Eu acordei com um som que não sei de que infernos veio, só sei que quase me fez cair da beliche mas consegui me segurar. Yume não teve a mesma sorte, caiu de cara no chão com coberta e tudo.
-PRECISA DESSA PORRA, SAM?
Aretha gritou depois de acordar também com a música da Abba num volume extremamente alto, acho que todo mundo do dormitório conta com esse despertador pra acordar.
-Se não fosse eu, todo mundo ia chegar atrasado, então não reclama -Sam disse indo para o banheiro.
-A minha primeira aula é de literatura.
-A minha é filosofia, aaaargh -Aretha é bem dramática - E a sua Mai?
-Deixa eu ver... -pego um papel na minha bolsa- Artes...
-Vish...ah você vai ficar bem!
Da última vez que me disseram isso eu vim parar aqui.
~~
-Com licen... -voou um livro em direção à minha cara, mas eu consegui me abaixar a tempo. Era uma guerra, a bagunça atingia todos sem exceção e o professor nem estava na sala.
Fechei a porta sem pensar duas vezes, ficando de costas para a mesma dando de cara com o “trombadinha” da noite passada.
-Que foi? Não gostou da recepção calorosa?
-Tchau -ignorei o comentário e sai o mais rápido possível daquele inferno, e pelo que pude ver, a maioria das salas estavam assim.
Suspirei e sentei em baixo de uma árvore segurando os joelhos. Eu só quero voltar pra casa. Tá na cara que esse lugar tá pouco se ferrando pra todo mundo.
-Matando aula?
Não conhecia essa voz, vinha de cima...carai, é Deus me chamando? Olhei para o alto onde tinha um garoto sentado em um dos galhos da árvore.
-Você chama aquilo de aula?
Ele ri.
-Primeiro dia de aula?
-Temos um vidente aqui -voltei a olha lo.
-Você foi irônica?
-Pffff, não imagina.
-Ai, foi irônica de novo!
Cansei da discussão e abaixei a cabeça, eu estava chateada demais pra conversar. O jardim era bem relaxante, era coberto de diversas flores e dava pra ouvir o canto dos pássaros.
Eu pensava sobre como eu vim parar ali...Será que dá pra piorar?
~~
O som do sinal invadiu os meus ouvidos e dei um pulo.
-Hmm? Eeitaa, eu dormi?
O lugar começou a ficar cheio de gente, o que me fez tentar sair dali o mais rápido possível. As pessoas estavam indo em direção ao refeitório, então imaginei que era o intervalo. Finalmente, eu estava morrendo de fome. Segui as pessoas até o grande pátio, era bem sofisticado, haviam várias mesas ocupadas por grupos, não era diferente da sala, era uma bagunça infernal.
Fui até o balcão que supostamente servia aos alunos.
-Vai querer que tipo?
A moça da cantina me encarou com uma cara feia enquanto eu demonstrava a enorme interrogação na minha cara.
-....Oi?
-Vamos garota, eu tenho centenas de mortos de fome pra atender.
-PERAI, vocês servem ...SANGUE?! -Finalmente reparei o banco de sangue empacotado em saquinhos de hospital (Não sei o nome daquela porra) atrás dela e quase tive um ataque.
-Você tava esperando o que? Arroz e feijão?
-Bem..SIM!
-Ah, saia da minha frente!
Eu sai de lá indignada, fala sério! Onde já se viu um refeitório sem comida! Tá certo que aqui é uma escola pra vampiros mas pelo amor...
-Que foi? Não bebe em saque?
Me virei pra ver o ser que chamava a minha atenção:
-Ahh, o cara da árvore -desviei o olhar– É que... Eu gosto de comer comida!
Tentei disfarçar o fato de eu ser uma vampira que não bebe sangue quando me virei para continuar meu caminho e trombei com uma garota que para meu azar, estava bebendo o sangue em um copo de café, sim, derrubou a merda toda na gente.
-CA.RA.LHO -Ela disse pausadamente, a veia dela estava até pulsando -VOCÊ É CEGA?
Oh, de novo não, minha blusa estava com uma mancha enorme, e a garota ficou com uma enorme no decote.
-Você vai pagar por isso, piranha!
Ela dirigiu um soco contra mim, mas consegui para lo a tempo, no ar. Nesse momento, todos, sem exceção, olharam pra gente.
-Uoouhh, como tá fazendo isso? -o cara da árvore perguntou impressionado.
A garota, rangendo de ódio por não conseguir mexer o braço, olhou pra mim:
-Você. ....É uma controladora de sangue?
Todos os olhares do pátio se focaram em mim e conversas paralelas surgiam.
Eu queria dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas o nervoso começou a me envolver , minhas pernas se moveram sozinhas e fugi dali. Passei por toda aquela gente com uma cara de cu maravilhosa até o jardim de novo.
Eu disse que nunca mais ia usar esse poder... E agora a escola inteira já tá sabendo disso! Que fenomenal...Tirei minha blusa suja, ainda bem que não estava tão frio, por que a preguiça de ir buscar outra batia forte.
O cara da árvore apareceu do nada e sentou se ao meu lado.
-Por que fugiu de lá? Você foi demais!
-Eu...sei lá! De repente eu já tava aqui de novo...
-Qual é o seu nome?
-Você vai usar isso contra mim?
- Hã... Eu deveria?
-Mai -estendi a mão pra ele.
-Henry -Ele me cumprimentou , quase quebrou meus dedos, mas não vem ao caso - Como veio parar aqui?
Ele se encostou na árvore e eu abracei minhas pernas, deixando a blusa ensanguentada de lado.
-Me obrigaram e você?
-Também...É, acho que ninguém tá aqui por que quer.
-Imaginei...e qual é daquele banco de sangue? Vocês só bebem aquilo?
-Há, há bem, não. Eu não sei de onde a escola tira tudo aquilo, mas não é de muita qualidade, então muita gente, quando consegue né, sai pra caçar à noite e volta no dia seguinte.
-Ué, mas por que carales a pessoa volta?
-Boa pergunta, sabe, eles não ligam se você sair e voltar, mas é problema quando você não volta ou demora pra chegar...Os funcionários te caçam pelo cheiro e te arrastam de volta, um saco, eu sei.
Fugir daqui tá descartado.
-Entendi...Ei, me diz que na aula de biologia não tem aquela bagunça como na aula de artes!
-Vish, você deve ter tido uma impressão horrível -Ele ri, eita, ele tem covinhas...-Não, até por que o professor não deixa. A sua próxima é biologia?
-Sim, eu perdi a aula de História então só me resta essa.
-A minha é literatura, se não a gente podia ir junto...
-Ahnn droga! Não vou poder ir pra aula com o cara que acabei de conhecer! -Disse fingindo estar decepcionada.
-Você para -Ele ri e bate de leve no meu ombro, o que me fez rir também.
O bendito sinal toca e paramos de rir ambos com cara de cu.
-Então...A gente se vê – me levanto acenando pra ele.
-Será? -Ele dá uma risadinha e sai andando.
-Tá. ..né...
Sai pelo lado oposto naquele mar de gente que se formou em busca da aula de biologia até achar a sala e entrar, as pessoas pareciam nem ligar muito pra aula, mesmo não conversando.
-Olá senhorita Yukyji.
O professor sabe meu nome....devo me preocupar?
-Olá...?
-Pode se sentar ao lado do Marshall ali -Para o meu azar, eram mesas para duplas.
Ah não...Aquele tal de Marshall...ERA O TROMBADINHA! !! AAAAAA SÉRIO, VIDA?
Seu olhar se encontrou com o meu e fizemos careta um para o outro, a raiva era recíproca.
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