História See you Again - Problemas- Parte II

Paola afastou-se subitamente de Marcos,empurrando-o sem muita força para longe de si.Fogaça possuía uma expressão séria,os olhos marejados denunciavam que a muralha sentimental do tatuado havia caído,Carosella olhou-o atentamente,franzindo o cenho logo que percebeu as gotículas cristalinas escorrerem sobre a barba mal feita.Um buquê de rosas vermelhas estava caído no chão gélido,com isso,uma voz quebrou o silêncio local.

-Marcos,saia daqui...-Paola murmurou baixo contraindo o lábio inferior-Necessito hablar con Henrique –desviou o olhar para baixo-

-Sim Chef –Marcos não hesitou,estava aparentemente confuso com toda aquela cena,apenas retirou-se silenciosamente-

A porta aberta por Fogaça,foi devidamente fechada por Marcos.O tatuado pegou as flores que estavam caídas no chão,depositou-as na lixeira mais próxima,encarou a argentina por quase três minutos,a mesma,as lágrimas caíam com mais intensidade,um suspiro profundo pairou no ar.

-Então é isso ? –Henrique indagou- Passo uma manhã sem ver você,e quando venho te encontrar,já está se agarrando com outro ?

-Puedo explicar...-hesitou numa tentativa falha de cortar a fala do tatuado-

-Não Paola,você não pode e nem tem o que explicar –sorriu sarcástico- Você sabe que horas são ? –olhou fixamente para o relógio- São 23:57 –esmurrou um balcão de aço- Saí correndo do meu restaurante para o Arturito porque queria saber como você estava depois de ontem,vim de táxi porque o meu carro está na oficina.Você tem noção da distância entre os dois restaurantes ? Pedi para o taxista parar no meio da avenida,no trânsito infernal,porque vi uma floricultura aberta e pensei que você gostaria de receber essas flores.Pareci um idiota correndo até aqui com um buquê de rosas vermelhas na mão –balançou a cabeça negativamente- Quando cheguei,te vi agarrando o Marcos...Eu deveria estar com a minha família –colocou suas mãos no rosto demonstrando sinal de cansaço-

-No assinei nenhum acuerdo de exclusividade com você –titubeou contra a vontade de si própria- Estás hablando de esto, pero ya se sabe cuánto doeu verte con su familia en la cafetería? No me siento nada por Marcos,apenas aconteceu,e creio que não irá repetir novamente...Eu sou solteira Fogaça,não tenho nenhum compromisso com você,aliás,você quem está casado –diminuiu o tom da voz- Puede ir a casa,ficar con sua família, eu no quiero ser somente o seu sexo casual

-Porra , Paola ! –gritou enfurecido- Você tem noção do quanto eu te amo ? Você tem noção do quanto é complicado para mim largar tudo para ficar com você ? Sou casado,tenho filhos.Tive que  entrar em um relacionamento,pra tentar te esquecer...Você não é somente o meu sexo casual.O nosso relacionamento vai muito além de sexo –suspirou cansado- Olha pra mim –caminhou até a argentina,agarrando-a pelo braço- Se você realmente não tem nenhum acordo de exclusividade comigo,fala na minha cara,que você não sente nada por mim –murmurou baixo,segurando o braço esquerdo da argentina-

-Me solta,Fogaça –contraiu o lábio inferior,enquanto algumas lágrimas escorriam sobre sua face-

-Fala ! –exclamou- Me diz que você nunca sentiu nada por mim,que somos apenas ‘’sexo casual’’ –tentou sorrir irônico enquanto chorava silenciosamente- Diz que você não pensou em mim nenhum dia,durante o tempo em que a gente se afastou

-Fuera de aqui –Carosella suplicou baixo- Por favor –soltou-se rapidamente-

-Chega,Paola –o tatuado afastou-se com desdém- Vou embora.Pode ter a certeza de que a partir de hoje,somos apenas colegas de trabalho –afirmou ríspido,virando as costas para a cozinheira-

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Carosella retornou para casa silenciosamente,suas lágrimas eram iluminadas por feixes de luz que atravessavam as avenida.Evitou ligar o rádio,preferiu ficar sozinha com os seus pensamentos,a argentina dali em diante teria que sobreviver os demais dias distante daquela silhueta masculina,com o martírio de olhar para aqueles olhos castanhos e fingir serem apenas grandes desconhecidos,que lá no fundo,se conheciam muito bem.O relógio denunciava um novo dia que estava começando,e mais uma vez,o coração da estrangeira adormeciao interiormente.

Girou a maçaneta do apartamento vagarosamente,na tentativa de não acordar a pequena Francesca.Direcionou-se até a geladeira,retirou a garrafa de água juntamente com um copo de vidro,bebericou o líquido transparente,ao virar-se para a sala,um palavrão escapou dentre seus lábios,devido ao susto que tomou assim que encarou a loirinha parada em sua frente.A pequena possuía os cabelos desgrenhados,devidamente assanhados pelo travesseiro,esfrega os olhinhos azuis com maciez,na mão direita,segurava um coelho de pelúcia,que havia ganhado quando tinha três anos.

-Mamá,no consigo dormir –falou baixinho com a voz doce –

-Qué paso ? –pegou-a no colo,caminhando até quarto da pequena-

-No sei...-ao ser colocada na cama,aconchegou-se com o seu lençol branco,afastou rapidamente,dando espaço para Carosella sentar-se ao seu lado- Mamá –falou pausadamente,distraindo-se com os dedos do próprio pé-  Cuando el tío Fogaça viene aquí?

-Fran,tienen que dormir –murmurou um pouco desconcertada-

- Você gosta do tio fogaça ? –deitou a cabeça sobre as pernas da argentina-

-Sí,somos amigos –acariciou os fios loiros-

-Por qué no te casas com ele ? -agarrou o coelhinho de pelúcia com força-

-No podemos estar juntos...-tentou consertar a frase para não causar mal entendimento,mas,apenas continuou a falar- Ele tiene su família

-Ele no quiere ser parte de nuestra familia? Prometo cuidar dele con amor –Fran retirou uma mecha que insistia em cair para frente dos olhos azuis-

-Ele es feliz con a família dele

-E você é feliz sem ele,Mamá ? –a loirinha indagou com inocência-

-Sí...-mordeu o lábio,desviou o olhar para o teto,tentando controlar as lágrimas que insistiam em marejar pelo canto do olho-

-Si alguna vez quiere casarse con ele, me promete uma coisa ? –murmurou baixinho com um pouco de sonolência-

-O que ? –perguntou devidamente exausta de todo o acontecimento anterior-

-Prométeme que nunca va a desistir dele ? –bocejou,coçando os olhinhos logo em seguir-

-Prometo,Fran ...-sorriu fraco,levantando-se,cobrindo a pequena logo sem seguida,depositou um beijo na testa da mesma,antes que pudesse sair do quarto,a voz infantil voltou a falar-

-Mamá,você jura que quando ver o tio fogaça vai dizer que eu estou com saudades ?     –perguntou tentando vencer a sonolência que estava aparente em sua face-

-Juro –engoliu seco ao pensar na possibilidade de nunca mais rever Fogaça-

-Jura juradinho ? De dedinho ? –a pequena retirou para fora do cobertor o dedo mindinho,Paola foi até a pequena,apertou-o delicadamente,saindo o quarto em silêncio-

Sentou-se no chão,pegou o celular que estava no seu bolso de trás,mesmo contra o seu orgulho,resolveu escrever para o tatuado.

‘’ Não acredito em almas gêmeas ou frutas pela metade, pero creo que pertenecemos, de alguna manera. Soy tuya, siempre voy a ser.

La Francesca sente sua falta.

 Y mierda, yo también.

Te quiero mucho ‘’

Apertou ‘’enviar’’ e adormeceu lentamente no chão gélido da sala.Podia sentir seu coração palpitando devagar e a incerteza daquele amor,consumindo-a aos poucos.A argentina não sabia como iria sobreviver,com a presença da ausência daquele amor,entretanto,ela sabia que a vida é um recomeço a cada manhã,e que se realmente fosse para acontecer,em algum momento,esbarrar-se-iam novamente por alguma avenida alheia. Eram donos de um sentimento incerto,porém,puro e verdadeiro o suficiente para continuar existindo independente da distância.Ele,era o tatuado dela.Ela,a argentina brasileira,dele.