Ficamos um tempo em silêncio, um examinando os olhos do outro, e é incrível como isso era suficiente. E teria de ser, de qualquer maneira, porque eu não sabia o que mais dizer. Estava sem reação por ter dito que o amava, e ainda mais por ele ter dito que sentia o mesmo. Me sentia uma garota de doze anos recebendo uma mensagem de sua paixão secreta. Me aproximei para beijá-lo. Eu não me cansava disso.
- Espera, espera - Armin disse.
- O quê foi? - Franzi o cenho, virando a cabeça para o lado.
- Você escovou os dentes, pelo menos? - Ele me encarou.
Provavelmente eu devo ter fechado a cara, porque Armin caiu na gargalhada.
- Não tem graça - Eu revirei os olhos.
- Desculpa - Ele parou de rir para apenas sorrir. - Sabe, eu não me importaria de beijar você nem que você tivesse acabado de comer uma cebola.
- Isso é meio nojento - Franzi o nariz.
- Pensei que tivesse sido romântico - Ele ergueu uma sobrancelha.
- Romântico? - Ergui as sobrancelhas. - Por que quer ser romântico?
Armin ficou sério de repente.
Eu estava deitada por cima dele, com as pernas dobradas aos lados de seu quadril. Minhas mãos em seus ombros, suas mãos na minha cintura.
- Eu não sei, eu só não faço a mínima ideia do que fazer - Ele deu de ombros. - Quer dizer, a gente...
- Dormiu junto, pois é. - Não entendia onde ele queria chegar.
- Não. Quer dizer, sim, mas a gente já tinha dormido junto outras vezes. - Armin suspirou. - Só que dessa vez a gente não só dormiu.
Minha ficha caiu. Eu nunca havia pensado em nós assim. Já havia passado pela minha mente algumas vezes, mas eu nunca havia realmente imaginado isso. Não havia me imaginado seminua em sua cama, vestindo minha calcinha de renda e uma camisa sua, assim como ele estava com uma camiseta e de cueca. Não havia imaginado as marcas de chupão no meu pescoço e no meu busto, e no pescoço e clavícula dele. Mas simplesmente aconteceu, e eu quis que acontecesse. Ele não?
- Você está se arrependendo. - Concluí enquanto eu me sentava em seu colo. Me senti frustrada, e, admito, decepcionada.
- Não - Armin disse, rapidamente e se sentando também. Eu evitava olhar para seus olhos, mas Armin colocou sua mão em meu queixo e me fez encarar seus olhos azuis. - Talvez eu até devesse, mas não me arrependo nem um pouco.
- Então qual o problema? - Sussurrei, franzindo o cenho.
- Só é meio... estranho. - Armin sussurrou de volta, e eu o peguei encarando meus lábios por um instante. - Quem sabe a gente só precise se acostumar.
Finalmente entendi onde queria chegar. Estávamos indo um pouco rápido demais. Tudo bem, não um pouco, estávamos indo muito rápido. Quero dizer, nós tínhamos transado. Isso já era um grande passo, mas o que significava exatamente? O que éramos agora? Com certeza não amigos, que era o que estávamos acostumados a ser. Amigos não se beijam, amigos não dormem na mesma cama, e amigos definitivamente não transam. Teríamos de acostumar a ser mais que amigos.
- Se acostumar com o quê? - Continuei com o tom de voz baixo. Tinha desvendado o que Armin queria dizer, mas tinha um palpite de onde isso iria terminar. E queria confirmá-lo.
- Com isso - Ele se aproximou devagar e me beijou com calma, mas demoradamente. Depois se afastou para me olhar nos olhos. - E isso também. - Ele foi até o meu pescoço, onde apenas roçou seus lábios. Meu corpo todo se arrepiou ao notar que meu palpite estava certo.
Não era possível adivinhar o horário pela luz que vinha da janela, já que o dia parecia nublado, mas lá íamos nós de novo. Uma das mãos de Armin estava em minha coxa, enquanto a outra estava na minha cintura. Minha mão esquerda estava enterrada nos cabelos de sua nuca e a esquerda arranhava suas costas enquanto ele fazia uma trilha de beijos do meu pescoço ao meu colo. Quando chegou ao limite do decote da camiseta, a segurou na barra para tirá-la, mas eu o puxei para um beijo. Já estávamos sem fôlego, mas isso não importava muito. Mordi o seu lábio inferior e me afastei para encará-lo. Os olhos azuis de Armin estavam num tom vivo, seus cabelos negros completamente bagunçados, seus lábios vermelhos por causa dos beijos e ele respirava de maneira desregular. Ele nunca tinha estado tão bonito. E eu o desejei, assim como na noite anterior. Senti que devia dizer alguma coisa, mas preferi não. Falávamos muito um com o outro, o tempo todo, mas naquele momento os olhares pareceram suficientes. Ele tirou sua camisa, e o empurrei delicadamente para que se deitasse novamente, ainda olhando diretamente para os seus olhos, que me fitaram para focar nos meus. Eu me despi, e sua atenção se desviou completamente dos meus olhos. Como agora estava mais claro do que na noite anterior, ele podia ter uma visão bem mais clara de mim e fiz questão de jogar o meu cabelo longo para trás. Já que estava sentada em cima dele na altura de seu quadril, eu sentia perfeitamente a sua excitação. Suas mão se direcionaram para minha bunda, e a apertaram com vontade. Me ergui para que ele tirasse sua cueca, e tive que sair de cima dele para tirar minha calcinha, mas não demorei para subir nele novamente. Eu ansiava por ele.
Me posicionei e desci o meu quadril, me arrepiando quando seu membro entrou em mim. Rebolei antes de subir novamente, e Armin respirou forte. Comecei a cavalgar, e meus seios se moviam, imaginei que Armin devia gostar da cena pois me observava quase sem piscar. Ele ergueu suas mãos e apertou meus peitos, eu suspirei. Aumentei a velocidade, e Armin desdeu as mãos para minha cintura, me ajudando a manter o ritmo. Me segurava muito para não gemer alto, uma vez que já era de manhã e não sabia quem estava na casa. Por esse motivo, também decidi que não era uma boa prolongar muito. Fui ainda mais rápido e mantive por um tempo, até que Armin estremeceu e eu arrepiei. Caí ao seu lado, satisfeita.
- Que jeito de começar o dia, né? - Sussurrei ao seu lado, sorrindo.
- Por mim, começava assim todo dia. - Ele respondeu, prontamente. Eu ri.
Armin se levantou e vestiu sua cueca. Peguei minha calcinha e a vesti, deitando na cama.
- Vou tomar banho, ok? Se quiser, pode ir depois.
Balancei a cabeça e me espreguicei na cama. Senti o cheiro dos lençóis, e tenho que dizer que o cheiro de Armin era ótimo, mas quando misturado com o meu era muito melhor. Parecia que o quarto todo estava impregnado com ele.
Eu suspirava quando, de repente, enquanto Armin ia em direção à porta, alguém abriu a mesma.
- Maninho, por acaso você não tem um... - Alexy entrou no quarto, olhando para um headphone em suas mãos, até levantar os olhos para mim, praticamente nua na cama. - Puta merda.
Me sentei rapidamente, cobrindo os seios, e Armin pulou na frente do irmão, bloqueando sua visão. Alexy, com uma mão na boca, fechou os olhos.
- Você já ouviu falar em bater na porta? - Armin berrou, enquanto eu pegava sua camiseta no chão e a vestia.
- Sempre que eu bato na porta você está jogando e nunca me escuta, então eu desisti - Alexy disse, ainda com as sobrancelhas arqueadas em sua expressão de surpresa. - Eu não esperava encontrar uma cena dessas.
Nós não respondemos nada. Armin simplesmente não olhava para o irmão enquanto catava as roupas espalhadas pelo chão, claramente constrangido. Eu sentia minhas bochechas ardendo, mas não sabia o que dizer, então mantive a expressão séria, como se nada demais tivesse acontecido.
- Quer dizer, eu sabia que qualquer dia desses eu iria entrar no quarto e ver vocês dois se agarrando, mas pensei no máximo em um beijo, nada assim - Alexy continuou, olhando para mim enquanto o irmão me entregava meu sutiã. Olhei para Armin, e ele estava completamente vermelho. - Espera, essa camisa é do Armin, não é? Rebecca, você dormiu aqui?
- Sim, Alexy. - Suspirei. Resolvi esclarecer tudo de uma só vez. - Eu dormi aqui, eu transei com o Armin, é exatamente o que você está pensando.
Mais uma vez, Alexy arregalou os olhos.
- Então vocês...?
- Pois é. - Dei de ombros.
- Ah. - Foi o que Alexy respondeu.
O clima no quarto ficou pesado graças ao constrangimento mútuo que sentíamos. Eu estava sentada na cama com as pernas cruzadas, encarando o meu sutiã em minhas mãos. Alexy estava simplesmente parado no meio do quarto e Armin foi ao guarda-roupa e pegou uma calça.
- Eu devo perguntar como foi...? - Alexy disse, levantando as mãos.
- Não. - Eu e Armin dissemos ao mesmo tempo. - Não precisa. - Concluí.
- Não que tenha sido ruim. - Armin comentou e olhou para mim. - Porque não foi. Não mesmo.
- Armin - Repreendi e minha voz saiu mais aguda do que eu pretendia.
- Deu para entender. Aliás, que peitos lindos, Becky. Parabéns! - Ele piscou para mim e sorriu pro irmão.
- Alexy! - Minha voz saiu mais aguda ainda.
Alexy deu uma risadinha.
- De qualquer jeito, eu entrei aqui para pedir seu fone emprestado. Eu estraguei o meu de novo. Eu até pediria para mamãe me levar para comprar um novo, já que eu preciso de roupas novas também, mas ela saiu com papai e...
- Saíram? Para quê? - Armin perguntou, com o cenho franzido.
- Para almoçar. Os dois estão se entendo agora - Alexy sorriu de canto de boca. - E eles não são os únicos.
- Ah, cale a boca. - Armin revirou os olhos azuis e jogou o fone de ouvido que estava em cima de sua escrivaninha para o irmão.
- Querem que eu saia logo, é? - O garoto de cabelos azuis alargou o sorriso. - Tudo bem, eu já...
- Espera - Eu disse, e minha respiração falhou um pouco. - Para o almoço? Que horas são?
Os gêmeos me encararam.
- Não sei - Disse Alexy, inclinando levemente a cabeça para o lado. - Umas onze e pouco, eu acho.
- Merda - Eu levantei da cama num pulo e olhei pela janela, esperando ver o Corolla do meu pai estacionado na garagem de casa, mas suspirei aliviada quando percebi que ele ainda não tinha chego.
Por alguns minutos eu realmente esqueci o que feito, e que ainda tinha coisas para resolver.
Me virei e dei de cara com Armin, que colocou suas mãos em meus ombros.
- O que foi? - Ele perguntou, preocupado.
- Como assim, o que foi? - Eu passei a mão pelo meu cabelo. - Meu pai vai chegar em casa daqui a pouco e... - Eu suspirei. - Eu ainda não faço ideia do que fazer.
- Como assim, do que fazer? - Alexy imitou minha reação. - Você está com medo do que ele vai fazer depois de descobrir o que vocês fizeram? Devia estar mesmo.
- Eu preciso ligar para tia Cassie - Me desvencilhei de Armin para poder procurar meu celular entre os lençóis, ignorando Alexy.
- Aqui. - Armin me entregou depois de pegá-lo de cima de sua escrivaninha.
Desbloqueei o mesmo.
- Trinta e sete chamadas perdidas. - Sussurrei. Fechei os olhos por um instante para depois desviá-los para Armin, que me encarava preocupado. Pelo menos, não havia nem sinal do meu pai, já que eram todas de tia Cassie. Uma parte na noite anterior e uma parte naquela manhã.
- Certo, eu devia saber o que está acontecendo aqui? - Perguntou Alexy, com uma sobrancelha erguida. - Porque isso tá bem estranho.
Mais uma vez, eu e Armin trocamos olhares cúmplices. Eu pressionei os lábios, sem saber se devia contar ou não. Enfim, Armin tomou a iniciativa.
- Você sabia que a Rebecca ia se mudar pra Seattle, não sabia? - Ele começou, se virando para o irmão.
- Como assim, ia? - Alexy piscou algumas vezes. - Ela não vai mais?
- Ia. - Suspirei, sem tirar os olhos da tela. - Meu vôo era ontem à noite.
- Você perdeu o vôo? - Alexy disse, num tom de voz mais baixo.
Balancei a cabeça. Passaram-se alguns segundos antes que eu finalmente ouvisse uma reação.
- O quê?! - Alexy gritou. Sim, gritou. A mudança foi repentina. - Por favor, me digam que não é o que eu estou pensando.
Não respondemos. Parecíamos duas crianças pegas no flagra. Ergui meus olhos para Alexy devagar. Tomei coragem e continuei.
- Eu meio que fugi do aeroporto. - Eu sentia um pouco de vergonha do que tinha feito, mas não arrependimento, e isso ficou claro no meu tom de voz.
- Sério, Rebecca? - O garoto passou as mãos pelo cabelo azul. - Quer dizer, sério? Você não sabe o quão irresponsável é isso? Alías, vocês dois não sabem. Vocês estão juntos nessa.
- Alex, calma - Armin tentou. - Não é nada tão grave.
- Nada tão grave? Será que só eu penso por aqui? - Ele suspirou, tentando se acalmar. - Claro que é grave. Seu irmão e sua tia foram para uma cidade que fica há centenas de quilômetros daqui, onde você também deveria estar, e eles não fazem ideia de onde você está agora?
- Eu falei com Logan antes de sair de lá - Murmurei. - Mas pelo visto ele não explicou nada para tia Cassie.
- Se eu fosse ele, também não explicaria. Tenho certeza que ele não quer se encrencar. - Armin disse meio que sem pensar, e eu o encarei.
- Você não está ajudando - Comentei.
- Eu simplesmente não consigo acreditar - Alexy suspirou. - Me sinto em um romance clichê.
- Tudo bem - Armin falou, fazendo com que Alexy não continuasse a falar. - Assim não vamos chegar a lugar nenhum.
- Eu só estou curioso para saber como é que vocês vão sair dessa. - Alexy deu de ombros.
Olhei pela janela, pressionando os lábios. Suspirei aliviada quando tive uma ideia.
- Vovó. - Eu disse. O carro de vovô estacionado na frente de minha casa foi como uma luz no fim do túnel. - Eu posso tentar falar com ela.
- Não sei não, Rebecca - Armin suspira.
- Você tem uma ideia melhor? - Ergui uma sobrancelha.
Armin pensou por um instante e então suspirou.
- Se vista. Seu pai pode chegar a qualquer instante.
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