História Second Chance - Durante: Amor

"Please don’t fall
Please don’t collapse
Never never fall"

Os cheiros da natureza — em especial das flores de coloração vermelha e da terra molhada pela chuva — adentravam as narinas sensíveis de Min Yoongi. Com os cabelos negros cobertos por uma touca branca, o futuro psicólogo observava o melhor amigo perder-se em seus pensamentos pela milésima vez naquela semana.

Sentados lado a lado em um banco, os dois compartilhavam o mesmo silêncio, porém suas mentes divagavam por motivos muito diferentes. Yoongi se perguntava o que estava acontecendo com Taehyung, enquanto o mais novo construía teorias malucas e as desconstruía em seguida.

Uma semana. Kim Taehyung havia retornado ao passado milagrosamente e agora possuía quatro semanas até o dia do acidente, o fatídico acidente que levara seu melhor amigo e o deixara despedaçado.

— Você sabe que pode contar comigo quando estiver passando por algum problema, certo Taehyung? — Yoongi segurava a mão direita do confuso amigo, vendo-o fitá-lo pela primeira vez desde que decidiram sair do apartamento de Jin e Jimin.

Taehyung engoliu em seco. Imaginar como o outro se sentia vendo-o tão alheio o deixava triste, afinal deveria aproveitar o milagre e não questionar seu porquê, deixando Yoongi preocupado e angustiado por não saber o que se passava em sua mente. Entretanto, seu desejo por uma explicação era insaciável.

Não conseguia evitar.

— E-Eu estou bem hyung. — Tentou tranquilizá-lo, abrindo um sorriso ainda mais falso do que sua afirmação.

— Não está duvidando da minha inteligência, está? — Yoongi arqueou uma sobrancelha.

Por mais que tentasse, Kim Taehyung nunca conseguia enganar seu melhor amigo e confidente Min Yoongi. Ele o conhecia bem demais para se deixar levar por mentiras e sorrisos forçados.

— Eu-

— Não pense que estou querendo forçar você a se abrir, eu só quero que saiba que eu estou aqui. — Yoongi segurou o rosto do mais novo, forçando-o a olhar em seus pequenos e preguiçosos olhos. — Eu estou aqui.

O coração de Taehyung batia extremamente rápido, suas bochechas esquentavam e ele sentia os olhos marejarem. Lambeu o lábio inferior, assentindo, apenas para jogar-se nos braços abertos de Yoongi e respirar profundamente o cheiro do seu shampoo.

As pessoas sempre possuíam duas opiniões a respeito de Yoongi e Taehyung; ou achavam adorável a forma como se tratavam — com tanto carinho e fidelidade —, ou achavam nojento dois rapazes universitários serem tão próximos e se tratarem como namorados.

A mãe de Taehyung era uma antiga amiga da mãe de Yoongi, a senhora Kim pegou o bebê adorável de sua querida amiga Min no colo antes mesmo que a criança soubesse seu nome, sendo assim era natural que os filhos de amigas tão próximas se tornassem melhores amigos — afinal, além da amizade de suas mães, os dois foram vizinhos durante toda a vida.

Porém não era natural que um sentimento tão forte e intenso assumisse o controle do mais velho dos dois. Yoongi não sabia quando havia começado a se sentir tão atraído por Taehyung, apenas observou, impotente, aquela atração poderosa transformar-se em algo ainda maior e difícil de explicar.

Amor, ele se encontrara dizendo, aos dezoito anos de idade. Eu amo o Taehyung. E o rapaz sabia que seus sentimentos fugiam do limite da amizade, mas da maneira mais sincera e inocente possível permitiu-se senti-lo, amou o melhor amigo em segredo durante todos esses anos.

Aceitar sua homossexualidade foi um processo muito lento e doloroso para um jovem de família religiosa. A família Min repudiava qualquer “anormalidade”, então Yoongi fora obrigado a sair de casa aos dezenove anos, após decidir se abrir e contar para sua mãe, pai e irmã que estava se relacionando com um homem.

Desde então trabalhava e sustentava um pequeno e barato apartamento. Quando decidira cursar psicologia fora ainda mais complicado, arrumou outro emprego e pagou todas as suas despesas com muitas dificuldades. Suava muito, cansava muito, trabalhava muito e muitas vezes dormira com fome, mas estava feliz, afinal era o seu lugar, o seu curso dos sonhos e tudo estava sendo pago com o seu dinheiro.

Já havia namorado 3 vezes e dormido cinco ou seis vezes com alguém. Porém, todas as noites, ao deitar a cabeça no travesseiro, era em Taehyung que ele pensava. Incrivelmente, seus sentimentos não diminuíram nem mesmo enquanto ele distribuía beijos pelo corpo de sua ex namorada, pois era em Taehyung que ele pensava todas as vezes que se relacionava — sexualmente ou não — com alguém.

Min Yoongi era totalmente apaixonado e devoto a Kim Taehyung, essa era a verdade.

Sentia-se sujo, falso e mentiroso, então seus relacionamentos nunca duravam mais de três meses. Ele os terminava com desculpas superficiais, geralmente sendo odiado por seus ex-parceiros.

O único ponto negativo em amar alguém tão intensamente como Yoongi fazia era não saber o que a outra pessoa sentia. Conhecia seu melhor amigo como a palma de sua mão, mas jamais poderia dizer se Taehyung o amava ou não.

Era incapaz de enxergar qualquer sinal que denunciasse seus sentimentos.

— Obrigado Yoonie. — O sussurro do Kim arrepiara os poucos fios de sua nuca. Seu apelido de infância nunca parecera tão adorável. — Venha, vamos tomar chocolates quentes! — Ele parecia uma criança adorável com aquele sorriso quadriculado, fugindo do abraço acolhedor do baixinho e se levantando.

Yoongi não fazia ideia, mas Taehyung havia decidido aproveitar sua segunda chance. Não deixaria dúvida nenhuma atrapalhar seus momentos com o baixinho e, caso o acidente o separasse do melhor amigo, queria sentir que fez o máximo que pôde por ele.

Seu precioso e baixinho Min Yoongi merecia o melhor.

— ☽  —

Namjoon segurava um copo de café quando avistou o ex-namorado adentrar a cafeteria. Seokjin trajava calças jeans escuras e moletom rosa claro, os óculos de grau enfeitando o rosto bonito e os cabelos descoloridos completando o visual extremamente comum — então por que o estudante de engenharia civil sentia-se tão atraído?

Mordeu o lábio inferior, jogando mais café para o estômago e acenando para o loiro, que rapidamente o encontrou e sentou-se na cadeira à sua frente. O clima era agradável e eles haviam terminado pacificamente, então encontros amigáveis eram comuns e aconteciam com frequência.

— Você fica muito bem de óculos, hyung. — A cena era engraçada, Namjoon estava com as bochechas coradas e os olhos bem fixos no rosto sorridente do ex namorado. Envergonhado, muito envergonhado.

— E você já me disse isso algumas vezes. — Ele procurava algo para comer no menu, alheio à vermelhidão nas bochechas do homem à sua frente.

Foram um casal intenso e agradável, unidos na medida certa e companheiros em tudo. Uma relação tão harmoniosa terminara da mesma forma que começara, suave e tranquilamente. Seokjin desejava focar-se em seus estudos e Namjoon não o impedira, terminando o relacionamento e permitindo ao mais velho a liberdade que ele precisava. Era compreensivo e sabia que seu hyung precisava de notas impecáveis para manter sua bolsa integral, então o deixara com a certeza de que um amor tão inocente e dócil não morreria se eles passassem alguns meses separados.

E ele nunca esteve tão certo.

— Está pronto para a formatura? — Questionou Namjoon, soprando seu café e bebendo-o em seguida. Suas covinhas adoráveis estavam em evidência e Jin sorriu ao vê-las.

— Gosto das suas covinhas. — Tocou-lhe as bochechas, deixando-o ruborizado novamente. — E não, não estou pronto para ser enfermeiro. Quero dizer, serão vidas nas minhas mãos!

O bolo de chocolate com morango de Jin fora colocado na mesa por uma garçonete baixinha e logo o loiro estava comendo. Seokjin atribuía uma grande importância a comida e todos do pequeno grupo se acostumaram a comer com o seu hyung enquanto ele fazia comentários e sons engraçados com a boca.

— É visível seu amor por enfermagem. — Namjoon deu de ombros. — Todos vimos como se esforçou e todas aquelas noites em claro, com certeza, fizeram de você o ótimo enfermeiro que eu sei que será. — Ele segurou a mão de Jin e deixou um pequeno aperto na mão fria do loiro, sorrindo para sua expressão surpresa.

— Tem certeza que não está se formando em psicologia? — E eles riram, quebrando novamente aquele pequeno contato romântico.

— Tenho, definitivamente minha área não é essa, hyung.

— Obrigado, Namjoon.

Olhares conectados. Corações apaixonados. Amantes silenciosos e satisfeitos com um simples toque de mãos.

Kim Seokjin e Kim Namjoon.

— ☽  —

— Estou com sono, hyung. — Taehyung repetira pela terceira vez.

Sentados no chão frio do apartamento de Yoongi, os melhores amigos alternavam o controle do videogame. Exausto, Kim Taehyung reclamava enquanto o outro sequer o ouvia, estava concentrado e desejava finalmente terminar o jogo, então não percebera quando o cansado Taehyung levantara do chão e, recolhendo sua mochila com seus livros e cadernos, caminhou até o quarto.

Após perceber que a família de Yoongi havia expulsado-o de casa, Taehyung oferecera seu quarto para seu hyung dormir, mas ele negou. O independente e decepcionado Min Yoongi se mudara para longe do bairro onde crescera e, com todo o dinheiro que possuía, alugara um pequeno apartamento por três meses. No início fora muito complicado e ele não conseguia emprego, porém com a ajuda do dono de sua nova moradia o menino baixinho e de pele clara começara a conseguir renda suficiente para viver sozinho e, sendo assim, Taehyung decidiu se mudar para o apartamento do melhor amigo e dividir o aluguel.

Entretanto, dois jovens inexperientes não conseguiriam manter um apartamento de dois quartos, logo eles começaram a dividir a mesma cama — hábito esse que durou até o dia em que Yoongi morrera, quando Taehyung não suportou viver no local onde haviam construído tantas memórias juntos e voltou para a casa dos pais.

— Tae? — Eram três horas da manhã e Yoongi estava com os olhos cansados. Desligando o videogame e pegando seu cobertor, encontrou-se com um dorminhoco Taehyung e seu espaço na cama ocupado. Soltou um riso anasalado, bocejando e empurrando a perna do melhor amigo para o lado.

Taehyung ainda estava estranho, mas após o abraço no banco mais cedo o estudante de física havia voltado a ser sorridente e tagarela. Yoongi não reclamava, adorava ouvir as coisas engraçadas que seu dongsaeng dizia, pois eram sinceras e divertidas.

— Eu te amo Taehyung… — Sussurrou, jogando o cobertor por cima dos ombros e virando-se para o lado oposto dos atraentes lábios do mais novo.

Quando Yoongi já dormia e o frio da madrugada deixava o chão ainda mais gélido, Taehyung circulara a cintura de seu melhor amigo com o braço e sussurrou em seu ouvido, tão baixo que o outro jamais ouviria: — Eu também te amo, Yoonie, por favor não me deixa de novo…

"Don’t go far far away"