História Secrets and Lies - So it begins

Alicante, Idris. 1 de novembro.

Amanhã de manhã vai ter uma reunião de emergência com todos os Institutos, a Clave e o Conselho. Parece ser algo sério, mas até agora não vazou nada sobre o possível assunto que iríamos discutir. Só que todos os shadowhunters e membros do Conselho deveriam estar em Alicante às 10:00 da manhã.

—Alec.

Me virei pro autor da voz, era Jace.

—Você parece preocupado.

—Eu estou tentando adivinhar o motivo da reunião. Não tínhamos uma assim desde...Nem consigo me lembrar.

—Deixa de drama, Alec. Todos que amamos estão seguros aqui. Inclusive Magnus. Você deveria estar mostrando a cidade pra ele agora.—Isabelle resmungou enquanto escolhia uma roupa pra reunião.

—Ele está ocupado, assunto de feiticeiro. Achei melhor não me meter.

—Você já está escolhendo uma roupa pra amanhã? —Clary fez a pergunta que estava na mente de todos nós.

—Todos os shadowhunters irão se reunir amanhã. Tenho que parecer apresentável.—ela respondeu.

—Você é Isabelle Lightwood. Pareceria apresentável até se enrolasse um lençol em volta do corpo.—Clary resmungou.

—Muito fofo de sua parte, Clary. Mas os shadowhunters de Paris vão aparecer, finalmente. Sabe quão raro é pra mostrarem as caras por aqui? Nem lembro a última vez que vi um deles.—Isabelle se deitou ao meu lado, dramaticamente.

—O que os fazem ser tão diferentes dos outros?—perguntou.

—Eles são, meio que...Os Herondale de Paris. Todos são ótimos guerreiros, e muito inteligentes.—respondi.

—Dizem que eles são assim hoje em dia, graças a uma shadowhunter. Ela é uma espécie de lenda, dizem que é linda, boa com todo tipo de arma que você pensar, e tão inteligente que pode te vencer antes mesmo de começar uma luta com ela. Ela esteve liderando A Batalha de Paris com o parabatai dela. Mas não sabemos muito sobre, pois a Clave mantém tudo a sete chaves. Sabemos o mesmo que o resto sabe.—Izzy disse com um quê de admiração.

—A Batalha de Paris? Achei que a última batalha shadowhunter tinha sido a Ascensão. —Clary perguntou novamente. Pelo anjo. As vezes eu esquecia que ela não havia sido criada como o resto de nós.

—Não foi. Alguns submundanos e shadowhunters se rebelaram contra o Instituto de Paris, não sabemos muito bem a história, mas eles prometeram a Clave que resolveriam o problema. E o fizeram. Todos os traidores foram mortos, e o Instituto saiu com poucas baixas.

—Pelo jeito que vocês falam eles são a versão shadowhunter da SHIELD.—Todos olhamos pra ela. —Vocês não...Esquece. Seria bom ter o Simon aqui. Ele entenderia.

—Acho difícil ele aparecer por aqui. Consideramos que estamos em Alicante. E você quebrou o coração dele.—Jace riu.

Ela ficou vermelha como um pimentão, mas não rebateu. Alguém bateu na porta e entrou. —Mamãe e papai mandou vocês pra cama, que amanhã vocês tem uma reunião pra ir. Sempre sou deixado de fora de coisas importantes.—Max revirou os olhos e saiu antes que pudéssemos dizer algo.

Clary riu e se levantou, com Jace em seu encalço. —Eu estou indo. Boa noite pessoal. Nos vemos amanhã.

—Boa noite. —Eu e Izzy falamos ao mesmo tempo. —Sem desvios, vocês dois. —completei.

Jace riu, antes de fechar a porta.

—Tá bom, mamãe.

—Não é a mesma coisa sem ele morando aqui, não é?—Izzy parecia meio triste.

—Ele ainda é nosso irmão, Izzy.

Ela bocejou. —Que cansaço. Boa noite, Alec. Não se iluda pensando que eu não sei que vai dar uma escapadinha agora. Só tente voltar antes da manhã e sem marcas, por favor.

Me virei pra jogar uma almofada nela, mas ela já havia saído.

Ela estava certa. Eu ia dar uma escapadinha. Mas era pra outro lugar. A arena devia estar vazia a essa hora, ótima hora pra treinar um pouco enquanto o sono não vinha.

As ruas de Alicante estavam desertas, e de longe dava pra ver as torres demoníacas, como faróis, cercando e protegendo Idris com o brilho branco-prateado de sempre.

Entrei na arena onde havia vários sacos de pancada. E havia uma mulher, socando um deles.

—Vai acabar estourando.—disse sem me conter. Ela virou pra trás. Não sei se era luz, mas seus olhos estavam dourados. Depois piscou algumas vezes, e o dourado sumira. Agora estava azul esverdeado. Acho que foi a luz mesmo. Das tranças caiam cabelos longos. Ela me pareceu familiar, não sei por que.

—Eu te conheço de algum lugar?—perguntei a observando melhor, tentando descobrir se a conhecia. Estava quase coberta por runas, o que achei que destacou ainda mais os olhos e o cabelo.

—Acho que não. —ela tinha um sotaque...francês? —Você é francesa? Desculpe a intromissão. —ela deu um sorriso fraco.

—Nasci aqui, mas fui criada na França. Sou Lex Montclaire, aliás.—me cumprimentou com um aperto de mão.

—Alec Lightwood. Então, Lex, o que te trás a arena, a essa hora?—disse, pondo o protetor na mão, enquanto ela socava o saco de pancadas, aparentemente com raiva de algo. —Problemas na família. Você?

—Falta de sono. Tédio. Ansiedade. Escolha um. —dei um, dois, três socos. Comecei a me sentir melhor instantaneamente.

—Não consegue dormir por causa da reunião amanhã, estou certa?

—Talvez. —Ela se encostou perto do meu saco de pancadas e me encarou. —Talvez?

Segurei o saco pra não voltar e bater na minha cara e a encarei de volta.

—Você parece com alguém que eu conheço. Só não lembro agora. Tem certeza que já não nos vimos antes? —ela revirou os olhos. —Treina comigo. Vem. —A segui pro tatame, onde ela se movia suavemente, me atraindo pro centro.

Ela se posicionou e me jogou um bastão.

—Já leu A Arte da Guerra, Alec? —disse enquanto atacava. Os bastões se bateram do lado, e ela jogou na minha direção, me fazendo abaixar.

—Não. Deveria?

—Sun Tzu dá ótimos conselhos. —ela continuou atacando, e eu a fiz recuar e abaixar quando joguei o bastão na direção dela. Ambos nos afastamos, e ela girou o bastão na mão como uma caneta.

—Um dos meus favoritos é "Seja rápido como um trovão que retumba antes que se tenha podido tapar os ouvidos e veloz como um relâmpago que brilha antes de ter podido piscar." —eu ataquei antes, e tentei dar um chute no bastão, mas ela me derrubou antes. Levantei com um pulo.

—Mas o meu preferido é...Que sua rapidez seja a do vento, sua solidez a da floresta. Ataque como fogo. —eu ataquei, mas com um movimento ela me derrubou novamente, desta vez, jogando meu bastão longe. E encostou o dela no meu queixo. Eu segurei ele e puxei pro lado, me levantando e dando um giro, e o pus na horizontal, encostando no pescoço dela. A fiz recuar até a parede mais próxima. Foi tudo tão rápido que ela não pôde reagir a tempo. Erro meu. Ela era tão sorrateira quanto uma cobra esperando o momento certo pra atacar. Com um soco, jogou o bastão longe, e deu uma volta em mim, como uma arranha, prendendo os pés na minha cintura, jogando o corpo pra frente, de forma que eu dei uma cambalhota junto com ela, tudo girou tão rápido que só fui notar quando ela estava em cima de mim, com o bastão apontado pra mim.

Ela olhou o relógio. —Precisa ir?—perguntei, recuperando o ar depois de ser jogado no chão. De novo. Ela estava se esforçando pra não rir. —Eu não vou prender você aqui a noite toda.

Ela levantou e estendeu a mão.

Aceitei e levantei. —Vai aparecer na reunião amanhã?—perguntei.

—Você quer dizer hoje? —ela pareceu ponderar. —Au revoir, Alec.

E saiu antes que eu pudesse falar algo.

—Pra que tanto mistério?—disse enquanto voltava pra casa, sem sinal de Lex.

Tomei um banho e deitei. O sono veio como uma nuvem carregada. E dormi sem sonhos.