História Second Chance - Durante: Espaço

"It's so quiet here
And I feel so cold"

O café quente esquentava as mãos trêmulas de Kim Taehyung.

A cafeteria da faculdade estava vazia e convidativa, apenas duas pessoas dividiam o amplo local com o moreno, porém estavam ocupadas demais com as próprias vidas – e os próprios problemas – para concentrarem sua atenção no confuso estudante de física. Taehyung dividia olhares entre o livro sobre viagem no tempo e o celular, lendo as últimas mensagens que havia recebido dos seus hyungs e ignorando-as.

A verdade era que o depressivo Taehyung estava apavorado, o seu prazo estava chegando ao fim rapidamente e a mente do moreno tentava criar soluções para o problema que possuía em mãos; Min Yoongi estaria morto em três semanas.

Três semanas. Vinte e um dias. Exatas quinhentas e quatro horas.

Desde criança ele se destacara por possuir um cérebro excelente, todos admiravam o pequeno Kim fazer contas extremamente complicadas para a idade dele e chocavam-se com a capacidade do garoto de raciocinar de maneira rápida, até mesmo quando era pressionado.

Escolhera cursar física pois desejava tornar-se um professor, recusava-se a possuir tamanho conhecimento e não dividi-lo com os outros. Os primeiros anos foram extremamente tranquilos e Taehyung tornou-se um dos alunos destaques do curso rapidamente. Certamente traria muito orgulho a família – porém estava claramente incapacitado, sua mente doente resgatando a todo momento a memória de um Yoongi sangrento sussurrando pedidos de desculpa ao melhor amigo e castigando-o com aquela sensação de solidão.

O choque de saber que o melhor amigo morrera mudara algo na mente brilhante do rapaz. A dor de perder Yoongi havia estraçalhado a sua mente e transformado-a em uma máquina de reviver memórias e sensações ruins.

Sentia-se sendo torturado conforme observava os dias correrem, ao mesmo tempo que esforçava-se ao máximo para aparentar estar bem para os seus hyungs preocupados. Seokjin, Namjoon e Yoongi pareciam estar cada dia mais atentos aos movimentos de Taehyung, observando que algo incomodava profundamente a mente do estudante de física.

— Achei você. — A voz de Jimin chamara a atenção de seu dongsaeng. Taehyung fitou o amigo com as sobrancelhas unidas, afinal o baixinho deveria estar em aula e não procurando-o pela faculdade.

— Aula vaga? — Questionou, fechando rapidamente os livros sobre as maluquices de viagens no tempo e bebendo um pouco do café. Jimin sentou-se ao seu lado e puxou a cadeira na direção do moreno, analisando-o. — O que está fazendo?

— Eu sei que Yoongi hyung é o psicólogo do grupo, mas estou tentando descobrir o que está acontecendo dentro da sua mente. — Taehyung riu, Park Jimin era a pessoa mais maluca que ele conhecia.

— Está tudo bem. — Mentir estava se tornando cada vez mais difícil. — Eu estou preocupado com as provas, isso é tudo, não se preocupe. — Segurou a mão pequena do amigo rapidamente, olhando-o bem nos olhos para autenticar sua palavra.

Jimin não estava convencido. Assim como os outros, preocupava-se com o atual estado totalmente aéreo e tenso de Taehyung, porém nunca fora o mais íntimo do moreno, então temia começar um diálogo e receber uma resposta rude. Algo como “vá cuidar da sua vida” ou “me deixe em paz” impediam o recém-tingido ruivo de tentar se aproximar.

— Você não está convencendo ninguém, Tae. — Tomou-lhe o café e puxou a mão do maior, tirando-o da cadeira. — Vem.

A caminhada até o local onde o grupo se reunia foi recheada com piadas sem sentido e risadas escandalosas. Os cabelos alaranjados de Jimin pareciam queimar com a luz pálida do sol e as bochechas de Taehyung adquiria um tom avermelhado conforme eles apressavam seus passos. As pessoas olhavam para as suas mãos unidas com curiosidade, não era comum assistir uma cena de dois homens tão juntos em público, mas os dois aparentemente não se importavam.

Por alguns minutos a vida de Taehyung parecia estar normal novamente. Sem depressão, sem prazos, sem viagens no tempo, sem Yoongis sangrentos sussurrando pedidos de desculpas e sem acidentes trágicos.

— Olhem só quem eu achei! — Jimin estava com um sorriso alegre nos lábios enquanto o outro coçava a cabeça, bagunçando os fios lisos.

— Taetae… — A voz de Yoongi chamou a sua atenção e o ele sentou-se ao lado do melhor amigo, dividindo a sombra agradável.

— Estávamos falando sobre as viagens de fim de ano. — Namjoon dissera, discretamente cutucando o ex namorado com uma folha seca enquanto o mesmo apenas ria e fingia não ver. — Jimin e Jeongguk querem visitar os pais, Jin hyung prefere ficar e tentar uma vaga no hospital, Hoseok e eu vamos para a praia e você e Yoongi vão para o interior. Vamos todos nos separar, quero dizer, menos o Jin e-

— E isso não me incomoda, muito pelo contrário. — Fechou os olhos em duas fendas enquanto sonhava ter alguma coisa para atirar na cabeça do língua solta Kim Namjoon.

— Jin hyung me disse que vai sentir muito a nossa falta, ele não quer ficar sozinho na cidade. — Seokjin jogara o corpo do ex namorado no chão, ouvindo as risadas dos amigos preencherem seus ouvidos.

Kim Seokjin era um homem esforçado que se dedicara muito ao curso que escolhera, dava tudo de si nas aulas e triplicava seus cafés nas semanas de prova. Por ser tão estudioso sempre perdia as festas que o grupo realizava, não possuía nenhum amigo fora da pequena família que construíra com os seis garotos e, claro, estava solteiro. Arrependia-se de deixar toda a sua vida de lado e só ter olhos para livros e video aulas, porém sabia que todo o seu esforço seria recompensado quando se formasse.

Só não esperava que, quando estivesse finalmente livre dos estudos, seus amigos resolvessem sair de uma vez da cidade e o deixassem sozinho. Sentia-se frustrado.

— Vamos para a praia, hyung. — Hoseok trocava olhares entre o ex-casal, um sorriso sapeca iluminava o seu rosto.

— Não. — Sua bochecha estava vermelha, a presença de Namjoon durante semanas inteiras certamente não o deixaria saudável mentalmente. Com a formatura eles poderiam finalmente ficar juntos, mas precisavam conversar antes de qualquer atitude irracional.

Precisamos conversar primeiro, ele se lembrava.

— Eu te chamaria para vir comigo e com Jungkookie para a casa dos nossos pais, mas acho que você não ficaria muito feliz. — O recém casal ainda deixava os amigos desconfortáveis com todos os beijos e demonstrações de afeto frequentes, mas eles perdoavam.

Era o início do namoro, compreensível.

— Não, obrigado.

— Eu… Bom… — Yoongi mordiscava os lábios. Queria o seu hyung feliz, porém seria obrigado a perder a grande chance de se confessar para Taehyung justamente quando ele decidira se abrir e revelar os seus sentimentos.

— Tudo bem, nós podemos ficar aqui. — Taehyung rapidamente interrompeu os pensamentos do amigo, atraindo todos os olhares em sua direção. — Não me importo em abrir mão de um final de semana por você, hyung. — Ele segurou a risada nervosa ao ver os olhos de Yoongi bem abertos em sua direção.

O que era isso? Taehyung já sabia que ele iria se confessar? Yoongi fitou o chão, coçou a palma da mão e voltou a fitar a incógnita chamada Kim Taehyung com as sobrancelhas unidas. O grupo inteiro se concentrava na expressão chocada e confusa do futuro psicólogo, ninguém falou ou sequer se mexeu durante os próximos minutos até a voz de Seokjin cortar o clima estranhamente tenso que se instalara no local.

— Não, obrigado. — Ele soltou um riso forçado. — Yoongi me mataria se eu impedisse vocês de irem, ele só fala nessa viagem há meses.

Taehyung sentiu. A sensação sufocante de impotência pousou sobre os seus ombros e ele fechou os olhos com força para impedir que as lágrimas caíssem. Precisava impedir a maldita viagem e precisava fazê-lo logo, por que Jin não poderia cooperar? Engoliu em seco e respirou fundo, os olhares de todos presentes queimava em seu rosto e tornava suas bochechas vermelhas.

— Eu insisto. — Disse, ignorando totalmente a boca aberta de Yoongi. — Yoongi e eu podemos ir outro dia. — Namjoon o analisava com os olhos semicerrados, estranhando totalmente a ação do mais novo. — Vamos lá hyung, vamos para aquele bar gastar dinheiro com karaokê ou, não sei, vamos ao boliche!

A insistência de Taehyung quase convenceu Seokjin – mas a expressão extremamente chocada de Yoongi atraia toda a sua atenção. Ele suspirou e negou, trocando olhares com o ex namorado.

— Eu aceito ir para a praia com vocês. — Namjoon mordeu o lábio inferior para conter o sorriso que ameaçava crescer em seus lábios e apenas assentiu, já Hoseok gritara bem alto e iniciara uma dança engraçada que rapidamente fez explodirem em risadas.

Taehyung ficara para trás quando os amigos caminharam para os prédios de seus respectivos cursos, refletindo sobre como havia sido inútil em ajudar seu precioso Yoongi. A tarefa deveria ser fácil; arranjar um motivo para impedir a maldita viagem, porém estava sendo deveras frustrante e a cada segundo que se passava a vida de seu hyung caminhava para o fim trágico que ele infelizmente já conhecia.

O que eu faço? Se questionava, batendo com as duas mãos fechadas nos lados da cabeça. Ele sabia que aquela segunda chance não viria de graça, mas a missão de impedir a morte do melhor amigo definitivamente não deveria ter sido confiada a ele. Era um péssimo mentiroso e quando teimava com algo dificilmente seu foco era desviado, logo seus amigos perceberiam que ele realmente não estava nenhum pouco bem.

— Você realmente está me assustando. — Yoongi dissera, segurando as duas mãos do amigo e puxando-o para um abraço desajeitado. Engoliu em seco ao sentir o cheiro do homem que amava tão próximo, seu coração desgovernado provocando palpitações nervosas em seu peito e as mãos levemente trêmulas acariciando as costas de Taehyung. — Se você não quiser ir está tudo bem, Taetae… Eu só fiquei surpreso porque achei que era algo qu-

— Não é isso. — As mãos de Taehyung ainda estavam fechadas em punhos e ele se recusava a retribuir o contato físico. Era um inútil, não merecia o melhor amigo. — Eu só não sei se quero ir agora, quer dizer, podemos ir outro dia.

Yoongi respirou fundo e deixou o corpo do outro, afastando-se o suficiente e fitando os olhos escuros e desesperados do garoto. Ele costumava ser tão transparente que o incomodava, mas agora estava tão distante e misterioso que o futuro psicólogo arrependera-se de no passado desejar que Taehyung fosse mais sério e soubesse esconder suas opiniões.

— Estamos combinando isso a meses, Tae. — Tentou mais uma vez, seu coração se quebrando conforme ele percebia que Taehyung sequer olhava em seus olhos. — Eu estou preocupado com você.

Malditos sejam os dons do baixinho de ler as expressões das pessoas! Yoongi seria um ótimo psicólogo, Taehyung sentia orgulho do homem que ele havia se tornado, porém sua formação estava atrapalhando a sua missão e ele jamais – jamais – contaria o que estava acontecendo para o mais velho.

— Eu fiz algo que te magoou? — Min Yoongi perguntou de novo, agora sentado na frente de Taehyung.

— Claro que não. — Ele riu. — Não tem nada acontecendo, hyung.

— Você está mentindo para mim. Acha mesmo que eu não vou perceber os sinais que estão praticamente gritando em você? Qual o seu problema? — O tom irritado de Yoongi soou um alerta na mente do outro.

“Qual o seu problema? Por que tudo sempre tem que girar ao seu redor?”

Flashes povoavam seu cérebro. Uma discussão. Palavras ditas no calor do momento. Um caminhão. Um acidente. A morte terrível de Yoongi. A solidão. A garota estranha. A suspeita volta no tempo. A missão, Taehyung! Não deixe ele morrer! Impeça o acidente!

— E-Eu preciso ir.

E fora naquele momento que o garoto que sempre se destacara por ter um cérebro brilhante percebeu que estava dentro de algo muito mais sério do que imaginava. Ele definitivamente precisava impedir o acidente, nem que tivesse que brigar com seu hyung para salvar a vida dele.

— Espera, Tae! — Mas Yoongi agarrara o seu braço, o parou bem no meio do jardim e olhou fundo em seus olhos, vendo as lágrimas que escorriam pelo rosto dele e sentindo o próprio coração gemer em desespero. — Me desculpa, eu não quis te magoar. Desculpa. Desculpa. Desculpa.

Nos braços trêmulos de Min Yoongi e sentindo o coração do moreno bater forte contra o seu corpo, Taehyung tomara uma decisão. Abriu um pequeno sorriso e afastou o mais velho dos seus membros, segurando em seus ombros e percebendo pela primeira vez que realmente amava tudo que aquele homem era; desde os fios bagunçados até os tênis mal amarrados.

Ele o amava, era isso.

— Preciso de um tempo para respirar, tudo bem? Vou passar alguns dias no apartamento de Namjoon, cuide-se. — E então deixara o chocado e sem palavras Min Yoongi para trás.

Se ele brigasse com o baixinho e o afastasse até o dia do acidente, tudo ficaria bem. Yoongi ficaria vivo e eles poderiam voltar a viver normalmente. Ele só precisava se manter distante.

Yoongi continuava no momento lugar. Não correria atrás dele como havia feito, afinal ele disse que precisava respirar e tudo que o Min desejava era que o seu tão amado garoto fosse feliz, então não iria impedi-lo de ir embora. Talvez o estivesse sufocando com toda aquela proteção, certo? Seriam só alguns dias, certo? Ele não havia machucado o seu precioso Taehyung, certo? Seu coração ainda batia desesperado quando o melhor amigo finalmente saiu de seu campo de visão, porém ele não ousou fazer absolutamente nada.

Taehyung precisava de espaço.

Yoongi dava tudo o que Taehyung precisava.

Taehyung queria salvá-lo.

Yoongi só queria vê-lo feliz, porque, bom, Min Yoongi era completa e totalmente apaixonado por tudo que envolvia Kim Taehyung.

Mas o destino era muito mais esperto que o inteligente estudante de física e talvez os planos de Taehyung fracassassem por uma razão: não se muda o que já aconteceu.

"When you told me you'd leave
I felt like I couldn't breath"