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História Secret Desires - Scisaac's Secret Chronicles Volume 1 - Eu não posso mais esconder quem eu sou


Escrita por: XManoelVieira

Notas do Autor


Oi gente, eu sei que demorei um pouco, mas em compensação o capítulo de hoje ta enorme.
Espero que gostem.

Capítulo 29 - Eu não posso mais esconder quem eu sou


Scott e Rafael passaram os próximos minutos conversando. No começo as perguntas e respostas que pai e filho falavam eram tímidas, no entanto, eles logo foram pegando o jeito. O homem estava sentado numa cadeira que tinha perto do leito do garoto. Naqueles poucos minutos Rafael descobriu como Scott conheceu Isaac e como eles se tornaram grandes amigos. O McCall mais novo preferiu deixar de fora toda a parte da descoberta e da aceitação da sua bissexualidade, achando que seria dramático de mais para uma primeira conversa civilizada. Rafael percebeu que Scott gostava muito de falar sobre Isaac. O sorriso que o garoto esbanjava e seus olhos brilhantes mostravam isso para o seu pai. Muitas vezes o homem se pegou sorrindo também.

— Você gosta muito dele, não é? — O homem indagou.

— Gosto. Demorou um tempo pra eu perceber, mas eu gosto muito dele. — Scott respondeu.

— E você namorou mais alguém antes? — Rafael indagou e percebeu que Scott ficou um pouco desconfortável com aquela pergunta. — Desculpa se eu tô parecendo muito invasivo. É que eu tô tentando recuperar o tempo perdido.

— Vamos ter muito tempo pra recuperar isso. — O garoto falou. — Se você não sumir de novo. — Por mais que o clima entre eles estivesse agradável, Scott ainda temia que aquilo não fosse durar pra sempre.

— Não vou. — Rafael falou com convicção. — Quer dizer, eu terei que voltar pra Washington em breve, mas vamos manter contato. E eu virei aqui te visitar sempre que puder e espero que você também vá me ver. Agora que conseguimos ter uma conversa civilizada, não vai se livrar de mim tão cedo.

Scott sorriu.

— Eu não gosto de falar das minhas ex-namoradas. — O garoto confessou. — Quer dizer, tem a Kira, eu ainda tava com ela quando descobri que gostava do Isaac. Mas eu não traí ela. Eu terminei antes de ficar com o Isaac.

— Muito bem. — O homem falou. — Se você tá apaixonado por uma pessoa enquanto está com outra o melhor a se fazer é terminar tudo.

— É, não foi o termino mais amigável. Mas foi melhor do que trair. — Scott falou. — Mas estamos bem agora. Ela e o Isaac até se tornaram amigos. — O garoto sorriu, porém o sorriso logo foi se desfazendo e seu semblante ficou triste. Rafael não pôde deixar de perceber a mudança de Scott. — E tem a Allison também. Ela morreu há quase um ano. Um cara tentou roubar o carro dela. Estávamos juntos, eu tentei deixar ele calmo. Mas ele tinha uma faca e avançou sobre mim. A Allison se colocou na minha frente e... — Scott não conseguiu terminar. Seus olhos ficaram marejados e ele levou suas mãos até o rosto para enxugá-las.

— Eu sinto muito. — O homem falou se inclinando um pouco para colocar sua mão no ombro de Scott.

— Não estávamos mais namorando na época, mas foi bem difícil pra mim. — Scott falou com o olhar distante lembrando-se de uma das piores épocas da sua vida. — Pelo menos o cara foi preso alguns dias depois.

Um silêncio se formou depois daquilo e Rafael estava um pouco arrependido de ter tocado naquele assunto tão delicado para Scott. No entanto, por outro lado, ele estava feliz por seu filho estar se abrindo com ele.

— Mas e você? — Scott perguntou depois de alguns minutos. — Como é sua vida na capital?

— Nada demais. Só trabalho e mais trabalho. — Rafael falou.

— Não tem namorada? Ou namorado? — Scott perguntou sorrindo e Rafael sorriu também.

— Sem namorado. — Rafael falou ainda sorrindo. — Mas eu tenho uma namorada. O nome dela é Amanda. Talvez um dia você a conheça quando for me visitar.

— Talvez. — O garoto falou e mais uma vez eles ficaram em silêncio por um tempo.

— E a escola? — Rafael indagou após alguns minutos. — Sua mãe disse você não era um aluno muito bom, mas que esse ano tá melhor.

— É, eu quase reprovei no ano passado. — Scott confessou um pouco envergonhado. — Mas eu fiz uma promessa pra mim mesmo. Se eu conseguisse passar, me dedicaria mais. Eu tive que fazer algumas aulas no verão, mas eu consegui.

— E qual faculdade você tem em mente?

— Eu tô pensando na UC Davis. — Scott respondeu. — O programa de medicina veterinária de lá é muito bom.

— Então você quer ser veterinário? — Rafael indagou e Scott assentiu. — Faz sentido. Sua mãe disse que você trabalha meio período numa clínica veterinária.

— Começou como um emprego pra juntar dinheiro pra faculdade e pra ser um pouco mais independente. — Scott admitiu. — Mas eu realmente me apaixonei. E é isso que eu quero fazer.

— Isso é ótimo, filho. — Rafael falou. — É bom você trabalhar com o que gosta.

Scott assentiu mais uma vez. Ele ia falar mais alguma coisa, no entanto, o doutor Geyer entrou no quarto junto com Melissa. Eles se aproximaram do leito e se colocaram do outro lado do mesmo.

— Sinto muito interromper o papo de vocês. — O médico falou olhando para Rafael, entretanto logo olhou para o garoto. — Mas esse rapaz precisa descansar.

— Precisa mesmo. — Rafael concordou levantando-se da cadeira. — Amanhã eu venho aqui, filho. — Scott assentiu.

— Mãe, eu posso me despedir do Isaac? — O garoto indagou.

— Pode, mas é rápido. — Melissa falou. — Eu vou chamá-lo.

A mulher então se virou e saiu do quarto sendo acompanhada por Rafael

— Tá doendo? — O médico perguntou para o garoto

— Só um pouquinho. — Scott respondeu. — Quando eu vou poder ir pra casa?

— Calma. — O médio falou sorrindo. — Você vai passar a noite aqui e amanhã eu te digo se você pode ir embora.

— Eu posso pelo menos ter meu celular de volta? — O garoto perguntou e mais uma vez o médico sorriu. Adolescentes, ele pensou.

— Eu já entreguei pra Melissa.

Scott assentiu. Isaac entrou no quarto sozinho e o médico se virou, passou pelo Lahey e saiu. O loiro se aproximou do leito e McCall sorriu.

— O Stiles me odeia oficialmente agora. — Scott olhou confuso para Isaac quando o loiro falou aquilo. — Segundo ele, eu estou te roubando só pra mim, já que ele tá lá fora muito preocupado com você e você só quer saber de mim.

— Ele supera. — Scott falou sorrindo e Isaac sorriu também. — Eu queria te ver antes de você ir embora. Queria saber se tirou aquela ideia ridícula da cabeça.

Isaac levou sua mão até a mão de Scott e entrelaçou seus dedos. Em seguida, o loiro puxou a mão do McCall e inclinou um pouco seu dorso, aproximou sua boca da mão de Scott e a beijou. O moreno mais uma vez sorriu. Isaac também sorriu quando afastou sua boca da mão de Scott.

— Agora eu quero um aqui. — Scott falou colocando o seu dedo indicador da mão livre na sua boca. O Sorriso de Isaac ficou maior e ele mais uma vez inclinou seu dorso e aproximou sua boca da de Scott e lhe deu um rápido selinho. — Não é justo. — McCall reclamou. — Quero um beijo de verdade.

O loiro então fez como foi pedido e beijou a boca de Scott, que depositou sua mão livre na nuca de Isaac e pediu passagem com a língua. Lahey cedeu sem hesitar e eles permaneceram se beijando por um tempo. Aos poucos, eles foram rompendo o beijo que terminou com vários selinhos. Isaac se afastou novamente.

— Eu te vejo amanhã. — O loiro falou após alguns segundos e Scott assentiu.

Lahey soltou a mão de McCall e se virou para sair do quarto. Antes de passar pela porta, o loiro virou seu pescoço para dar uma última olhada para Scott, que também o olhava, e saiu. Melissa, Geyer, Rafael, Noah, Stiles e Lydia o esperavam.

— Bom, foi um dia longo. Vocês têm aula amanhã. — Noah falou olhando para os três adolescentes. — Eu vou levar esses três pra casa.

Eles assentiram e começaram a seguir para a porta do elevador sendo acompanhados por Rafael. Antes que Noah fosse também, Melissa se aproximou dele o beijou na boca.

— Boa noite. — A mulher falou depois que se afastaram e entrou no quarto que Scott estava.

Quando Noah se virou para seguir os outros, ele se deparou com os sorrisos maliciosos dos três adolescentes e o olhar de poucos amigos de Rafael, que o esperavam perto do elevador.

— O que foi? — Noah perguntou ao se aproximar deles. — Andem.

— Não podemos entrar no elevador com a porta fechada xerife. — Lydia falou não contendo a risada. — Enquanto ele não chega, estávamos apreciando o show. — Os dois garotos ao lado dela também riram. E quando a porta do elevador abriu os cinco entraram e Rafael apertou o botão para o térreo.

***

Aquela não foi uma noite boa de sono para Isaac. Quando chegou na casa de Boyd, o garoto foi atacado por perguntas feitas pelo amigo e pela namorada dele. No entanto, a senhora Boyd veio em seu auxilio.

— Deixem o garoto em paz. — A mulher falou se aproximando de Isaac. Ela lançou um olhar repreensivo para o filho e para Erica.

— Eu tô bem. — O garoto falou baixo. — Poderia ser pior. Podem me dar licença, eu quero muito tomar um banho e dormir.

Os três assentiram e Isaac foi para o andar de cima. O garoto passou no quarto de Boyd e foi direto para um amontoado de roupas suas dobradas em cima da escrivaninha do amigo de onde tirou uma calça moletom, que Scott tinha emprestado pra ele há algum tempo, e uma camisa preta de mangas que também pertencia ao McCall. Isaac saiu do quarto e foi para o banheiro. Antes de abrir a porta, a mãe de Boyd o chamou.

— Trouxe uma toalha pra você. — A mulher falou estendendo a toalha para Isaac. O estômago de Isaac fez barulho e a mulher sorriu. — Eu vou fazer um sanduíche pra você comer depois do banho.

— Obrigado. — Isaac a pegou, entrou no banheiro e trancou a porta.

Finalmente sozinho, o garoto se encostou na porta e se permitiu chorar mais uma vez. Enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto, Isaac pensou em tudo que tinha acontecido. E por mais que Scott tenha o convencido a não se afastar, a culpa ainda lhe rondava. Principalmente por nunca ter prestado atenção em Matt pra perceber que ele não estava bem.

Após suas lágrimas cessarem, o loiro se dirigiu para a pia, onde colocou as roupas e a toalha e se olhou no espelho acima dela. Sua aparência não estava tão boa, seus olhos estavam inchados e o curativo na sua cabeça estava um pouco sujo. Isaac tirou o curativo, amassou, jogou no chão e encarou o pequeno corte na sua cabeça. Alguns flashs de Matt passaram por sua mente. Após alguns minutos, o garoto se despiu e foi para debaixo do chuveiro.

Ele ficou alguns minutos em baixo do chuveiro apenas relaxando. A água morna relaxava seus músculos levando com ela a sujeira, o cansaço e por um momento as lembranças daquele dia. O garoto pegou o sabonete e começou a passar pelo corpo. Quando Isaac passou xampu na cabeça, ele estremeceu um pouco com o ardor do ferimento.

Após alguns minutos, Lahey terminou o banho e desligou o chuveiro. Ele saiu do boxe e pegou a toalha para se enxugar. Em seguida, colocou a roupa suja num cesto ao lado da pia e vestiu a limpa e saiu do banheiro enxugando o cabelo com a toalha. A senhora Boyd o esperava na porta do filho segurando um prato que continha um sanduíche. Isaac pegou o prato, entregou a toalha molhada para a mulher, agradeceu novamente e entrou no quarto. Mesmo estando com fome, Isaac não sentia vontade nenhuma de comer. Ele deixou o sanduíche pela metade na escrivaninha de Boyd e deitou no colchão ao lado da cama do amigo. O garoto cedeu ao cansaço e não demorou a pegar no sono.

Entretanto, a visão de Scott morrendo em seus braços rondava seus sonhos, ou melhor, pesadelos. Era sempre o mesmo sonho várias vezes. Ele, Scott e Matt estavam de volta à sua casa. McCall estava em pé, ao seu lado na sala e Matt de frente para eles apontando a arma. Diferente do que realmente aconteceu, Daehler parecia querer atirar em Isaac. E foi o que ele fez, porém Scott se colocou na sua frente e acabou levando a bala na cabeça. O sangue do McCall respingou no rosto de Lahey e o garoto caiu no chão morto enquanto o loiro gritava.

Mais uma vez Isaac acordou assustado e com a respiração pesada naquela noite. Já era a terceira vez. Quando ele ficou mais calmo, levou sua mão até em baixo do travesseiro a procura do seu celular, no entanto, lembrou-se que Matt tinha-o destruído. Isaac suspirou. Ele se sentou no colchão e esfregou os olhos. O garoto olhou para o seu amigo dormindo profundamente numa posição que aos olhos de Isaac não parecia nada confortável.

— Boyd. — Isaac falou cutucando o braço do amigo que estava pendurado fora da cama. — Boyd.

— O que? Alguém invadiu a casa? — Boyd questionou confuso levantando-se bruscamente da cama ao acordar.

— Não, pode ficar tranquilo. — Isaac falou sorrindo.

— Cara, você me assustou. — O garoto negro falou voltando a se deitar na cama. — Tá tudo bem? Por que me acordou?

— Me empresta seu celular. — Isaac pediu.

— Agora? — Boyd indagou levando sua mão até em baixo do travesseiro para pegar o celular. Quando o ligou o garoto se surpreendeu com a hora que marcava. — Cara, são duas da manhã.

— É importante.

— Toma. — Boyd estendeu o celular para Isaac e voltou a dormir rapidamente.

— Boyd. — Isaac sussurrou para constatar que o amigo estava mesmo dormindo. E quando o outro respondeu com um ronco, o garoto sorriu e ligou o celular. Ele foi para a lista de contatos, procurou o número de Scott e ligou. Isaac esperou enquanto o telefone chamava seis vezes. E quando o garoto já estava desistindo, McCall atendeu.

— Alô? — A voz sonolenta de Scott soou do outro lado da linha.

— Desculpa te acordar. — Lahey falou baixo.

— Isaac? Tá tudo bem? — Scott indagou com a voz um pouco mais desperta.

— Tá sim. — Isaac falou. Ele suspirou e fez uma pausa antes de continuar. — É que eu só queria ouvir sua voz. Eu tive um pesadelo com o que aconteceu hoje. Mais de uma vez. Só que nele o Matt atirava na sua cabeça. Foi horrível.

Scott notou que a voz de Isaac começou a ficar chorosa.

— Ei, tá tudo bem. — McCall falou. — Eu tô bem. Você tá bem. O Matt não pode mais nos machucar. Foi só um sonho ruim. Talvez devesse marcar uma consulta com o doutor Valack. Ele te ajudou da outra vez.

Quando Isaac foi morar com os McCall pela primeira vez, Scott e Melissa notaram que o garoto tinha alguns traumas causados pelos abusos que sofrera nas mãos do pai. Sempre que a mulher gritava por alguma coisa que o filho tinha feito e errado, Isaac ficava todo encolhido e esperava por alguma punição. Mesmo Melissa sempre assegurando para o loiro que ela nunca tocaria nele.

Numa tarde, semanas depois da mudança de Isaac, a enfermeira chamou o garoto e Scott pra conversarem e aconselhou o amigo do seu filho a procurar um psicólogo para ajudá-lo e se ofereceu pra procurar com ele e pagar. Inicialmente Isaac hesitou, no entanto, após pensar por um tempo, ele admitiu que talvez fosse uma boa ideia. Ele passou a se consultar com o doutor Valack e foi melhorando aos poucos.

— Talvez. — Isaac falou depois de um tempo. — Mas acho que ele tá dormindo essa hora. — O garoto falou sorrindo e Scott sorriu também. — Tô com medo dormir.

— Posso te fazer companhia. — Scott falou. — Sou bom em assustar os monstros.

— Você precisa dormir. — Isaac falou.

— Eu não vou conseguir dormir sabendo que você tá acordado e assustado.  — Scott falou. — Eu te contei que o doutor Geyer me deu a bala que ele tirou de mim? Você acha que eu devo guardar?

— Eu não sei. — Isaac falou. — Você quer guardar uma lembrança ruim?

— Não é tão ruim, Isaac. É pra me lembrar que eu levei um tiro e que eu sobrevivi.

— Vendo por esse lado, talvez você deva guardar. — Isaac falou. — Só não fica exibindo ela pra mim.

— Tudo bem.

— Você sabe quanto tempo vai ficar aí? — Isaac indagou.

— Eu não sei. O doutor Geyer disse que vai falar amanhã. — Scott falou. — Acho que vou perder aula e o treino. Você acha que as pessoas sabem o que aconteceu?

— Eu espero que não. — Isaac confessou. — Já foi bem chato aguentar os olhares do Stiles e do Boyd. Ter que aguentar da escola toda seria péssimo.

Enquanto a conversa deles ia fluindo, Isaac foi ficando mais calmo e aos poucos o garoto foi se entregando ao sono novamente até que não aguentou mais e adormeceu deixando Scott falando sozinho.

— Você ainda está aí? — Scott perguntou, mas não obteve resposta. — Isaac? — Novamente ele não obteve resposta. — Boa noite.

Scott desligou seu celular, colocou em baixo do travesseiro e também adormeceu.

***

Assim que Isaac passou pela porta do colégio teve uma sensação ruim. Parecia que todas as pessoas sabiam o que tinha acontecido no dia anterior. O barulho usual que costumava tomar conta do corredor antes do início da aula estava ausente. As pessoas cochichavam e Isaac podia jurar que algumas delas o olhavam. O garoto ficou parado na porta enquanto Boyd, ao seu lado, começou a andar. Ao ver que o amigo continuava no mesmo lugar, o garoto negro se virou para Lahey.

— Parece que eles estão olhando pra mim? — Isaac indagou para o amigo.

Boyd virou o pescoço e olhou a sua volta.

— Não. — O garoto falou para o loiro quando voltou a olhar pra ele. — Eles sabem que o Matt sequestrou dois colegas e que o Scott foi um deles. Mas eles não sabem que você estava envolvido. O Stilinski se encarregou disso.

— Como sabe? — Isaac questionou um pouco nervoso. — Como que as pessoas sabem?

— Saiu no jornal de Beacon Hills, cara. — Boyd falou. — O meu pai tava lendo antes de você ir tomar café. Mas ele guardou quando você chegou.

Isaac então se deu conta de que tinha achado estranho o fato de o senhor Boyd não estar lendo o jornal matinal no café da manhã, coisa que era muito comum. Agora entendia o porquê.

— Relaxa, o seu nome não saiu. — Boyd falou. — Como eu disse, o Stilinski se encarregou disso.

— Eu peguei carona com o Matt ontem. — Isaac observou. — Um monte de gente viu.

O primeiro sinal para o início das aulas soou e os alunos começaram a ir para suas salas ainda cochichando. Isaac quis na mesma hora dar a volta e sair daquele lugar. No entanto, Boyd não deixou. O garoto negro puxou o amigo para a ala dos armários para que eles pudessem pegar o livro pra primeira aula. Vencido, Isaac não teve escolha se não ceder. Ele foi para o seu armário, o abriu e pegou seu livro de literatura, e o colocou na mochila que Boyd o tinha emprestado antes de saírem de casa, já que a sua ainda estava no banco de trás do carro de Matt e Isaac, além de não saber se o carro tinha sido confiscado pela polícia ou ainda continuava estacionado em frente a sua antiga casa, não queria de forma nenhuma ter que ir pegar.

Quando o loiro entrou na sala de aula, a sensação de que todos o olhavam ficou maior. Poderia ser apenas paranoia sua, mas ele viu uma garota cochichando alguma coisa para outra enquanto as duas o olhavam. O garoto sentou na sua cadeira e se encolheu.

— Sei que todos já sabem o que aconteceu ontem com nossos colegas e querem entender isso. — Jennifer Blake falou ao entrar na sala de aula. — Mas vamos deixar isso de lado e nos concentrar na aula. Tudo que vocês precisam saber é que Matt Daehler está sob custódia policial e que Scott McCall está bem.

— Professora, você sabe quem foi o outro aluno que o Matt sequestrou? — Tucker Cornish, que estava sentado um pouco mais à frente de Isaac, perguntou.

— Não e vocês também não vão saber. — Jennifer falou. — Agora quem quer começar a leitura de onde paramos na aula passada? Sidney? — A garota olhou para a professora e abriu o livro.

Isaac passou toda a aula de literatura distraído. Matt era um de seus colegas nessa aula e eles muitas vezes fizeram duplas em trabalhos. Ele olhava para a cadeira vazia ao seu lado lembrando-se do garoto que costumava sentar nela até o dia anterior. Era muito estranho não ter Matt sentado ali ao seu lado. E o garoto se perguntava como que isso foi acontecer da noite pro dia. Mas não foi da noite pro dia, Isaac se deu conta. O loiro tentou parar de pensar em Daehler e se concentrar na aula.

***

A TV exibia um filme que Scott não estava dando a mínima atenção. Ele comia uma gelatina verde que sobrara do seu café da manhã. Bem, comer não era a palavra certa e sim empurrar a força, já que a gelatina estava ruim. Scott estava sozinho no quarto, pois Melissa estava no turno dela, ou seja, não podia ficar no quarto o tempo todo e Rafael ainda não tinha chegado. O garoto estava entediado e queria ligar para Isaac. No entanto, o loiro deveria estar em aula naquela hora.

Sem ter muito o que fazer, já que a TV não ajudava, quando terminou de comer a gelatina horrível, Scott passou a jogar algum jogo no seu celular, mas rapidamente se desinteressou. O garoto bufou e colocou o celular de volta na cama. Entretanto ele se animou quando o doutor Geyer entrou no quarto com um estetoscópio pendurado no pescoço e um tensiômetro na mão.

— Veio me dar alta, doutor? — Scott falou. — Eu não aguento mais ficar aqui.

— Scott, você perdeu muito sangue. — O médico falou se aproximando. — Precisa se recuperar.

Scott bufou mais uma vez.

— Tá legal, tá legal. — Scott falou. — Mas pode pedir pra alguém colocar um canal decente na TV

— Vou pedir sim. — O homem falou sorrindo.

O doutor Geyer pegou o estetoscópio pendurado no pescoço e o posicionou para auscultar o coração de Scott. Enquanto ouvia os batimentos do coração do garoto, o médico olhou para o relógio no seu pulso.

— Setenta batimentos por minuto. Isso é bom. — Geyer falou. — Estica o braço. — Scott esticou o seu braço esquerdo e o médico posicionou o tensiômetro nele para aferir a pressão e direcionou o estetoscópio para o braço do garoto. Após aferir a pressão do garoto, o médico continuou. — Sua pressão ainda tá um pouco baixa, mas nada alarmante. Sei que você não aguenta mais olhar pra minha cara, mas você ainda vai ficar mais alguns dias aqui.

— Quantos dias? — Scott perguntou um pouco desanimado.

— Só mais alguns.

Eles ouviram uma batida na porta e viram o xerife entrando no quarto junto com Melissa.

— Doutor, será que eu posso falar com o Scott? — Noah falou.

— Claro. — O Médico tirou o tensiômetro do braço de Scott, pendurou seu estetoscópio no pescoço e se virou para sair. — Depois eu falo com você. — Ele falou pra Melissa ao passar por ela, que assentiu.

— Bom Scott, acho que sabe porque estou aqui. — O xerife falou se aproximando do leito.

— Pra eu te contar o que aconteceu ontem. — O garoto falou e Noah assentiu.

— O Isaac já contou quase tudo, mas eu tenho que ouvir sua versão também. — O Xerife falou.

— Tá, por onde eu começo? — O garoto perguntou.

— Começa pelo que aconteceu depois que a aula acabou. — Noah falou. Assim como o policial Parrish fez ao ouvir Isaac no dia anterior, o xerife pegou seu celular e colocou pra gravar.

— Tava tudo normal. — Scott começou. — O Isaac pegou uma carona com o Matt e eu fui com a Kira pra uma lanchonete pra gente conversar. Depois de um tempo eu recebi uma mensagem do Isaac e fiquei preocupado. Pedi pra Kira ir até a delegacia e fui pra antiga casa dos Lahey. Quando eu cheguei lá, o Isaac tava no chão e com a cabeça machucada. E o Matt tinha uma arma. Ele ficou apontando pra gente ameaçando atirar principalmente em mim.

— Ele não queria machucar o Isaac? — Noah questionou.

— Acho que não. — Scott falou. — Ele gostava do Isaac de uma forma estranha e não gostava de mim porque... — Scott pensou por um momento. — Porque eu e o Isaac estamos juntos. Eu acho que ele só queria assustar o Isaac.

— E o Matt falou alguma coisa pra vocês? — O xerife questionou mais uma vez.

— É, ele confessou que matou o pai, o irmão e a mãe do Isaac. — Scott falou.

— É isso que eu não estou entendendo. Por que ele mataria a família do Isaac?

— Ele não te contou? — Scott perguntou e o xerife negou. — O Matt quase se afogou uma vez na casa do Isaac. Tava tendo uma festa ou algo assim. O Camden jogou o Matt na piscina e o senhor Lahey mandou ele não contar pra ninguém. Por isso que o Matt matou eles.

— O Isaac se esqueceu de contar esse detalhe.

— Não podemos culpá-lo. — Melissa se pronunciou. — Ele estava muito abalado. E fica difícil lembrar de todos os detalhes.

— Verdade. — Noah concordou.

— Depois eu consegui bater na cabeça dele com uma garrafa e eu e o Isaac corremos pra fora da casa, mas a porta tava trancada. Foi então quando o Matt atirou em mim. Eu não sei se foi de propósito ou se a arma disparou acidentalmente. Mas o Matt estava fora de si. — Scott falou lembrando-se do momento exato que a bala o atingiu. — Depois disso eu só lembro do meu pai entrando pela porta e apaguei.

— Tudo bem já é suficiente. Vou deixar você descansar. — O Xerife falou parando a gravação e em seguida guardou o celular no bolso da calça.

— Você tá brincando? Te contar o que aconteceu foi a coisa mais interessante que fiz desde que eu acordei. — O garoto falou fazendo os dois adultos sorrirem. — Xerife, onde ele tá agora?

— O Matt foi levado pra Eichen House. Acho que ele vai ficar lá por um bom tempo. — Noah respondeu. — Eu tenho que voltar pra delegacia. Depois eu passo aqui pra uma visita menos formal. Eu te ligo mais tarde. — O xerife olhou pra Melissa.

— Ok. — A mulher falou olhando para Noah. O homem saiu do quarto e Melissa olhou para o filho. 

— Então, você e o xerife? — Scott rebateu.

— Não me diga que está surpreso. Você sabia que isso iria acabar acontecendo. — A mulher falou e Scott assentiu sorrindo. — Então, você e o Isaac?

— Não era assim que eu queria te contar, mas já que foi dessa forma, é, estamos juntos.  

Melissa sorriu.

— Eu estou muito feliz por você finalmente ter aceitado quem você é? — Melissa falou. — E eu vou te amar do mesmo jeito, não importa quem você namore.

— Eu sei, mãe. — Scott falou. — Passar por isso tudo abriu meus olhos, eu não posso esconder quem eu sou e nem quero. Eu até contei pra o meu pai. Disse pra ele que só poderíamos nos aproximar se ele aceitasse isso e ele aceitou.

— Scott, eu estou tão orgulhosa de você. — Melissa falou se inclinando um pouco para dar um beijo na testa do filho. — Eu tenho que voltar pro meu posto. Fica aqui quietinho que depois eu venho aqui.

— Claro, eu não vou sair daqui. — Scott falou bufando.

***

— Eu não acredito que ele fez aquilo. — Erica falou. — Quer dizer, ele era meio estranho, mas parecia um cara normal.

Era a hora do almoço e a garota estava sentada em uma das mesas do refeitório ao lado de Boyd. Do outro lado da mesa, sentados de frente para eles, estavam Lydia, Stiles, Kira e Malia. E na frente de cada um, em cima da mesa, estavam as bandejas com os seus respectivos almoços, que naquele dia era pizza de quatro queijos e suco de laranja.

— Eu escutei o depoimento do Isaac sem o meu pai saber. Parece que o Matt estava completamente insano. — Stiles falou. Todos, com exceção de Lydia, que já estava acostumada com esse comportamento do namorado, o olharam surpresos. — O que?

— Cara, acho que isso é ilegal. — Malia falou.

— Só se descobrirem. E vocês não vão abrir a boca. — Stiles falou revirando os olhos. — Mas como eu estava dizendo, o Matt estava completamente insano. Ele confessou um monte de coisa pra o Isaac e pra o Scott. Coisas bem pesadas mesmo. Vocês acreditam que o Matt matou a família toda do Isaac. — Todos na mesa olharam chocados pra Stiles.

— Mas o Camden e a mãe do Isaac morreram num acidente de carro. — Boyd falou.

— Não foi um acidente. — Stiles falou.

— O Matt devia ter uns catorze anos. — Boyd observou ainda incrédulo. — Como ele causaria o acidente se ele não tinha carteira de motorista?

— Vai dizer que quando você tinha catorze o seu pai não começou a te ensinar a dirigir? — Stiles indagou e Boyd negou. — Pois meu pai me deu o jipe quando eu tinha treze anos. É claro que eu não toquei nele até tirar a carteira. Mas quando eu tinha catorze meu pai começou a me ensinar a dirigir.

— Com catorze anos eu estava internada num manicômio. — Malia falou repentinamente chamando a atenção dos outros a mesa.

— O termo politicamente correto é asilo. — Lydia falou.

— Será que podemos voltar pra o Matt? — Erica se pronunciou. — Como ele matou o pai do Isaac? — A garota indagou olhando pra Stiles.

— Manipulando medicamento. — Stiles falou. — Esse cara é mesmo maluco. Eu sempre desconfiei que tinha algo muito errado com ele.

— Acho melhor mudarmos de assunto. — Boyd falou ao avistar Isaac se aproximando da mesa deles carregando uma bandeja.

Todos olharam na direção que Boyd estava olhando e ao também verem Lahey, eles ficaram em silêncio. Isaac se direcionou para a cadeira ao lado de Boyd, colocou a bandeja em cima da mesa e sentou ao lado do amigo. O loiro, percebeu o silencio repentino e constrangedor quando se sentou, mas ignorou por um momento e passou a comer seu pedaço de pizza. No entanto, o clima ainda estava um pouco tenso e Isaac se incomodou com aquilo. Ele então se deu conta que antes de ele chegar os amigos estavam conversando sobre o que tinha acontecido no dia anterior.

— Tudo bem gente. — Isaac falou um pouco aborrecido. Ele estava cansado de lembrar do ocorrido a cada minuto. — Podem voltar a falar sobre o Matt.

Isaac se levantou e andou para a saída do refeitório rapidamente deixando seu almoço pra trás. Todos na mesa se sentiram um pouco culpados. Boyd pensou em ir atrás do amigo, mas achou melhor deixar ele sozinho. Eles permaneceram em silêncio por um tempo até que mais uma vez Malia falou repentinamente

— Eu também não ia com a cara do tal Matt. — Todos sorriram. Malia soltou um som parecido com um rosnado e fuzilou todos na mesa, exceto por Kira.

— Malia, você não vai com a cara de ninguém. — Kira falou olhando para a namorada.

— Não é verdade. — Malia falou. — Eu vou com a sua cara.

Kira sorriu, aproximou seu rosto do de Malia e beijou a bochecha da garota. Os outros as olharam cada um com um semblante diferente. Boyd estava surpreso, enquanto que Erica estava indiferente. Stiles tinha um sorriso malicioso no rosto e Lydia estava apenas feliz pelas amigas.

— Eu ainda não entendi como o Matt fez tudo isso e ainda assim fingia ser amigo do Isaac. — Erica falou.

— Ele é um psicopata. — Stiles falou. — Eles são bons em fingir sentimentos que não tem.

— Na verdade o Matt é um sociopata. — Lydia falou.

— E não é a mesma coisa? — Boyd perguntou.

— Tem algumas diferenças. Alguns especialistas afirmam que as causas da psicopatia são genéticas, ou seja, eles nascem assim. Já a sociopatia tem causas por fatores sociais. — Lydia falou.

— Então quer dizer que o Matt é assim por algum trauma ou coisa do tipo? — Kira perguntou.

— É por aí. — Lydia falou. Ela fez uma pausa e depois falou. — Psicopatas são incapazes de sentir empatia. Eles não têm emoções. Então por isso eles não conseguem criar vínculos emocionais. Já os sociopatas conseguem ser um pouco mais empáticos. O Matt parecia sentir uma coisa pelo Isaac. De uma forma bem estranha, mas ainda assim alguma coisa. Então, ele é um sociopata.

***

Isaac avistou Melissa no corredor quando a porta do elevador abriu. Ela tinha um tablet em baixo do braço. O garoto estava cansado de lembrar de Matt a cada passo que dava e o ponto alto foi quando seus amigos ficaram tensos com sua presença. Mas Isaac não culpava eles, todos no colégio estavam comentando o acontecido e eles não seriam diferentes. Então após sair aborrecido do refeitório, o loiro decidiu que já que ele não estava se concentrando nas aulas de qualquer forma, não faria diferença se ele matasse as aulas da tarde. E foi o que ele fez, aproveitou a hora do almoço pra sair e não voltar mais naquele dia. Lahey ficou vagando pela cidade por um tempo até que decidiu ir ao hospital.

— Não devia estar no colégio? — Melissa perguntou quando Isaac se aproximou dela.

— Tava me sentindo sufocado lá. As pessoas comentando. — O garoto respondeu.

— Vai demorar um pouco pra esquecerem isso. — Melissa falou colocando sua mão no ombro do garoto.

— Como o Scott está? — Isaac indagou

— Está entediado. — Melissa respondeu sorrindo e Isaac sorriu também. — Ele quer ir pra casa, mas o doutor Geyer disse que ele vai ficar aqui mais um pouco. Ele vai ficar muito feliz de te ver.

— Ele tá acordado?

— Tá sim. O Rafael está lá com ele. — A mulher falou. — Você sabe que é responsável por isso, não sabe? O Rafael disse que você convenceu o Scott a ir jantar com ele.

— Não, eu só disse pra o Scott dar uma chance pra ouvir o que o senhor McCall tinha a dizer. — Isaac falou. — Quem é responsável por isso mesmo foi o senhor McCall que salvou nós dois.

— Não se menospreze, Isaac. — Melissa falou olhando nos olhos do garoto. — Você faz bem pra o Scott e eu gosto disso. Eu estou muito feliz por vocês estarem juntos.

— Nós ainda não definimos isso. — O garoto falou um pouco envergonhado

— Bom, seja o que for, eu estou feliz por vocês dois.

— Com licença. — Um homem falou se aproximando de Melissa. — Pode me dizer em que quarto está minha noiva.

— Vai lá no quarto do Scott. — A mulher falou para Isaac e o garoto assentiu. Em seguida ela pegou o tablet e o ligou. — Qual o nome dela?

Enquanto Melissa dava atenção para o homem, Isaac seguiu para o quarto de Scott e ao chegar na porta, ele se deparou com uma cena um tanto curiosa. Scott estava sentado na cama e ele e Rafael conversavam animadamente.

— Não é tão difícil quanto parece. — Scott falou. — O objetivo é o mesmo que a maioria dos outros esportes de bola, tirar a bola do time adversário e acertar o gol. A diferença é que fazemos isso com o crosse, que são os tacos que usamos.

— No meu tempo, jogávamos basquete. — Rafael, que estava sentado na mesma cadeira do dia anterior, falou. — Bem mais fácil.

Scott ia rebater, no entanto, ao avistar Isaac parado na porta do quarto ele sorriu.

— Oi, o que está fazendo aqui? — O McCall mais novo indagou.

— Desculpa, eu não quis atrapalhar. Depois eu volto. — Isaac falou já se virando.

— Não, vem aqui. — Scott falou estendendo a mão.

— Que bom que chegou, Isaac. Eu precisava mesmo de um café. — Rafael falou levantando-se da cadeira. — Vou lá pegar e aproveitar pra falar com a Melissa.

Scott assentiu. Rafael se virou para sair do quarto. Ao passar por Isaac, o homem deu dois tapinhas no ombro do loiro e saiu do quarto. Lahey se aproximou do leito e sentou na cadeira que Rafael estava sentado. Mas o moreno se afastou um pouco pro lado e chamou o amigo para se sentar ao lado dele. Lahey pensou um pouco se deveria sentar ou não, mas por fim decidiu sentar ao lado dele na cama.

— Matando aula, Isaac? — Scott falou com um falso tom de repreensão.

— Eu nem devia ter ido de manhã — Isaac falou.

— Será que eu vou ter que te colocar na linha? — Scott falou levando sua mão até a bochecha de Isaac e apertando de leve. Em seguida, ele rompeu a distância entre eles e selou seus lábios num beijo cálido.

— Você e o seu pai estão mesmo se entendendo hein? — Isaac indagou quando eles romperam o beijo.

— Estamos tentando. E é graças a você — Scott falou. — Mas eu não quero falar disso. Me conta, como foi no colégio? As pessoas estão comentando?

— Pode apostar que estão. — Isaac falou. — É o assunto do momento e acho que vão comentar por um bom tempo. Se prepara pra quando você voltar pro colégio. Eles vão ficar olhando pra você.

— Ficaram te encarando? — Scott indagou.

— O Boyd disse que não, mas eu acho que me encaram sim.

— Não liga pra isso. Deixa eles te encararem. — Scott falou entrelaçando suas mãos.  — O xerife me falou que levaram o Matt pra Eichen House hoje. Não precisamos mais nos preocupar com ele.

— Eu espero que o pai dele fique bem. — Isaac falou. — Ele parecia bem abalado com tudo isso.

— Chega de falar do Matt. Vamos fazer uma coisa melhor. — Scott falou aproximando suas bocas mais uma vez. E novamente beijou Isaac.  

— Eu acho uma ótima ideia. — Isaac falou entre um beijo e outro.

O loiro pediu passagem com a língua e Scott cedeu sem hesitação nenhuma. O moreno não se importava se alguém pudesse entrar no quarto, tudo que ele queria era aproveitar o beijo maravilhoso do outro garoto. E eles ficaram daquela forma por um tempo, se beijando, fazendo uma dança com suas línguas até que ouviram alguém pigarreando. Eles se afastaram um pouco assustados e Isaac imediatamente se levantou da cama já esperando alguma bronca. Mas era só Melissa segurando uma bandeja.

— Vim trazer seu almoço e trocar seu curativo. — A mulher falou. Ela colocou a bandeja em cima de um criado mudo ao lado da cama. E pegou um recipiente de metal, que estava ao lado do prato com a comida, e o colocou na cama. — Levanta o roupão.

— Eu espero lá fora. — Isaac falou.

— Não, fica aqui. — Scott pediu levantando o roupão como Melissa tinha pedido.

O garoto olhou para Melissa e ela apenas deu de ombros. Ele então decidiu ficar. Com cuidado, Melissa tirou o curativo da barriga de Scott e o amassou. Ela então pegou um pedaço de algodão e um vidro de antisséptico do recipiente de metal, abriu o vidro, molhou o algodão com o liquido e passou levemente na barriga do filho. Scott estremeceu um pouco com o ardor causado. Isaac apenas ficou observando Melissa limpar o ferimento e quando ele viu a barriga de Scott se sentiu um pouco culpado mais uma vez. Scott não deixou de notar a reação do loiro

— Não é tão ruim quanto parece. — O McCall falou olhando para Isaac. — Eu até que gostei da cicatriz.

Melissa continuou a limpeza do ferimento e em seguida, ela pegou uma gaze do recipiente, a colocou sobre o ferimento de Scott, pegou um rolo de esparadrapo, tirou um pedaço e prendeu a gaze. Ela tirou outro pedaço de esparadrapo e prendeu do outro lado.

— Pronto. — A mulher falou. — Vê se come tudo.

Melissa saiu do quarto e Isaac pegou a bandeja com o almoço de Scott, colocou na cama e sentou de frente para o moreno. Purê de batata, ervilhas e um pedaço de carne assada era o que tinha no prato.

— Essa comida é horrível. — Scott falou com um semblante de nojo.

— Que tal fazermos um acordo. — Isaac falou e o McCall o olhou curioso. — A cada garfada que você der, ganha um beijo meu. Eu até dou a comida na sua boca se você quiser.

— Eu gostei desse acordo.

Isaac sorriu. Ele pegou o garfo e a faca, cortou um pedaço da carne, melou no purê e levou o garfo até a boca de Scott. O McCall abriu a boca e passou a mastigar.

— Cadê meu beijo? — Scott questionou assim que engoliu. Isaac sorriu, se inclinou e deu um beijo na bochecha direita do moreno. — Ei, não valeu.

— Eu não disse que os beijos iam ser na boca. — Isaac falou sorrindo.

— Você me enganou. — McCall protestou.

— Por que não come mais um pouco e descobre onde vai ser o próximo beijo? — Isaac o desafiou.

Scott abriu a boca. O loiro pegou algumas ervilhas junto com um pouco do purê com o garfo e levou até a boca de Scott. E mais uma vez Isaac o beijou na bochecha, porém na esquerda. Scott suspirou.

— Isso não é legal. — Scott falou cruzando os braços. Isaac pegou mais um pouco da comida e levou até a boca de Scott que a abriu a contra gosto. E dessa vez Lahey o surpreendeu com um beijo demorado no pescoço do moreno, que ficou arrepiado. — Agora eu tô começando a gostar.

Mais uma garfada e mais um beijo, só que dessa vez Isaac beijou Scott na boca. E os próximos beijos que vieram, foram todos na boca e alguns minutos o moreno já tinha comido tudo. Lahey colocou a bandeja com o prato vazio de volta no criado mudo e voltou a sentar ao lado de Scott.

Eles passaram a tarde assistindo a um filme qualquer que estava sendo exibido na TV e de vez em quando Scott deixava de prestar atenção para beijar Isaac e o garoto não reclamava já que o filme não era muito bom. Algumas horas depois Stiles e Kira entraram no quarto.

— Ah você está aqui, Isaac. — Stiles falou. — O Boyd tava te procurando.

— Eu preciso de um celular novo. — Isaac falou.

— Cara, achei que você não fosse vir aqui. — Scott falou para Stiles.

— Agora lembra que eu existo? — Stiles indagou. — Por que ontem eu estava aqui, mas você só quis saber do Isaac.

Todos no quarto sorriram.

— Cara, sabe que você é meu irmão, mas o Isaac...

— Eu sei, eu sei. — Stiles falou interrompendo Scott. — Não dá pra competir com o rosto perfeito e com as covinhas.

Isaac corou.

— Como você tá, Scott? — Kira perguntou.

— Eu tô bem. Só minha barriga que ainda dói um pouco, mas nada demais. — McCall respondeu.

— Ei cara, eu tava brincando antes, mas eu realmente fiquei muito preocupado com você.

— Eu sei, mano. Mas eu tô bem. Eu tô vivo e isso é o que importa.

— Tá legal, chega desse papo de vida e morte. — Kira falou. — Tenho uma novidade. Você pode se considerar completamente superado por mim. — A garota olhou pra Scott. — Porque eu estou namorando.

— Você nem vai acreditar com quem. — Stiles falou.

— Com a Malia. — Scott falou e Kira assentiu. — Que bom Kira, eu estou muito feliz por você. Eu espero que nós quatro possamos ser amigos. — O garoto entrelaçou suas mãos na de Isaac.

— Claro. — Kira concordou. — Sem ressentimento.

— Stiles, como foi o treino hoje? — Scott indagou.

— Não teve. O treinador cancelou por causa do que aconteceu. — Stiles respondeu.

— Mas todos já ficaram sabendo? — Scott questionou.

— Saiu no jornal. — Isaac falou. — O seu nome apareceu.

— Gente, esse burburinho todo é só agora. — Kira falou.

— É, daqui a pouco eles esquecem. — Stiles concordou.

— É o que eu espero. — Isaac falou e Scott apertou a mão dele. — Só quero esquecer o que aconteceu.

Os quatro ficaram mais algum tempo conversando até que Kira disse que precisava ir embora, mas que ela voltaria no dia seguinte. Stiles também disse que deveria ir e Isaac, por mais que quisesse ficar, pediu uma carona para o amigo. Ele se despediu de Scott com mais um beijo e disse que voltaria no outro dia.

— Mas não mata aula. — Scott falou. — Você promete?

— Tá, eu prometo. — Isaac falou antes de dar mais um beijo na boca de Scott. Em seguida o loiro saiu do quarto junto com Stiles.

***

No dia seguinte Isaac assistiu a todas as aulas como prometera a Scott. Quando o loiro saiu da sua última aula, ele encontrou com Boyd no corredor e o garoto negro avisou que teria treino naquele dia e os dois seguiram para o vestiário. Ao contrário do dia anterior, as pessoas estavam comentando menos sobre o ocorrido com Matt, no entanto ainda estavam comentando.

— Cara, ele jogava com a gente. — Tucker Cornish falou para um de seus amigos enquanto vestia sua camisa do uniforme.

— Eu só consigo pensar que ele poderia surtar e invadir a escola armado. Isso me assusta muito. — Outro jogador falou.

O treinador entrou no vestiário e mandou que os jogadores se aproximassem.

— Bom, rapazes, o que aconteceu essa semana foi algo terrível, mas serviu pra uma coisa. Vocês devem ficar atentos e se acharam que alguém tá agindo estranho, devem alertar a um adulto. Matt Daehler tem problemas e ele tá recebendo os devidos cuidados. Vamos evitar tocar no nome dele. — Finstock falou. — Já me informaram que o McCall está bem e fora de perigo, mas que vai ficar alguns dias no hospital. E eu sei que como capitão, ele vai querer que vocês treinem duro nesse tempo. E na ausência dele o Boyd vai assumir seu lugar. — O garoto ficou surpreso, mas foi ovacionado pelos amigos. Isaac lhe deu alguns tapinhas no ombro. — Eu deixei papel e caneta na minha sala e quero que cada um escreva uma carta pra o McCall depois do treino. Quero que façam meus olhos se encherem de lágrimas. Agora vão para o campo, rapazes.

Enquanto os outros jogadores saiam do vestiário, Isaac se aproximou de Finstock.

— Treinador, será que eu posso só ficar assistindo hoje? — O garoto perguntou.

— Sei que você está mais abalado do que os outros com o que aconteceu com o Scott. — O homem falou colocando sua mão no ombro de Isaac. — Eu dispenso você, mas só hoje. Semana que vem você volta a treinar normalmente.

— Obrigado.

O garoto saiu do vestiário e seguiu para o campo. Ele sentou na arquibancada e ficou observando os outros jogadores correrem com seus tacos enquanto o treinador soava o apito e gritava com eles.

O dia de Scott estava mais tedioso do que o anterior sem a presença de Isaac. Pela manhã ele e seu pai conversaram mais um pouco e garoto contou pra ele sobre como foi descobrir estar apaixonado pelo seu melhor amigo e como foi difícil aceitar aquilo. Rafael se sentiu um pouco mal por não estar presente pra ajudar o filho a passar por isso. No entanto, ele estava um pouco feliz por Scott estar confiando nele e por estar conhecendo um pouco mais o garoto. A tarde Deaton foi visitá-lo e garantiu que ele ainda teria o emprego dele quando saísse do hospital. O garoto agradeceu. Quando estava quase anoitecendo Melissa entrou no quarto.

— Você tem mais algumas visitas. — A mulher falou e todos os seus colegas do lacrosse apareceram atrás dela. — Vocês podem entrar, mas não façam muito barulho.

Melissa saiu do quarto. Scott sorriu ao ver todos os seus colegas entrando no quarto, que foi ficando um pouco apertado para os mais de dez adolescentes. McCall procurou por Isaac e o encontrou um pouco afastado, junto de Boyd e Stiles.

— E aí cara, como você tá? — Um dos jogadores perguntou.

— Você assustou a gente. — Outro falou.

— Levar um tiro dói muito? — Outro perguntou.

— Você vai ficar com alguma cicatriz? — Tucker também perguntou.

— A bala ainda ta dentro em você? — Outro garoto perguntou.

— Calma gente. Uma pergunta de cada vez. — Scott pediu sorrindo. — Eu tô bem. Levar um tiro dói pra caralho e sim eu vou ficar com uma cicatriz. E não, a bala não tá dentro de mim. Vocês querem ver?

Todos assentiram e Scott pediu pra um dos colegas pegar um recipiente de metal parecido com o que Melissa tinha usado pra trocar o curativo no criado mudo ao lado. O garoto o pegou e foi passando para os outros que encaravam a bala no recipiente.

— Legal. — Um deles falou.

— Agora me contem, hoje teve treino? — Scott indagou quando o mesmo garoto colocou o recipiente com a bala no mesmo lugar e os jogadores confirmaram. — Fiquei sabendo que ontem foi cancelado por minha causa. Não quero que vocês amoleçam por causa do que aconteceu. Temos que ganhar essa temporada. Quero me formar com um troféu.

— O Boyd vai ficar no seu lugar como capitão até você voltar. — Danny falou.

— Não poderia ter escolha melhor. — Scott falou olhando para Boyd e os outros garotos concordaram. — Quando eu voltar, podemos ser co-capitães. Pessoal, eu queria aproveitar que todos vocês estão aqui e contar uma coisa. — Todos olharam atentamente para McCall. Isaac se perguntou se ele ia fazer o que ele estava achando. — Vocês sabem, eu quase morri. Isso muda a gente, tipo eu quero viver a minha vida ao máximo porque ela pode acabar a qualquer momento. Mas eu não posso fazer isso escondendo uma parte minha. Eu sou bissexual. — O garoto falou olhando para Isaac.  — Talvez alguns de vocês não aceitem isso muito bem, mas eu realmente não posso mais esconder.

Os garotos ficaram em silêncio por um tempo e Scott começou a ficar um pouco impaciente com aquilo.

— Sério que você acha que algum de nós não vai aceitar bem McCall? — Um dos jogadores indagou.

— Já tínhamos percebido que rolava alguma coisa entre você e o Lahey. — Outro jogador falou e os outros olharam para Isaac.

— Você não é o único no time que é. — Outro falou. — Eu também sou bi.

— Eu sou gay. — Danny falou e todos começaram a rir.

— Sério, Danny? — Tucker perguntou.

— Não fazíamos ideia. — Outro garoto falou.

— Eu também sou bi. — Stiles falou. — E já peguei o Derek Hale.

Os jogadores olharam surpresos pra Stiles que apenas deu de ombros. Isaac se aproximou de Scott e segurou na sua mão.

— E eu sou gay. — Lahey falou antes de beijar Scott na boca. McCall levou sua mão até a nuca de Isaac e aprofundou o beijo enquanto os outros garotos vibravam e aplaudiam.

— Rapazes. Qual a parte do não fazer barulho vocês não entenderam? — Melissa questionou entrando no quarto novamente. — Isso aqui é um hospital, não um campo de lacrosse. Façam silêncio. Tem pessoas doentes nos outros quartos. 

Todos os jogadores olharam envergonhados para a enfermeira, pediram desculpas e Melissa saiu do quarto de novo.

— Tucker, me desculpa pelo outro dia. — Scott falou olhando para o colega. — Eu ainda tava na fase da aceitação. E acabei sendo um pouco agressivo com você.

— Cara, relaxa. — Tucker falou. — Mas eu repito o que eu disse naquele dia. Não tem problema nenhum. Mas desde que você não favoreça o Isaac.

— Quanto a isso, podem ter certeza que eu não vou. — Scott garantiu olhando para os jogadores. Em seguida, ele olhou para Isaac — Ele vai ter que treinar bastante como todos vocês.

— Claro, podem apostar que o Scott pega mais pesado comigo do que com vocês. — Isaac falou.

— Sabemos bem como ele pega pesado com você, Lahey. — Um dos jogadores falou e os outros começaram a rir. Porém logo pararam, pra não acabarem sendo expulsos por Melissa

Apesar de ficarem um pouco envergonhados e corados, Isaac e Scott também sorriram. Lahey conseguiu ver o lado positivo do terrível acontecimento e começou a se sentir um pouco menos culpado por ter colocado o amigo em perigo. Qualquer pensamento que o loiro teve de se afastar de McCall foi banido completamente de sua mente de uma vez por todas.

Já Scott lembrou-se do que Ethan o dissera uma vez. Que ele seria bem mais feliz quando parasse de esconder quem era e se abrisse com as pessoas. E o moreno constatou que o namorado de Danny não podia estar mais do que certo. Sentir–se acolhido pelo seu time o deixava mais feliz. Ter o apoio deles era realmente muito bom e nada mais importava naquele momento.


Notas Finais


Minha gente que tiros foram esses que a comic con trouxe hein? OH MY GOD, JACKSON É BI. Vocês não sabem a felicidade que eu fiquei quando vi a cena confirmando isso. Uma das minhas amigas até brincou comigo dizendo que eu era vidente, já que eu escolhi o Jackson pra ser o primeiro namorado do Isaac na fanfic. Eu surtei muito mesmo.

Gente, o Scott vai sair do hospital logo eu prometo. Na verdade ele ia sair nesse capítulo, mas como ja tava bem grande eu deixei pro próximo. E se preparem para o próximo porque...
Por enquanto é isso pessoal, eu espero que tenham gostado.


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