História Second Chance - The case

Sam entrou no quarto desesperado ao ouvir tantos gritos, olhou para mim e parecia preocupado, meus pesadelos e momentos de desespero aumentaram desde o último caso há uns dois dias, naquele hospício de Oregon. Estava complicado manter a calma e disfarçar tudo para que Sam não percebesse. Ele me encarava como quem espera respostas e eu ali suado, tremendo e o encarando, não sabia muito bem o que ele queria exatamente que eu dissesse, também não sabia o que podia dizer, desviei o olhar segurando minhas pernas.

– Outro pesadelo? – sua voz era pacífica.

 – Sim, devo ter comido demais ontem a noite... – Sam olhou rapidamente para meu criado mudo onde se encontrava uma caixa de pizza aberta com apenas um último pedaço mordido – É só um mal estar que logo menos passa, fica frio! – pisquei pra ele tentando descontrair.

– Se você diz.. – ele sabia que eu estava tentando sair rapidamente da situação, sabia também que não seria um mal estar passageiro, afinal ele estava tecnicamente pior que eu com toda essa ameaça de Lúcifer, eu não podia culpa-lo, quanto mais nervoso ele ficava pior era, e eu não estava a fim de irritar Samy. – Se arruma logo, temos mais um caso! – se virando para ir ele joga o jornal na cama deixando aberto na primeira página “ Homem é encontrado morto”, li, era a primeira noticia e logicamente a de destaque, peguei o jornal para conseguir ler o resto:

“Nesta manhã de quarta-feira Robert Blington foi encontrado morto por sua esposa em um dos quartos de hóspedes, a polícia ainda não sabe o motivo de sua morte, porém o corpo foi encontrado completamente estraçalhado na cama, há especulações de que um assassino em série esteja solto por aí, mas a polícia não quer causar alarde na população. Estão investigando, sabe-se que ele foi trabalhar normalmente, não tem sinal de arrombamento na casa. Hoje começaram as investigações com as pessoas possivelmente relacionadas com o caso (...)”

Mais um caso, eu me perguntava quando toda essa coisa de caçador iria acabar, me perguntava também se eu e Samy algum dia poderíamos ter uma vida normal, dessas de acender a churrasqueira de final de semana e grelhar alguns hambúrgueres tomando uma cerveja com meu irmão, me perguntava também se conseguiria encontrar alguém como Jo e poder tê-la sempre, se poderia chegar a me casar com alguém como ela, se existia a mínima possibilidade que fosse de ser feliz de um jeito diferente. E enquanto eu pensava isso Sam voltava para o quarto com uma bandeja que continha dois copos de café expressos e um grande pedaço de torta, pegou a parte dele e foi sentar numa mesa perto da janela do quarto de motel, deixou minha parte na cama dele. Observava-o, tinha um ar sereno e desconhecido, fazia daquele pedaço de torta o melhor do mundo, era como se estivesse aproveitando cada momento daquela manhã, como se o que estivesse pra vir não fosse tão ruim e amedrontador, até porque eu sentia medo, sou um ser humano qualquer, é um instinto natural, sem medo não há coragem, e é claro que ninguém poderia saber disso.

~~Flash Back On ~~

Sam e eu corremos daquele hospício quando a sirene começou a tocar cada vez mais alto, íamos cada vez mais rápido mesmo estando somente de robes e pijamas por baixo, quando chegamos no meu Impala a sensação de alivio foi imensa, nada poderia ser mais gratificante que aquilo, agora que o monstro estava morto e os devaneios tinham acabado tudo ficaria bem novamente.

– Parece que o Tom Cruise estava certo, psiquiatras são uma droga! –disse rindo. Porém Samy desacelerou o passo e respirava fundo demais para o meu gosto – O que está fazendo? – Ele abriu a boca, mas nada falou – Sam, você está bem?

– Não! – disse ele balançando a cabeça negativamente – Não, o espectro...

– O que tem ela?

– Ela estava certa! – respirou fundo.

– Não, ela não estava! Ela está morta, tá? – arquejei – Vamos cair na estrada, preciso de uma bebida ou doze ..

– Eu consigo esconder na maior parte do tempo! Mas ... Eu estou furioso – Sam gesticulava com as mãos, como se estivesse nervoso naquela mesma hora – Eu tenho raiva de tudo! Eu tinha raiva de você e do papai, depois da Lilith e agora do Lúcifer! – se eu não conhecesse o Sam, diria que ele estava desesperado e com vontade de chorar – Invento desculpas eu culpa a Ruby, ou o sangue de demônio.... Mas não é culpa deles, não são eles, sou eu! – apontava para si mesmo – Está dentro de mim, eu estou furioso o tempo todo! E eu nem mesmo sei o porquê...

– Para! – falei calmo – Para com isso... – continuei caminhando até ele – E daí se você estiver? – respirei – O que vai fazer? Tirar uma folga? Vai dizer sim para o Lúcifer? Ou o que?

– Não, claro que não. Eu..

– Exato! – umedeci os lábios – é exatamente o que você vai fazer, você vai pegar toda essa merda e vai enterrar. E vai esquecer – comecei a aumentar o tom de voz – Porque é assim que podemos continuar! É assim que não terminamos como Martin! – apontei para o casarão do hospício já longe – Você está comigo? – ele hesitou – Eu perguntei, você está comigo?

– Eu estou com você! – foi aí que eu percebi que meus olhos estavam marejados, mas me segurei.

– Bom! – o silêncio se estendeu por um tempo – Vamos cair fora daqui!

Entramos no carro e dei partida.

~~ Flash Back Off ~~

Sam sorriu com um pedaço enorme de torta na boca, era como se tudo tivesse voltado ao normal, mas eu sabia e ele também que não era assim que funcionava, sempre esconderíamos nossos reais sentimentos para que ninguém próximo se magoe, acredito que papai foi um ótimo professor quanto a isso. Me sentei e arrumei a cama, estávamos num motel de estrada há 5km do hospício de Oregon, precisávamos abastecer rápido e picar a mula para terminar esse caso logo, estava sem paciência.

 – Não vai comer? – Sam perguntou intrigado.

– Claro que vou, tire esses olhos gananciosos da minha torta! – Abri o embrulho, pegando uma colher de plástico, comendo loucamente. Depois de saborear bem tranquilamente a torta, arrumei minha cama e a mim mesmo. Pegamos algumas armas que guardamos em um guarda-roupa velho que tinha no quarto e colocamos dentro do Impala. Próxima parada seria a casa de Robert o defunto, e eu estava quase certo que era algo do qual já tínhamos enfrentado antes.

Fomos até o endereço indicado no jornal. Já perto do almoço, já que a distância até o hotel que estávamos era bem grande, minha fome só aumentava. Samy estava sem paciência para minhas reclamações e eu tinha muitas aquela hora, pegamos duas identidades falsas de agentes já mortos do FBI, as pessoas nunca prestavam atenção nos detalhes, o que era incrivelmente mais fácil para os caçadores em geral.

A casa estava cercada com uma faixa amarela escrita crime scene (cena do crime), era engraçado como os vizinhos e os curiosos não estavam mais parasitando ao redor. Era incrível como depois de saciada a curiosidade o ser humano simplesmente voltava a sua habitualidade, mais nada importava e aquele homem morto voltava a ser um homem morto. Ainda estavam fazendo a perícia em toda casa, procurando marcas no chão, parede e moveis.

– Quem são vocês? – uma ruiva perguntou à nós dois desconfiada.

 –  Agentes Jonson e Bref, FBI! – mostrei o crachá e Sam me copiou.

 – O que agentes do FBI querem aqui?

 – Fomos designados para este caso minha senhora, sinto muito lhe informar! –sorri com zombaria. – Se quiser, pode depois ligar para meu superior e pergunta-lo! – eu sabia que se ela quisesse ligar, Bobby atenderia e falaria a nosso favor.

Ela deu passagem e entramos, agora era ver as pistas e depois o corpo, tudo aquilo estava bem fácil de descobrir.