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História Secrets - Desmemoriada?


Escrita por: Wong_E

Notas do Autor


Oi oi, belezuras do meu coração! How are you?
Tive um bloqueio criativo na semana passada e acabei desvalorizando o capítulo na hora que postei, mas depois de ler os comments e ver os favoritos de vocês fiquei muito mais motivada. Obrigada, vocês são demais ♡
Bom, como eu falei, minha motivação voltou e por isso fiz um capítulo com um desfecho talvez inesperado hahahah mas se alguém tiver pensado que o que aconteceu ia acontecer pode contar, ok?
Vou parar de tagarelar por aqui, então boa leitura e espero vocês lá em baixo! ;)
Ps: leiam as notinhas finais.

Capítulo 11 - Desmemoriada?


Fanfic / Fanfiction Secrets - Desmemoriada?

Uma claridade fraca foi invadindo meu campo de visão e se tornando cada vez mais forte a medida em que eu abria os olhos, sentindo minhas pupilas arderem e me causarem uma leve tontura.

Quando consegui abrir totalmente os olhos e recobrar meus sentidos constatei que estava em um quarto de hospital, e as vozes que eu estava ouvindo vinham do lado de fora contrariando minha expectativa de ter alguém comigo.

Bufei e bati com as mãos no fino e desconfortável colchão. Por que caralhos eu estou, de novo, num lugar como esse? Eu não sofri nenhum acidente para precisar vir pra cá — bater a cabeça nas portas dos armários, escorregar no chão molhado do banheiro e queimar a língua com café quente não são acidentes graves, são? —, então é bom que tenham uma boa explicação para o fato de eu estar enfurnada aqui.

— E eu não vou ficar aqui esperando alguém vir me dar essa explicação.

Decidida a não permanecer mais nem um segundo deitada e sozinha nesse quarto cheirando a remédio, arranquei todos os tubinhos que estavam nos meus braços e sentei na maca a fim de levantar, mas não cheguei a pôr os pés no chão devido a dor insuportável que senti na cabeça.Eu já tive dores de cabeça astronômicas, daquelas que parecem imunes a qualquer remédio, mas essa sem dúvida não se igualou a nenhuma outra. 

Precisei segurar nas laterais da minha testa e conter o grito esganiçado que escapou da minha garganta tamanho foi o incômodo que senti.

— Deus do céu, o que é que tá acontecendo comigo? Que merda de dor é essa?

— Wanessa?! 

Ergui o rosto assim que ouvi Bucky pronunciar meu nome e irromper para dentro do quarto ao mesmo tempo, me deixando internamente feliz por estar ali.

Ele atravessou o longo espaço entre a porta e a maca onde eu estava em dois passos e estacou a minha frente, colocando as mãos na minha cintura enquanto questionava preocupado:

— O que você está sentindo?

— Dor — balbuciei apertando os olhos —, na minha cabeça... parece que vai explodir.

Se não fosse por essa dor eu o abraçaria bem apertado. Não sei por quê, mas parece que faz tempo que eu não o vejo. 

— O médico já vem.

Dito isso, ele deitou minha testa em seu peitoral e eu automaticamente fechei os olhos ao senti-lo acariciando meus cabelos com a mão metálica, de uma maneira tão suave que nem me permitia sentir a rigidez e frieza de seus dedos não humanos. Realmente, parece que há tempos eu não tinha contato com ele, o que é estranho visto que ontem mesmo estivemos nos enroscando sob os lençóis da nossa cama.

— Por que eu tô aqui? — questionei num murmúrio minutos depois, quando a dor começou a diminuir e eu pude recobrar minha normalidade.

Sem mais nem menos Barnes parou o que fazia e me afastou de si, me fitando como se eu tivesse dito uma sandice.

— Você não se lembra do que aconteceu?

— Se eu lembrasse não estaria perguntando. — retruquei como se fosse óbvio, ele franziu ainda mais o cenho — O que foi que aconteceu?

Cruzei os braços e esperei enquanto ele pensava por alguns segundos — como se procurasse as palavras certas para dar uma notícia ruim —, até que voltou sua atenção para mim e despejou de maneira ponderada:

— Você quis lutar sozinha com Batroc durante a missão, levou algumas pancadas na cabeça e ficou em coma por mais de uma semana. O médico não quis dar muitos detalhes sobre o seu caso, ele preferiu esperar pra ver se você ia... reagir. — ele engoliu em seco na última frase e desviou o olhar.

Mas hein?

Minha boca se abriu em um O, meus olhos se esbugalharam e eu fiquei sem saber o que dizer por um bom tempo, apenas tentando fazer minha mente assimilar tudo que eu ouvi.

— Batroc, quem é Batroc? Que missão foi essa que eu não me lembro? E como assim eu fiquei em coma?

Foi o que enfim questionei em tom de incredulidade, a voz saindo tão fina que até incomodou os meus ouvidos.

— A missão na Sibéria! Você est...

James começou a falar demonstrando estar ainda mais confuso do que eu, mas se calou quando um homem alto, esguio, usando um jaleco branco e com os cabelos tão louros quanto os da Britney Spears entrou de sopetão no quarto, armando uma careta de surpresa e empolgação ao me ver.

— Ora ora, não achei que você fosse acordar hoje. Como está se sentindo? — ele indagou ajeitando os óculos.

Me controlei para não revirar os olhos e ri pelo nariz. Então esse aí é o médico que Barnes falou? Engraçado, ele parece mais um modelo de alguma grife badalada do que um médico. As pacientes jovens e solteiras devem acediá-lo muito...

— Bem, pra quem acabou de acordar depois de dormir feito a Bela Adormecida. — retruquei com azedume e afastei da minha mente os pensamentos sobre a aparência dele — Será que pode me explicar o que foi que aconteceu comigo? Que história é essa de eu ter ficado em coma? E por quê eu não m...

Eu e essa mania de perder a paciência fácil. Só me dei conta de que estava gritando com o pobre doutor estranho quando o ex-Hidra apoiou a mão na minha coxa e me lançou um olhar que dizia: calma, você tá muito nervosa.

É, eu tô nervosa. Como você queria que eu estivesse, criatura? — respondi também através do olhar.

— Eu sei que você deve estar confusa, mas tenha calma. Eu vou explicar tudo que aconteceu. — o loiro divagou calmamente, nos tirando de nossa conversa silenciosa — Será que pode nos deixar a sós, sr. Barnes?

Crispei os lábios e olhei feio para ele.

— Não!

— Sim. — Bucky sibilou ao mesmo tempo, e me acalmou ao ver meu olhar desesperado — Eu não vou embora, não sem você. Só vou ficar ali fora.

É bom que não vá mesmo, afinal eu ainda nem sei onde eu estou e pelo visto ele é o único que eu conheço por aqui.

— Ok.

Um pouco hesitante, soltei sua mão e o assisti caminhar a passos de tartaruga até sair pela porta, me deixando sozinha com o médico que não me transmitia muita confiança.

— Bom, agora que seu amigo saiu...

— Ele é mais que meu amigo. — corrigi de imediato, ele meneiou a cabeça em concordância e sorriu falsamente.

— Me desculpe, eu não sabia. — E nem tinha porquê saber! — Mas vamos ao seu caso, tudo bem?

Balbuciei um sim e cruzei as pernas esperando ele desembuchar tudo de uma vez, mas voltei a posição inicial já que a camisola indiscreta que eu estava trajando deixou boa parte das minhas coxas a mostra.

Ainda bem que ele não viu isso. Já basta saber que foi ele quem "cuidou" de mim todo esse tempo, pagar calcinha agora seria o cúmulo.

Enquanto eu ajeitava minha postura e puxava o curto tecido da camisola tentando cobrir as cicatrizes das minhas coxas, o doutor desconhecido deixou a prancheta que segurava sobre uma mesinha próxima a porta e caminhou até mim, cruzando os braços atrás do corpo enquanto esclarecia com a característica calma dos profissionais de saúde:

— Antes de mais nada, deixe eu me apresentar. Sou o dr. James Marcus, o médico chefe do setor de neurologia do hospital da SHIELD. — Ah, então esse é o hospital da SHIELD e ele também se chama James? Que coisa, não? — Você sofreu um  incidente em missão e foi trazida às pressas pra cá porque nenhum hospital da Rússia tinha condições de tratar o seu caso. Você sofreu um traumatismo grave na parte frontal do cérebro, e por conta da longa viagem de volta teve uma complicação que te levou ao coma e fez com que perdessem parte da sua memória. 

Agora sim minha boca se escancarou ao máximo, mas ao invés de ficar em silêncio como antes o que eu fiz foi gargalhar, e gargalhei como se tivesse ouvido uma grande piada sobre mim mesma.

— Ah, fala sério. Eu não perdi a memória. — eu disse entre risos, mas fiquei séria ao ver que Marcus não estava com muita paciência para minhas crises de humor — Eu... eu me lembro de várias coisas, a não ser dessa missão é claro. Do Bucky por exemplo, eu me lembro dele e de todos os momentos que passamos juntos.

E principalmente das nossas saliências diárias. Aliás, como será que ele se virou todo esse tempo sozinho? É bom que ele tenha usado só as mãos e pensado em mim, ou a coisa vai ficar feia pro seu lado.

Droga. Isso não é hora pra pensar nessas coisas. Foco, mulher! Você acabou de descobrir que perdeu a memória.

— Calma, você não perdeu todas as memórias, e tenho que confessar que achei um grande milagre isso não ter acontecido. — o loiro disse com certo fascínio, e diante da minha expressão de incompreensão se obrigou a explicar — Quando eu e os outros neurologistas analisamos as suas radiografias e laudos laboratoriais, todos nós achamos que você não ia se lembrar nem do seu nome tamanha foi a gravidade da lesão que você sofreu. Eu não quis contar isso a nenhum dos seus amigos, preferi esperar você reagir ao coma pra formar um diagnóstico preciso e tamb...

— Espera aí, o quê? Então foi você quem me induziu a esse coma?

Aumentei um pouco o tom de voz e notei que ele pareceu se assustar — como se tivesse sido pego na mentira —, mas se recompôs rapidamente e tornou a se portar de modo tranquilo.

Atitude inútil, meu caro, eu já saquei o seu deslize.

— N-não, absolutamente. Eu... eu te administrei alguns sedativos apenas pra você não sofrer nenhuma sequela durante a recuperação do trauma. É um procedimento de praxe para todos os pacientes que entram em coma em casos assim.

— Hum — pronunciei, sem acreditar muito nele — E agora que eu já tô bem será que posso ir embora?

Preferi ir direto ao ponto e acabar logo com esse assunto por enquanto. Diante da confusão que está a minha cabeça nesse momento, o pior que pode me acontecer é ficar ouvindo o blablabla desse médico que tem o mesmo nome do ex-Hidra e que parece estar seguindo um roteiro pra conversar comigo. 

— Ainda não, eu preciso pedir que faça alguns exames antes. — murchei,  ele tornou a se explicar — Calma, esses exames são rápidos, só pra ver se você está realmente bem. Você pode fazê-los agora mesmo se quiser, o resultado sai em menos de meia hora.

— É claro que eu quero! — eu disse sem pensar duas vezes, já saltando da maca como uma criança com pressa.

Uma curta e falsa risada escapou de sua garganta logo que ele viu minha reação, e tive vontade de me enterrar num buraco de vergonha pela minha infantilidade.

— Se os exames não fossem um protocolo a seguir eu te daria alta agora mesmo. Você está ótima pra alguém que acabou de sair de um coma.

E se ele e o James — o meu — não estivessem aqui eu teria fugido assim que tivesse me recuperado daquela estranha dor de cabeça.

Bem, como eu não pude fugir, fiz o meu melhor para me comportar bem e o segui até o laboratório, sem encontrar Barnes no corredor do meu quarto onde ele disse que estaria.

Será que ele foi embora? — pensei, meus olhos percorrendo o chão a medida em que eu andava — Não, ele disse que não ia. Deve ter ido tomar um café ou fazer um lanche no refeitório, ou talvez...

— Senhorita Lewis? É aqui. 

Olhei para trás assim que o bonitão do jaleco chamou minha atenção, e só então eu me dei conta de que estava prestes a virar para o próximo corredor.

— Me distraí. — comentei com um sorriso amarelo, ele riu abafado e me chamou para entrar.

A verdade é que eu não lembro se sou distraída ou se isso foi apenas um deslize devido aos pensamentos que tiraram minha concentração, mas pelo sim ou pelo não preciso me lembrar de perguntar isso — e unas cositas más — ao ex-Hidra depois. 

Coitado, logo pra ele... o desmemoriado da história.

— Jade vai te acompanhar e auxiliar durante os exames, eu ficarei monitorando tudo.

O encarei de sobrancelhas erguidas e abri a boca para perguntar quem era essa tal Jade, mas antes que eu pudesse fazê-lo eis que ela surgiu pela porta — e foi medida discretamente pelo médico gato —, me lançando um olhar de total deslumbre logo que me viu.

— Eu juro que não acreditei quando soube o que havia acontecido com você! — a morena tagarelou com um sorriso de orelha a orelha. Ela já me conhece por acaso? — Eu não cheguei a contar que sou enfermeira, né? Que deslize meu. Consegui um emprego aqui há menos de uma semana, e confesso que fiquei lisonjeada quando o dr. Marcus me pediu para realizar os seus exames. Modéstia parte você não poderia estar em melhores mãos. Eu me formei em enfermaria e medicina básica numa das melhores universidades de Cuba, e já trabalhei em vários hospitais renomados nos Estados Unidos. 

Armei uma careta de espanto e fiquei sem saber o que dizer. Em menos de um minuto ela falou mais coisas do que eu falo em uma hora de conversa, minha Nossa Senhora.

— Me desculpa, eu... Nós nos conhecemos? 

A enfermeira com pinta de passista de escola de samba desmanchou o sorriso forçado e encarou Marcus, que comprimiu os lábios, suspirou pelo nariz e resumiu minha desgraça:

— Ela perdeu parte da memória com o trauma que sofreu.

Ainda bem que eu não me lembro dela, seja lá quem ela for, já que pelo visto nós nos conhecemos em algum momento. Esse não é o tipo de pessoa que eu gosto de ter por perto. Além de falar pelos cotovelos e ser indiscreta, dá pra ver de longe que por baixo desse uniforme de enfermeira tem uma piriguete daquelas.

— Ai, meu Deus. Me desculpa, eu não queria...

— Tá tudo bem. — tradução: pelo amor de Jesus, para de falar, mulher!

Por sorte, o galã da neurologia percebeu meu desconforto diante da maneira escandalosa com que sua enfermeira estava se portando e resolveu dar um pequeno puxão de orelhas nela:

— Eu acho que não é o momento mais oportuno pra entrar nesses assuntos, Jade, ela precisa de tempo pra assimilar tudo que aconteceu. 

— Sim, claro, eu entendo perfeitamente. Me desculpe, srta. Lewis, mais uma vez eu fui deselegante. Não era minha intenção fazer isso, é que eu fiquei um pouco em choque com essa notícia que você perdeu a memória.

É, pelo jeito ela não vai diminuir a tagarelice e a indiscrição, e eu vou ter que me controlar bonito pra não perder as estribeiras e mandá-la calar a boca.

Os tais exames que Marcus disse serem rápidos duraram mais de uma hora, que foi a hora mais exautiva que eu lembro de ter vivido ultimamente. Além de ter ficado sob os cuidados da morena falastrona, que por um infortúnio do destino eu descobri ser minha vizinha, tive meu sangue tirado 4 vezes — sem contar as vezes em que ela me deixou possessa ao me furar e não acertar a veia — , passei por várias máquinas estranhas de raio X e pra finalizar recebi duas doses de soro, que segundo o doutor sedução foi o meu alimento durante todos esses dias que estive fazendo cosplay da Bela Adormecida.

Nesse momento estou na sala dele, sentada na cadeira em frente a sua mesa e batucando meu pé freneticamente no chão enquanto aguardo ele analisar um por um dos meus exames. Já fazem mais de 10 minutos que estamos nessa situação: ele lendo linha por linha do exame de sangue, observando cada pedacinho das imagens da minha cabeça nos raios X; eu sentada e cada vez mais inquieta perante o seu silêncio, sem coragem de perguntar o porquê de tanta meticulosidade com algo aparentemente tão simples.

Minha situação não deve estar tão diferente da que ele presenciou, deve? Quer dizer, está diferente porque eu acordei, mas acho que na minha cabeça — ainda mais — desordenada a coisa deve estar do mesmo jeito.

— Bom, eu não tenho mais dúvidas. — ele disse finalmente, e eu me segurei para não ajoelhar e agradecer por isso — Você está ótima, senhorita Lewis. Pode ir pra casa agora mesmo se quiser.

— Até que enfim! É lógico que eu quero, não vejo a hora de sair daqui. — falei sem querer e joguei as mãos pro alto, vendo uma careta de indignação se formar no rosto do top model da medicina.

Bom, eu não vou tentar consertar o que disse porque é a mais pura verdade. Eu não quero passar mais nem um segundo aqui, o que eu quero é distância de hospitais por um bom tempo.

— Mas antes — ah, não, lá vem... —, eu preciso te passar uma lista de medicamentos e também alguns cuidados que você deve seguir a risca.

Suspirei pesadamente e voltei a me sentar, ouvindo o doutor me proibir de fazer isso e aquilo enquanto prescrevia uma lista infinita de remédios e mais recomendações.

Quando finalmente fui liberada de vez, voltei para o quarto e procurei pelas roupas que ele disse terem sido trazida por Bucky — que ainda não havia dado as caras. Encontrei sua mochila de lona marrom sobre uma cadeira num canto do quarto e a peguei para ver o que ele havia escolhido para eu usar.

— E não é que você tem bom gosto?

Sorri satisfeita ao ver o jeans escuro, a regata amarela e o par de tênis all star que estavam colocados de qualquer jeito dentro da mochila, que tinha o perfume dele levemente impregnado no tecido. O perfume que eu mais gosto e que ainda não sei qual é. 

Vesti rapidamente as peças por cima da lingerie que por sorte eu já estava usando — e que tenho até medo de imaginar quem foi que a pôs em mim —, vasculhei os outros compartimentos e encontrei uma escova de cabelo, um batom, um frasco de perfume e um pacote de presente preto com estrelas prateadas.

Será que isso é pra mim? — pensei de sobrancelhas franzidas, é claro que é pra mim. Tem que ser pra mim.

Não consegui me controlar, e quando dei por mim já tinha rasgado o papel em mil pedacinhos, estava com os olhos arregalados e soltando uma risada maliciosa enquanto segurava camisola vermelha de seda e renda entre meus dedos.

— Agora eu admito que você tem mesmo bom gosto, e espero poder usar isso logo...

— Droga, eu esqueci de tirar isso daí. Não era pra você ter rasgado o embrulho. 

A voz repreensiva de Barnes ecoou vinda da porta, me causando um pequeno sobressalto e me fazendo derrubar o presente no chão.

— Porra, como é que você consegue entrar nos lugares desse jeito? Eu acabei de acordar de um coma, você podia ter me matado de susto, sabia? — dramatizei com falsa irritação, ele riu e caminhou até mim após fechar a porta.

Catei a camisola do chão e a segurei em frente ao meu corpo com uma sobrancelha arqueada, vendo um rápido sorriso se formar em seus lábios.

— Eu achei que você já tinha se acostumado com isso.

Desmanchei a expressão sugestiva e suspirei pesadamente.

— Eu podia até estar acostumada, mas depois de descobrir que perdi um pouco da minha memória eu não ten...

— Você o quê? — ele me interrompeu e desmanchou na hora o sorriso.

Respirei fundo e olhei para o chão, só agora pensando em como vai ser chato repetir essa novidade para todos os outros. Aliás, onde será que eles estão que não vieram visitar a amiga que acabou de acordar depois de dias dormindo? 

— Eu sofri um trauma na parte frontal do cérebro, minha cabeça deu uma pane e eu fiquei com alguns lapsos de memória. Só não sei ainda o que foi exatamente que eu esqueci, mas por sorte me lembro de você e tudo que te envolve.

Pelo menos uma coisa boa no meio dessa merda toda que aconteceu comigo. Acho que eu não me perdoaria se tivesse esquecido dos momentos — tanto bons quanto ruins — que vivi com a única pessoa nesse mundo que realmente me entende e me completa.

Depois que resumi minha atual situação, Bucky ficou em silêncio, fixou o olhar em algum ponto do chão e não moveu nem um músculo por vários minutos, o que começou a me deixar inquieta, mas com certo receio de lhe chamar atenção quanto a sua atitude.

Será que ele teve um piripaque? Água, eu preciso de água!

Lembrando das instruções para esse tipo de situação que aprendi em Chaves, caminhei rapidamente até um jarro com água que por sorte estava numa mesinha e enchi o copo que encontrei ao lado, porém não foi preciso seguir com meu plano de tirá-lo do transe já que ele voltou ao normal no instante em que viu minha movimentação.

— O que você ia fazer? — questionou com uma careta, mordi o lábio inferior e bebi a água para disfarçar.

— Nada... eu só fiquei com sede de tanto ver você se fazendo de estátua. — larguei o copo sem nem beber o líquido e cruzei os braços — No que você estava pensando pra ficar daquele jeito?

— Em nada. — respondeu apenas, a voz baixa e o olhar desviando de novo do meu.

Não preciso ser nenhuma gênia e nem ter minha mente em ordem pra ver que ele está mentindo e querendo esconder seus pensamentos de mim.

— Bucky, eu conheço você muito bem apesar do nosso... — hesitei, eu devo falar namoro ou isso vai ser estranho? É, vai ser estranho. —, da nossa relação ser recente, por isso tenho certeza que você tá querendo me esconder alguma coisa que está passando nessa cabeça aí. O que foi?

Me aproximei dele e segurei suas mãos, o obrigando a olhar nos meus olhos por conta da proximidade de nossos corpos.

— Eu não... — ele negou com a cabeça e suspirou antes de tornar a falar — Eu fiquei com medo de você não voltar. Pela primeira vez eu tive medo de perder alguma coisa.

Certo, e agora eu digo o que? Não posso ficar com essa cara de tacho e essa vontade de sorrir igual uma menina boba que acabou de ouvir a tão esperada declaração do menino que ama.

— Mas não perdeu. — pronunciei num sussurro e sorri de canto de boca — Eu tenho sete vidas, sabia?

— Ninguém tem sete vidas.

Revirei os olhos e bati de leve em seu peito.

— Mas será que você não pode deixar de interpretar tudo ao pé da letra nem num momento fofo como esse?

É ou não é uma droga quando você tenta descontrair uma situação com alguém e essa pessoa leva a sua brincadeira pro lado sério? 

— Não, eu não posso! — retrucou duramente.

Eu tombei a cabeça pro lado com as sobrancelhas erguidas, afastei minhas mãos dele e respondi somente:

— Tudo bem.

— Alguém tem que ser sério na relação, não concorda? 

Eu juro que ainda mato ele por fazer esse tipo de coisa. 

— Eu odeio você. 

Eu fiz de tudo para tentar me fazer de séria, mas não resisti a cara de assustado que ele fez com a minha atitude e o puxei para um abraço apertado, que ele retribuiu com a mesma intensidade e carinho — e quase esmagou minhas costelas com o braço metálico, mas isso não importa.

— Eu estava com saudade disso. 

— Do que? — perguntei me fingindo de desentendida.

— De te abraçar desse jeito.

— Só de me abraçar? 

Me afastei o suficiente para fitá-lo com uma sobrancelha erguida e vi seus lábios se curvarem naquele sorriso aberto, que faz várias ruguinhas se formarem em seu rosto e que ele só dá quando está envergonhado ou feliz.

— Você sabe que não. — assumiu um pouco tímido, me dando o gatilho para sanar aquela dúvida de antes:

— Vem cá, como foi que você fez pra acalmar o seu amiguinho insaciável sem mim?

Como era de se esperar, o ex-Hidra ficou mais vermelho do que um tomate maduro e não conseguiu articular nenhuma resposta, muito menos manter seu olhar fixo no meu de tão envergonhado.

Gargalhei debochadamente e apertei suas bochechas.

— Eu imagino que devem ter sido dias difíceis pra vocês.

— Não vou responder isso. — ele retrucou após um riso nervoso.

— Nem precisa, o seu estado já fala por você. — Tudo bem, agora já chega de zombar do coitado. — Vamos embora? Eu tô com muita pressa de sair logo daqui. Não aguento mais esse cheiro de remédio.

O vi manejar a cabeça em concordância e catar a mochila de cima da cadeira. Com certeza ele deve estar agradecendo mentalmente por eu ter acabado com aquele assunto embaraçoso. Pobre desinformado, mal imagina o porquê de eu querer ir embora logo...

******

— Lar, doce lar!

Eu disse assim que entrei no apê e segui direto para a sala, onde me joguei no sofá e comecei a lutar contra meus sapatos. Bucky fechou a porta e veio atrás de mim, franzindo as sobrancelhas ao me ver lutando contra os cadarços dos tênis.

— Tá difícil? — perguntou sarcasticamente, cerrei os olhos em sua direção.

— Muito apertado, apenas. 

— Deixa que eu faço isso.

Antes que eu pudesse dizer o não, obrigada, eu não sou tão inútil a ponto de não conseguir tirar meus próprios tênis que estava na ponta da língua Barnes já estava ajoelhado na minha frente, desamarrando os nós dos cadarços com a maior facilidade. 

Segundos depois, ele tirou meus sapatos com todo o cuidado do mundo e os colocou lado a lado sobre a mesinha de centro, com um sorriso convencido estampado em seus lábios e as sobrancelhas arqueadas.

Revirei os olhos e o empurrei com o pé esquerdo, porém nem cheguei a movê-lo do lugar.

— Bom, agora que você me fez esse pequeno favor eu vou tomar um banho. 

— Tudo bem. Quer que eu prepare alguma coisa pra você comer?

Lhe lancei um olhar de estranhamento e não pude evitar de rir do jeito fofo com o qual ele estava agindo.

— Eu não quero comer nada, Soldado. Estou me sentindo enjoada por causa do soro e dos remédios que tomei.

Foi esse maldito enjôo que quase me fez vomitar na hora que passamos pela cantina do hospital e eu senti o cheiro de alguma coisa fritando. 

— Você tá muito fraca pra ficar sem comer. — ele devolveu com uma preocupação que chegou a me deixar com raiva.

— Eu não tô fraca, Barnes. — falei firmemente, mas não consegui convencê-lo — Tá, talvez eu esteja um pouco fraca, mas depois de um bom banho e umas horinhas jogada no sofá assistindo alguma série isso passa. Só por favor, não invente de fazer nada naquela cozinha, ok? Pelo menos por hoje.

Não quero correr o risco de ter uma crise de vômito na frente dele, cruzes.

— Tá bom. — acatou após um suspiro.

— Obrigada. Agora eu vou pro meu banho, não quer me acompanhar? 

Arqueei uma sobrancelha e sorri convidativamente, porém o que ele fez foi negar com a cabeça e jogar um balde de água fria nos meus planos:

— Não acho uma boa ideia, você acabou de sair do hospital e... — gesticulou dando de ombros, e eu entendi perfeitamente o que ele quis dizer.

É, pensando bem realmente não é o melhor momento para um rala e rola mesmo. Com a vontade que ele deve estar e com a exaustão que estou sentindo, as coisas com certeza não vão dar nem um pouco certo. Eu não iria aguentar o pique dele... Meu Deus, nunca achei que isso fosse acontecer comigo!

O respondi apenas com alguns manejos de cabeça e um sorriso amarelo, mas para não deixar as coisas tão estranhas entre nós fui em sua direção e lhe dei um beijo nada casto — que foi o mais longo até agora, não sei se por conta da saudade ou da frustração em não poder fazer mais que isso.

Após ele retribuir o meu ato repentino com a mesma avidez, deixei a sala e me encaminhei para o banheiro ansiando enormemente pelo meu banho.

A sensação da água quente caindo nos meus ombros foi a melhor forma de me fazer relaxar, e por esse motivo talvez esse tenha sido o banho mais longo que tomei em toda minha vida. 

Fiquei exatas duas horas sob o chuveiro, aproveitando o relaxamento para pensar em tudo que havia me acontecido.Imaginem comigo: você acorda num quarto de hospital, descobre que ficou em coma, perdeu partes da memória — que você ainda não sabe quais são —, e pra fechar com chave de ouro terá que ir conversar com o chefe mais incógnito de todos, que com certeza só quer saber como uma agente desmemoriada vai continuar trabalhando.

— Wanessa? O seu celular tá tocando. 

Somente nesse momento me dei conta de que todo o banheiro estava uma verdadeira sauna por conta do vapor da água, por isso desliguei imediatamente o chuveiro e respondi James:

— Ok, eu já estou saindo.

Me sequei em tempo recorde, enrolei uma toalha nos meus cabelos molhados e vesti meu roupão amarelo bebê para só então deixar o banheiro úmido e abafado. 

Cruzei o corredor em direção ao quarto e assim que entrei no cômodo ouvi meu celular tocando descontroladamente ao lado da mochila de Bucky. 

Peguei o aparelho de cima da cômoda e atendi sem nem ver quem era.

— Lewis. 

— Até que enfim, Miss Morte. Estava começando a pensar que você tinha voltado a dormir, ou que estava tirando o atraso do seu velhote desmemiriado. — a voz arrogante do Lata Velha ecoou no meu ouvido,e apesar da piada imprópria fiquei feliz por estar falando com ele.

— Eu não estava fazendo nenhum dos dois — infelizmente para a segunda opção —, e você interrompeu meu banho de sais. 

Claro que eu não estava tomando um banho de sais, mas como é com o Tony que estou falando não custa bancar a chique.

— Sei, banho de sais... estando só vocês dois aí, tenho até medo de imaginar que sais são esses que voc...

Agora ele já está passando dos limites. 

— Se você me ligou pra falar essas asneiras justo no dia em que minha vida e minha cabeça viraram uma confusão eu juro que vou agora mesmo até aí e mato você. — exbravejei num fôlego so antes mesmo de ele terminar a frase acima.

Que pena que o seu mau humor continua intacto. — frisou a palavra acidente, revirei os olhos — Mas enfim, como você está? Quando volta pra Nova York?

Sentei na cama e cruzei as pernas.

— Eu tô ótima, ter ficado em coma e perdido partes da minha memória fizeram um bem pra mim que você não faz ideia! — retruquei sarcasticamente, o ouvindo soltar um riso abafado — E não sei quando volto, Fury quer que eu vá falar com ele amanhã. 

— Com certeza o caolho deve estar se roendo por saber que uma de suas melhores marionetes tá com defeito.

Eu podia ter me ofendido com mais essa opinião infeliz, mandado Stark pastar e desligado na sua cara, mas no fundo eu sabia que tudo que ele falou é a mais pura verdade. Nicky Fury sempre vai ser frio, calculista e o tipo de pessoa que descarta qualquer um que apresente alguma incapacidade. Parece frieza demais, eu sei, mas é a mais pura verdade.

— Só espero que ele não me descarte da SHIELD por eu não lembrar da tal missão da Sibéria. — murmurei seguido de um suspiro exaurido.  

Não, eu não acho que ele vai fazer isso com a caçulinha predileta dele. — estalou novamente a língua, que mania irritante!  — No máximo, sei lá... vai te colocar de molho até você recuperar seus parafusos.

— Eu não fiquei louca pra ter que recuperar nenhum parafuso, Stark! — frisei sem paciência, e tenho certeza que seus olhos se reviraram.

— Que seja, você me entendeu. Sabe, agora que você também tá com, digamos... problemas de alzheimer, acho que finalmente vou poder admitir que você e o Barnes fazem o casal perfeito. 

Involuntariamente eu sorri de um jeito bobo e senti uma pequena satisfação ao ouvir suas palavras, mas disfarcei ambas as reações e o respondi com indiferença: 

— Bom, você sabe que eu não levo muito em consideração o que você acha sobre mim — ele riu falsamente —, mas obrigada de qualquer forma.

— Não por isso. Ih, vou ter que desligar, Pepper acabou de chegar com a cerimonialista. Até mais, Miss Morte, vê se não sofre mais nenhum acidente.

Cerimonialista?

— Tchau, Lata Velha.

Decidi não perguntar o porque da tal cerimonialista e desliguei antes dele, jogando o celular na cama e me levantando em seguida. Segundos depois, Bucky irrompeu para dentro do quarto já se dirigindo a mim:

— Melhor? 

— Sim, depois de quase acabar com a água do planeta. — brinquei e ambos rimos — Sabe que agora até que eu fiquei com um pouco de fome?

— E o enjôo? — perguntou de sobrancelhas franzidas.

— Passou. Tomei um remédio que o dr. Marcus me deu pra isso.

Se eu não fosse fisicamente incapacitada atribuiria esse enjôo a outra coisa, mas graças a esterilização que fui submetida no QG gravidez não é uma possibilidade para mim. Ainda bem, pois eu não tenho e nunca tive vontade de ser mãe, e muito menos consigo imaginar como seria ter um filho com o ex-Hidra. 

Coitada dessa pseudo criança. Um pai desmemoriado e bipolar e uma mãe louca, distraída e de paviu curto.

— Que bom. — ele pronunciou atraindo minha atenção.

Entretanto, graças a curta viagem que fiz nos meus próprios pensamentos, fiquei em dúvida sobre o assunto que ele estava falando.

— Que bom o que? 

— Que você não está mais com enjôo.

Abanei a mão no ar murmurando um ah como resposta e me segurei para não suspirar de alívio. Por um segundo imaginei que ele estava respondendo as minhas reflexões sobre eu não poder engravidar. Eu tenho certeza que ele ainda não lê pensamentos, então seria impossível responder àquilo. 

— E então, o que vai querer?

— Oi? Do que você tá falando agora?

De novo me distraí e não captei sua mensagem, e de novo ele me olhou como se eu estivesse com alguma doença infecciosa. Agora sim eu tô vendo que eu sou mesmo distraída.

— Pra comer, Wanessa. O que você quer pra comer? 

— Você não explica as coisas direito! — exclamei para disfarçar meu constrangimento, ele riu pelo nariz e negou com a cabeça — Mas enfim... que tal a gente assistir alguma série e pedir uma pizza?

— Por mim tudo bem.

Dei um pequeno pulo e bati as mãos.

— Certo, vou ligar pra pizzaria então. — catei meu celular da cama e um pequeno detalhe tirou minha empolgação — Bucky... eu não lembro a senha.

O olhei na esperança de que ele soubesse o meu padrão de desbloqueio e me ajudasse, mas para o meu azar nada disso se confirmou.

— Eu não sei a sua senha, mas posso quebrar o bloqueio.

— Que merda! — exbravejei — Esse celular não permite nenhum outro tipo de desbloqueio se a pessoa não souber a senha. Ele foi feito exclusivamente pros agentes da SHIELD por esse motivo. Ter um celular anti hackers facilita muito a vida de uma agente secreta, mas não me serve de nada se eu não lembrar a porra da senha!

— Hey, calma. — ele se aproximou e segurou nos meus ombros — Eu peço a pizza, não precisa ficar nervosa. O problema do seu celular a gente resolve depois.

A gente resolve... nunca achei que fosse existir um cara tão disposto a tomar os meus problemas e me ajudar a resolvê-los.

— Me desculpa. — sussurrei arrependida pela minha grosseria e ele me puxou para um abraço.

Não foi o fato de ter esquecido a senha do meu celular que me deixou irritada. Quer dizer, é claro que isso não me deixou nada feliz, mas o que me fez ter a pequena crise de raiva foi a ideia de que não sei quantas coisas mais importantes eu devo ter esquecido, e como essa maldita perda de memória vai me prejudicar daqui pra frente.

 

 


Notas Finais


E então?
Ai, meu Deus. Wanessa desmemoriada, o doutor bonitão deixando ela com uma pulga atrás da orelha e pra melhorar a vizinha piriguete como enfermeira no hospital da SHIELD. Alguém esperava por isso? Confesso que nem eu esperava, mas tô bem empolgada pra escrever o desfecho de tudo (e mais umas coisinhas bombasticas que estão circulando pela minha cabeça)
Bem... como a fic está crescendo eu pensei em fazer um grupo no whatsapp, pra atualizar vocês a medida em que eu vou escrevendo os capítulos, contar curiosidades sobre a história, trocar ideias sobre outros assuntos e até conhecer melhor a pessoa por trás dos nicks, por que não?
Se alguém quiser participar, manda o número e o nome por MP ou posta nos comentários que logo logo eu faço o grupo. Me deixaria muito feliz poder interagir mais com vocês ;)♥
Enfim, por hoje é isso. Espero que tenham gostado e obrigada por lerem.
Até semana que vem. Beijinhos no ar u.u


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