Eu acabei de chegar ao hospital e fui entrando praticamente como um furacão, pois não me dei ao trabalho de perguntar a recepcionista onde ficava o centro cirúrgico e passei empurrando todas as pessoas que estavam no meu caminho. Não me julguem, a ansiedade faz com que eu esqueça todos os meus modos de moça bela, recatada e do lar.
Depois de atropelar uma infinidade de pessoas pelos corredores, peguei o elevador, subi até o quarto andar e estou caminhando a passos largos por um pavilhão que parece não ter fim, tudo porque uma enfermeira com quem eu trombei em meio a minha entrada triunfal disse que o centro cirúrgico fica aqui.
Agora tenho certeza que ela estava certa, afinal que outra explicação teria para o fato de esse pavimento estar cheio de agentes andando de um lado para o outro como se suas vidas dependessem disso?
Ok, agora preciso voltar a andar normalmente ou vão pensar que eu sou uma maluca perdida por aqui — pensei parando de correr.
Quando enfim os agentes foram saindo do meu caminho, localizei parados mais ao final do corredor Hill, Coulson, Steve, Natasha e um homem moreno que eu não conheço — ou que eu conhecia mas não lembro. Mas enfim, vamos considerar a primeira opção. Essa não é uma boa hora para magoar as pessoas com a minha amnésia.
— Gente! — eu disse logo que me aproximei do grupo.
Todos me olharam fazendo caretas de estranhamento e me mediram de cima a baixo, repeti a ação e só então me dei conta do porquê de estarem fazendo isso. Devido a minha pressa em saber sobre Fury, a última coisa com a qual eu iria me preocupar era de estar usando legging, chinelos da Merida e uma camisa de moletom vermelha que daria para vestir duas Wanessas. Que vergonha! Deve ser por isso que as pessoas que eu atropelei me olharam como se eu fosse uma louca.
— Mas que roupas são essas? — Hill questionou com seu típico azedume.
Como resposta apenas revirei os olhos e estaquei ao seu lado, e por sorte ela e nem ninguém ousou fazer mais nenhum comentário sobre esse assunto. Meu olhar e toda minha atenção se voltaram unicamente para a sala do outro lado da enorme vidraça para qual todos estavam olhando, calados e com expressões pesarosas que eu nunca achei que veria em nenhum deles. Fury estava lá, deitado numa maca e cercado por dezenas de médicos, que estavam retirando alguns projéteis de seus órgãos com toda a calma do mundo.
Comprimi os lábios em uma careta entristecida e uma lágrima escapou pelo meu olho sem que eu pudesse contê-la. Até agora eu não sei ao certo como foi esse atentado que o tapa-olho sofreu, mas não pretendo fazer essas perguntas por hora. Só quando essa tensão acabar eu me dignarei a falar com Coulson e Hill sobre isso.
— Como é que você está, tirando toda essa situação? Não consegui vir te visitar enquanto você estava em coma. — o homem moreno disse repousando a mão sobre meu ombro.
De tão concentrada que fiquei na imagem de Nick sendo aberto pelos médicos nem percebi quando ele se aproximou, e só agora o vendo de perto percebi que ele tem um corte superficial na sobrancelha e alguns hematomas pelo rosto. Mas espera aí, se ele está vestido assim é porque deve ser um Vingador e devia estar na missão que eles tiveram hoje, e se é um Vingador provavelmente não era um simples conhecido. Ai, não. Droga!
Demorei alguns segundos para responder, escolhendo palavras que não fossem soar deselegantes caso ele seja um amigo.
— Me desculpa, mas...
— Você não lembra de mim? — ele adivinhou, esboçando um sorriso murcho mas ao mesmo tempo amigável. Se nós éramos amigos eu tenho que dizer que estou muito triste por ter esquecido dele, esse cara parece ser uma pessoa incrível.
— Infelizmente não. — eu respondo um pouco envergonhada.
— Tudo bem, eu já estava esperando por isso. Sam Wilson.
Olhei para sua mão estendida e não pensei duas vezes em aceitar o cumprimento, mesmo essa não sendo a hora mais oportuna para esse tipo de coisa.
— Me desculpe mais uma vez, Sam.
— Tá tudo certo, apesar de ser estranho me apresentar como se não nos conhecêssemos.
— É estranho pra mim descobrir que esqueci de alguém. — proferi com um riso sem humor.
Só nesse momento eu me dei conta de que estávamos falando aos sussurros e que ninguém estava prestando atenção a nossa conversa. Todos estavam olhando um pouco assustados para o desandar da cirurgia, e pelos instantes em que eu me entreti conversando com Sam não percebi que os médicos e enfermeiros estavam agindo de uma maneira menos calma do que antes.
Franzi o cenho e indaguei preocupada:
— O que está acontecendo?
Não foi preciso uma resposta imediata, pois logo após minhas palavras o aparelho medidor de frequência cardíaca começou a emitir um som contínuo e toda a equipe começou a se alvoroçar ainda mais.
— Ele está tendo uma parada cardíaca! — Coulson esclareceu o óbvio, passando as mãos pelo rosto.
Virei as costas para Wilson e apoiei as duas mãos na beirada da vidraça, vendo os médicos se apressarem cada vez mais para tentar reanimá-lo. Hill e Natasha se aproximaram e ficaram uma de cada lado meu, mas somente a ruiva se pronunciou, com um tom de voz choroso que nunca achei que ouviria:
— Não, não, não, seu miserável. Você não pode morrer!
Depois de um dos médicos ficar por vários minutos fazendo massagem cardíaca nele, um outro surgiu de uma sala anexa com um desfibrilador em mãos e se aproximou de Nick, encostando o aparelho em seu peito repetidas vezes sem nenhum sucesso.
— Vamos, seu macaco velho. Você já passou por coisas muito piores! — foi Hill quem disse, a voz tão embargada quanto a de Nat.
E quase que no mesmo segundo o aparelho se silenciou, o médico afastou o desfibrilador e toda a equipe parou de correr pela sala, porém nenhum de nós esboçou nenhuma reação por longos minutos.
— Droga, Nick! — Phil pronunciou enfim.
Abracei meu corpo com certa força e permaneci olhando fixamente para o homem que se tornou a sombra de um pai para mim e que agora está morto. No pior momento da minha vida ele está morto. Por que isso tinha que acontecer? Por causa do maldito segredo guardado naquele pen drive? Talvez. Quem sabe esse não tenha sido o motivo de ele dizer que o pen drive não estaria mais em segurança em suas mãos?
Não é hora de pensar nisso agora, o que aconteceu aconteceu e eu já estou mais que acostumada com perdas. Mas juro que vou descobrir quem fez isso com você e porque fez!
Perdi a noção de quanto tempo fiquei estática no mesmo lugar, observando — com os olhos embaçados pelas lágrimas — a equipe fechar o abdômen dele e fazer todos os procedimentos padrões para esse tipo de situação. Nem vi quando os outros saíram de perto de mim, e voltei a realidade somente ao sentir alguém tocando meu ombro.
— Wanessa? Nós temos sair daqui. Eles precisam levar o corpo.
Ergui um pouco o rosto e encontrei o olhar triste de Thomas, que até então estava sabe-se Deus onde.
— Tudo bem. — concordei após um longo suspiro e me coloquei em movimento ao seu lado.
— Steve, Natasha e Sam querem falar com você, estão na sala de visitas no segundo andar.
Oh, céus, quando falam isso chega até a me dar um arrepio de medo. Tenho certeza que o que eles tem para dizer não deve ser nada bom. Já pensando assim, soltei o ar pesadamente e indaguei:
— Você sabe sobre o que é?
— Parece que é sobre a missão de hoje.
— Hum. — balbuciei sem muito ânimo, mas então me lembrei de um detalhe importante sobre a tal missão. Ou melhor: alguém importante — O Bucky também foi pra essa missão. Ele não está aqui, né?
A verdade é que com isso tudo que aconteceu nem me lembrei que ele tinha ido pra essa tal missão, e agora mais do que nunca eu queria que ele estivesse aqui comigo.
— Eu não sei, mas acho que não. Segundo o que você disse ele não gostava do Fury e não confia na SHIELD.
É verdade, a mais pura e infeliz verdade e deve ser por isso que ele não está aqui no momento que eu tanto o quero por perto. Essa vai ser uma situação ruim: não poder compartilhar do meu luto por ele não gostar de Fury.
— Você tem razão. — suspirei, um suspiro triste e audível — Vem comigo?
Mitchel negou com a cabeça e parou de caminhar.
— Não. Eu tenho que me reunir com Coulson daqui a pouco na SHIELD.
— Ok. E não esqueça o que eu te pedi. Eu quero participar pessoalmente das investigações.
Como resposta, ele apenas suspirou em rendição e me puxou para um abraço ao ver meu olhar marejado, abraço esse que foi diferente de todos os outros que ele já me deu. Consolador e acolhedor, eu diria.
— Obrigada — falei quando nos afastamos —, agora vai lá e faz o que eu te pedi.
— Tá bom. Fica bem.
Manejei a cabeça em concordância — apesar de saber que seria impossível ficar bem nesse momento — e então ele me deu as costas, caminhando pelo imenso corredor até sumir da minha visão. Respirei lentamente e me virei para seguir rumo ao elevador, porem levei um baita susto ao dar uma trombada em um armário que estava materializado atrás de mim.
— Mas que...
— Me desculpe, Wanessa. Eu não queria ter chegado assim. — falou antes que eu terminasse a frase acima.
Ergui o olhar, fiz uma careta ao ver o par de olhos escuros fixos a mim e questionei sem pestanejar:
— Quem é você?
A julgar pelo uniforme preto e a cara de poucos amigos eu não preciso ser nenhuma gênia pra saber que ele é um dos diversos agentes que estão circulando por aqui, mas para ter me chamado pelo nome só pode ser alguém mais próximo, e assim como aconteceu com Sam eu não faço ideia de quem é. Mas esse não parece ser legal como o Wilson.
O agente estranho me olhou da cabeça aos pés por alguns segundos — provavelmente por conta das minhas belas vestimentas —, abafou um riso e enfim disse:
— Confesso que não acreditei quando soube que você tinha perdido a memória, e agora fiquei até um pouco triste por você ter me esquecido. — franzi as sobrancelhas, ele finalizou — Rumlow. Brock Rumlow, líder de operações da STRIKE. Eu sinto muito pelo que aconteceu e pelo seu afastamento, a SHIELD não será a mesma sem você.
STRIKE. Então esse era o grupo que estava comigo na tal operação na Sibéria? Será que esse Rumlow estava junto? Isso são coisas que eu tenho que me lembrar de perguntar depois pro Thomas.
— Obrigada, e me desculpe por não lembrar de você, não é algo que eu queria que tivesse acontecido. — eu disse educada e evasivamente — Bom, mas se me dá licença eu preciso falar com o...
— Sinto muito, mas você terá que me acompanhar até a SHIELD. O sr. Pierce quer falar com você. Agora mesmo. — me interrompeu mais uma vez, agora mostrando o lado frio e insensível que eu vi escondido em seus olhos.
Franzi ainda mais o cenho e cruzei os braços.
— Por que? Eu não posso ir pra lá agora, tenho várias coisas pra resolver.
— Eu não sei sobre o que é, só recebi ordens para levá-la pessoalmente até lá e tenho que fazer isso agora.
Bem a cara do mala do Pierce mandar uma marionete teleguiada para fazer esse tipo de serviço. Como eu não estava afim de ficar contrariando ordens e me fazendo de rebelde nesse momento, murmurei um "tudo bem" a contra gosto e acompanhei o dito Rumlow em direção a saída do hospital, colocando a conversa com Nat e Steve para outro momento apesar da minha curiosidade.
E se for alguma coisa com o Bucky? — cogitei mentalmente, sentindo um incômodo nó surgir na minha garganta — O tal do Sam estava com o rosto machucado, e se o Barnes tiver se machucado pior e por isso não veio?
Arregalei os olhos com esse pensamento e levei uma mão ao peito, atraindo a atenção do agente ao meu lado.
— Algum problema?
Tirando o fato de o diretor da SHIELD ter acabado de morrer diante dos meus olhos, dos meus amigos estarem me esperando para contar alguma coisa importante — que minha intuição me diz que é sobre o ex-Hidra — e de eu estar sendo rebocada para a agência sem saber o motivo, justo quando eu menos quero pisar por lá? Acho que não, não tem nenhum problema, imagina.
— Não. — respondi apenas, ele levantou as sobrancelhas e voltou a olhar para a frente.
Não deve ser nada com James, não pode ser nada com ele. O que poderia acontecer de errado com um dos Vingadores mais bem preparados da equipe numa missão simples como aquela?
******
Assim que Rumlow me deixou na frente da sala de Pierce, eu bati duas vezes na porta e entrei logo que fui autorizada. O localizei de imediato, sentado atrás de sua mesa no fundo da sala com um sorriso presunçoso nos lábios a medida em que eu caminhava em sua direção.
— Agente Lewis, que bom que aceitou vir até aqui mesmo não sendo um momento oportuno. — me olhou de cima a baixo com uma careta. Maldita hora pra eu estar vestida assim! — Eu sei que o Fury era tão importante para você quanto era para mim. Ele era o meu melhor amigo, eu estou muito triste pelo que aconteceu.
Que estranho, ele não parece nem um pouco triste com a notícia de que o "melhor amigo" acabou de ser assassinado friamente por uma razão que ninguém sabe qual é.
— Eu não tive outra alternativa, o seu agente não ia me deixar em paz se eu não viesse. — retruquei sem papas na língua, ele riu pelo nariz e se levantou de sua cadeira preta de encosto alto.
— Não se preocupe, nossa conversa vai ser rápida. — indicou uma das cadeiras em frente a mesa — Não quer se sentar?
Me controlei para não revirar os olhos. Por que é que todo mundo tem o costume de perguntar isso?
— Não, eu estou bem em pé. — informei firmemente cruzando os braços.
Pierce assentiu após pronunciar um "ok" e circundou lentamente a mesa enquanto se pronunciava:
— Bom, então vou direto ao assunto. Eu fiz uma investigação detalhada depois do fracasso da missão na Sibéria — Deus, pelo visto essa missão vai me perseguir até o fim dos meus dias — e descobri com a ajuda de alguns contatos que o dinheiro pra pagar Batroc foi depositado numa conta falsa e retirado horas depois pela mesma pessoa que o depositou.
Fiquei em silêncio, pois não consegui formular nenhum questionamento devido a imensa confusão que seu discurso me causou. Vendo que eu não estava entendendo bulhufas, ele perguntou o óbvio:
— Eu sei que você deve estar confusa, afinal não se lembra de nada sobre essa missão, não é?
— Não, e se puder ser mais claro e mais direto eu agradeço. — eu proferi com dureza na voz.
Se eu estou sendo mal educada com um superior? Sim, é claro que eu estou, e não faço nenhuma questão de agir de maneira diferente. Como eu disse, não gosto nem um pouco de Alexander Pierce, muito menos quando ele me obriga a vir até aqui para essa conversa sem pé nem cabeça no momento em que eu estou destruída internamente por causa da morte de Fury e com centenas de perturbações na minha cabeça.
— Ok, vou direto ao ponto — Puxa, muito obrigada. — Acontece, agente Lewis, que essa conta falsa pertencia a uma antiga vizinha de Fury...
— Espera aí. — interrompi gesticulando — Está querendo insinuar que foi ele quem contratou esse Batroc? Você só pode estar brincando comigo!
— Eu sei que não faz sentido, mas é isso mesmo. Foi o Fury quem contratou Batroc e seus mercenários pra roubar o armamento da SHIELD, e quando viu qu...
— Você não tem o direito de falar dele sem ao menos provar tudo que está dizendo! — exclamei entredentes antes de ele terminar, meu sangue fervendo de raiva.
O cretino a minha frente me encarou por vários como se eu tivesse cometido o pior dos crimes, e me surpreendeu ao mudar drasticamente de expressão e dizer com falso sentimentalismo:
— Você pode achar que eu sou o errado da história por estar dizendo tudo isso justo no dia em que meu amigo morreu, mas eu não sou. Eu não posso provar nada do que disse agora, mas vou fazer isso em breve. Tudo que acabei de lhe contar é a mais pura verdade, Wanessa. Nick Fury traiu a SHIELD.
Soltei o ar com força pelo nariz, contei até 10 mentalmente e lhe dei as costas.
— Eu não acredito em você e não vou ficar aqui ouvindo isso!
— Você acreditar em mim ou não não me interessa, mas ainda tem mais uma coisa que eu quero saber. — respirei fundo de novo e parei de caminhar, mas não me virei para ele — Eu preciso que me conte o que você estava conversando com ele antes de eu interromper vocês essa tarde.
Só pode ser castigo pelos meus pecados, não é possível. Não me responsabilizo se estrangular essa criatura, minhas mãos estão começando a formigar de vontade de fazer isso.
— Era um assunto particular. — sibilei me virando.
— Disso eu sei — devolveu em tom óbvio —, ele não programaria o isolamento da sala se não fosse. E pelo visto além de particular também era algo sério, o que está aumentando a minha curiosidade.
— Me desculpe, senhor — frisei a palavra com desdém —, mas eu não sou obrigada a te dizer nada. Eu não trabalho pra você, por isso não te devo satisfações.
Pierce travou o maxilar e finalmente começou a demonstrar que estava se irritando de verdade comigo. Menos mal, é exatamente isso que eu quero: que ele tire sua máscara.
— Você acha que eu tenho a mesma paciência que ele tinha com você? Eu quero que me diga o que foi que vocês conversaram agora mesmo! Como autoridade máxima desse complexo eu exigo que me diga!
Arqueei uma sobrancelha e cruzei os braços, lhe respondendo de maneira ainda mais provocativa:
— Ou o quê? Vai mandar os agentes da STRIKE me prenderem por falta de cooperação e realizarem um interrogatório formal? Você sabe que uma agente do meu nível precisa de mais do que isso pra ser presa.
Com "formal" eu quero dizer um interrogatório de verdade, daqueles em que o interrogador usa todos os métodos para arrancar a verdade do outro, desde a lábia até tortura pesada. Eu sempre utilizei mais o primeiro jeito nos meus interrogatórios, pois é mais divertido ver a cara de tacho que os bandidos costumam fazer quando se enrolam nas próprias palavras, mas confesso que usar de violência também é muito excitante.
— Você está afastada até segunda ordem, e até onde eu sei essa regra não se aplica para agentes afastados. — ele disse presunçoso, torci meu nariz e ri sem humor. Ele está apelando bonito, mas eu não vou ceder.
— Ótimo, então mande me prenderem. Você só vai perder seu tempo porque eu não vou dizer nada.
Não se preocupe, chefe, eu não contarei sobre o seu pen drive pra esse canalha nem sob tortura. — pronunciei em pensamento olhando rapidamente para cima. Não que eu esperasse por uma resposta ou quem sabe que um raio caísse na cabeça da "autoridade máxima", imagina.
O demônio loiro — vulgo Alexander Pierce — armou uma careta furiosa, catou seu celular de cima da mesa e discou freneticamente um número, mas antes de realizar a chamada se voltou para mim e tentou me ludibriar uma última vez:
— Eu só preciso dessa informação para saber se ela tem alguma coisa a ver com a morte do meu amigo, agente. Você não está disposta a colaborar para descobrirmos quem foi seu assassino? Eu sei que deve estar querendo descobrir isso tanto quanto eu.
Neguei com alguns meneios de cabeça e me mantive firme na minha decisão auto-condenatória.
— O que nós conversamos não tem nenhuma relação com o atentado que ele sofreu, era um assunto totalmente irrelevante.
Não, é claro que não era nada irrelevante e que, segundo meu sexto sentido que nunca falha, está mais do que relacionado com o assassinato do caolho, mas isso é algo que eu quero investigar por conta própria, afinal a missão de protejer esse segredo ainda é minha.
E por falar nisso, eu ainda estou bem longe de achar aquela droga de pen drive. Merda, por que tudo isso tinha que acontecer de uma vez só? É demais pedir um tormento por vez na minha vida?
— Foi você quem quis assim, eu tentei fazer as coisas de um jeito mais simples. — ele proferiu com falso pesar após um suspiro e ligou para o número que havia discado — Agente Rumlow? Preciso que venha agora mesmo até minha sala para levar a agente Lewis para o setor carcerário, ela está detida até segunda ordem por omitir informações e me desacatar.
Então ele não estava blefando? Muito bem, agora sim a minha ficha caiu de vez, estava crente que era apenas um truque para eu abrir o bico. Eu não devia ter vindo até aqui, devia ter me agarrado na perna de alguma cadeira lá no hospital e esperneado até Rumlow desistir de me trazer, mas agora já foi, paciência, é só eu esperar um pouco que com certeza Coulson, Hill ou os Vingadores virão me salvar. Eu espero que venham.
Falando no diabo — ou seja, no líder da STRIKE —, eis que ele surge na sala menos de um minuto após ser chamado pelo chefe, acabando com o meu plano de sair correndo antes de sua chegada.
— Com licença, sr. Pierce. — disse assim que passou pela porta, estacando ao meu lado e me fitando com certa curiosidade.
— Bom, como eu disse, ela está detida até segunda ordem. — Pierce repetiu, revirei os olhos em sinal de tédio. Essa situação toda está me parecendo uma cena de filme teen, onde o diretor do colégio acha que com uma detenção irá fazer com que os alunos ruins deixem de ser ruins. — Leve-a para a ala 9 e peça para o Coulson vir até aqui logo que fizer isso. Preciso informá-lo de que a agente Lewis está se recusando a fornecer informações importantes para a investigação do assassinato de Fury.
Eu cansei, cansei de tentar discutir com essa criatura. Mesmo com todos os meus esforços para desviar sua atenção desse assunto ele não desiste, que inferno! É até melhor eu ser presa logo, assim não vou ter que ficar olhando mais para esse cínico.
— Entendido. — Rumlow disse somente, se virando para mim — Eu vou precisar algemar você?
Cerrei meus olhos e devolvi acidamente:
— É claro que não, eu estou resistindo a prisão por acaso?
— Leve-a logo, eu tenho mais assuntos para resolver e já perdi muito tempo com esse impasse. — resmungou Pierce, gargalhei brevemente e bati minhas mãos.
— E eu já me cansei de ficar aqui aguentando o seu cinismo — sibilei com escárnio, olhando dele para o agente ao meu lado — Vamos? Eu não vejo a hora de poder descansar, esse dia foi muito puxado.
Apesar do semblante sério e inexpressivo, vi que Rumlow tinha um sorrisso quase imperceptível nos lábios e parecia estar se segurando para não rir. Se foi pela minha petulância ou por achar graça no que eu disse não faço ideia, só sei que ele estava sim querendo rir.
Virei as costas para Pierce sem dizer mais nada e me coloquei em movimento até a saída de sua sala, com Rumlow praticamente nos meus calcanhares.
— Agente Lewis? — o ser desagradável chamou, cessei o passo e o olhei por cima do ombro — Meu melhor amigo foi assassinado por alguma razão, e eu vou descobrir qual, é custe o que custar.
Não me dignei a responder, apenas revirei os olhos e deixei a sala de vez. Engraçado, no início da nossa conversa ele apedrejou Fury dizendo que ele era um traidor e que iria provar isso, agora vem com esse papo de que está preocupado em descobrir o motivo de seu assassinato? Aham, sei.
— Wanessa? — o agente teleguiado chamou vindo atrás de mim. — Eu não entendi direito porque ele mandou te prender. Que informações são essas que você se recusou a dar?
Ri pelo nariz e neguei com a cabeça.
— Nada que diga respeito a nenhum de vocês. E esclarecendo a sua dúvida, eu estou sendo presa porque o seu querido chefe não entende isso.
Foi a vez dele rir, uma risada curta e sarcástica.
— Pelo que eu conheço o sr. Pierce ele não vai desistir enquanto você não disser o que ele quer saber. — falou cautelosamente, lhe lancei um olhar cruzado.
— Azar o dele.
Por sorte, ele não disse mais nada durante o resto do trajeto até a ala 9, que é a ala da prisão da SHIELD destinada apenas a agentes e funcionários da mesma. Por ser destinada apenas a pessoas da própria agência, as celas são diferentes das das demais alas: são um pouco mais amplas, não tem câmeras de segurança e nem escutas, possuem banheiro, televisão e uma cama até que confortável.
Já foi o centro das atenções? Pois bem, é isso que eu sou nesse momento, pois todos agentes de guarda do corredor da ala estão me olhando como se eu fosse um ser de outro mundo enquanto passo por eles ao lado do líder da STRIKE. Se é pelas minhas roupas nada casuais ou por eu estar sendo presa? Não sei, e também não me interessa saber. Nem o demônio loiro reclamou de eu aparecer aqui vestida como uma mendiga — não que a opinião dele importe, é claro —, então não é agora que vou me sentir constrangida; a respeito da prisão, eu nunca fui uma agente exemplar mesmo, uma hora isso ia acontecer.
— Chegamos. — Rumlow diz ao estacar em frente a última cela do imenso corredor.
O agente que estava parado em frente a cela abre a porta usando seu cartão magnético e eu entro quase que no mesmo segundo. Não aguento mais toda essa situação infernal, vai ser até bom ficar aqui sozinha. Pelo menos poderei colocar meus pensamentos em ordem sem ninguém para me importunar — bem, pelo menos vou ter paz enquanto não for chamada para o bendito interrogatório.
— Wanessa? — o líder da STRIKE fala, me viro em sua direção — Eu não queria ter que fazer nada disso, me desc...
— Você não me deve desculpas, ordens são ordens. — o cortei indiferentemente.
Ele apenas assentiu com um meneio de cabeça e ordenou ao agente para fechar a porta. Bufei, passei as mãos pelo rosto e me joguei na cama do fundo da cela, que como eu disse pode ser chamada de confortável.
— Pelo menos eu acho que vou conseguir dormir como uma pessoa normal, todas as coisas que aconteceram hoje foram demais até pra mim. — sussurrei com meus botões, me encolhendo na pequena cama e deixando finalmente as lágrimas que tanto segurei escaparem.
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