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História Secrets - Então venha comigo


Escrita por: Wong_E

Notas do Autor


Lindezas do meu coração, cheguei finalmente.
Eu fiquei muito feliz em ver que gostaram do capítulo passado — principalmente da hot, safadinhas hahaha —, por isso fui boazinha e fiz algo ainda mais fofo nesse. Me amem *-*
Bom, não vou dar muitos spoilers, então boa leitura e espero que gostem ♥

Capítulo 8 - Então venha comigo


Fanfic / Fanfiction Secrets - Então venha comigo

Quando eu achei que minha ida até a SHIELD seria rápida, me enganei feio. 

Depois da breve conversa com Coulson, fui atrás de Hill para pegar os benditos relatórios que ela tinha para eu analisar na esperança de que estaria livre pra ir embora logo depois, mas foi o pior que eu poderia ter feito. 

Acreditem ou não, mas tive que ajudá-la a registrar uma infinidade de protocolos dos mais diversos tipos já que os agentes responsáveis por fazer isso estavam de folga por ser natal.

Ah, que saudade da época em que eu não era uma agente de nível 9 e tinha direito a folgas e férias como qualquer trabalhador normal...

Como não sou de dar as costas quando precisam de mim, seja para o que for, aceitei fazê-lo sem pestanejar —  mesmo não estando no meu melhor estado de espírito após a notícia que recebi. 

Resultado dessa boa ação? Fiquei umas duas longas horas sentada em frente a um computador digitando códigos de ativação e os repassando para o setor de registros, e somente agora — 18h — estou chegando à Torre, com a pilha de relatórios que ainda tenho para analisar até amanhã, uma baita dor nas costas e a cabeça que parece que vai explodir a qualquer ruído mínimo que eu ouço. 

Estou voltando a Torre por dois motivos específicos: o primeiro e mais importante é para informar aos Vingadores  — e principalmente a Bucky —  sobre a minha transferência. Eu, sinceramente, estou apostando todas as minhas fichas que o ex-Hidra não vai reagir mal já que, mesmo tendo saído da zona da amizade e feito alguns planos para essa semana, nós só passamos uma noite juntos —  apesar de ter sido a  noite, se é que me entendem — e ainda não deu tempo de ficarmos tão apegados um ao outro. Mas, como ele é a instabilidade em pessoa e nunca dá para saber o que se passa em sua mente maluca, eu já pensei em todos os argumentos possíveis caso as coisas saiam do meu script e ele resolva fazer um drama;

O segundo, que se tornou um motivo graças a minha curiosidade, é a mensagem que Tony me mandou há poucos minutos dizendo que tem uma novidade que me interessa muito, mas que só a contará pessoalmente. Claro que perguntei na mesma hora que raios de novidade é essa já que sinceramente nada que venha dele me interessa — ainda mais depois de saber que ele andou espionando Barnes e eu e espalhando o que houve entre nós pelos quatro cantos da Torre  —, mas como o infeliz não me respondeu o que era, cá estou eu,  roendo as unhas de ansiedade para saber do que se trata enquanto aguardo o sinal abrir. É típico dele fazer isso, pois sabe que eu detesto suspenses e faz justamente por isso. 

Juro que um dia desses ainda perco a paciência e acabo com o lindo rostinho jovial que tanto agrada as fãs do Homem de Ferro, e se isso acontecer nem o Dr. Rey será capaz de concertar o estrago.

— Hey, qual o problema, madame? Esqueceu como se dirige ou tá retocando a maquiagem? —  o motorista do carro de trás gritou num tom preconceituoso, me tirando dos meus pensamentos e fazendo meu sangue ferver nas veias — Eu tô com pressa, sai daí logo senão eu passo por cima!

Era só o que me faltava. Não me responsabilizo se eu matar esse infeliz.

Ignorei o fato de estar, literalmente, parando o trânsito e desci do carro soltando fogo pelas ventas, caminhando a passos de ogra em direção ao veículo do esquentadinho.

— Repete o que você disse, estrupício!

Gritei entredentes assim que o homem careca e musculoso — que mais parecia um sósia do Vin Diesel — saiu de seu Sandero Stepway e se encostou na porta, os lábios curvados num sorriso de deboche à medida que eu chegava mais perto.

— Ou o que? Vai me arranhar com as suas unhas postiças ou me bater com a sua bolsa de grife? Quem sabe um beijinho não acaba com essa sua raiva...

Arqueei uma sobrancelha e fechei as mãos em punho. Agora sim ele mexeu no vespeiro.

— Eu jamais estragaria uma bolsa de grife batendo em um lixo como você, e tenho um método mais interessante pra acabar com a minha raiva.

Enquanto ele ria como se fosse tudo uma grande piada e se preparava para dizer mais um insulto, o puxei pelos ombros e prensei seu grande corpo contra a lateral do carro usando toda minha força, segurando o colarinho de sua camisa verde limão enquanto cuspia as palavras: 

— Eu não sei quantas mulheres você já ofendeu com esse seu machismo nojento, mas comigo isso não cola. Sabe quem eu sou, seu imbecil?

Apesar de ser bem mais alto e mais forte que eu, o brutamontes não ousou nenhuma reação e começou a tremer como um frango amedrontado quando reparou direito no meu rosto. Após engolir em seco, ele desviou o olhar e respondeu, transparecendo todo seu medo e pavor através da voz gaguejante:

— V-v-ocê faz parte do-dos Vin-gadores. Eu não... não tinha percebido, me desculpe.

— E se eu fosse uma mulher comum e indefesa? Você ia fazer o que? — sibilei na base do grito, apertando ainda mais o infeliz contra o carro.

Acho que a lataria vai até amassar um pouco, talvez risque também, mas pouco me importa.

— Nada, nada... eu ficaria quieto e... pediria... desculpas. Era só brin-cadeira. — riu nervosamente.Só que não.

O fitei por alguns segundos de um modo inexpressivo e então, para acabar logo com essa situação ridícula, dei uma joelhada no meio de suas pernas e o larguei bruscamente, me deliciando quando o careca urrou de dor e foi de encontro ao chão como um saco de batatas. 

Os motoristas e pedestres que observavam a cena de perto buzinaram e gritaram ao ver o espetáculo, fazendo o meu sorriso vitorioso aumentar.

— Obrigada por me ajudar a descarregar minha raiva, não sabe como eu estava precisando fazer isso. — bati uma mão na outra como se estivesse tirando poeira delas — Ah, e espero que essa "conversa" tenha servido pra te mostrar que com mulher não se brinca. Passar muito bem, senhor machismo.

Lhe dei as costas e praticamente desfilei à lá Gisele Bundchen rumo ao meu possante.

— Eu vou processar você por abuso de autoridade e por agressão física! Isso não vai ficar barato só porque você é uma Vingadora! Eu tenho os melhores advogados de Nova York! — gritou quando eu já estava abrindo a porta.

Me virei para trás e, dando de ombros, retruquei com todo meu sarcasmo:

— Perfeito, diga a eles que eu tô esperando na Torre dos Vingadores pra tomarmos um café e discutirmos qual será minha pena por ter agredido um animal.

Saltei pra dentro do carro e botei o pé no acelerador, deixando para trás um homem espumando de raiva e um furdúncio de buzinas, gritos e risadas — que com certeza já deve ter sido jogado na Internet por algum dos curiosos que estavam filmando tudo.

Cerca de 5 minutos depois do meu pequeno espetáculo cheguei finalmente à entrada da Torre, e como sempre minha placa foi reconhecida pelos sensores de JARVIS logo que parei a frente da portaria.

— Boa noite, srta. Lewis. Seja bem vinda.

— Boa noite. — respondi como sempre. 

Passei pelas cancelas logo que elas se abriram e estacionei na primeira vaga disponível, ao lado do carro de Natasha. Catei minha bolsa e a pilha de relatórios e deixei meu possante, seguindo a passos largos rumo ao elevador.

Eu estava com certa pressa em conversar com Bucky e também curiosa para saber o que diabos Tony tinha pra falar comigo, mas resolvi colocar o Soldado no topo da minha lista de prioridades. 

É, a conversa com o Lata Velha pode esperar.

Pensando assim, contatei JARVIS novamente:

—JARV, onde o Bucky está?

Silêncio por alguns segundos, até sua voz ecoar pelo elevador trazendo minha resposta.

— O sr. Barnes está na academia, junto com o sr. Stark e o Capitão Rogers.

Duas coisas passaram pela minha cabeça depois dessa informação. 

Primeira: o que o Tony está fazendo na academia com os dois já que ele detesta aquele lugar e principalmente destesta assistir homens bonitos, sarados e suados como eles treinando? 

Segunda: tomara que o Steve não tenha dado com a língua nos dentes e contado pro Bucky sobre a minha transferência. Eu vou surtar se ele tiver feito isso depois de já ter me liberado do grupo sem ao menos me consultar.

 Cliquei no número 28 depois de agradecer a JARVIS e me recostei no fundo do elevador, repassando na minha mente como eu deveria começar a contar a novidade para o ex-Hidra caso Rogers não tenha feito as honras.

Quer dizer, eu tentei repassar o plano que eu achei que tinha, mas tudo que eu consegui pensar foi no no olhar de cachorro sem dono de James que tanto me comove. Posso apostar todo o meu salário da SHIELD que ele fará aquele olhar assim que ouvir o que eu disser.

Enquanto eu divagava em pensamento sobre essas coisas, o plim do elevador se fez ouvir e saltei pra fora no mesmo instante, tomando o lado direito do corredor rumo à academia. 

Antes que eu virasse para o próximo corredor, porém, dei de cara com Tony, que vinha na direção oposta a minha com uma expressão não muito animada.

— Ah, Miss Morte, não morre mais. Estava falando de você com o Dorito e o seu namoradinho agora mesmo na academia. — ele falou sarcasticamente assim que me viu.

Revirei os olhos por conta do trocadilho, mas armei uma carranca desgostosa logo que me dei conta do que ele disse depois.

— Eu não tenho namoradinho, e é bom que você não me encha com as suas piadas.

— Ah, qual é? Jura que depois da noite de arrebentar — outro trocadilho, dessa vez em referência à cama quebrada — que tiveram vocês vão continuar em negação? Isso não faz bem pra alma, sabia?

— Sabe o que faria bem pra minha alma? Te jogar no Ártico com uma bigorna presa ao seu pé. — sorri falsamente, vendo o Homem de Ferro revirar os olhos.

— É, não dá pra brincar mais com as mulheres. É um mau humor que vou te contar, hein. Nem depois de um boquete voc...

— Cala a boca antes que eu arranque a sua língua! — gritei o interrompendo e lhe causando um pequeno sobressalto.

— Nossa. Calma, mulher. 

Não adianta perder as estribeiras agora, eu já sabia que isso ia acontecer e deveria ter me preparado para esse momento. — repeti em pensamento como se fosse um mantra, contando mentalmente até 10.

— O que você tem pra falar comigo? — indaguei instantes depois, puxando o ar pelo nariz e voltando a fitá-lo.

— Sobre a situação do seu namor... do Barnes. — se retratou ao ver o olhar feroz que lhe lancei — O secretário do presidente me ligou e informou que uma votação com os principais líderes mundiais foi marcada pra daqui a três meses no Capitolio pra decidir se ele deve ser legitimado ou não. — concluiu num fôlego só.

Ah, que maravilha! O melhor momento pra receber essa notícia.

— Por que em três meses?

Foi a pergunta que saiu da minha boca depois dos vários instantes que levei para digerir a informação.

— Por que eles precisam de argumentos favoráveis e contrários a aceitação dele como americano.

Concordei lentamente com a cabeça e cruzei os braços. 

— E o que você me diz sobre essa votação? 

Stark suspirou, desviou o olhar, passou uma mão pela testa e apoiou a outra na cintura, para então voltar a me encararar e responder:

— Só vou dizer isso pra você, então não comente com ele nem com o Rogers. — pediu num tom de voz baixo, concordei com um meneio de cabeça — Eu não acho que ele tem boas chances. Eu sei como esses líderes agem de verdade, e posso afirmar com quase 80% de certeza que eles não pensam como o presidente e não vêem o James como vítima. Pra eles, ele é um assassino e nós somos loucos de...

— Isso é ridículo! — o interrompi novamente, jogando contra a parede todos os papeis que eu tinha em mãos — Ele não é mais um assassino, e já foi comprovado que ele não teve culpa de nada do que fez. É impossível que eles não levem isso em consideração, e além do mais ele é um Vingador agora, isso também tem que contar!

— É claro que isso tudo vai ser considerado, mas você sabe muito bem que o histórico do Soldado Invernal contra esse país é bem mais notório do que o resto. Mesmo que ele esteja do lado dos heróis agora não apaga tudo o que ele fez. — retrucou no mesmo tom de voz, porém mais calmo que eu.

Coloquei as mãos na cintura e comprimi os lábios, novamente tentando me manter calma.

— Isso é injusto. — disse num sussurro melancólico segundos depois — Eu... eu não quero que ele seja... 

— Nenhum de nós quer, Wanessa, mas infelizmente isso não está nas nossas mãos. — Stark completou antes mesmo de eu terminar, apoiando uma mão no meu ombro.

— Como ele reagiu?

— Ouviu tudo calado, depois reclamou um pouco e voltou a ficar quieto, cara fechada como sempre. — esclareceu e deu de ombros, suspirei e comecei a catar as folhas espalhadas pelo chão.

— O Cap tá com ele?

— Sim, ele ficou lá tentando tranquilizá-lo, mas acho que só você pode fazer isso. Ele tá confiando mais em você do que no Dorito últimamente. 

Ri sem humor e ergui o olhar na direção do Homem de Ferro.

— Acho que depois do que eu tenho pra dizer o humor dele vai piorar. 

— Sobre a sua mudança pra Washington? — perguntou de imediato, me ajudando a recolher alguns papéis.

— Steve já contou? 

— Só pra mim. Eu o impedi de dizer pra ele, disse que é você quem tem que fazer isso.

Até que enfim ele deu uma dentro. Agora posso diminuir em 1% minha lista de motivos para parti-lo ao meio.

— Devo te agradecer por isso? — questionei ironicamente, lhe arrancando um riso nasalado.

— Dessa vez não. Só gostaria que vocês parassem de negação e assumissem o que sentem um pelo outro. Isso de ficar se pegando as escondidas parece coisa de adolescente e me irrita muito.

Revirei os olhos e juntei a última folha, ajeitando a pilha de qualquer jeito e voltando a ficar em pé.

— Não há nada pra ser assumido. Nós só passamos a noite juntos por... curiosidade, mas continuamos apenas amigos.

Mentira, isso é mentira e é óbvio que não quero ser só amiga dele, mas é o que eu vou dizer para todos até o fim — ou até o dia em que, quem sabe, as coisas ficarem mais sérias entre nós. 

— Amigos, amigos... — ele bufou e revirou os olhos — vocês estão parecendo o Rogers e a Romanoff, só que mais rápidos. Aqueles lá acho que nunca vão sair do zero a zero.

Ri e neguei com a cabeça, mas internamente eu concordei com ele.

— Bom, eu adoraria ficar aqui fofocando sobre o Steve e a Nat, mas preciso falar com o Bucky e ainda analisar tudo isso até amanhã de manhã. Obrigada pela conversa, Mnus̄ y̒ s̄āmārt̄h, até depois.

Com a mão livre, bati de leve em seu ombro e lhe dei as costas enquanto ele respondia:

— Só tentem não usar a academia como motel. Tem câmeras por todos os lados e olhares atentos a cada segundo de filmagem.

Decidi ignorar mais esse comentário infame — para me manter calma, ou eu realmente arrancaria a língua dele — e continuei a caminhar pelo corredor até sumir do alcance de vista do Lata Velha. Se eu não saísse agora, com certeza o assunto ia se prolongar e ficar ainda mais desagradável.

Poucos metros antes de chegar à entrada da academia, ouvi o barulho de algo caindo bruscamente e se espalhando pelo chão num impacto nada suave. 

Um saco de areia que Barnes acabara de estraçalhar com um soco da mão metálica, constatei logo que espiei pela fresta da porta. O quinto. Coitados dos funcionários da limpeza.

— Eu não quero ser obrigado a deixar o país logo agora que... — ele dizia, me fazendo hesitar em entrar apenas para ouvi-lo concluir a frase — Logo agora que as coisas estão dando certo pra mim e que ela apareceu na minha vida.

Meu coração quase rasgou meu peito de tanto que acelerou, e um enorme — e bobo — sorriso surgiu em meus lábios. 

Ai meu Deus. Será que ele tá falando de mim ou será que tem outra na jogada? Depois da safadeza que eu vi nele não duvido de mais nada.

— Bucky, não pensa assim. — Steve se aproximou, segurando nos ombros do amigo descamisado — Vai dar tudo certo, você precisa seguir os conselhos da Wanessa e continuar otimista. — Até que enfim alguém que concorde comigo! — Suas chances são boas, as melhores eu diria, mas se por um acaso você não conseguir ser legitimado novamente quero que saiba que eu não vou te abandonar jamais, independente de onde ou como você estiver. Você não está mais sozinho, amigo.

De qual página de frases melodramáticas do Twitter ele tirou essa?

— Eu agrad... — o ex-Hidra disse após um triste suspiro, mas parou de falar quando notou minha presença. — Wanessa?

Ambos olharam na minha direção de testas enrugadas e esperaram eu me pronunciar. Merda, eu não devia ter ficado com a cara na fresta. 

— Oi. Eu juro que acabei de chegar. — esclareci com um sorriso amarelo e empurrei a porta.

Eles não precisam saber que eu ouvi um pouco da conversa, né? 

— Achei que você não viria mais pra cá hoje.

Disse o Capitão enquanto eu cruzava a entrada. Estaquei a alguns passos de distância de Bucky, que estava levemente suado e com um olhar um tanto quanto surpreso sobre mim, e o respondi sem rodeios:

— Eu tinha que vir, preciso falar com o seu amigo — lhe lancei um sorriso amigável —, mas posso fazer isso depois. Não queria interromper a conversa de vocês, sinto muito. 

O loiro negou com a cabeça, provavelmente sabendo sobre o que eu ia falar.

— Não, eu já estava de saída. — bateu de leve no ombro metálico de Barnes e este desviou seu olhar de mim — Pensa no que eu te disse, tá? Não tenha medo.

O que será que ele disse? Medo de que?

— Ok. Obrigado, Steve.

— Até mais.

James e eu respondemos um "Até" em uníssono e, após nos lançar um sorriso sugestivo, Rogers saiu e nos deixou sozinhos.

Esse é o lado bom de ser amiga de um cara de outra época: ele não te zomba e nem faz piadinhas pelo fato de você ter transado com o melhor amigo dele, diferente de um certo gênio, bilionário, playboy e filantropo por aí. 

— O que você tem pra falar comigo? — Bucky indagou, se aproximando alguns passos de mim.

— Primeiro... quero saber como você tá se sentindo em relação ao seu julgamento.

Eu retruquei enquanto me afastava e largava a pilha de papeis numa cadeira. Depois dessa noite, ter ele sem camisa tão perto de mim nesse lugar cheio de câmeras não é a melhor das ideias.

— Preocupado... — informou após um curto suspiro e apoiou as mãos na cintura.

Só isso? Cadê o xilique, a lamúria, o olhar de garoto sem esperança? 

— Nossa, é você mesmo Bucky? — perguntei com uma careta de estranhamento.

— O que? Por que?

Ri pelo nariz e levantei as sobrancelhas sob o olhar de confusão do Soldado.

— Porque você nem parece mais aquele cara pessimista que me tirava do sério toda vez que fazia drama. Sério que não vai me dar nem um pouquinho de trabalho hoje?

Talvez eu não devesse ter perguntado isso... droga! 

Ele ficou vários segundos em silêncio e com um olhar inexpressivo, o que me fez começar a pensar que eu tinha dito bobagem.

— Eu só decidi tentar não ser tão impulsivo e não me deixar levar pelas minhas frustrações. — disse enfim, voltei a fitá-lo surpresa — Uma garota muito especial me ensinou isso, e só agora consegui colocar em prática.

— E eu conheço essa garota? — respondi disfarçando a euforia do meu interior.

— Acho que sim. Ela trabalha na SHIELD e é uma Vingadora também.

Dito isso, James se encostou na beira do ringue e cruzou os braços enquanto eu fingia pensar.

— Ah, eu conheço sim. — me aproximei dele e ergui o rosto para olhá-lo diretamente — E tenho certeza que você também é muito especial pra ela e que ela está muito feliz em ver como você mudou.

Não resisti aos olhos azuis e intensos que tanto me hipnotizam e grudei minha boca na dele logo após dizer tais palavras. Automaticamente, Barnes abraçou minha cintura com os dois braços e me prendeu com força contra si enquanto intensificava o beijo, e pude sentir o quão quente a pele dele estava graças a falta da bendita camisa. 

— Espera. As câmeras... Soldado. 

Balbuciei e interrompi o beijo de imediato antes que as coisas esquentassem mais. Por um segundo esqueci que estávamos praticamente num BBB, e tenho certeza que os funcionários da sala de controle devem estar todos amontoados em volta da tela que transmite as imagens daqui.

— Por que tem que ter câmeras em todo o lugar hoje em dia? — ele reclamou e bufou em seguida.

Tombei a cabeça para trás e comecei a acariciar suas costas nuas, ainda abraçada a ele enquanto seus lábios se direcionavam para o meu pescoço.

— Pra ver os outros se pegando. — brinquei, ele parou de mordiscar minha orelha e me olhou surpreso — As pessoas gostam de ver essas coisas, aliás é por isso o mercado pornô faz cada vez mais sucesso.

— Pornô? 

— Nunca viu ou ouviu falar em filmes pornô? 

Indaguei como se fosse algo absurdo, ele negou com a cabeça e continuou a me encarar como se eu fosse uma louca antes de explicar:

— Os únicos filmes que eu me lembro foram os que você me levou pra ver no cinema.

Segurei a gargalhada que queria escapar diante da inocência dele nesse assunto.

— Deus do céu... ok, eu vou baixar alguns pra você ver então. Acho que vai gostar, até.

Mas claro que eu vou assistir junto, pra já aproveitar quando ele se animar e tal... — pensei sorrindo maliciosamente, porém minha expressão se fechou e me soltei de seus braços ao lembrar que eu não teria como fazer isso tão cedo já que estaria em Washington.

— O que foi? — questionou parando atrás de mim.

Pigarreei, ergui o rosto e puxei o ar pelo nariz antes de soltar tudo de uma vez:

— O diretor Fury vai se transferir pra Washington amanhã e quer que eu vá junto, então vou me desligar da SHIELD de Nova York e dos Vingadores por tempo indeterminado. Era isso que eu tinha pra te falar.

Se eu não dissesse desse jeito eu não diria de nenhum outro. 

— Foi pra isso que te chamaram lá? 

Foi o que ele pronunciou com uma voz dura após vários instantes calado, instantes esses que não consegui virar de frente para olhá-lo nos olhos.

— Foi. 

Me virei enfim, me deparando com um Bucky totalmente diferente do que eu beijei minutos atrás. Seu olhar estava vago, os lábios meio franzidos e sua testa continha várias ruguinhas, a típica expressão que sempre faz eu me sentir horrível por dentro.

— Você não tinha como recusar, não é? 

— Não. — sibilei apenas e neguei com a cabeça.

Mais uma vez, um silêncio incômodo se instalou entre nós, onde James se afastou ainda mais e ficou cabisbaixo em um canto, próximo aos aparelhos de ginástica.

Pelo menos ele não ficou irritado.

Respirei fundo depois de ver que ele não diria nada e caminhei lentamente em sua direção.

— Qual é, Soldado? Eu não vou pro outro lado do mundo e nem vou ficar longe pra sempre.

Tentei usar do meu bom humor como costumo fazer em situações tensas, mas minha voz saiu melancólica demais. Isso não devia estar sendo tão difícil, por Deus!

— Eu entendo, só não esperava que... — disse e se virou para mim — Não esperava que você fosse se afastar agora. Eu queria que você fosse com Steve e eu até a minha antiga casa no Brooklin como havíamos combinado.

Ele concluiu, o olhar murcho de cão sem dono me causando um nó ainda maior na garganta. Eu não disse que ele usaria esse olhar? Meu salário do mês está salvo!

— Eu não esperava por isso e também queria ir com vocês — suspirei tristemente —, mas não tenho como recusar uma ordem do Fury. Além de ser meu chefe ele foi o cara que me ajudou quando eu mais precisei, e se não fosse por ele eu não estaria aqui hoje.

Acreditem ou não, mas como eu tinha apenas 19 anos quando entrei para a SHIELD Nicky Fury se tornou uma figura paterna para mim pelo modo diferente como me tratava dos demais.

— Eu sei como é isso. Tenho a mesma divida de gratidão com o Steve e você. 

Franzi levemente as sobrancelhas.

— Comigo? Por que?

— Sim, porque você foi a primeira além dele que acreditou que havia algo bom em mim e que me ajudou a ver isso, e graças a você eu não desisti de tentar me encaixar na equipe.

Ok, por essa eu não esperava.

— Você pensou em desistir? — questionei meio incrédula, o vendo acenar com a cabeça. 

— Eu ia fugir no dia que nos vimos naquele Shopping. Achei que não me adaptaria a tudo isso depois de tanto tempo vivendo acoado, ainda mais quando todos viravam a cara pra mim.

Mais um ponto em comum comigo.

— E o que eu fiz exatamente pra você mudar de ideia tão rápido?

Ele pareceu ponderar sobre a melhor forma de responder ao meu ultimato, mas desistiu e disse algo que me surpreendeu ainda mais:

— Me cativou tanto com esse seu jeito maluco que me fez querer ficar cada vez mais perto de você. — entreabri os lábios e não pude nem piscar tamanha foi minha surpresa, então ele continuou — Foi por você que eu não desisti, só por você.

Depois dessa verdadeira declaração eu não sabia o que dizer nem o que fazer, só conseguia pensar que seria muita canalhice da minha parte se eu continuasse pensando só em mim e negando que me sinto da mesma forma. Se eu tinha alguma dúvida que queria ele comigo, agora tal dúvida foi pra bem longe. 

Para não deixá-lo no vácuo já que eu não tinha uma resposta igualmente arrebatadora, expus a ideia repentina que me veio a mente:

— Quer saber? Eu acho que posso convencer a todos de me deixarem levar um certo Soldado na minha mala.

Sua sobrancelha direita se ergueu e um sorriso esperançoso — e muito fofo — surgiu em seus lábios.

— Está me fazendo uma proposta? 

— Se você não quiser mesmo ficar longe de mim e estiver afim de passar um tempo em Washington... sim, eu estou. — dei de ombros e sorri — O que me diz?

— Eu não acho uma má ideia, mas... As lembranças que eu tenho de lá não são boas... — suspirou pesadamente e passou uma mão pelo pescoço.

Sempre tem que ter um porém. 

As lembranças a que se refere são do dia em que ele — o assassino da Hidra, melhor dizendo — quase matou Natasha e Steve, quando eles tentavam caçá-lo numa de suas missões homicidas no centro de Washington. Foi nesse dia que Rogers descobriu que Bucky estava vivo e era o Soldado Invernal. 

Graças a essa descoberta, James reconheceu o amigo dos anos 40 e o salvou quando deveria tê-lo matado, e graças a essa pequena lembrança ele conseguiu se afastar da Hidra, então acho que apesar dos pesares ele deveria gostar de Washington, não concordam? 

— Foi lá que você voltou a ser você. — resumi meus pensamentos, atraindo um olhar confuso dele — E além do mais, o meu apartamento fica bem longe daquele ponto da cidade. Você nem vai passar por aqueles lados se for comigo, fica tranquilo.

— Você tem um apartamento lá? — indagou ignorando todo o resto do que eu disse.

— Tenho. É pequeno e tem um quarto só, mas acho que isso não será problema... — ergui uma sobrancelha, ele sorriu timidamente e negou com a cabeça.

Se ele aceitar, vai ser bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque eu não vou ficar sozinha e terei a melhor companhia para conversar depois dos dias cansativos e estressantes de trabalho naquele lugar que eu tanto detesto; ruim porque estaremos vivendo como um casal debaixo do mesmo teto.

Calma, eu não estou reclamando de ter que morar com ele e consequentemente dividirmos a mesma cama — até porque seria loucura reclamar disso sendo Bucky Barnes o sonho de consumo de 9 em cada 10 piriguetes por aí —, só estou pensando que, caso ele aceite, a viagem que era pra ser profissional vai acabar se tornando um passeio romântico. 

Eu não sou nenhuma santa, isso é um fato, mas sempre fui extremamente dedicada a minha vida de agente secreta e a coloquei em frente de todo o resto, e tenho um pouco de medo de acabar me... apaixonando por ele e perdendo o meu foco de agente. Se é que eu já não estou apaixonada, pois sinceramente não sei mais o que estou sentindo depois do tanto que ele me surpreendeu nas últimas horas.

— Tudo bem. — ele disse, me tirando das minhas reflexões.

— O que? 

Graças a minha distração, não entendi o que ele quis dizer com "tudo bem".

— Eu aceito ir com você.

— Ah, tá. — balancei a mão no ar, porém arregalei um pouco os olhos ao assimilar finalmente o que ele disse — Que? Você aceita?

— Sim. — respondeu com uma pontinha de bom humor.

Eu não sabia se sorria, se o abraçava, se dava pulos em comemoração ou se fazia tudo isso e mais um pouco, pois na verdade eu não sabia se estava realmente feliz por ele ter aceitado ou se estava preocupada por imaginá-lo tão mais próximo de mim. 

Na dúvida e para não magoá-lo, o que fiz foi concordar com um meneio de cabeça, sorrir abertamente e me limitar a dizer:

— Ok, então você fala com o Steve e eu aviso o Fury que teremos companhia no jato. 

— Pode ser, mas não agora. — retrucou, me fazendo tombar a cabeça pro lado com uma careta de incompreensão.

— Por que não? 

— Pelo que eu estou percebendo você trouxe trabalho pra cá — apontou para a pilha de relatórios e segui com o olhar —, e parece estar exausta. Não acha que precisa descansar um pouco? 

Oi?

— Tá preocupado comigo, Soldado?

Cruzei os braços e levantei uma sobrancelha.

— Acho que você precisa de uma pausa. — esclareceu com uma seriedade que me deixou até com raiva.

— Eu tenho tudo pra fazer uma pausa, menos tempo. Aquilo ali — apontei também para os papéis —, são relatórios que eu tenho que analisar e entregar antes de ir pra Washington. Nem que eu quisesse teria tempo pra descansar.

— Ok, então eu te ajudo.

Ri debochadamente de sua atitude e do modo engraçado com o qual ele falou tais palavras.

— E você por acaso entende de relatórios? 

— O que você acha que eu mais fazia além de ter a mente apagada depois das minhas missões na Hidra?

— Relatórios? — respondi, tentando ignorar o nó que senti na garganta ao ouvi-lo falar tais coisas.

— Exato.

Um sorriso sem graça se formou no canto dos meus lábios. Quem diria: ele, com todos os problemas que tem para lhe atormentar, se preocupando comigo por algo tão pequeno e se oferecendo pra me ajudar.

— Certo, sr. Expert em relatórios. Eu aceito sua ajuda. Vamos analisar essas coisas e depois eu vou pra minha casa e tento descansar.

— Achei que você ia dormir aqui. — replicou com uma careta de estranhamento.

— Não, eu só vim pra falar com você. Esqueceu que eu não tenho mais cama? 

— Tem bastante espaço na minha, e o meu quarto é bem grande também.

Oh, céus, eu realmente estou perdida de ter me envolvido com esse homem.

— Bucky... eu tenho que levar isso pronto amanhã. Se eu ficar no seu quarto você sabe muito bem o que nós vamos fazer de verdade...

Ou seja, não será nada relacionado a SHIELD.

— Nós podemos analisá-los na sala de lazer se é isso que te preocupa, aí eu já aproveito e falo pros outros que vou com você pra Washington. Depois você não vai mais ter motivo pra ir embora... — propôs dando de ombros.

Ai minha nossa, agora é que o Tony vai implicar mesmo conosco. E com razão. 

— Ok. — suspirei em rendição e caminhei até a cadeira onde deixei os papéis — Ah, mas antes trate de por uma camisa. Não vou conseguir me concentrar em nada com você desse jeito.

Uma curta e rouca risada escapuliu de sua garganta, seguida de um aceno de cabeça enquanto ele dizia:

— Tá bom, vou subir pra vestir uma e te encontro lá.

Respondi um "ok" e então ele saiu da academia, sendo acompanhado pelos meus olhos até sumir pela porta. 

Quando me vi sozinha, sentei na cadeira de onde eu havia pego a pilha de papeis e enfim me coloquei a pensar em tudo que havia acontecido nas últimas horas.

Vejam bem: Festa. Beijo. Interrupção da Sharon. Beijo mais intenso. Sexo e cama quebrando. Fim da friendzone. Transferência pro Triskelion. Notícia do julgamento dele. Revelações sentimentais. Vamos ficar juntos no mesmo apartamento. 

Até agora não consegui assimilar  o fato de que a nossa simples relação de amizade virou praticamente um "rolo" amoroso em menos de 24 horas, mas isso não é o pior. O pior — ou melhor, pensando bem — é saber que a partir de amanhã seremos só nós dois no meu pequeno e aconchegante apartamento de Washington, e  essa convivência mais constante tende a se transformar em um namoro propriamente dito com o passar dos dias.

Bom, independente disso a questão é que tudo se acertou na medida do possível, e eu realmente espero que não apareça mais nenhum porém para estragar as coisas. Não agora.

 

 


Notas Finais


E então?
Rá! Eles vão morar juntos. O que esperar dessa convivência?
Um pequeno esclarecimento: eu sei que o modo como estou colocando o Bucky está um tanto quanto melodramático e condiz totalmente com o personagem, mas como é uma fanfic e principalmente um romance eu quis mostrá-lo de um jeito diferente de como ele é. Claro que ele não vai agir como um Edward Cullen da vida, mas também não vai ser frio e inescrupuloso como muitos acham que ele tem que ser. Portanto, não me condenem por essa versão romântica do nosso Soldado, ok? ♡
Por hoje é só. Obrigada de coração por lerem e espero que tenham gostado do capítulo!
Milhões de beijos e até o próximo ;)


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