História Se você acreditar - Enquanto isso (2)

 (Rapunzel)

            Eu estava no meu quarto penteando meus cabelos depois do banho, perdida em meus pensamentos. Tanta coisa havia acontecido até agora. Ainda não tínhamos conseguido descobrir nada sobre onde nossos amigos e famílias estavam só sabíamos que aquilo tudo era obra do Breu. Um monstro feito de pesadelos e medo que eu infelizmente havia conhecido. Fiquei apavorada quando o encontrei hoje de manhã, mas tive a sorte de conseguir escapar. O Jack havia encontrado com ele também, ma verdade ele havia escutado a voz dele, e ele tinha falado que ele falou alguma coisa sobre me capturar. Ainda não estava claro para mim os motivos dele para estar especialmente interessado em me capturar, será que ele queria o poder dos meus cabelos? Será que ele queria cortá-los? Ou me manter prisioneira para usar os poderes dele como a Gothel havia feito? Todas as possibilidades eram ruins. Eu precisava treinar meus poderes, ler todos os livros que a bruxa havia deixado e queria aprender a lutar, não queria ser útil só pelo poder dos meus cabelos, eu queria saber lutar e poder me defender sozinha quando fosse preciso. A minha frigideira havia ficado bem forte depois que a bruxa me devolveu ela, mas eu ainda precisaria de habilidades, iria falar com a Merida sobre isso. Pediria a ajuda dela para treinar, com certeza ela tinha muita habilidade em batalha, a especialidade dela podia ser o arco e flecha, mas ela me contou que havia treinado luta com espadas com o pai dela desde muito nova.

            Terminei de pentear os meus cabelos já era bem tarde, estava exausta aquele dia havia sido muito cansativo, fui até o baú com as roupas que a bruxa havia deixado para nós e escolhi uma camisola azul clarinho que ia até os joelhos e tinha o desenho de umas flores. Escolhi três livros dos que a bruxa nos deixou e me deitei na cama de barriga para baixo me preparando para começar a leitura, quando estava no começo do segundo livro eu peguei no sono.

            Acordei no meio da noite assustada, tinha tido um pesadelo onde eu estava novamente na torre com a Gothel, mas dessa vez estava acorrentada em uma cadeira e amordaçada e na minha frente estavam Jack, Merida e Soluço mortos. A Gothel olhou para mim e falou que aquilo tudo era minha culpa por não ser uma boa menina. Acordei com o coração batendo forte, olhei em volta tentando reconhecer onde estava, fui me acalmando aos poucos, quando olhei para a janela do quarto ela estava aberta, a luz da lua invadia o quarto e eu vi alguém recostado na janela, usava uma capa com capuz que cobria seu rosto e estava dormindo. Fui até a janela sem fazer barulho, já com a frigideira em mãos, cheguei perto para ver quem era, usei a frigideira para afastar o capuz de seu rosto, quando fiz isso ele acordou e deu um salto, com isso seu rosto bateu na frigideira com força.

            —Essa doeu. —Jack falou ficando em pé e esfregando o lado esquerdo do rosto onde a frigideira tinha o atingido.

            —Jack! O que está fazendo aqui! Não vi que era você, me assustei... Me desculpa! —Falei me sentindo culpada por telo atingido sem querer e tentando ver aonde ele tinha sido atingido.

            —Não foi nada...Sério ta tudo bem mesmo. —Ele falou me acalmando.

            —Ah já sei, deixa eu usar meu cabelo, vai parar de doer na hora! —Falei me animando.

            —Não precisa mesmo Rapunzel, eu estou bem! —Ele falou.

            —Por favor! —Insisti.

            —Tudo bem, tudo bem... sempre quis ver esse seu cabelo "funcionando" mesmo. —Ele disse sorrindo e se sentando na janela novamente.

            Peguei um pouco de cabelo e encostei no rosto dele aonde a frigideira tinha deixado uma marca respirei fundo, fechei os olhos e comecei a cantar a canção que eu mais cantei na vida.

—Brilha linda flor

Teu poder venceu

Traz de volta já

O que uma vez foi meu

Cura o que se feriu

Salva o que se perdeu

Traz de volta já

O que uma vez foi meu

Uma vez foi meu.

            Quando terminei a canção abri meus olhos e me deparei com os olhos de Jack me encarando fixamente aquilo me deixou envergonhada e me afastei rapidamente.

            —Então, melhorou? —Perguntei.

            —Ah... sim, não está mais doendo. —Ele continuava me encarando.

            —O que achou do meu cabelo "funcionado"? —Perguntei sorrindo.

            —Nossa, isso é incrível! Sabe eu tenho um amigo, um guardião também, ele tem uma magia que também é brilha assim, ver seu cabelo brilhando me lembrou dele. —Ele falou animado.

            —E o que a magia dele faz? —Perguntei curiosa.

            —Ela tem o poder de fazer as crianças sonharem. É lindo de se ver. —Ele falou pensativo.

            —Nossa, é uma magia muito poderosa! —Falei impressionada.

            —Sim, muito mesmo. Por isso que quando enfrentei o Breu pela primeira vez o que ele queria era acabar com esse meu amigo, o Sandman, para que as crianças não sonhassem mais e deixassem de acreditar em nós, ele chegou a conseguir tirar o Sandman da briga por um tempo e quando isso aconteceu as crianças só tinham pesadelos. Muitas delas deixaram de acreditar por causa disso. Mas meu amigo é um cara durão! Ele voltou no final e foi fundamental para que conseguíssemos derrotar o Breu. —Jack falou. Gostei muito de saber um pouco mais sobre a vida dele antes de nos encontrarmos ele não costumava falar muito sobre isso.

            —Nossa, eu queria conhecê-lo... —Falei.

            —Pode deixar, quando resolvermos tudo isso vou te levar para ver a hora que os sonhos chegam nas casas das crianças, você vai gostar eu tenho certeza. —Ele falou animado e confiante de que tudo aquilo realmente iria se resolver.

            —Eu gostaria muito de ver isso acontecendo! —Falei animada, mas logo me lembrei de que talvez depois que tudo se resolvesse eu teria de voltar para o meu reino e responder a proposta do José, e talvez eu nunca mais visse o Jack...

            —Ei o que você acha que vai acontecer se conseguirmos derrotar o Breu? será que tudo volta a ser como era antes? Será que ainda vamos conseguir nos ver? —Perguntei séria.

            —Acho que os mundo e as pessoas vão voltar como era antes sim, mas não sei o que vai acontecer com nós quatro... as vezes tenho medo de esquecer tudo que estamos vivendo agora. E tenho mais medo ainda de lembrar e não podermos mais nos ver. —Ele falou sério também. Ele tinha razão, isso poderia acontecer, me sentei na janela ao lado dele e fiquei encarando a lua.

            —Eu não quero esquecer... por mais que eu tenha que sentir saudade por lembrar, eu não quero te esquecer, não quero esquecer nenhum de vocês! não quero esquecer tudo que estamos vivendo agora. —Falei ainda olhando para a lua.

            —Ei...Eu iria dar um jeito de te encontrar, não importa aonde fosse. Tenho certeza que não te esqueceria e iria te procurar em todos os mundos se fosse preciso. —Ele segurou no meu queixo e virou meu rosto delicadamente me fazendo olhar para ele. Ele falou aquilo e eu pude sentir que ele falava sério, senti que eu era importante de verdade para ele, aquilo me pegou de surpresa. Eu sentia que havia algo diferente entre nós dois, parecia que sempre fomos uma dupla, mesmo inconscientemente nós sempre acabávamos fazendo as tarefas juntos, era natural.

            —Eu acredito em você. E eu faria de tudo para te encontrar também... É estranho mas sinto como se fossemos feitos para estarmos juntos, somos como uma dupla. —Falei sincera para ele.

            —Para mim, somo mais que uma dupla... —Ele falou aquilo sério me olhando nos olhos e eu senti como se tivesse borboletas na minha barriga, um arrepio percorreu meu corpo e eu não conseguia desviar o olhar do dele.                   

            —Como assim? —Perguntei com a voz fraca mas sem desviar o olhar.

            —Assim. —Ele disse isso e antes que eu pudesse entender qualquer coisa ele me beijo. Eu não conseguia pensar em mais nada, só no quanto eu queria aquele beijo, correspondi e ele aprofundou mais  o beijo, ficamos assim um tempo e quando nos separamos ainda nos olhávamos nos olhos.

            —Entendeu? —Ele perguntou sorrindo. Não consegui não sorrir de volta.

            —Acho que sim... —Respondi sorrindo com a brincadeira.

            —Eu não sou muito bom em falar sobre sentimentos e essas coisas, você é a pessoa que mais consigo conversar de verdade, com os outros é só brincadeiras e diversão.  Você conhece um lado meu que ninguém mais conhece. Desde a primeira vez que vi eu senti que você era especial. Não quero te forçar a nada, sei que você tem suas dúvidas. Mas quero viver isso com você... entende? —Ele falou tímido mas sério ao mesmo tempo.

            —Jack eu te entendo! Você é muito especial para mim, desde quando você percebeu que não estava tudo bem quando eu disse que estava e me deu sua capa. Naquele momento você tocou meu coração. Mas eu estou enrolada com um pedido de casamento que eu não sei como lidar e tem mais tudo isso acontecendo. A única coisa que eu penso é em como eu vou estar sendo desonesta se eu te falar alguma coisa sem antes resolver o meu relacionamento com o José. —Falei.

            —Eu não te peço nada, não precisa me falar nada. Só quero saber se você também quer viver essa aventura ao meu lado... se você quiser só ficar comigo eu não vou te cobrar nada. —Ele falou aquilo realmente sério e eu queria estar com ele! Eu queria ter ele ao meu lado durante aquela aventura, eu queria não ter que pensar em nada e só me divertir enquanto vivíamos aquilo, sem pensar em compromisso.

            —Eu aceito. —Falei sorrindo.

            —O que?! —Ele perguntou sorrindo sem acreditar .

            —Eu aceito essa aventura. —Falei e o beijei novamente. Ele aceitou o beijo de bom grado.

            —Então, posso ficar com você aqui esta noite? —Ele me perguntou e eu corei com a proposta.

            —Ei não se preocupe, é só para dormir. —Ele falou brincalhão.

            —Eu não tinha pensando em nada além disso seu bobo. Ah e esqueci de te perguntar o que você estava fazendo dormindo na minha janela. —Falei me lembrando que eu não tinha esclarecido isso ainda.

            —Eu fiquei preocupado. Pensei que talvez o Breu viesse atrás de você novamente e pensei em vigiar enquanto você dormia já que eu não estava com sono. —Ele falou se explicando e foi em direção a minha cama sem vergonha nenhuma.

            —Vem cá, vou só te abraçar a noite toda. A menos que você queira que eu faça mais coisas com você, não vou achar nenhum pouco ruim também. —Ele falou rindo.

            Olhei para ele e revirei os olhos, sem conseguir responder qualquer outra coisa. Nunca havia dormido na mesma cama que um homem, na verdade eu só tinha beijado o José uma vez para ser sincera. Aquilo tudo era novo para mim, mas fui mesmo assim em direção a cama e me aconcheguei ao lado dele, tentando disfarçar a minha vergonha. Ele me abraçou e eu recostei a cabeça no peito dele, era gelado e ele me cobriu com um cobertor que havia na cama para tentar me esquentar.

            —Não te falei ainda, mas achei que você ficou linda de azul. —Ele falou e eu corei ainda mais, ainda bem que ele não podia ver meu rosto na posição que estávamos.

            —Obrigada... —Falei tímida.

            Ficamos em silencio até pegarmos no sono, estar ali daquele jeito com ele me fazia sentir segura e confortável, naquela noite eu não tive mais pesadelos.