanecer ali sentado, aguardando notícias de alguém que não é a sua mãe ou alguém que ele se importa.

Foi aí que o moreno começou a encaixar as peças. Ele se importa.

-Acompanhante de Mark Tuan. - ouviu-se a voz da médica e Jackson rapidamente levantou-se.

-Sou eu, ele está bem? - ele parecia ansioso, angustiado.

Parecia desesperado.

-Sim, ele está. Por muito pouco as costelas dele não foram quebradas, mas ele precisa de repouso devido aos outros diversos traumas existentes em seu corpo. Ele é lutador ou algo do gênero?

-Não. - disse o loiro simplesmente, surpreso com o que acabara de ouvir.

-Ele possui diversos traumas pelo corpo, fora o diagnóstico de anorexia em estágio inicial. - os dois homens paralisaram.

Anorexia?

Mark estava nesse estado?

-Pelos exames, consta que ele está há vários meses sem uma refeição completa. A situação pode ser revertida, mas dura algum tempo. Além disso, casos como esse requerem um tratamento psicológico, já que o transtorno corporal tem início em algum transtorno mental.

Jackson sentou, ainda incrédulo. Mark estava com anorexia em estágio inicial. Como aquele garoto cheio de vida e radiante havia chegado àquele ponto? Há quanto tempo ele não comia direito? O que ele iria fazer?

-Quando vou poder vê-lo? - a voz de Jaebum soou, fazendo o loiro se alarmar.

-O acompanhante deve ser o primeiro a fazer a visita e autorizar a entrada de outros visitantes. - a fala da médica deixou o Wang satisfeito.

Jackson levantou, acompanhando a mulher até o quarto onde Mark estava. Quando entraram, não deixou de reparar em como o bailarino aparentava estar inacreditavelmente frágil. Os ossos se destacavam em sua pele, a pele pálida e rígida. O mais velho compadeceu-se do menor e sentou-se à beira da cama, ainda analisando a face dele.

-Como eu não percebi isso antes? - segurou a mão fraca de Mark. Agora Jackson percebia o quão frágil aquele rapaz era. - Tudo se encaixa agora...

O Wang continuou segurando a mão do pequeno Tuan durante bastante tempo, fazendo carinho na parte de cima da mesma, como se o confortasse com aquele gesto. Vê-lo ali, no estado em que se encontrava, era uma cena que entristecia até mesmo o coração duro de Jackson Wang.

O toque de celular do loiro assustou o mesmo. Suspirou cansado ao ler o nome da pessoa que o ligava na tela.

Hyuna.

-Posso saber onde você se meteu, Jackson Wang? - Jackson respirou fundo, contendo-se para não se alterar em respeito ao lugar em que estava.

-Primeiro: nunca mais use esse tom de voz comigo se ainda quiser ser minha namorada. - ele falava baixa e pausadamente, sendo enfático. - Segundo: eu estive resolvendo uns assuntos, os quais não são do seu interesse. Terceiro: por que está me ligando agora?

-Eu liguei para saber se estava bem, amor... senti saudades suas. - o tom de Hyuna era apelativo e ele sabia exatamente do que ela estava falando.

-Eu não vou poder te ver hoje, estou ocupado. - disse seco, como sempre era.

E então o loiro desligou o telefone. Estava se cansando de Hyuna, essa era a verdade. Guardou o celular no bolso e voltou sua atenção para o menor deitado na cama à sua frente. Enquanto retomava a carícia que fazia na mão de Mark, Jackson se decidiu.

Faria de tudo para proteger aquele garoto.