Odiava aquela sensação. Era um soco no estômago, um lábio rachado no inverno, uma meia molhada dentro do tênis, o som agoniante de um quadro-negro. Era suas pernas balançando há minutos, era os dedos sendo estalados, a língua sendo mordida, o gosto metálico em sua boca, devido ao filete de sangue que vinha de seus lábios; era a ansiedade.
A ansiedade tomava conta de si quando tinha aulas de magia, tomava conta quando precisava encontrar aquele tanto de gente gargalhando e lhe olhando torto nas mesas das casas, tomava conta quando Harry James Potter lhe encarava com olhos ardentes e lábios crispados, claramente lhe dizendo em palavras garrafais e silenciosas: Fique longe do meu filho.
Ah, sim, a ansiedade lhe consumia quando tratava-se de Albus Severus. Por Merlin, falar com aquele garoto foi um acréscimo em sua lista de “coisas mais difíceis que já fiz” e querer ser amigo dele foi um acréscimo em sua lista de “coisas mais difíceis que quero fazer”. Mas, felizmente, tornaram-se amigos rapidamente, combinaram como chocolate quente em uma manhã fria, como a fossa e o sorvete, como o café e o leite.
— O que há com você? — preocupadamente a voz lhe despertou de seus inúmeros pensamentos medrosos.
Scorpius o encarou. Os olhos de Albus pareciam encaixar perfeitamente naquele rosto, era como uma cama quente e aconchegante após um dia exaustivo, como… Oh, céus, pare com isso! Scorpius nem mesmo pensava em detalhes como estes, estava preso nos olhos atraentes.
— Preciso te contar algo! — claro que essa frase demorou minutos para ser dita, além de inúmeros gagarejos antes e profundas lufadas de ar, mas eu lhes pouparei desses detalhes.
Albus sorriu.
Scorpius Malfoy tinha sérios problemas e de todos eles Albus bem entendia quando se tratava da ansiedade. Infelizmente, ambos compartilhavam daquele problema, mas Albus aprendeu a lidar com ele, além de procurar ajuda especializada, o problema nunca sumiu, mas diminuiu drasticamente. Enquanto Scorpius sentia-se ansioso demais para pedir qualquer tipo de ajuda; medos como “será que estou atrapalhando?” e “não quero ser um peso” passavam diariamente por sua mente.
Albus nunca foi bom com palavras, mas era excelente com abraços e Scorpius os aprovava. Sentir o calor dos braços do sonserino e imaginar o sorriso no rosto dele eram seus eternos calmantes. Albus sempre o sentava no parapeito da janela, enquanto o vento gélido acariciava seu rosto e as pernas dormentes começavam a deixar o sangue quente fluir.
Os olhos fechavam-se, os cabelos louros eram acariciados e o braço fino lhe rodeava com carinho. Albus ainda sussurrava algum poema em seu ouvido, normalmente de algum autor trouxa; ele era um romântico clássico.
E todas aquelas palavras bonitas que de nada entendia, pareciam como uma colher de café na água; mudava o gosto, a forma, a cor. Mudava o jeito que se sentia, o seu físico alterado e até mesmo a cor em suas bochechas.
O problema de ansiedade, obviamente, continuava, mas ficava fraco, sem muitas forças. E, aos poucos, Scorpius acalmava-se, até que tinha forças suficientes para encarar os olhos de Albus e não gaguejar.
— Quer ir ao baile de inverno comigo? — apesar de parecer um sussurro distante, a coragem que tinha se destacava mais.
Albus sorriu novamente. Abraçou-o novamente e beijou a ponta de seu nariz, pois sabia que o deixava vermelho feito sangue.
— Pensei que você não fosse — retrucou Albus, lhe deixando um pouco mais ansioso por não saber sua resposta.
— Lily me convenceu o contrário.
— Eu imaginei… Você tem sempre essas crises de ansiedade quando Lily te sugere algo.— havia um sorriso pequenino no rosto do Potter.
— E você não ajuda em nada! Aceita ou não? — levemente impaciente como o pai, Scorpius quase faiscava, já Albus era audacioso, um traço levemente familiar, e beijou os lábios crispados, arrancando um olhar surpreso do outro. Não precisou de palavras para identificar que aquele era um “aceito”.
Scorpius quase deixou-se levar por mais uma crise de pânico, mas as mãos leves acariciaram seu rosto de uma maneira que espantou rapidamente os traços de que algo ruim chegaria. Acalmar-se era difícil, mas tornava-se mais fácil quando tinha Albus ao seu lado.
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