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História Schwarzwald - Floresta Negra - Capítulo 6


Escrita por: littlesenhorita

Capítulo 6 - Capítulo 6


Wonho estava horrivelmente ferido.

Havia sangue por toda a casa, e eu não conseguia pensar em outra coisa, além de chorar, pegar uma faca da cozinha e enfiar no rosto deformado e nojento de Marcus.

Os gritos de dor dele ecoavam por toda a casa, enfiando gélidas fisgadas de dor e desespero por todo o meu corpo.

Todos os meninos estavam machucados, pois a batalha foi difícil, segundo Shownu, mas nenhum deles havia sido ferido tanto quanto Wonho.

Haviam quatro lobisomens a mais que eles, e foi difícil derrubar o bando intruso por causa da diferença de número, mas eles eram fortes e bem treinados, então sabiam como lutar em desvantagem. A falta de organização do bando intruso ajudou também, pois os lobisomens eram mais novos e muito impulsivos.

O problema foi Marcus.

Por alguma razão, Marcus havia atacado pessoalmente Wonho, e Shownu não soube explicar o porquê.

Os rapazes estavam quase ganhando a luta, quando de repente o Alpha ouviu o uivo de dor do companheiro, observando aterrorizado Marcus enterrar as mandíbulas em volta do pescoço de Wonho, jogando ele contra uma das árvores da floresta. O som das costelas de Wonho quebrando distraiu todo o bando, desestabilizando os meninos, e eles decidiram recuar, pois o ferimento do companheiro era grave demais para continuar a luta.

Eu chorei em silêncio enquanto observava todos os meninos sangrarem e correrem pela casa, na tentativa de carregar Wonho até o quarto de Mabelle, para que ele pudesse ser tratado.

Shownu tinha grandes arranhões em seu peito e braços. Uma das pernas também sangrava, mas ele conseguia caminhar, ainda que mancando, levando Wonho pela cozinha, até o quarto de Mabelle. Jooheon havia quebrado um dos braços, e a coxa estava sangrando. Seu rosto contorcia de dor ao levantar uma das pernas de Wonho, utilizando o outro braço que estava bem.

Minhyuk correu na frente, mancando, para ajeitar a cama, e tirar as coisas que atrapalhavam o caminho. Não havia sorriso em seu rosto, nem a empolgação típica de sempre, apenas arranhões e sangue, machucados que cobriam seus olhos, bochechas, pescoço, braços e tronco.

Kihyun e Hyungwon estavam cobertos de arranhões também. Hyungwon tentava caminhar, mas acabou caindo na porta da casa, sucumbindo à dor de uma mordida profunda em uma de suas coxas.

Meu corpo se moveu sozinho, e eu entrelacei meus braços no tronco de Hyungwon, na tentativa de trazê-lo para dentro da casa. Kihyun me ajudou, e ambos sentamos Hyungwon numa das cadeiras da cozinha.

Eu olhei em volta, e foi como se tudo acontecesse em câmera lenta.

Mabelle, Changkyun e Kihyun, o único dos meninos que não estava tão ferido, corriam pela casa. Quando Mabelle tentou tratar dos ferimentos de Shownu, ele gritou com ela, dizendo que os outros eram mais importantes, e que precisavam de mais cuidados do que ele.

Kihyun gritou com o Alpha, em repreensão. Jooheon e Minhyuk saíram do quarto onde Wonho gritava de dor, dando espaço para que Mabelle e Kihyun entrassem.

Jooheon deixou as costas escorregarem pela portaria fechada do banheiro que era ao lado do quarto, e eu vi seu braço torto encostar no chão. Os ombros dele chacoalhavam muito, enquanto a mão do braço bom esfregava o rosto e o cabelo, escondendo a expressão triste.

Changkyun e Minhyuk estavam na cozinha, pegando panos de prato e água quente, obedecendo as ordens dos dois que cuidavam de Wonho no quarto.

Mabelle gritou para Shownu, que estava parado na frente do quarto, os braços levantados, mãos na nuca.

― ELE PRECISA SER IMOBILIZADO SHOWNU! VAMOS, DESESPERO NÃO VAI AJUDAR EM NADA AGORA!

Shownu obedeceu, e entrou no quarto a passos largos.

 A voz de Mabelle estalou em meus ouvidos, me tirando do estado de transe. Notei meu rosto molhado, e pisquei os olhos, deixando as lágrimas correrem. Senti uma mão fraca apertar a minha, e olhei para o lado. Hyungwon entrelaçava seus dedos largos nos meus, e encostava a cabeça em meu braço.

Ele buscava por algum conforto, e eu me abaixei até ele, abraçando seu pescoço de forma suave. Seus dedos apertaram os meus, e eu passei gentilmente a mão pelo cabelo preto e liso dele, agora sujo de terra e sangue.

Olhei novamente na direção do quarto, os gritos de Wonho ainda ecoando em meus ouvidos, misturados aos soluços de Jooheon. Senti algo crescer em meu peito, um sentimento que queimava meu interior.

Marcus iria pagar por aquilo.

Soltei Hyungwon, e o encostei na parede atrás da cadeira. Enxuguei as bochechas, tratando de me recompor.

Changkyun e Minhyuk haviam acabado de voltar do quarto, e mexiam nos potes de ervas.

― Changkyun, qual desses eu posso passar nas mordidas? – Perguntei, tentando firmar a voz.

― Esse aqui. – Ele apontou para um pote com um emplasto preto.

Peguei o recipiente, junto com um pano limpo úmido e uma das tesouras que Mabelle usou para cortar as plantas, horas antes. Caminhei até Hyungwon, e levantei a perna dele com a mordida.

― Vou cortar a calça, tudo bem?

Hyungwon assentiu com a cabeça, e eu cortei lentamente o pano, até a altura da coxa, acima da mordida.

Sua pele clara estava manchada por sangue e terra. Usei o pano para limpar em volta da ferida, e colocar o remédio. Hyungwon contorceu o rosto de dor, e soltou um gemido baixo. Falei para ele não se mexer, e tratei de seus outros ferimentos.

Depois corri até Minhyuk, e fiz o mesmo. Obriguei o rapaz a ficar ao lado de Hyungwon, e chamei Changkyun.

― Precisamos dar um jeito no braço do Jooheon, antes de tratar dos ferimentos dele.

― Mabelle é quem sabe lidar com ossos quebrados, eu...

Agarrei o braço de Changkyun, impedindo-o de continuar, e caminhei até Jooheon.

Ele ainda estava sentado no chão, ao lado do quarto. Eu abaixei até ele, e coloquei uma mão em um de seus joelhos.

― Jooheon, precisamos tratar do seu braço. Por favor.

O rapaz levantou o rosto, suas bochechas numa mistura de sangue e lágrimas. Ele não respondeu, e somente assentiu. Changkyun e eu o tratamos, imobilizando o braço dele da melhor forma que conseguíamos, e colocando remédio sob os outros ferimentos.

Durante horas noite a dentro escutando os gritos de dor de Wonho. Quando Mabelle e Kihyun finalmente conseguiram fechar a mordida no pescoço do lobisomem, e imobilizar suas costelas quebradas para que não piorassem sua condição, já era de madrugada. Mabelle sedou Wonho, para que ele dormisse, poupando-o da dor.

Depois Changkyun e eu tratamos de Shownu e Kihyun, enquanto Mabelle conferia os curativos dos outros rapazes, fazendo o que eu e Changkyun não conseguimos, como fechar as mordidas e os cortes mais profundos, costurando a pele deles com linhas pretas.

Eu não havia notado, mas meu próprio ferimento havia piorado. Ela cuidou do meu corte, e eu aguentei a dor com coragem, sem choramingar.

A pequena casa de Mabelle estava cheia, os meninos espalhados pelo chão, sentados em silêncio. Shownu era o único ainda dentro do quarto, insistindo em permanecer ao lado de Wonho.

Eu estava sentada ao lado de Jooheon, no chão, minha cabeça encostada no ombro bom dele, gentilmente. Estava cansada, e, assim como os outros rapazes, eu acabei cochilando por alguns minutos enquanto escutava Mabelle se mover pela casa.

Acordei com apito de uma chaleira antiga.

Ainda estava escuro, e eu levantei do lugar, sentindo meus ossos pesados e dormentes. Jooheon estava cochilando ainda, e eu tentei me afastar dele com cuidado.

Caminhei até a cozinha, e me deparei com Mabelle esquentando água para fazer um chá. Kihyun, Minhyuk e Changkyun estavam acordados, e Shownu finalmente havia saído do quarto.

― Que horas são? – Perguntei, esfregando o rosto.

― 3:30 da manhã. – Changkyun respondeu.

― Nossa, ainda? Parece que passou tanto tempo... – Comentei, enquanto me aproximava de Mabelle, que sorriu de volta para mim.

― Você fez um bom trabalho nos ferimentos dos meninos. – Ela disse.

― Obrigada. – Agradeci, e voltei minha atenção em silêncio para a água quente que borbulhava com ervas, quando senti uma mão no meu ombro.

― Como você está? – Shownu me olhava, preocupado, uma de suas mãos bagunçando ainda mais o cabelo curto preto.

― Como eu estou? Shownu, vocês quase morreram, sua última preocupação deve ser comigo.

― Mas foi por você que lutamos. – Minhyuk disse, inocente. Kihyun que estava ao lado dele deu um tapa no ombro do lobisomem, em repreensão.

Eu senti uma pontada no peito.

― Desculpe. Eu estou bem, Changkyun foi rápido. E eu acho que estou começando a acostumar com vocês. – Tentei sorrir para Shownu, mas ele ainda me olhava de forma séria.

Eu segurava o nó na garganta, e os meninos sabiam. Olhei para o rosto dos rapazes acordados, e para os ombros de Hyungwon que subiam e desciam devagar, no canto da cozinha. Meus olhos encontraram novamente os de Shownu e eu explodi.

― Meu Deus, eu quase matei vocês! – Abaixei no chão da cozinha, até abraçar meus joelhos e comecei a soluçar, – Por minha causa vocês se machucaram, e Wonho, ele...

Senti braços gentis entrelaçarem meus ombros e escutei a voz calma de Minhyuk.

― Nós estamos bem, Elisa. Sobrevivemos. E estamos acostumados, lobisomens são assim, nossa vida é cheia de disputas como essa.

― Isso é culpa minha. – Senti as lágrimas escorrerem, e toda a culpa que tirou meu sono na noite anterior explodiu mais uma vez. – Eu sempre fui imbecil, sempre tomei as decisões mais estúpidas do mundo, mas as consequências delas nunca atingiram os outros... vocês não podem fazer isso, não podem levar toda a culpa por causa de mim!

― O que foi? – Escutei a voz grave de Jooheon.

Uma mão tocou minha cabeça, bagunçando meu cabelo gentilmente. Eu levantei o rosto, e encontrei os olhos negros de Shownu.

― Nós te ajudamos antes, e escolhemos te ajudar agora. Você não pode suportar uma consequência tão pesada sozinha. E acho que essa é diferente de todas as outras, não é?

― Estamos falando da sua vida, não se culpe. Marcus estava vindo atrás de nós, e isso é algo que iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Não foi por sua causa que Marcus voltou, você é só uma desculpa para ele fazer o que queria. – Kihyun completou.

Eu olhei na direção do Beta, e enxuguei os olhos.

― Mas vocês perderam a casa, vocês...

― Quem disse que perdemos a casa? – Hyungwon acordou, esfregando os olhos, sonolento.

― Você não viu o que fizemos com o outro bando. Nossos ferimentos não são nada perto dos deles! – Minhyuk disse, sorrindo ironicamente. Era a primeira vez que eu via aquele tipo de sorriso no rosto dele.

― Marcus está enfraquecido, o bando intruso está ferido. Estar na posse da casa não vai adiantar nada. – Jooheon piscou para mim, seu rosto machucado aparecendo na entrada do corredor.

― Não precisa se preocupar. Nós já lidamos com isso antes, e vamos conseguir dessa vez também. – Minhyuk disse na tentativa de me acalmar.

― Mas Wonho, ele...

― Wonho é forte. Ele vai ficar bem. – Mabelle me levantou, entregando uma xícara de chá quente. – Agora, fique calma.

Eu aceitei a xícara, olhando na direção de Kihyun. Uma sensação de dejávu percorreu meu corpo. Era quase a mesma situação que a do dia anterior: eu chorava, e os meninos me confortavam.

Aquele não era o meu eu verdadeiro. Eu era forte, e não chorava com frequência, nem me intimidava com facilidade.

Melhor, eu nunca tive um bom motivo para chorar, de verdade.

― Eu estou acostumada com confusão. Sempre fui um problema ambulante, nunca liguei para o que causava em outras pessoas, e elas nunca se importavam com o que me acontecia. Ninguém nunca mexeu um dedo sequer para me ajudar a melhorar, para lutar ao meu lado, me guiar por um caminho que não fosse a merda em que eu sempre estive enfiada. Vocês foram os primeiros a fazer algo por mim. – Mabelle e os meninos me olhavam, esperando pacientemente que eu terminasse de falar, – Eu sou uma estranha para vocês e um fardo, porque não conheço praticamente nada desse mundo em que vocês vivem. O que eu fiz até agora foi chorar, gritar e causar confusão. Além de sujar roupas limpas.

Houve um pequeno momento de silêncio, e então Changkyun falou.

― Isso não é verdade. Você fez café para a gente, e estava muito bom. – O rosto do mais novo estava sério enquanto ele dizia a coisa mais idiota que eu poderia escutar naquele momento.

Olhei em surpresa para o rapaz que estava encostado num dos armários da cozinha, virado na minha direção. Eu explodi em risadas, enquanto os outros brigavam com ele por ter falado algo sem noção num momento importante.

Shownu não riu com os outros e manteve os olhos escuros grudados em mim. Eu encarei o Alpha, e decidi que não iria mais brincar de garotinha indefesa.

― Eu vou estar lá, quando vocês lutarem novamente com Marcus.

― O quê?! – Os meninos explodiram outra vez, em conjunto. Pedi silêncio, e olhei novamente para Shownu.

― Me ensine tudo sobre vocês, eu quero entender o mundo onde vivem. E eu quero saber como se mata um lobisomem.



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