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História Se manca - Sobre dois garotos que amavam um ao outro


Escrita por: emdji

Notas do Autor


gente do céu, eu não consigo escrever tanto açúcar não
minha glicose tá lá na pqp

Capítulo 3 - Sobre dois garotos que amavam um ao outro


Era muito difícil para uma pessoa como Minseok lidar com humilhações. Ele já estava acostumado, claro, mas isso não tornava as coisas mais fáceis como a maioria das pessoas esperava. Por isso, quando ele ficou quase duas semanas sem aparecer, Sehun vasculhou os hospitais da cidade inteira pensando que o garoto havia ficado doente. Em um deles, um enfermeiro perguntou qual era a ligação de Sehun com o rapaz. Ele disse que era seu instrutor e que, infelizmente, tinha se esquecido de pegar o telefone do garoto quando ele se inscreveu.

“Tem certeza de que Minseok surfa?”

“Ele ainda está na fase de ficar por cima da prancha, mas sei que ele pode surfar.”

Em segredo, o enfermeiro passou o celular do ruivinho e voltou a se espreitar pelo hospital. Sehun estava nervoso demais para ligar, então mandou um torpedo perguntando se Minseok estava bem. O garoto mandou um torpedo de volta.

Eu sou uma onda pequena.

O mais velho teclou furiosamente no teclado QWERTY. Ele devia ter imaginado que Luhan tinha dito aquilo para machucar o menino, mas havia ficado tão aturdido com a presença de seu antigo professor de surf que nem ligou os pontos na hora.

Não, você não é.

Se eu não fosse, você não estaria me procurando depois de duas semanas.

Sehun sabia que Minseok não acreditaria que ele não tinha seu telefone. Ele também não queria admitir que chegou a ponto de visitar mais de dez hospitais e que seu coração doeu só de pensar que o menino pudesse ter tido alguma infecção mais grave e morrido. Ele não queria admitir várias coisas, mas acabou pedindo para que o ruivinho fosse vê-lo na praia antes do amanhecer.

Eu nunca acordo antes das oito, hyung.

Pois trate de acordar. E vá agasalhado.

Sim senhor.

 

Minseok chegou antes de Sehun na manhã seguinte. Não eram nem seis da manhã e o ruivinho já estava lá, com seus agora um e sessenta e tantos, o gorro que a mãe lhe obrigara a colocar e as duas camadas de casaco. Apesar do excesso de roupas, ele sentia frio. A praia ficava abaixo de zero durante a noite e demorava a esquentar novamente, então ele abandonou a muleta e se sentou na areia, esperando pelo garoto que havia tirado o seu sono aquela noite.

E na anterior, na anterior da anterior e em várias outras.

Sehun chegou dez minutos depois e o sol já dava seus primeiros sinais. Ele olhou para todos os lados antes de se lembrar que Minseok agora parecia uma cenoura e percebeu que o aluno parecia uma cópia da Anna de Frozen de tanto frio que sentia. A respiração do garoto deixava rastros no ar e ele se apressou em lhe envolver com o cachecol vermelho que estava usando.

“V-você demorou.”

Ele envolveu o ruivinho em um abraço e notou que o rapaz recuou ao toque. A hipersensibilidade era um sintoma mais difícil de aparecer da poliomielite, mas era o que costumava demorar mais tempo para passar.

“É melhor a gente ir embora. Quer que eu te leve pra casa?”

O rosto de Minseok estava vermelho pelo frio, mas Sehun percebeu que a pele havia ganhado mais uma camada escarlate.

“Melhor n-não. Vão pensar besteira se nos virem juntos essas horas.”

“Minnie, Minnie. Você me decepciona.” Sehun sorria enquanto esfregava os braços no mais novo.

“O que foi q-que eu fiz?”

“Achei que não ligava pra opinião das pessoas.”

O ruivinho sorriu com dificuldade, já que era muito difícil fazer seus dentes pararem de bater.

“Achou errado.”

 

 

Relutante, Sehun deixou que o garoto permanecesse na praia, mas lhe deu outro agasalho e tentou ignorar o coração que batia descompassadamente. O dia esquentava e o sol já havia dado o seu bom dia. Um feixe de luz estava bem no lugar onde Sehun se sentava e parecia ironicamente perguntar por que é que o garoto continuava enrolando. Minseok parecia perdido em um sono tranquilo e usava seu ombro de travesseiro, a franja cobrindo a ponta das sobrancelhas ainda escuras.

Era a cena mais fofa que Sehun já tinha presenciado.

Quando Minseok acordou, o mar havia começado a se quebrar em ondas compridas e encharcava pedras e porções de areia. Ele piscou, sentindo-se ligeiramente perdido, e riu ao perceber que Oh Sehun tinha cochilado em uma posição desconfortável. O garoto afagou os cabelos que começavam a escurecer por baixo da água oxigenada e riu quando Sehun se contorceu feito um bichinho de estimação. Por mais alto e carrancudo que seu instrutor pudesse parecer, Minseok compreendia toda a constelação que compunha o seu hyung.  

A manhã se arrastou e com ela dois rapazes dividiram roncos e sonhos. Sehun acabou não dizendo o que gostaria naquele dia, nem na próxima semana. Também não disse nada nas próximas que se seguiram. Quando um deles decidiu se declarar, Minseok já batia no ombro de Sehun e os cabelos perderam a tinta. Minseok ainda mancava, Sehun continuava deixando o garoto na margem do mar e os dois continuaram, por vários e vários anos, amando um ao outro sem contar ao resto do mundo.

Minseok partiu em uma tarde chuvosa quarenta anos depois. Sehun não tardou a partir também. O universo deles era repleto de discussões, teimosia e insegurança. Os dois eram lentos em coisas diferentes, mas sempre tiveram uma coisa em comum. Bem, duas coisas.

Eles se amavam e amavam as ondas.


Notas Finais


Muito obrigada a todos que chegaram até aqui sem terem que aplicar injeções de insulina. Espero que tenham gostado. <3


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