História Secret Desires - Scisaac's Secret Chronicles Volume 1 - Um passo de cada vez

O cinema de Beacon Hills estava um pouco lotado naquele dia, várias pessoas formavam uma grande fila. No meio delas, Isaac estava sozinho, aguardando para entrar na sala. Um pouco mais à frente na fila, havia uma garota alta de cabelos castanhos, que iam até um pouco abaixo dos ombros. Ela, que estava um pouco ansiosa, roía as unhas de sua mão esquerda e checava o celular, na outra mão, a cada dois minutos. Quando se virou para procurar alguém, ela avistou Isaac e acenou animada, com um sorriso.

— Ei, Isaac?

O garoto a avistou e se dirigiu até onde ela estava.

— Oi, Allison.

— O que está fazendo aqui? — Allison perguntou.

— Vim assistir a um filme. — Isaac respondeu, com um sorriso. — E nesse momento, estou esperando pra entrar na sala do cinema pra poder assistir.

— Você é muito engraçado, Isaac. — Allison falou, rindo falsamente.

— Eu estava entediado. — O garoto continuou, ele não ria mais. — Então, decidi sair um pouco. Acabei vindo assistir um filme qualquer. E você?

— Eu marquei com a Lydia... — Allison falou e logo depois seu celular tocou. Ela checou e viu que era uma mensagem de sua amiga. — E a Lydia acabou de desmarcar.

— Nós podemos assistir juntos — Lahey sugeriu, um pouco encabulado.

— Perfeito.

A fila começou a se movimentar e logo os dois estavam sentados no fundo da sala do cinema. O filme que eles acabaram assistindo, era um dos anos 80, sobre um garoto do ensino médio que descobre ser um lobisomem. Pra falar a verdade, eles não assistiram, Allison achou o filme tão tosco, que disse que não iria mais ver “aquela coisa horrenda” e depois levantou-se e saiu da sala, sendo seguida por Isaac. Do lado de fora, eles conversaram sobre o filme, enquanto caminhavam até a saída do cinema.

— Eu tava gostando. — Isaac falou, fazendo Allison sorrir sarcasticamente.

— Sinto muito te informar, Isaac, mas o seu gosto cinematográfico é meio questionável. — Allison zombou.

— Ah, mas seria bem legal poder se curar de qualquer ferimento. — O garoto insistiu.

— E perder o controle e tentar matar seu amigo, também seria legal? — Allison questionou.

Isaac soltou um longo suspiro e a garota riu, devido ao som engraçado que o loiro fez.

— O controle é muito superestimado. — Isaac começou a falar. — Não é uma coisa que se tem o tempo todo ou perdemos totalmente. O autocontrole vem de dentro e sempre devemos exercitá-lo. De qualquer forma, no pouco que a gente assistiu, eu não vi o personagem principal tentar matar ninguém.

Allison fez cara de desdém e respondeu:

— Porque era uma comédia, uma bem ruim. — Naquele ponto, os dois já estavam do lado de fora do cinema e caminhavam em direção ao carro da garota.

— Não acha que você tá exigindo muito de um filme antigo, Allison? — Isaac indagou.

— Só porque é antigo, não quer dizer que não possa ser bom. — Allison respondeu. — Tem muito filme antigo que é bom.

— Por exemplo? — Isaac insistiu.

— Titanic, Clube dos cinco. Ou, se você quer um no mesmo tema, O Lobisomem de 1941. — A garota respondeu.

— Então, você gosta de filmes de lobisomens?

— Talvez. — Allison respondeu, dando de ombros.

— Se você estivesse num filme de lobisomens quem você seria? — Isaac a desafiou.

— Eu seria uma caçadora de lobisomens, que sai por aí com um arco e flechas, para proteger garotos indefesos, como você. — A garota falou, num tom sério, entretanto, logo começou a rir, sendo acompanhada pelo loiro. Eles andaram mais um pouco e logo chegaram onde o carro de Allison estava estacionado. — Precisa de carona? — Allison perguntou, ficando de frente para Isaac. Ela destravou as portas do carro, com o controle, preso às chaves.

Isaac hesitou, mas logo respondeu:

— Não, tudo bem. Vou andando mesmo.

— A casa dos McCall não é tão perto. — A garota argumentou. — Anda, entra no carro.

— Eu não quero que o Scott pense que tem alguma coisa entre a gente. — Isaac ainda tentou explicar a situação.

— Por que ele pensaria que tem alguma coisa entre a gente? — Allison perguntou. — Só estou dando uma carona pra um amigo. Ou você quer que tenha alguma coisa entre a gente?

A pergunta pegou Isaac de surpresa, ele engasgou, mas respondeu rapidamente:

— Não. Não. — O garoto falou, nervoso, negando com a cabeça

— Então, entra aí.

Allison entrou no carro e esperou Isaac entrar também. O garoto pensou por mais alguns segundos, mas decidiu aceitar, pois, a garota estava certa, seria uma boa caminhada. Assim que o rapaz entrou, Allison deu partida no carro e começou a dirigir. O silêncio constrangedor durou alguns minutos, até que Isaac finalmente o quebrou.

— Nenhuma chance de você e o Scott voltarem? — O garoto quis saber. — Ele ainda tá muito mal com o término.

Isaac acompanhava de perto a tristeza de Scott, já que moravam juntos. Ele odiava ver o seu amigo tão pra baixo.

— Não quero falar sobre isso. — Allison falou, tentando encerrar o assunto.

— Eu não gosto de ver o Scott triste.

— Isaac! — Allison falou, duramente. — Eu não quero falar sobre o meu ex-namorado, com o melhor amigo dele.

Isaac não insistiu novamente e o silêncio voltou. O garoto passou o caminho inteiro olhando pela janela, observando a estrada. Em poucos minutos, o carro estacionou em frente à casa dos McCall. No andar de cima, Scott estava em seu quarto, deitado na cama, quando ouviu um carro do lado de fora. Ele se levantou, foi até a janela e se surpreendeu, quando viu o carro de Allison parado na rua. Ele ficou ainda mais surpreso ao ver que Isaac tinha descido da porta do carona. Scott estranhou, Allison e Isaac não costumavam sair só os dois. De cenho franzido, McCall voltou para sua cama e tentou dormir, porém, a cena de Isaac saindo do carro de Allison não saia da sua cabeça.

Na manhã seguinte, Scott entrou na cozinha e encontrou Isaac comendo uma tigela de cereal. Ele não tinha dormido muito bem e as olheiras em baixo dos seus olhos indicavam isso. O moreno foi até o armário e pegou uma tigela. Depois, sentou-se na mesa, de frente pra Isaac, e pegou a caixa de cereal, que estava à sua frente. Porém, antes de despejar o conteúdo da caixa, Isaac o interrompeu.

— Eu fiz ovos com bacon pra você. — Ele falou, apontando para duas frigideiras em cima do fogão.

— Ah, valeu. — Scott levantou novamente, guardou a tigela, pegou um prato, foi até o fogão e se serviu com o que Isaac tinha preparado. — Você saiu ontem? — Indagou, ao sentar-se de frente para o amigo novamente.

— É, eu fui ao cinema.

— Sozinho? — Scott perguntou, antes de morder um pedaço de bacon.

— Sim, mas eu encontrei a... — Isaac hesitou por um momento, temia a reação de Scott, mas prosseguiu. — A Allison. Nós assistimos metade de um filme, porque ela achou ruim, e depois ela me deu uma carona. Tudo bem?

Scott percebeu a preocupação de Isaac. Ele ainda estava um pouco triste com o termino, mas já estava começando a superar.

— Tudo bem. Não tem problema, vocês serem amigos. — Scott parou pra pensar um pouco. — Quer dizer, vocês são só amigos, né?

— Claro. Claro. Só amigos — Isaac respondeu, sem demora, um pouco nervoso.

— E você acha ela bonita? — Scott questionou, encarando o loiro.

Isaac não sabia o que responder. Ele achava Allison bonita sim, no entanto, não da forma que Scott pensava. Ele não sentia atração por ela, na verdade, Isaac não sentia atração por garota nenhuma.

— Eu nunca parei pra pesar nisso. — Lahey respondeu, depois de alguns segundos. E eles continuaram a comer.

***

Isaac sentou-se na beirada da cama e encarou Scott, surpreso. O loiro observou uma tatuagem, que nunca tinha visto antes, no braço esquerdo do moreno. Duas barras circulavam o seu bíceps, sendo a de cima um pouco mais grossa que a de baixo. Isaac queria perguntar sobre a tatuagem, entretanto, deixou a curiosidade pra lá.

— Você tá falando sério?

— Não podemos ficar assim. — Scott falou. — Eu não quero me sentir desconfortável na minha própria casa.

— Já entendi. — Isaac falou, abaixando a cabeça. — Você quer que eu vá embora.

— Não, Isaac! — Scott respondeu, rapidamente. — Eu não quero isso. — O moreno se aproximou, um pouco hesitante, da cama. — O que eu quero, é acertar as coisas, eu quero meu amigo de volta.

— Eu não sei se isso é possível, Scott. — O loiro falou, voltando a olhar para o outro garoto. — Nós dois estamos magoados um com o outro. Magoados demais.

Scott soltou um suspiro lento e alto e se sentou na cama, ao lado de Isaac.

— Então, me deixa começar pedindo desculpas pela forma que eu venho agido desde o dia em que você voltou. Eu devia ter sido mais receptivo. E também quero pedir perdão por tudo que eu disse a você, sobre o seu pai e que eu queria que você fosse embora. — Isaac nada disse. Ele voltou a encarar o chão e soltou um suspiro pesado. Scott já estava começando a ficar impaciente com o silêncio do outro. — Isaac, eu tô aqui sem armadura nenhuma, te pedindo perdão. Por favor, diz alguma coisa.

Os olhos de Isaac ficaram marejados. Ele voltou a olhar pra Scott.

— Eu mereço ser tratado assim. Por tudo que aconteceu.

— Do que tá falando, Isaac? — Scott questionou, mas não esperou por uma resposta. — A culpa é minha. Eu fiz seu pai voltar a sua cabeça e agora isso tá te influenciando e te deixando com baixa autoestima de novo. Droga! — As lágrimas de Lahey começaram a cair. Scott teve vontade de abraçá-lo, no entanto, se conteve. — Isaac, você é uma pessoa boa e não merece nada disso. — Scott colocou sua mão no ombro do amigo. — Não deixa o seu pai te controlar, mesmo depois de morto.

— A Allison... — Isaac começou a falar, porém, não conseguiu concluir.

— Vocês ficaram. — Scott falou, com desgosto na voz. — Não é a atitude nobre que eu esperaria do meu melhor amigo, ficar com minha ex, mas isso também não é motivo pra eu te tratar daquela forma.

***

Scott caminhava até seu armário. Ele tinha dez minutos para pegar seu livro da próxima aula. O garoto, no entanto, parou de andar ao ver uma cena um tanto curiosa. Allison e Isaac estavam parados na frente do armário do loiro, conversando, enquanto o garoto pegava seu livro. Ambos estavam sorrindo e Scott estranhou aquilo. Sua ex-namorada e seu melhor amigo não eram tão próximos. O moreno esqueceu-se do livro e seguiu para a sala de aula, sem ser visto pelos outros dois adolescentes.

As aulas seguiram e Scott não conseguia tirar da cabeça a cena que viu no corredor dos armários. Rapidamente, as aulas acabaram e chegou o treino de lacrosse para Scott, Isaac e o resto do time. Todos os outros rapazes já tinham ido para o campo, restava apenas Isaac e Scott no vestiário. O moreno se aproximou do loiro, que estava sentado num banco amarrando seu tênis.

— O que tá rolando entre você e a Allison? — Scott perguntou, um pouco ríspido.

Isaac parou o que fazia, olhou para Scott, mas logo voltou a dar atenção para o seu tênis.

— Ah! Oi, Scott. Não te vi o dia todo. — Ele falou, sem olhar para o outro garoto.

— Não muda de assunto, Isaac. Você e a Allison tão ficando?

Isaac levantou-se do banco, ficou de frente para o outro, a poucos centímetros dele, o olhou nos olhos e soltou um longo suspiro, antes de responder:

— Não, Scott.

— Então, me explica o que foi aquilo mais cedo. — Scott falou, deixando Isaac de cenho franzido, confuso. — Vocês estavam bem sorridentes, hein?

— Qual o problema? Somos amigos e estávamos conversando. Você mesmo disse que não tinha problema em sermos amigos. — Isaac falou, colocando sua mão no ombro de Scott, porém, o moreno a empurrou.

— É, mas quando foi que isso começou? Porque, eu não lembro de vocês dois serem super amigos quando eu e ela namorávamos.

— O que deu em você? O Stiles e a Allison são amigos e você não fica dando uma de ex-namorado ciumento pra cima dele.

— É diferente, Isaac. — Scott falou, sem pensar, deixando Isaac curioso.

— Diferente por quê?

— Esquece. — Scott disse, confuso com o que tinha dito antes. Por que era realmente diferente? Ele não entendia. — Eu tô indo pra o campo, vê se não se atrasa.

Scott saiu do vestiário e seguiu para o campo. Isaac ainda passou mais um tempo apenas olhando para a porta, por onde o outro tinha saído. O loiro pegou o seu taco, que estava apoiado no mesmo banco, onde estava sentado há minutos atrás, e também foi para o campo.

— Graças aos retardatários aqui, o senhor Lahey e o nosso querido Capitão McCall, vocês vão passar o resto da semana correndo um quilometro depois dos treinos. — O treinador Finstock falou, causando um alvoroço nos rapazes, que começaram a falar ao mesmo tempo, em protesto. O treinador soou seu usual apito tão alto, que os jogadores taparam seus ouvidos com as mãos. — Não adianta reclamar, ou serão dois quilômetros. Lahey e McCall, formem dois times.

Os rapazes se dividiram em dois times e Stiles acabou indo para o time de Scott. Boyd e Matt foram escolhidos por Isaac. Eles começaram o treino simulando um jogo e os dois times estavam indo bem, porém, o time de Isaac tinha a vantagem Boyd, grande e um ótimo jogado. E depois de meia hora, o time Lahey estava com dois pontos a mais que o de McCall.

Isaac estava com a bola e corria em direção ao gol protegido por Danny, entretanto, alguém bateu com tudo nele e o loiro acabou caindo feio no chão. Ele viu a mão de Scott estendida, no entanto, a empurrou e se levantou sem ajuda, segurando seu taco. O garoto largou o taco e levou suas duas mãos ao capacete, o tirou, e também o jogou no chão.

— Qual é o seu problema? — Isaac questionou, indignado.

— Foi mal, eu não calculei direito a minha força.

O treinador veio correndo em direção a eles.

— Tudo bem, rapazes? — Ele perguntou, apoiando as mãos, em um dos ombros dos garotos.

— Chega de treino pra mim hoje. — Isaac falou, se afastando.

Boyd foi atrás do loiro, mas decidiu deixar o seu amigo sozinho. Stiles veio correndo em direção à Scott.

— Aí, cara. O que foi aquilo? — Ele perguntou, ofegante.

— Sei lá. — Scott respondeu, confuso. — Eu só perdi a cabeça.

— E por quê?

Scott não falou nada. Ele não sabia por que tinha derrubado Isaac tão bruscamente. Não havia motivos. Tinha sido um ataque de ciúmes, mas ele se perguntava o porquê de não ter ciúmes de Allison com Stiles, como o próprio Isaac tinha lhe questionado.

Nas arquibancadas, Allison e Lydia assistiam ao treino, junto a outros alunos, quando viram o que aconteceu. A morena se levantou.

— Fica aqui, eu vou ver se o Isaac tá bem. — Ela disse para Lydia e desceu as arquibancadas.

— Ok. — A ruiva falou, sem tirar os seus olhos do campo.

Allison foi correndo até o vestiário, onde encontrou Isaac no chuveiro, ainda de roupa. O garoto tirou a camisa e a jogou no chão.

— Isaac, tudo bem? — Allison perguntou, antes que Isaac tirasse mais alguma peça de roupa.

O garoto desligou o chuveiro, se virou para ela e se aproximou. Não tanto, para não molhá-la.

— Não devia estar aqui. — Isaac falou e Allison sorriu.

— Não é a primeira vez que eu entro no vestiário masculino. — A garota falou, surpreendendo Isaac. — Eu vim ver se tava tudo bem.

— Tá tudo ótimo. — Isaac falou, ironicamente.

— O que foi aquilo? — Ela questionou. — O Scott não é assim.

— Ele acha que a gente tá ficando, Allison, e teve um surto de namorado ciumento. Foi isso.

— Isso é ridículo.

— Fala isso pra ele.

— Sério, Isaac, isso é um absurdo. — A garota falou, massageando seu pescoço. — Quer dizer, olha pra você.

— O que tem eu? — Isaac indagou, curioso.

— Você é gay.

Isaac arregalou os olhos, surpreso. Ele ficou um pouco desconfortável com que Allison tinha acabado de falar.

— Por que tá dizendo isso? — O garoto questionou.

— Bem, eu nunca te vi com nenhuma garota. — Allison falou, pensativa. — Acho que você não se interessa.

— Isso não faz de mim gay.

— Não tem problema se você for, Isaac. — Allison falou, colocando sua mão no ombro do amigo.

— Não é isso. — O garoto falou, olhando para o chão. — É só que, eu não tenho certeza se eu sou mesmo. — Ele voltou a olhar para Allison. — Você sabe? Gay.

— Então, me beija.

Isaac mais uma vez arregalou os olhos, surpreso. Ele pensava que Allison tinha perdido o juízo.

— O que? Eu não vou te beijar. — O loiro falou, se afastando um pouco da garota. — Não depois de o Scott ter quase me feito torcer uma perna ou quebrar um braço.

— Não seja dramático, Isaac. — Allison falou, revirando os olhos. — A queda nem foi tão feia assim.

Allison se aproximou de Isaac e envolveu seus braços no pescoço do rapaz. Ela acabou com a distância e selou seus lábios, pedindo passagem com a língua, sem se importar que o garoto estivesse todo molhado, e que consequentemente sua roupa também ficaria. Ousada, a garota pegou uma das mãos de Isaac, que estava em sua cintura, e a guiou para sua bunda, fazendo com que o loiro a apertasse. Isaac não sentiu nada, aquilo não lhe afetou de modo algum. O beijo durou mais alguns segundos, até que a garota o rompesse e se afastasse.

— Eu acho que sou gay. — Isaac falou, pensativo, fazendo a garota sorrir.

— Tá vendo. — Allison falou, dando tapinhas nos ombros de Isaac. — Eu tinha razão.

***

— A Allison morreu por minha causa. — Isaac finalmente falou, surpreendendo o outro garoto.

— O que? Isso não é verdade. — Scott falou, um pouco irritado. — Para de falar besteira. O que aconteceu com a Allison, foi uma tragédia.

— Ela queria que a gente conversasse. — Isaac controlou um pouco o choro. — Ela chamou nós dois pra conversar, só que eu não fui.

***

Scott estava terminando de arrumar alguns instrumentos na clínica veterinária, quando ouviu o sino da porta tocando.

— Desculpa, já estamos fechando. — Ele disse, indo para a sala de espera, mas ao ver que se tratava de Allison, ficou surpreso. — Allison? O que você tá fazendo aqui?

— Eu vim conversar com você. — A garota disse, se aproximando de Scott. — Na verdade, nós três vamos conversar.

— Você tá falando do Isaac? — Scott questionou, um pouco irritado. — Você quer saber se por mim tá tudo bem vocês ficarem?

— Não estamos ficando, Scott. — Allison deu um longo suspiro antes de continuar a falar. — Você às vezes é tão cego, pra não enxergar que o Isaac... — A garota se interrompeu, causando uma grande curiosidade no rapaz.

— O que tem o Isaac?

— Olha, isso é uma coisa que ele tem que te contar. Mas eu posso te afirmar que, definitivamente, eu e o Isaac, não estamos ficando. É por isso que você está sendo hostil com ele?

— Não é legal ver sua ex-namorada e seu melhor amigo, bem íntimos. — Scott olhou nos olhos de Allison. — Eu imaginei coisas.

— É só isso mesmo? — Allison indagou, com uma sobrancelha arqueada.

— O que quer dizer? — Scott perguntou, com o cenho franzido. Como resposta, a garota apenas deu de ombros e se sentou numa das cadeiras da sala de espera. O garoto sentou-se ao lado dela. — Então, cadê o Isaac?

— Ele já devia estar aqui.

Enquanto Scott terminava de arrumar as coisas, ele e Allison ficaram esperando por Isaac e depois de uma hora, chegaram à conclusão de que o loiro tinha dado um bolo neles. Então, decidiram ir embora. Os dois seguiram para a porta da saída, a garota a abriu e passou, sendo seguida por Scott, que apagou a luz antes de sair. O garoto pegou um molho de chaves no bolso, trancou a porta da clínica e seguiu com a ex-namorada para o estacionamento. Eles caminharam até onde o carro de Allison estava e quando ela já estava abrindo a porta, um rapaz, que não parecia ter mais que vinte anos, usando uma touca preta e roupas igualmente pretas, se aproximou.

— Aí, gata. Me passa a chave do carro. — Ele falou, nervoso.

Allison e Scott se viraram para o rapaz e viram que ele segurava um canivete, com a mão tremendo. McCall se colocou na frente da garota e se aproximou lentamente do rapaz, erguendo os braços.

— Ei, cara, fica calmo.

— Scott? — Allison chamou, nervosa.

— Cala a boca e passa a chave do carro. — A mão do garoto com o canivete tremia mais.

— Donovan? Seu nome é Donovan, né? Donovan Donati? Não precisa fazer isso. — Scott falou, calmamente, mas no seu interior ele estava bastante assustado.

Donovan ficou mais nervoso do que estava e num ato desesperado, avançou sobre o outro garoto. Um grito pelo nome de Scott pôde ser ouvido e Donovan finalmente acertou seu alvo, no entanto, quem havia sido ferida foi Allison, que tinha se colocado na frente do ex-namorado.

— Merda! — Donovan falou e saiu correndo o mais rápido que podia.

— Allison! — Scott segurou a garota e foi deitando-a devagar. Ele pressionou o peito esquerdo dela e suas mãos se melaram de sangue. — Calma, vai ficar tudo bem. Fica comigo. — Scott olhou de um lado para outro, mas não viu ninguém. — Socorro! Alguém me ajuda! — Ele gritou.

— Scott? — Allison o chamou com a voz ofegante.

— Não fala nada. — Scott falou, colocando a mão no bolso da sua calça. Ele pegou seu celular. — Eu vou chamar uma ambulância.

O garoto já estava discando o número de emergência no seu celular sujo de sangue, quando Allison colocou a mão na bochecha dele. Scott não chegou a apertar o botão pra fazer a chamada, seus olhos se encheram de lágrimas e ele começou a soluçar

— Allison, fica comigo. — O garoto falou, entre soluços. — Por que fez aquilo?

— Tá tudo bem. Tá tudo bem, tá perfeito. — Uma lágrima solitária caiu do olho de Allison. — Eu estou nos braços do meu primeiro amor. A primeira pessoa que eu amei. A pessoa que eu sempre amarei. Eu te amo, Scott McCall.

— Não, por favor, não. Allison, não, por favor.

— Scott, me escuta. — A garota disse, com a voz mais fraca. — Promete que você vai conversar com o Isaac, que vão fazer as pazes. Promete pra mim.

— Eu prometo.

— Você precisa dizer ao meu pai. — A voz de Allison começou a falhar. — Você precisa contar a ele. Diga a ele...

A respiração de Allison ficou pesada. Ela estava sufocando. E em poucos segundos, a garota fechou os olhos e deu seu último suspiro, antes de parar de respirar para sempre. A mão dela, que estava na bochecha de Scott, foi para o chão e uma última lágrima em seus olhos, foi derramada.

— Não.

Scott abraçou o corpo de Allison e chorou sem se conter. Ele deu um beijo na testa da garota, enquanto alisava o rosto dela. Alguns segundos depois, um carro estacionou um pouco distante do carro de Allison e duas pessoas saíram dele. Isaac veio correndo na direção de Scott e logo atrás dele, estava Chris Argent. Ao ver o corpo de Allison nos braços de McCall, Isaac caiu de joelhos e começou a chorar. Chris se aproximou de Scott e se ajoelhou ao lado do corpo da filha.

— O que aconteceu? — Chris questionou, mas não obteve resposta, Scott nem olhava para ele. — Scott, olha pra mim. O que aconteceu? — Ele perguntou mais alto.

Scott saiu do seu transe momentâneo e olhou para Chris.

— Um cara tentou assaltar a gente. Foi muito rápido. Eu tentei conversar com ele, mas ele veio pra cima de mim com um canivete e, aí a Allison... — Scott voltou a soluçar. — Ela se colocou na minha frente e... — O garoto não conseguiu dizer mais nada.

Chris colocou a mão no ombro de Scott. Em seguida, olhou para o corpo de sua filha e o abraçou, com lágrimas nos olhos. Ele tirou o celular do bolso e ligou para a emergência, pedindo para que mandassem a polícia e uma ambulância.

— Ela me pediu pra te dizer. — Scott falou, porém, não sabia o que era exatamente que Allison queria. Ela morreu antes de dizer. Então, o garoto deduziu o que poderia ser, e continuou. — Queria que soubesse que ela te amava muito.

***

— Se eu tivesse ido conversar com você mais cedo, vocês teriam ficado na clínica veterinária e ela estaria viva. — Isaac falou, olhando para o chão. — Mas eu tava com tanto medo de que a gente acabasse brigando, que fiquei tempo demais pensando se eu devia ir ou não. E olha só o que aconteceu, a Allison morreu e a gente acabou brigando de qualquer jeito.

— Não dá pra saber disso. — Scott disse, mais irritado do que antes. Ele pensou um pouco e a irritação foi diminuindo. — Então, foi por isso que você foi embora?

A pergunta saiu mais como uma afirmação. Isaac olhou nos olhos de Scott e assentiu.

— Eu não ia conseguir olhar pra você e receber de volta seu olhar de acusação. — Isaac respondeu, num tom desesperado. — Isso seria demais pra mim, Scott.

— Isaac, eu jamais culpei você pela morte da Allison. — Scott disse, com a voz baixa. — A única coisa que eu te culpo, é por ter ido embora no momento que eu mais precisava do meu melhor amigo. Isaac, você me abandonou.

Lahey fungou o nariz, deu mais uma olhada pra Scott e apoiou sua testa nas mãos.

— Scott, eu sinto muito. — O loiro falou, com a voz chorosa. — Eu queria que as coisas fossem diferentes. Queria mesmo. Me perdoa.

— Ei. — Scott falou, fazendo Isaac se virar para ele mais uma vez.

Isaac se surpreendeu quando Scott o abraçou. Seu coração se aqueceu e passo a bater mais rápido. Melissa, que tinha acabado de chegar em casa, se deparou com a cena, ao passar pela porta do quarto de Isaac. Sem fazer barulho, a mulher continuou andando, em direção ao seu quarto, com um sorriso no rosto, feliz, porque Scott e Isaac estavam finalmente se acertando.

— Nós estamos bem? — Isaac perguntou, enxugando o rosto ao se separarem.

— Nós estamos no caminho certo. — Scott respondeu. — Um passo de cada vez.