História Secrets - Uma perda inesperada - penúltimo capítulo

Torre dos Vingadores - 40 minutos antes da queda da HIDRA

Uma coisa que eu sempre detestei foi ficar com raiva de algum de meus amigos ou ter que brigar com eles, independente do motivo. Os conflitos que tive com os outros Vingadores, com Bucky ou com alguém da SHIELD sempre foram bobos e nunca me deixaram com raiva por muito tempo, mas agora a coisa muda de figura. Descobrir que dois dos meus melhores amigos, meu chefe — ou ex-chefe, sei lá — e outras pessoas que sempre respeitei guardaram um segredo tão grande a meu respeito é algo decepcionante, que fez toda a confiança que eu depositei neles ruir como um prédio que acabara de ser implodido.

Vinte minutos foi o tempo que o táxi demorou para chegar a Torre, por sorte o prédio de Ligia não era tão longe e o trânsito também colaborou não estando tão engarrafado. Depois de pagar a corrida e dar uma boa gorjeta para o taxista — que ele só ganhou por eu não ter esperado meu troco de 25 dólares —, eu adentrei o prédio e subi direto para a sala principal, onde Barton já me aguardava com uma cautela palpável.

Mas que merda, Mitchel! Eu não acredito que você ligou pra ele e disse o que aconteceu! — pensei a medida em que se aproximava do Vingador. Assim que já estavamos a uma distância curta, ele inspirou o ar com força e se pronunciou antes de mim, confirmando que já sabia o que houve:

— Nêssa, eu sei que deve estar com raiva achando que a Nat e eu concordamos com o que o Nick fez, mas... 

— Eu não estava achando nada, mas agora já sei que vocês sabiam de tudo.  — o interrompi numa voz grave e gesticulei com uma mão — Por que nunca me contaram nada? Eu não fiquei com raiva por ele ter me trazido pra SHIELD só pra eu ser uma cobaia pra essa merda de projeto, afinal a minha vida nunca mudaria se não fosse por essa... oportunidade. — frisei a palavra com jocosidade — O que tá me deixando com muito ódio é o fato de tanta gente ter mentido pra mim por todos esses anos e me escondido isso! Era sobre a minha vida, caramba, eu não acredito que tive de descobrir tudo através de um arquivo! — pausei o discurso e limpei uma lágrima teimosa que escapou, não de tristeza e sim de raiva. Clint baixou o olhar e concordou uma vez com a cabeça — Me responde, Clint! Por que ninguém nunca me contou nada? Se eu fui a cobaia escolhida pro Aurora por que caralhos não me disseram e induziram a todas as porras de testes que eu teria que fazer? Não, melhor, por que em vez de seguir com o projeto o Fury decidiu desativá-lo? Nem venha me dizer que foi por medo de não dar certo porque depois do que eu li hoje sei que não era nada disso!

O Gavião me lançou um olhar assustado e não respondeu de imediato, provavelmente estranhando já que nunca tinha me visto tão irritada a ponto de agir como estava agindo.

— Eu não sei ao certo. — ele respondeu, me tirando uma risada sem humor.  

— Não me venha com essa! Você sempre foi um dos homens de confiança daquele desgraçado, eu não acredito que ele não tenha te contado nada! 

— Ele não contou, acredite em mim. Você mais do que ninguém sabe que haviam coisas que ele não compartilhava nem consigo mesmo. — ele proferiu sinceramente, desviei o olhar. É verdade. Aquele cosplay de pirata sabe esconder uma coisa até de si próprio se quiser. — Mas foi algumas semanas depois de você aceitar a ajuda dele e entrar pra SHIELD que ele decidiu cancelar o projeto. Foi algo repentino que pegou todos de surpresa...

— Você tá querendo insinuar que ele desativou o projeto pra me preservar? — indaguei com escárnio, seguido de uma gargalhada que reforçou o sentimento — Ah, faça-me o favor! O Fury nunca teria compaixão por ninguém pra fazer algo desse tipo, muito menos quando era pra alcançar algum de seus objetivos! Não tente fazê-lo parecer bom só porque ele morreu, ele não era bom e não merece ser defendido. 

— O Fury não está morto. — revelou após ponderar por alguns segundos. Abri e fechei a boca repetidas vezes, franzi as sobrancelhas e não soube o que dizer por longos segundos, era uma notícia inesperada e ao mesmo tempo revoltante. Mais uma mentira, mais uma coisa que todos esconderam e como sempre eu sou a última a saber. Maravilha. O que mais falta eu descobrir pra esse dia ser ainda mais marcante?

— Sabe de uma coisa? Isso não me surpreende muito. Depois do que eu descobri hoje tenho certeza que nem o diabo ia querer conviver com ele. — usei o sarcasmo para mascarar minha decepção, uma tática que sempre funciona apesar de não ajudar a me sentir melhor — Por isso ninguém na SHIELD se preocupou em investigar o atentado, eu bem que estranhei quando o Coulson disse pra eu não me meter nisso quando eu quis saber sobre esse assunto.

— Você tinha acabado de sair do coma e foi presa logo depois de ver o Fury "morrendo". — Barton retrucou, o fitei com os olhos inexpressivos. Uma parte minha queria se agarrar ao que ele estava dizendo e esquecer de todo o resto, apenas para evitar uma decepção maior, mas havia outra, a questionadora e racional, que me impedia de ver suas palavras como verdadeiras por mais sinceras que fossem. — Depois que você foi solta ainda teve que lidar com o fato de o Barnes ter sido recapturado pela Hidra e mais um monte de problemas... A Nat e eu queríamos te contar, mas o Fury não deixou porque não queria causar mais um transtorno na sua vida, Wanessa.

— Não adianta tentar me fazer vê-lo como um herói ou um bem feitor porque nada disso vai dar certo! — bradei aos quatro ventos, olhando para a porta da sala ao mesmo tempo em que Thomas passou por ela — O que é que você tá fazendo aqui? Achei que tivesse um incêndio pra apagar na SHIELD.

— Eu tinha, mas deixei de lado e vim impedir você de atirar o Clint por alguma janela. — informou ironicamente, tirando do Gavião uma risada nasalada. Se aproximou de nós dois e parou a minha frente, olhando diretamente nos meus olhos como se quisesse me acalmar apenas com o olhar. Sabe, aqui entre nós, foi até bom ele ter vindo. Pelo menos eu teria alguém em quem pudesse confiar de verdade durante essa conversa.

— E o Bucky? Onde ele e a Sharon foram? — foi o que decidi dizer após alguns instantes em silêncio, vendo os dois homens se entreolharem de forma discreta. Somente no momento em que eu estava prestes a refazer a pergunta foi que o Rambo respondeu, pronunciando as palavras calmamente enquanto movia a cabeça pro lado:

— Ele também está no Triskelion... ajudando o Fury a acabar com a HIDRA. E com a SHIELD também. 

Pronto. Depois de ouvir isso foi como se tivessem puxado o último fio que ainda restava para me deixar calma. Porra, então era isso que estava acontecendo no covil das cobras? Eu sabia que era algo grave, mas não que era sobre a HIDRA! Enquanto assimilava as palavras do meu ex eu senti minha cabeça girando como um pião e precisei me apoiar no encosto da poltrona ao meu lado para não cair. Fiquei tão aturdida com o que estava passando pela minha cabeça que até meu equilíbrio resolveu me abandonar, com certeza minha pressão devia estar nas alturas como volta e meia acontece.

— Hey... — Mitchel me segurou e fez eu sentar na poltrona, enquanto Clint encheu um copo com água na mesa de centro e me entregou em seguida — Você precisa se acalmar, vai acabar tendo um piripaque desse jeito.

— Como é que eu vou me acalmar? — perguntei rispidamente depois de tomar um gole da água, colocando o copo no chão e voltando a ficar em pé. Ainda estava zonza e com uma dor crescendo na minha cabeça, mas nada que me atrapalhasse — Você acabou de dizer que o Bucky foi ajudar o Fury a derrubar a HIDRA! Como? Por que? E por que você disse que a SHIELD também vai cair?

Mais uma vez houve um longo silêncio antes de eu obter a resposta, onde os dois se encararam como se pensassem no que dizer. Droga, qual é o problema de responderem as coisas na hora, meu Deus? Pra que tanto suspense?

— A HIDRA estava infiltrada na SHIELD desde a criação da agência. — Thom começou — O Pierce sempre esteve no comando de tudo, e decidiu ativar o projeto Insight pra uma destruição em massa. Fury bolou um plano de invasão e chamou o Capitão Rogers, Romanoff, Wilson e Barnes pra ajudarem a equipe da SHIELD, e todos aceitaram ajudar. Ele deve estar infiltrado entre os agentes da STRIKE no prédio principal a essa hora, junto com a Natasha e o próprio Fury.

Ergui as sobrancelhas e fechei as mãos em punho, atônita com o que acabei de ouvir. Não tanto pela parte da HIDRA, disso eu sempre desconfiei no fim das contas, mas sim com a outra parte das informações, a que mais me preocupou.

— Mas p que foi que deu na cabeça daquele imbecil pra ter aceitado participar disso?! Caralho, eu disse milhares de vezes que queria ele longe da HIDRA e ele também falou que nunca mais queria se meter com ela, será possível que ele perdeu a sanidade de vez? E ainda por cima se aliando ao Fury, tipo... qual foi a droga deram pra convencê-lo a fazer isso? — joguei as mãos pro alto enquanto gritava toda a minha indignação — Eu juro que mato um por um dos que o convenceram a se meter de novo com a HIDRA se aqueles malucos voltarem a controlá-lo e eu tiver que lutar pra trazê-lo de volta como naquele dia. Vocês não sabem o quanto foi ruim pra mim ver que ele não se importaria em me matar e nem lembrava de nós dois, eu não quero que aquele pesadelo se repita! 

— Nêssa, se acalma, nada disso vai acontecer. — foi Clint quem disse, sua voz branda apesar de ele estar tenso — O Bucky aceitou ajudar de livre e espontânea vontade, Sharon apenas veio pedir algumas informações sobre a HIDRA e informou os planos do Fury. Ele precisava fazer isso, é uma vingança pessoal mais do que justa pra ele.

Fitei o cosplay de Arrow com o cenho franzido e fiquei alguns instantes assimilando suas palavras, ou ao menos tentando fazê-lo em meio ao caos que estava minha mente. De fato Barnes não relutaria em ajudar a derrubar a HIDRA caso tivesse a chance, mas se aliar ao Fury e a SHIELD? Isso era a última coisa que eu esperava dele, ainda mais receber essa notícia no momento em que meu cérebro parece estar prestes a explodir tantas são as coisas em que estou pensando. Ok, Wanessa, mas não adianta você quebrar a cabeça com isso agora. Deixa pra soltar os cachorros em cima dele quando ele voltar, são e salvo.

— Thomas, você disse que a SHIELD também vai cair — lembrei e olhei para o moreno —, o que isso significa? O que o Fury vai fazer pra derrubar a HIDRA? 

Meu ex arregalou um pouco os olhos e pigarreou, enquanto Clint baixou a cabeça e cruzou os braços. Oh, céus... dai-me paciência pra não começar a torturar esses dois.

— Ele vai liberar todos os segredos da HIDRA na rede, incluindo os da própria SHIELD. — o Rambo revelou por fim, armei uma careta de pavor ao me dar conta do que isso significava. Agora sim já posso dizer que esse é o dia mais marcante para mim nesses últimos anos. Nunca tinha passado por um stress tão grande como estou passando hoje, e olha que sinto que ainda falta acontecer alguma coisa pra fechar tudo com chave de ouro. Não. Vira essa boca pra lá, criatura. Já chega por hoje. Já tá de bom tamanho saber que a sua nova vida foi uma mentira, que o pirata não morreu, que o Bucky se aliou à SHIELD e que o mundo vai saber quem você é de verdade. — me repreendi mentalmente, contando até 20 em latim enquanto pronunciava a primeira pergunta que me veio a mente:

— Não havia outro jeito?

Os dois homens me fitaram confusos pela minha calma repentina, porém sabiam que eu estava apenas me controlando pra não partir para alguma violência. Eu precisava guardar a minha energia para conversar com o próprio Fury quando ele voltasse.

— Infelizmente não. — Clint proferiu seguido de um suspiro. 

Soltei um riso sem um pingo de humor e comecei a caminhar pela sala, sem um rumo certo, até que parei em frente a parede de vidro do lado oposto ao que estavam. Não, eu não ia me jogar por ela se é o que estão pensando. Posso ser mentalmente desequilibrada, bipolar e fazer algumas coisas inapropriadas às vezes, mas se tem algo que eu não sou e nem quero ser é suicida. Tem muita coisa que eu ainda quero fazer, e acho que preciso estar viva para poder fazê-las certo? 

— Eu acho que foi bem feito o que aconteceu com a SHIELD e com todo o trabalho do Fury. — comentei veementemente, vendo através do vidro quando os dois armaram caretas de incredulidade — Essa queda é merecida, afinal a agência se formou através de mentiras e envolveu muitas pessoas nessas mentiras. — suspirei cruzando os braços, ainda fitando a cidade pela vidraça escura — Eu não tô falando isso só por mim se é o que estão pensando, tô falando por todos que devem ter sido enganados de algum jeito por ele e pela SHIELD. Eu sei que não fui a única a ser feita de marionete por eles.

Nenhum dos dois respondeu, apenas emitiram suspiros ruidosos e baixaram a cabeça quase que ao mesmo tempo, gestos que vi por seus reflexos no vidro. Continuei em silêncio olhando para a cidade do lado de fora, enquanto tentava a todo custo organizar meus pensamentos, e depois de cerca de um minuto me preparei para voltar a falar, mas desisti no momento em que as luzes da sala se apagaram sem mais nem menos e um helicóptero em movimento baixou bem em frente a vidraça onde eu estava.

— Pro chão! — gritei bem quando uma pessoa no helicóptero começou a atirar com uma metralhadora no vidro, e rolei no chão para não ser atingida pelos disparos e estilhaços. 

Fui parar atrás de uma mesa enquanto os rapazes se esconderam atrás do sofá, e instantes depois de os disparos cessaram eu levantei a cabeça e vi três figuras saltando pelo que era a parede de vidro. Dois homens com portes de armários, que foram imediatamente na direção de Thomas e Clint, e uma mulher, que eu só identifiquei pela silhueta alta e esbelta já que um capacete tático cobria seu rosto. Saí do meu esconderijo e a observei se aproximar de mim enquanto meus amigos iniciavam um combate com os homens, no entanto não fiquei em posição de guarda nem saquei a arma escondida em baixo do meu casaco como faria em outra situação. 

— Ah, não. Eu sabia que você era uma cobra e que não valia nada, mas agente da HIDRA? Achei que você era só uma enfermeira duas caras que também era puta nas horas vagas. — eu proferi debochadamente no momento em que a mulher tirou o capacete e revelou sua enorme cabeleira cacheada. Jade. Ela deu uma gargalhada daquelas de bruxa e parou a poucos centímetros de onde eu estava, jogando o capacete num canto e tirando a jaqueta pesada de cima da camiseta preta, com o símbolo da HIDRA estampado na parte de cima das duas mangas. Olha só, no fim eu vou conseguir cumprir minha promessa e ainda acabar com uma rata da HIDRA. Que ótimo!

— Essa era a ideia. Não sei se você sabe mas nós agentes secretas temos que fazer muito bem um papel quando ganhamos um. — devolveu, também com deboche. Revirei os olhos e cruzei os braços. — Aliás, eu até que comecei a gostar desse papel. No começo era só pra ficar de olho em você lá em Washington, o que era um saco porque você é muito medíocre pra mim, mas depois eu ganhei a missão de te ferrar psicologicamente e seduzir o Barnes, uma coisa que eu sempre quis desde que entrei pra HIDRA... Ele é um mito lá dentro, você sabia? Todas as agentes sonham em foder com ele, e eu fui uma das poucas a ter esse privilégio. Realmente o que falavam sobre ele é verdade, ele é muito bom em TUDO o que faz. — senti meu sangue fervendo e subindo aos olhos, porém não deixei isso transparecer para não dá-la esse gostinho. Queria deixá-la com raiva para nossa briga ser mais interessante, assim como a dos rapazes com os outros agentes estava sendo.

— Pois é, nisso eu tenho que concordar. Ele é mesmo muito bom em tudo o que faz, principalmente no sexo. — proferi cinicamente dando um passo em sua direção, nos deixando frente a frente. — Uma pena que ele não controla a vontade de comer porcarias, mas eu não vou julgá-lo. Eu sei que essas porcarias são ótimas pra causar um prazer momentâneo, e no fim elas dão muito mais pique pra pessoa voltar a comer o que é realmente bom não concorda?

Mesmo sendo uma provocação fraca o humor da infeliz mudou drasticamente, para minha sorte. Suas mãos se fecharam ao lado do corpo e ela armou uma carranca nada feliz enquanto sibilava:

— Eu vim até aqui pra te levar viva pra HIDRA, mas acho que não vou poder cumprir essa missão com êxito.

Arqueei uma sobrancelha e não tive tempo de dizer nada visto que precisei desviar de um soco que ela desferiu contra mim. No momento em que abaixei para evitar de ser atingida eu aproveitei para acertar sua costela em cheio com o cotovelo esquerdo, golpe que a pegou desprevenida e a fez soltar um ganido fraco.

— É, eu acho que você não vai mesmo cumprir essa missão, pois eu não estou afim de ser sequestrada hoje. — anunciei partindo para o combate.

Desferi um cruzado de direita e outro de esquerda em seu rosto, porém ela defendeu os dois com facilidade e se aproveitou do milésimo de segundo onde minha direita ficou indefesa para retribuir a cotovelada que lhe dei a minutos atrás. Grunhi abafado e me encolhi de dor por alguns segundos, dando uma breve observada na luta dos rapazes que tinha se instalado no corredor. Eles não estavam indo muito bem, mas ainda tinham uma certa vantagem sobre os agentes já que nenhum deles estava armado. Merda, cadê o Bruce e o Stark quando precisamos deles? Essa Torre não é nada segura sem eles. — pensei voltando a prestar atenção na minha oponente.

Continuei curvada enquanto ela se aproximava a passos largos, com certeza achando que eu já estava no meu limite, e quando senti suas mãos agarrando meus ombros e seu joelho subindo para acertar meu nariz eu a surpreendi com minha reação. Primeiramente eu segurei seu joelho para impedir que ele quebrasse meu lindo nariz e o empurrei com força para trás, em seguida fechei a mão direita e dei um soco certeiro na boca de seu estômago, e quando ela cambaleou para trás eu corri em sua direção, dei um pulo e girei no ar em uma espécie de voadora — outro golpe que Natasha me ensinou —, acertando seu abdômen com um chute que a derrubou de costas no chão. 

— Pela nossa diferença de tamanho eu confesso que achei que seria uma luta mais difícil pra mim... — zombei ao vê-la gemendo com a mão na barriga — Que decepção, e que vergonha pra você. Bem dizem que tamanho não é documento e muito menos sinônimo de força.

Minha provocação funcionou perfeitamente, como eu previa; ouvir minhas palavras a fez ignorar a dor e levantar na mesma hora, mexendo o pescoço para os lados de modo a emitir um estalo incômodo aos meus ouvidos.

— Ah, você acha isso? Vai ser fácil pra mim te convencer do contrário. — disparou na minha direção já na base dos pontapés, acertando apenas meus braços e coxas a medida em que me defendia deles.

No momento em que levantei a perna direita pra bloquear um chute que acertaria em cheio minha costela fui pêga de surpresa quando ela agarrou meu tornozelo no ar e me lançou para trás com a maior facilidade, fazendo meu corpo girar antes de cair sobre a mesinha de vidro que se quebrou em mil pedaços. Soltei um urro pela dor que se instalou na parte esquerda das minhas costas e gemi ao sentir alguns cacos de vidro cortando minha pele enquanto eu me mexia para levantar, porém obviamente não deixei nenhum dos incômodos me dominarem — afinal não era nada novo pra mim. Assim que Jade se aproximou de onde eu estava e segurou no meu cabelo para me puxar pra cima peguei um pedaço do vidro com uma ponta que se assemelhava a de uma faca e finquei sem dó nem piedade no lado direito do abdômen dela, lhe obrigando a soltar imediatamente meu cabelo e andar para trás segurando o pedaço de vidro que ficou para fora.

— SUA MALDITA! VOCÊ VAI ME PAGAR! — gritou entre dentes.

Sorri vitoriosa ao ver seu desespero e levantei, assistindo ela puxar o vidro sofregamente e berrar de dor quando o tirou por completo. Jogou o objeto ensanguentado no chão, pressionou o ferimento para tentar estancar o sangue e me lançou um olhar feroz, que se desviou de mim para a entrada da sala. Olhei na mesma direção e vi Thomas parado no início do corredor, de costas para a porta após apagar um dos agentes, e então um calafrio percorreu a minha espinha e eu me voltei para a mulher.

Infelizmente era tarde demais, e tudo pareceu passar em câmera lenta a partir de então. No curto espaço de tempo em que eu me distraí olhando para Mitchel ela conseguiu sacar sua arma e mirar nas costas dele, dando três disparos seguidos antes que eu sequer pudesse tentar pará-la. 

— NÃO! THOMAS! — gritei horrorizada ao ver meu amigo caindo de bruços no chão, tendo em sua jaqueta bege três manchas de sangue que começavam a aumentar. Sem pensar em mais nada além do meu ódio eu saquei a arma de dentro da minha jaqueta e a apontei para a assassina a minha frente, que tinha um sorriso zombeteiro nos lábios e um olhar desafiador sobre mim.

— Eu disse que você ia me pagar.

— Cala a boca! É você quem vai me pagar! — bradei disparando em sua barriga ferida e em seguida no peito, no lado do coração obviamente. Ela caiu imediatamente para trás, e mesmo com todo o barulho presente na Torre e na minha cabeça eu pude ouvir quando as palavras "Hail HIDRA" saíram de sua boca num sussurro, antes de ela ser enfim ser chamada por Lúcifer.

Logo após vê-la morrer eu joguei a arma no chão e corri em disparada na direção do corredor, me jogando ao lado de Mitchel e deitando seu corpo ensanguentado sobre minhas pernas. Chequei sua pulsação e me desesperei ao ver o quão fraca estava, assim como sua respiração que já havia quase parado. Lágrimas e mais lágrimas embaçavam a minha visão enquanto eu tentava inutilmente fazê-lo acordar, dando tapinhas em seu rosto empalidecido e cheio de hematomas e gritando por ajuda, mesmo não tendo nenhuma alma viva por perto.

— Por favor, não faz isso comigo, Thom... — supliquei com a voz embargada, sentindo seu sangue quente e grosso molhar minhas pernas — Você já passou por coisas piores, seu infeliz! Quem é o agente fodão que resistiu a um soco do Capitão América quando ele acordou pirado naquele hospital? — chequei sua pulsação outra vez, estava ainda mais fraca — Você não pode me abandonar! Você é a primeira família que eu tive e prometeu não morrer antes de mim. Vamos lá, quem é que vai me dizer umas verdades quando eu fizer alguma bobagem? Quem é que vai me ligar nos horários mais inapropriados só pra perguntar qual é o melhor jeito de se chegar numa garota? — sorri, um sorriso triste que logo morreu — Lembra de todos os planos que a gente fez pra esse ano? Nós temos aquele show do Nickelback no dia do meu aniversário, aquele que você estava ansioso pra ir por ser no Madison. Vai ser meu aniversário, e além disso eu não posso estar lá sozinha quando eles tocarem Lullaby... — chorei ainda mais ao mencionar a música da banda que nós dois mais gostamos, o abraçando fortemente contra mim e enrolando seus longos cabelos entre os meus dedos. — Por favor, não vai embora. Você não merece morrer desse jeito.

Não sei por quanto tempo fiquei abraçada a ele sem dar importância a nada ao nosso redor, somente falando várias coisas em meio as lágrimas que encharcavam meu rosto e aos soluços que faziam minha garganta doer. Só me dei conta de que já havia se passado muito tempo quando uma movimentação brusca se iniciou do outro lado do corredor. Ergui um pouco a cabeça e mesmo com a visão totalmente embaçada pude ver quando Steve, Natasha, Bucky e Sam saíram do elevador, se encontrando com Clint na metade do caminho e olhando para mim com expressões entristecidas.

Permaneci por cerca de cinco segundos olhando para eles e então desabei a chorar novamente, dessa vez largando o corpo sem vida do meu melhor amigo e deixando meus braços manchados de sangue penderem para os lados. Fechei os olhos com força e cerrei as mãos, sentindo um misto de ódio, tristeza, dor e vazio se instalarem dentro de mim quando finalmente percebi que Thom havia morrido nos meus braços, por minha culpa. 

— Eu não te falei o quanto você é importante pra mim e o quanto gostava de você... me perdoa. — balbuciei abrindo os olhos, e então vi que Bucky havia se aproximado de mim. Ele se ajoelhou ao meu lado e me puxou para um abraço forte, depositando um beijo no alto da minha cabeça e me acolhendo mais em seus braços.

— Eu sinto muito. — sussurrou com a voz mansa, envolvi sua cintura e afundei o rosto em seu peito.

— Ainda bem que você está aqui... eu não ia aguentar te perder também. — afrouxei um pouco o abraço e olhei em seus olhos — Me perdoa por tudo o que eu te fiz e falei, eu não queria ter te tratado daquele jeito...

— Shh... Você não tem que me pedir perdão por nada. — limpou as lágrimas do meu rosto com a mão humana — Eu estou aqui agora, e não vou te deixar sozinha e nem em perigo.

Tentei falar mais alguma coisa, um agradecimento que fosse, o "eu te amo" que já estava entalado na minha garganta a tempos, mas nada saiu. Resolvi deixar todas as lágrimas que guardei durante tanto tempo saírem, juntamente com toda a angústia que me afligia tanto pela perda de Thomas quanto pelas diversas outras coisas que somente nesse momento vieram à tona. No fim das contas tudo acabou, mesmo tendo um final ruim acabou, portanto o melhor a fazer era chorar e descarregar todas essas aflições de uma única vez. Só assim eu teria forças para enfrentar as coisas que viriam daqui pra frente.