História Se Eu Ficar - Prisioneira

Não sabia o que realmente estava fazendo nem para onde estava indo, só sabia que não iria parar de correr tão cedo. Quando vi a sombra dentro de casa, sai correndo pela porta da frente sem nem pensar duas vezes. 

Eu estava descalça, de pijama, descabelada e com lágrimas tampando minha visão, mas o medo era muito maior e a única coisa que eu tinha em mente era que deveria escapar dali. A sombra que estava me perseguindo era muito parecida com as sombras do meu pesadelo, o que me causava ainda mais pânico, porque parecia que meu pesadelo estava se tornando real e essa era a última coisa que eu queria que acontecesse.

Não percebi quando entrei na floresta que ficava no final da rua, só me dei conta de que estava perdida assim que parei de correr por conta do cansaço. Quando olhei para trás e não vi mais nenhuma sombra, tive certeza de que caminhar seria seguro. O problema era que já estava muito tarde, a floresta estava completamente escura e silenciosa, e as chances de eu sair dali sem ajuda eram nulas.

Caminhando em uma direção qualquer, enquanto testava a minha sorte e torcia para achar o caminho de casa, acabei me deparando com algo inusitado. Em um canto da floresta, entre arbustos e flores murchas, tinha um círculo de cogumelos branquinhos e brilhantes, todos do mesmo tamanho e muito bem organizados, o que me fez duvidar que fosse apenas obra da natureza. 

Deixei a curiosidade ser mais forte que a razão e caminhei até o circulo, para ver analisar mais de perto. Sem nem pensar duas vezes, entrei dentro do círculo e dei alguns passos. De repente, uma luz muito forte apareceu na minha frente, me fazendo fechar os olhos com muita força. Senti meu corpo mole e antes que eu pudesse fazer alguma coisa, acabei desmaiando.

Quando não sentia mais a luz sobre mim, abri os olhos e levantei do chão. Olhei para os lados e percebi que não estava mais na floresta escura de antes. Para a minha surpresa, estava em uma sala enorme, cheia de espelhos, com janelas enormes e paredes pintadas com cores fortes, além de ter um cristal enorme no centro. Fechei os olhos e abri novamente, tentando me acostumar com a claridade do lugar. 

Depois de levantar do chão e andar pela sala, encontrei uma porta grande. Quando coloquei a mão na maçaneta e percebi que estava destrancada, resolvi abrir e sair daquela sala, tendo a certeza de que aquilo tudo era apenas um sonho e logo eu acordaria, então não importava muito o que eu estava fazendo ou para onde ia, já que logo a manhã chegaria e eu acordaria no conforto do meu quarto.

Quando sai da sala, encontrei uma mulher-raposa me olhando com uma expressão de espanto e horror. Ao seu lado, uma criatura muito alta e forte também me olhava, como se eu fosse uma ameaça.

– Quem é você? Como veio parar aqui? – disse a mulher-raposa, com um tom de voz nada amigável.

Antes que eu pudesse falar algo, a criatura que estava ao lado dela começou a conversar com ela em uma língua desconhecida por mim. 

 – Como veio parar aqui, humana? – a mulher-raposa perguntou novamente, depois de terminar a conversa com a criatura ao seu lado.

– Eu não sei exatamente... Tinha um círculo de cogumelos na floresta e quando eu entrei nele, uma luz muito forte apareceu... – disse, ainda muito confusa e assustada.

– E você sabe onde está agora? – ela perguntou, como se estivesse me testando ou algo do tipo.

– Em algum lugar do mundo dos sonhos, eu acho.

A mulher-raposa me olhou por longos segundos e depois de trocar olhares com a criatura ao seu lado, voltou a falar comigo:

– Você está muito longe de casa, humana. Até que eu possa arrumar um jeito de levá-la de volta para onde veio, ficará em uma cela. Jamon, leve-a – disse a mulher-raposa, antes que eu pudesse protestar ou até mesmo tentar entender a situação.

A criatura, que agora eu sabia que se chamava Jamon, agarrou meu braço com muita força e me puxou escadaria abaixo. Eu até poderia gritar e tentar lutar contra, mas o aperto dele em meu braço era tão forte que eu percebi que o melhor era ficar bem quietinha e não tentar nada, para o meu próprio bem.

Depois de muitos degraus, Jamon me jogou em uma cela escura e saiu. A cela era cercada por um lago de água verde, e as paredes eram de rocha. Quando olhei para o corredor e não vi mais nada além de escuridão, senti que estava muito encrencada e que esse era apenas o começo.