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História Secret - Capítulo 3: Recepção


Escrita por: r0seishere

Notas do Autor


Demorei a postar, desculpem por isso mas estava com um enorme bloqueio criativo. Espero que se divirtam.

Capítulo 4 - Capítulo 3: Recepção


Fitei o pequeno lobo de madeira com um cuidado ancestral. Sua base estava no mesmo lugar há incontáveis anos e de alguma forma, juntara-se à bancada de mármore. Agora fazia parte dela, como que soldado a ferro e fogo. Eu jamais saberia de onde viera a tão bem talhada escultura e como tantos outros provavelmente fizeram antes de mim, deixei-a onde estava.

Despedir-me do modesto casebre no qual eu havia me abrigado durante meia década fora um pouco mais difícil do que eu imaginava, não porque eu me apegara ao lugar_ uma casa de porta e janela, construída de tijolos caiados e telhas de amianto localizada em algumas milhas ao norte de Neoseoul_  e sim por não ter certeza do que viria a seguir. É fácil se acostumar com a comodidade de um lugar trancado, do remoer interminável de lembranças e principalmente com a companhia de seus próprios fantasmas.

Tranquei a porta e ponderei por alguns segundos se eu deveria manter a chave de ferro comigo para o futuro próximo. Mas decidi que era melhor livrar-me da tentação de retornar ao isolamento e apenas joguei o objeto no lago, que tilintou e jogou alguns respingos, para depois afundar feito uma pesada pedra. Despois disso, a mata exalava silêncio. A sensação ainda era estranha mesmo após tanto tempo. Eu crescera acostumada ao som de pássaros e ao quebrar do cascalho sob as patas de animais, não a atmosfera sepulcral que tomara a Coreia.

Respirei pela última vez aquele ar puro e ajeitei a mochila nas costas. Nela eu havia guardado alguns dos meus pertences mais valiosos: várias bolsas de sangue humano fresco, alguns pares de roupas, lentes de contato reservas e pó compacto; entretanto a maior preciosidade se encontrava em meu pescoço. Um medalhão de prata, vazio. Era um símbolo que eu mantinha por perto para lembrar-me de algumas coisas, dentre elas, não esperar as coisas acontecerem sem você. Por isso comecei a correr, lamentando a falta de praticidade dos carros e o jeito como meu cheiro ficava no estofado. Correr era mais seguro.  E então fui. O mais rápido que pude, desviando dos galhos, folhas e pedras que me ameaçavam na mata, subindo e escalando protuberâncias na terra úmida, protegida apenas pelo tecido grosso do meu casaco cor de limo e rápida como uma flecha.

As poucas horas entre minha cabana e meu destino foram ocupadas com a concentração em manter um pé atrás do outro, mas para a mente extensa de um vampiro, cujo corpo cuida de tarefas como correr com uma facilidade quase automática, havia muito espaço para reflexão. “Para memórias”, retruquei sozinha e aborrecida, a mania de falar comigo mesma nascera em algum momento durante meus anos de reclusão. Naquela noite levemente fria em especial eu recordei de uma imagem de minha infância vampírica.

Eu estava escondida atrás do carro de meu antigo professor de física, acocorada, fazia mais de cinco horas, faminta e trajada dos mais destroçados pedaços de pano que consegui roubar de meu próprio quarto_ no qual entrei na calada da noite, furtivamente, lutando contra a vontade de beber o sangue dos humanos que dormiam.  Eu segurava em minha mão uma pequena faca de cozinha e tinha consciência do meu cabelo desgrenhado por muitos dias de descuido e da minha face suja de poeira. Apertei a mandíbula impaciente e senti meu canino afiado roçar contra minha gengiva, e veio o gosto de sangue, estranho naquele momento era o sangue ser meu, pensava eu, confusa, ainda estranha a verdade de minha condição e aos acontecimentos recentes.

Minhas primeiras presas, no mínimo as dez primeiras, foram pessoas que eu conhecia em minha vida mortal. Algo dentro de mim, uma desorientação gritante, leva-me a procura-las, inconsciente que meu corpo na verdade queria delas era o sangue e não ajuda. Antes de recuperar o controle de mim mesma eu já as havia atacado, e era exatamente isso que eu estava prestes a fazer, agachada ali no estacionamento imundo da casa de meu antigo professor, eu esperava pela próxima refeição.

O ataque fora curto e feroz, eu já havia me alimentado antes. Assim que o homem alto, de tez bronzeada e rosto comum aparecera esvoaçando sua camiseta branca no estacionamento deserto eu me esgueirei em sua direção e quando ele se virou para entrar no veículo, eu pulei em suas costas e mordi algum lugar entre o ombro e o pescoço, movida por um instinto incontrolável. Todos os meus músculos se enrijeceram na adrenalina da situação, e o sangue jorrou, manchando o tecido branco que vestia minha presa. Ele se engasgou nos próprios fluídos, esperneou, tentando livrar-se de minha boca e de meu aperto. Dei inúmeras mordidas até atingir um ponto satisfatório, onde comecei a sugar a vida do mortal. Aos poucos ele caiu de joelhos, ficando lívido e fraco, até finalmente desfalecer em meus braços e seu corpo tornar-se nada além de uma carcaça, da qual continuei me alimentando, feito um abutre. Mordi os pulsos, as pernas a barriga. A poça de sangue e órgãos deixada no chão de cimento não mais me assustava, pois eu, vidrada na sina de matar a minha sede, pouco me importei em desfigura-lo, em preservá-lo, em qualquer coisa. Necessidades falam mais alto. Quando finalmente a queimação e secura insuportáveis de minha garganta foram aliviadas, olhei para o cadáver e chorei, coberta do líquido que me mantinha viva e pelo qual matei. Nenhum rio de lágrimas que eu pudesse verter lavaria a monstruosidade que eu havia cometido. Pus as mãos sobre a boca, para abafar um grito de horror. Ah, como eu era ingênua.

Fugi dali com deixando minha singela arma no chão, como meu último resquício de humanidade. Agora eu não mais tinha medo das pessoas, eu tinha medo de mim mesma. Corri sem parar durante horas, fui perseguida por policiais, mas ninguém era capaz de me alcançar, aqueles que me viram devem ter me tomado por louca ou indigente, uma pobre criança abandonada, não uma sanguessuga de um metro e sessenta de altura. Parei apenas quando o amanhecer começou a se precipitar no horizonte e uma dor inominável rugiu em minha pele, como se eu mesma fosse me transformar em pó conforme os primeiros raios de sol me tocavam. Refugiei-me então em um galpão vazio, que por obra do acaso, estava em meu caminho. O lugar, descobri mais tarde, estava localizado no Imperial, o mais desértico bairro de Seoul.

Eu entrei no galpão aos tropeços, com as costas e a face queimada, chorando como um bebê, porém não mais faminta. E era isso que doía, por que eu sabia que havia salvado a mim mesma, porque a sede havia passado e, apesar de estar longe de sentir-me segura, eu estava melhor. Senti ódio de mim, nojo, quis rasgar-me no meio. Abraçei-me e com as unhas arranhei as minhas costas, soltando um grito medonho de desespero, caída de joelhos no chão daquele lugar nenhum, condenada à escuridão eterna e longe de tudo aquilo que eu conhecia e amava, as lágrimas fluíram até secarem em meu rosto, pingando de minha boca junto com o sangue do homem que eu acabara de matar. Fome e dor. Seria isso a minha vida? Todos os meus sonhos, todos os meus planos, crenças, amores, o meu próprio eu parecia uma paisagem distante no final de um túnel, pelo qual eu corria loucamente, mas que parecia nunca acabar.

Os soluços altos eram o único som por ali no começo, mas logo eu cansei deles, e parei, encolhi-me pondo os braços ao redor dos joelhos e chorando apenas. Triste de uma perda profunda e incomparável. Sozinha... Eu não sabia de nada.

Ao longo de um tempo que não sei determinar, fiquei ali, dias e noites, talvez semanas, até a sensação de queimação na garganta, a secura em minha boca, surgir e crescer, e aos poucos, como uma febre demoníaca, dominar minha consciência. Eu tentei resistir, repeti meu próprio nome tantas vezes que ele deixou de fazer sentido, bati em mim mesma, gritei, chorei, mas nada era remédio para o que eu tinha, a sede era impossível de evitar. Quando a dor tornou-se insuportável eu comecei a lamber o sangue seco das minhas próprias mãos sujas, mas nada bastava, e então perdi-me em algum lugar da noite, em alguma garganta jovem, num pedaço de pele cálido: a única cura era sangue, e mais sangue, sempre sangue. Eu desisti. Quantas pessoas eu já havia matado? Não faz diferença.

Minha testa ainda franze quando me lembro de mim mesma transformando-se de repente numa predadora voraz e destemida. A inocência da Taeyeon que me acompanhara por tantos anos deixou de existir naquele galpão. Hoje quando penso nisso, sinto apenas um vazio. Vazio que acompanhou me solenemente até NeoSeoul Surgir no horizonte, impressionante, ávida, um enorme vagalume cintilando no meio de um mar de escuridão.

A cidade havia mudado muito em cinco anos.

Dedos de concreto brilhante se erguiam para tocar o céu noturno, tão altos que eu era capaz de jurar que atingiriam as nuvens em um dia nublado. Um burburinho eletrizante emanava daquele formigueiro humano,  lar de inversos e outras criaturas, que respiravam o ar carregado de produtos químicos e de um neon doentio, dado pela luz dos enormes letreiros espalhados pelos prédios. A cidade pulsava como um coração grande demais, de veias entupidas e ritmo descompassado. Aquela era minha cidade saturada, o retrato do que havíamos nos tornado.

Eu a fitei a distância.

_E aqui vamos nós de novo, seus desgraçados.

E desci a encosta, a caminho da rota para minha morte.

***

Havia uma enorme garça voando pelo céu, e este estava tão azul quanto o conforto de uma cama. A ave descrevia coisas em suas asas, letras, feito um querubim poeta, feito um belíssimo anjo. E então foi flechada por uma seta de prata, que atravessou sem dó seu peito, tingindo o céu de vermelho, e me acordando aos gritos, no sótão da casa de Yoona.

_Calma, respire_ disse uma voz abafada pelo ar carregado_ está tudo bem, foi apenas um sonho.

Abri os olhos com dificuldade, e o que vi foi um cômodo bem diferente do quarto de hospital ao que eu estava acostumada: o teto era de concreto armado em um arco elegante. A luz era escassa, e eu sentia um par de mãos cuidadosas apoiarem minha cabeça de um jeito maternal.

_O que..._eu comecei interrogativa.

_Está tudo bem, você está segura_ a mesma voz respondeu, era feminina e calma.

Sentei sobe o chão de madeira. O sótão estava vazio de qualquer coisa a não ser por mim e aquela mulher ao meu lado, vestida de uma calça azul e uma camiseta justa muito diferente de tudo que eu já havia visto por ali _era pintada com vários tons de azul e decorada com um desenho tosco de um tridente. Sua feição pouco visível no escuro era de uma face pequena e delicada, magérrima. Mesmo assim ela era bela, de um modo quase etéreo.

_ Sou Yoona_ ela continuou_ venho cuidando de você faz algumas semanas_ levantei-me enquanto ela falava, inquieta, quase em pânico, flashes de carros, ruas e uma mulher estranha iam e vinham na minha mente junto com uma dor de cabeça tremenda_ está em choque, por favor, acalme-se_ disse, segurando uma das minhas mãos.

_Onde estou?_perguntei.

Yoona pigarreou, como se estivesse prestes a explicar algo muito complicado.

Um barulho enorme de batidas veio do chão, diretamente embaixo de onde eu estava. Quase gritei de susto. Yoona simplesmente fez um gesto para que eu me afastasse e assim o fiz, dali emergiu uma pequena portinhola e atrás dela um rapaz de olhos escuros, cabelo tingido de vermelho e nariz bem talhado. Ele tinha a expressão assustada e parecia implorar por ajuda.

_Yoona, traga a novata, temos um problema.

Em um piscar de olhos, o corpo magro de Yoona mostrou-se ágil e ela pulou buraco abaixo, passando por algum milagre sem ficar entalada. O susto me fez recuar alguns centímetros.

_É_o rapaz murmurou, parece que sou eu quem vou ter que apresentar você ao novo mundo.

_ Que novo mundo?_ indaguei, automaticamente, apesar de ter mil outras perguntas a fazer.

_ Você é um anjo, como eu. Aliás, me chamo Taehyung. Yoona é nossa líder e você está em NeoSeoul.

Aquelas palavras significavam mais do que meu cérebro confuso e desorientado era capaz de processar na é época. Eu não sabia a história de Taehyung, tão pouco a história de Yoona, o porque de termos nos encontrado, que lugar era aquele, e o que estaríamos fazendo ali.

_ Você vai me explicar isso direito, estou cansada de andar por ai feito uma barata tonta!_ Eu gritei_ furiosa.

Taehyung riu uma risada mais irônica do que divertida e puxou-me pela meu para o buraco de onde tinha saído, e as últimas palavras que eu ouvi ele proferir antes de ambos sermos tragados para o mistérios escondido debaixo do sótão foram:

_Mas tarde escolhida, porque hoje... Ah, hoje temos o azar de estarmos sob ataque.

 


Notas Finais


E ai?? O que acharam?
Ainda há muito mistério. Espero que continuem acompanhando.


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