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História Second Chance - Depois: Verdades


Escrita por: starburst

Notas do Autor


boa leitura

Capítulo 12 - Depois: Verdades


Fanfic / Fanfiction Second Chance - Depois: Verdades

"I thought that I've been hurt before"

A negação o permite a vantagem de não ser obrigado a enfrentar um problema.

Negamos o que está diante de nossos olhos simplesmente porque é mais fácil para o cérebro lidar com a situação naquele momento, afinal não assumir que há algo errado o imuniza diante daquela adversidade — um problema que não existe supostamente não necessita de soluções, correto?

Entretanto, ao contrário do que aparenta ser, a negação não é uma boa companheira em tempos difíceis. Adiar um enfrentamento e aceitação (seja de um problema, de um término ou de uma morte) só permite que, quando você finalmente decidir assumir que não está tudo bem, o seu cérebro não esteja preparado com ideias boas e maduras para lidar com a explosão de sentimentos que virá em seguida.

Ou seja: basicamente retardamos uma solução quando negamos passar por algo que necessite de uma.

Não.

A mente de Taehyung estava bruscamente partindo-se em inúmeros pedaços, os olhos desfocados vagando pelo branco absoluto e lutando contra a vontade de fitar a figura a sua frente. Se recusava a pensar nas últimas falas ditas por ela, a respiração fugindo do seu controle e soluços completando a imagem desolada que ele provavelmente possuía.

— Taehyung…

— Não! — Ele a cortara, rápido e preciso como uma faca bem amolada.

Suspirou, estar mentalmente destruído quando precisava justamente de uma resposta racional era, no mínimo, angustiante. O que diabos estava acontecendo, afinal? Taehyung fechou os olhos, se concentrando em sua própria respiração, sua tentativa mais intensa de se controlar sendo observada pelos olhos bem delineados de Morte.

— Se te serve de consolo, você não sentiu muita dor e—

— Cale-se! — Taehyung ainda não estava em pé, suas pernas trêmulas não o permitiram, porém sua voz saíra tão alta que um eco soprou no vazio infinito que os engolia. — Eu não estou morto, isso é… — Ele começara a rir, seu nervosismo escorrendo em forma de suor e molhando seus fios castanhos. — Isso é um pesadelo, é isso! Vou acordar e Yoongi hyung estará ao meu lado, isso!

Morte o observara com tédio, sua paciência e empatia evaporando conforme ele proferia as mesmas palavras que todas as outras almas sempre repetiam; justamente a já conhecida negação acompanhada de sarcasmo e superioridade. Os seres humanos eram tão previsíveis aos seus olhos, as mesmas ações sendo passadas de geração a geração e o mesmo egocentrismo de achar-se único enquanto era apenas mais uma cópia manipulável.

Ela detestava admitir, porém concordava com Destino em algumas de suas ações.

— Negação? Sério? — Seus longos fios negros cobriram seus ombros nus conforme ela soltava uma sonora gargalhada. — Sabe, eu briguei bastante para te dar a chance de encarar que estava morto de uma maneira menos dolorosa, Taehyung, porque acreditei que você e seu amigo não mereciam o fim que receberam. Devo me arrepender?

Taehyung não conseguira reagir diante da intensidade que aquelas palavras possuíam.

Nunca parara para pensar na morte. A curiosidade natural do ser humano não o afetava, era uma pessoa feliz com a vida que possuía, sempre aproveitara ao máximo suas vinte e quatro horas diárias. Era uma pessoa intensa, gostava de rir alto, demonstrar seus sentimentos com abraços inesperados e distribuir piadas para ver seus hyungs sorrindo.

Todos sabiam que Kim Taehyung era um amante da vida.

Quando “voltara no tempo” acompanhou o seu próprio declínio. A pessoa que era antes do acidente sequer se aproximava do melancólico e depressivo estudante de física que se tornara. Costumava culpar a ausência de Yoongi, pois passara dias sofrendo a perca da pessoa que mais amara, porém ali, sentado no branco absoluto e com a visão borrada pelas lágrimas, conseguira ver que jamais poderia culpar a suposta morte do Min — afinal quem havia morrido havia sido ele.

Como uma pessoa morta pode ser feliz? Uma alma em transição entre os vivos e os mortos certamente era atormentada por angústias e dores tão profundas que nem mesmo o espírito livre, jovial e positivo de Kim Taehyung suportara.

Lentamente, seu cérebro começava a se acostumar com a própria morte.

Dúvidas inundaram-no rapidamente e Taehyung encarava a Morte com sobrancelhas unidas.

— Se eu realmente… — Ele engoliu em seco. — Morri. — Arrepios percorreram seus membros e ele inconscientemente se encolhera dentro do terno que utilizava, o coração acelerando e machucando a carne do peito. — Então como consegui ver meus amigos e abraçar Yoongi? Não consigo entender…

Morte sorriu, sua empatia cutucando-a novamente. O garoto estava perdido como um cão abandonado e ela sentia-se na obrigação de responder a todas as suas questões como a professora dedicada que havia se tornado após anos encontrando almas confusas e ingênuas naquele mesmo lugar.

— O acidente. O caminhão chocou-se com tanta força contra o carro que você morreu em questão de segundos. Seu amigo conseguiu tirar o seu corpo de dentro dos destroços e te colocou nas laterais do asfalto, logo em seguida o carro explodiu. Yoongi sofreu um forte dano cerebral e desmaiou, os médicos conseguiram salvá-lo, porém ele encontra-se atualmente em coma. — Taehyung encarava fixamente o branco abaixo de suas pernas, lágrimas banhando o seu rosto silenciosamente. — Talvez você não tenha percebido, mas ele constantemente sentia um incômodo no peito e nas narinas durante as semanas em que você “voltou no tempo”, a explicação é bem simples; ele está dependendo de aparelhos para sobreviver.

Y-Yongie… — A dor que se instalara em seu peito apertava-o sadicamente. Ele sentia a angustia e a tristeza, o desespero e o amor que possuía por seu hyung competirem para assumir seu corpo e empurrar mais lágrimas para fora de suas órbitas.

Morte esperou até o quinto soluço doloroso para continuar.

— Você não se lembrava do acidente porque a partir daquele momento o seu corpo e a sua alma se desconectaram. Eu, sendo quem sou, recebi ordens para acompanhar a sua alma na transição para o mundo dos mortos, mas não consegui te chocar com a verdade, então iniciei uma guerra com o Destino, o Tempo e a Vida para permitir que você voltasse semanas antes do acidente e tivesse a chance de viver o amor da sua vida.

Taehyung era uma mistura de lágrimas e soluços quando Morte jogara os fios para fora do seu campo de visão e se preparara para continuar.

— Eu venci e você voltou. Fiquei por perto, te acompanhando todos os dias e te lembrando constantemente de que algo estava errado, então observei a suas inúmeras mudanças de humor com a esperança de que você percebesse que não estava mais entre os vivos, mas isso nunca aconteceu. Por que se preocupar tanto em salvar uma pessoa que supostamente já estava viva e segura? Eu fiquei forçando inúmeras perguntas na sua mente, porém você não percebia a verdade, então eu tive que sentar e esperar. Esperei até que Yoongi e Taehyung finalmente se declarassem para interromper e pôr um fim naquela ilusão. — Morte comprimiu os lábios, os olhos lacrimejados do Kim estavam fixos nela como se suas palavras fossem a coisa mais importante que ele já havia ouvido na vida. E, de fato, eram. — Na verdade, eu uni dois desejos quando te dei a segunda chance; o meu de me distrair vendo uma história de amor se desenrolar e o seu de estar com o seu hyung novamente. E deu certo, inclusive, porque eu ficava acompanhando o seu dia a dia como uma criança quando vê o seu desenho favorito e logo – eu admito – fiquei com pena de vocês dois. Na linha do tempo original foram tantos mal-entendidos que eu não fui capaz de deixar sua alma passar para o outro lado, precisava ver vocês juntos.

Taehyung nunca esteve tão confuso em toda a sua vida. Fitava Morte em sua figura feminina com as sobrancelhas bem unidas e os olhos semicerrados, a imagem sentimental que ela lhe apresentava não se encaixava com quem ela era. Imaginava um ser frio, sombrio e desprovido de sentimentos humanos, porém conversava com o sentimentalismo em pessoa — definitivamente não fazia sentido.

— Okay. — Ela suspirou. — Eu confesso que é bem entediante estar na minha posição. Todas as almas me encontram antes de atravessar e é no mínimo exaustivo ter que explicar toda a história do seu óbito e o que ela vai encontrar do outro lado, então quando eu encontro amores com péssimos finais, pais que se vão enquanto estão magoados com seus filhos ou pessoas muito boas em vida que morrem de maneira cruel e injusta, obviamente eu me sinto na obrigação de fazer alguma coisa. Não é fácil alterar a realidade, então minhas brigas com aqueles sádicos certinhos geralmente duram dias, mas de vez em quando eu venço e consigo “segundas chances”; que na verdade são mundos onde controlo os acontecimentos e permito a essas pobres almas alguns curtos momentos de felicidade.

O choro havia cessado, as lágrimas secavam e grudavam os cabelos castanhos no rosto bonito de Taehyung e ele ouvia a história que Morte narrava com total atenção. Nunca se imaginara naquela situação, porém admitia que a ideia de conversar com um ser tão temido era empolgante.

— Então quer me convencer que a terrível morte na verdade é um ser sentimental e bom, como um super-herói que luta contra vilões? — Ele dissera, a voz rouca e o nariz fungando.

— Não, credo. Se for me classificar com base em histórias em quadrinhos, me coloque como uma antagonista. Eu não luto pelo bem e nem pelo mal, eu só cumpro ordens de superiores e vez ou outra me permito satisfazer meus próprios desejos. Não sou um monstro horrível, mas também não sou um anjo, Taehyung.

— Entendo… Continue, porque eu ainda não compreendo totalmente os fatos.

— O que você quer saber? — Ela finalmente se sentara, imitando a posição desleixada do moreno e deixando a combinação escura semelhante a um vestido velho escorrer e manchar o branco total de um negro imersivo.

— Você disse que suas segundas chances são mundos em que você controla tudo. Então tudo o que eu vivi nas últimas semanas nunca existiu? Qual o sentido em me proporcionar tanta alegria se depois você arrancou tudo de mim me dizendo a verdade? E Yoongi? Meus amigos? Como eles pareciam tão reais?

Morte sorriu, eram perguntas interessantes.

— Geralmente, quando as almas estão nessas realidades alternativas, em determinado momento elas percebem a sua condição e passam para o outro lado, mas você não conseguiu ver isso Taehyung, então eu fui obrigada a interromper novamente. Meu objetivo era te mostrar um outro final para o seu relacionamento com o Yoongi, te fazer perceber que o seu amigo também te amava na mesma proporção. Por isso criei esse mundo.

— Tudo bem, eu sei que ele me amava, mas e Yoongi hyung? Ele também merecia saber os meus sentimentos.

— E ele “soube”. Teoricamente. — Ela se corrigiu quando recebeu um olhar desconfiado do moreno. — Yoongi está em coma, então foi fácil mover a mente e alma dele para o meu mundo, afinal enquanto ele vivenciava aquelas cenas ao seu lado tudo não passou de um sonho projetado em seu coma na verdadeira realidade, entende?

Sim, ele realmente entendia. O cérebro brilhante de Kim Taehyung jamais se confundiria em uma tese tão simples como aquela, porém sentia o coração pesar conforme percebia que ele morrera sem realmente dizer olhando nos olhos do melhor amigo seus verdadeiros sentimentos.

Sentia-se triste e frustrado. Uma terrível combinação.

— Entendo.

— E não se preocupe, seus amigos Seokjin e Namjoon realmente terminaram como no meu mundo. Eles passam pelo luto juntos, assim como Jimin, Hoseok e Jeongguk. Seus pais sentem um enorme arrependimento por te abandonar quando você revelou que continuaria sendo amigo de Yoongi mesmo ele sendo homossexual e, olha, eu nunca vi uma mulher tão desesperada como a sua mãe no dia do seu enterro. Ela chorou o suficiente para encher baldes, teoricamente, é claro, mas foram muitas lágrimas saindo de um corpo humano.

Saber que há pessoas que te o amaram aqueceu o coração de Taehyung e ele quase esboçou um sorriso. Quase. O pensamento de que seus amigos e familiares estavam sofrendo pela sua morte o desarmou e ele sentia-se extremamente mal por quem deixara para trás. Para ele havia acabado, porém para quem fica, a dor é infinita e incurável — ele mesmo a experimentara.

— E-E os pais de Yoongi? — Demorou a encontrar a própria voz, atraindo a atenção de Morte para ele novamente. — Como eles reagiram com o acidente?

— Os pais de Yoongi estão nesse exato momento no hospital. O arrependimento destruiu a mãe dele e ela chora dia e noite, já o pai prefere gritar com todos os médicos e enfermeiros que encontra nos corredores do hospital.

Morte riu, demonstrando uma porcentagem de sadismo que Taehyung julgara como interessante. Ela realmente não era um anjo, jamais seria.

— Já faz quantos dias? — Morte o encarou, sobrancelhas unidas. — Que eu…

— Três meses, Taehyung. Já faz três meses.

— Ah… — Ele estava surpreso, o tempo havia corrido rapidamente enquanto ele se ocupava em desvendar mistérios em um universo paralelo e falso. — E Yoongi vai acordar?

— Eu sou apenas quem os leva ao fim, Taehyung. Não posso prever quando eles vão morrer, quem sabe a data exata é o Destino. — Ela rolou os olhos, claramente irritada com seu superior. — Se serve de consolo, ele ainda não me mandou buscar Yoongi.

O coração de Taehyung se inundara com uma renovada esperança. Sabia que já havia acabado para ele no universo dos vivos, mas desejava que seu melhor amigo vivesse por muitos anos, se apaixonasse, se casasse, possuísse o emprego dos seus sonhos, uma casa confortável e um animal de estimação com um nome bem ridículo. Seu amor por seu hyung ultrapassava todas as barreiras — inclusive a do egoísmo, odiava pensar em seu querido Yoongi sofrendo por alguém morto, não importava que fosse por si, ele simplesmente abominava a imagem do baixinho chorando.

— Obrigado.

— De nada. — Ela abriu um desengonçado sorriso, sem exibir os dentes. — Tudo faz sentido agora? O por que de seus amigos e familiares te ignorarem nos dias após o acidente, a tristeza eterna que você sentia, as visões e o fenômeno da volta do tempo?

— Bom, sim. — Taehyung assentiu, os fios suados colando em sua testa. — Eu ainda me sinto triste, mas-

— Faz sentido, afinal você está morto. — Morte o interrompeu, fria e séria.

— Claro… — Ele riu secamente, coçou os fios castanhos e sentiu o coração acelerando. Estava aceitando a morte, o seu fim, finalmente.

— Você foi uma boa pessoa em vida Taehyung. — Ela continuava séria, porém seu tom de voz havia caído algumas notas e agora estava tranquilo e calmo como uma onda se quebrando. — Yoongi nunca vai se esquecer daqueles dias, eu darei um jeito de impedir que o Tempo apague as memórias do coma. Você vai para um lugar merecido e vai desfrutar de sensações incríveis, eu garanto.

— Eu não sei se quero que ele se lembre. — Ela se espantou, arregalando os olhos. — Não deve ser algo bom as lembranças de um coma, não quero que ele tenha memórias tão difíceis só para não se esquecer que nos beijamos. — Taehyung sentia as lágrimas ardendo os seus olhos sensíveis. — É egoísmo querer que ele se lembre de algo que nunca aconteceu, de verdade. — Finalizou, dando de ombros.

Morte fitou a pobre alma a sua frente com curiosidade. Ele era a pessoa mais altruísta que já conhecera, seu amor por Yoongi era tão puro e verdadeiro que ela sentiu-se orgulhosa por lhe conceder a segunda chance.

Nunca errava em suas escolhas.

— Ele vai se lembrar de um sonho bom onde vira seu querido melhor amigo pela última vez e pôde finalmente se declarar para seu primeiro amor. — Taehyung levantou a cabeça, fitando-a novamente. — O quê? Eu realmente gosto de histórias de amor.

Taehyung, pela primeira vez desde que chegara a imensidão branca que dominava aquele local infinito, soltou uma risada. Ria da piadinha da Morte e ao pensar no absurdo que era a situação ele rira ainda mais alto. Seu peito se esvaziava lentamente, as dores no corpo o abandonavam e a angustia tirara as mãos do seu pescoço, o libertando.

Ele não sabia, mas estava sendo transportado para o outro lado.

— Eu tenho um último pedido. — Morte sustentou o seu olhar, aguardando ansiosa. — V-Você pode me levar até o Yoongi hyung? — Ele sussurrou, a cabeça abaixada e os fios lisos cobrindo-lhe os olhos.

O Destino observou, revirando olhos, Morte realizar mais uma vez o capricho de uma alma liberta.

Ele jamais a entenderia, não conseguia compreender como as almas conseguem se manter tão apegadas a uma realidade que não as pertence — nunca seria capaz de assimilar o fato de que Kim Taehyung realmente merecia ver Min Yoongi pela última vez.

O motivo? Bem, ao contrário da Morte, o Destino odiava histórias de amor.

"And now that I'm without your kisses

I'll be needing stitches"


Notas Finais


sim... foi isso, é.

desculpem a demora, eu estava finalizando tudinho pra sair o mais claro possível. se ainda tiverem alguma dúvida me contem que eu respondo, okok?

obrigada por lerem e pelos comentários nos cap anteriores, me deixa muito feliz saber que tem gente que le essa loucura. perdão tbm se decepcionei, mas, é... beiju ♥


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