História Seele - 14 - Resolvendo as coisas e tentando esquecer o que passou

"Me dê sua mão, eu vou construir um castelo de areia
De alguma forma, em algum lugar, em algum tempo"

(Irgendwie, Irgendwo, Irgendwann - Nena)

Estavam parados na calçada do templo, encarando um ao outro. Phichit sabia muito bem que não tinha para onde correr. Tinha que resolver tudo entre ele e Seung Gil, pelo fato de que a situação entre ambos já tinha ultrapassado o limite do suportável. Como Seung Gil notou que o tailandês não queria conversar, decidiu falar mesmo assim. Aquilo o sufocava demais e tinha que acabar com isso de uma vez por todas, antes que ocorresse algo que machucasse mais aos dois. 

 - Phichit-ssi... entendo que você não queira falar comigo depois de tudo. Mas vim aqui para resolver de vez esse mal-entendido entre nós. Prometo que nunca mais vou lhe incomodar depois disso. - o mais novo olhava para os lados para se certificar de que não tinha ninguém ouvindo o coreano. Depois do escândalo protagonizado pelo idol, todo cuidado era pouco. Ainda chegou a ver Victor retirar um paparazzi de trás de um arbusto antes de se distanciar junto com Yuri. 

- Ngò*. Infelizmente não tem outro jeito... terei que levar você ao meu apartamento, porque as ruas tem ouvidos. E considerando o que você causou aqui, no dia do meu tapete vermelho... vamos embora. Temos muito o que conversar. - e seguiu um apático Phichit até à estação de metrô mais próxima. Ficaram calados até entrarem no trem que levava ao bairro de Ueno, onde o ator morava com o amigo fotógrafo. No caminho, mais silêncio. 

Ambos pensavam em como proceder na conversa que teriam. Tinham medo do rumo que o final poderia tomar e do que seria depois. Por mais que negasse e sufocasse tudo o que sentia pelo coreano, Phichit na verdade nunca o esquecera e sempre o amara. Queria de todas as maneiras seguir em frente e encarar Seung Gil apenas como uma boa lembrança. Só que nunca contou com o rapaz querendo voltar atrás e se arrepender do que tinha feito. Já o idol tinha medo de ser rejeitado. Sabia que merecia depois do que fizera, mas mantinha as esperanças de poder voltar para os braços do tailandês. Estavam sim com os nervos à flor da pele, sofrendo por antecipação. Finalmente chegaram ao seu destino e caminharam de maneira apressada até o prédio. Queriam logo terminar com aquilo e aguentarem o que viria logo após.

Não era surpresa nenhuma para Phichit que Chris estivesse no apartamento. Só não esperava chegar lá com Seung Gil enquanto o suíço falava com outra pessoa ao telefone... em italiano. 

- So che... ma per favore non preoccuparti per me ora, Sammy. Va bene... Torno in pochi mesi. Mi manchi tanto amore mio. Ti amo.** - o tailandês sabia um pouco do idioma por causa de um intercâmbio que fizera em Turim antes de ir para o Japão e conhecer Yuri. Ele realmente tinha o conhecimento de que a relação entre ele e Christophe era somente carnal, mas sentia um pouco de ressentimento por aquela ligação. Parecia que o loiro também o usava para tentar esquecer alguém, só que o tal alguém nunca saiu de seu coração e estava naquele momento se reconciliando com ele. 

- Hã... Chris? Será... que você poderia deixar eu e o Seung Gil a sós? É que... eu preciso resolver uma coisa com ele. - falava sentindo um peso a menos em sua consciência. - E acho que terei que falar contigo depois...

- Você é o cara do escândalo do red carpet, não é? - viu o mais velho apontar para o coreano, que ficara mais vermelho que a cortina da janela da sala. - Veio se resolver de vez com o Junge, presumo. Phichit, não preciso de explicações. Sei que eu lhe devo as minhas, mas... acho que já está mais do que na hora de você finalmente acertar os pontos com esse rapaz. Bem... vou deixar vocês a sós. Caso queiram um a mais na cama, estarei esperando em meu quarto. 

Agora que estavam sozinhos, a hora da verdade havia chegado. Phichit fez um gesto para que o idol sentasse no sofá, o que foi prontamente atendido. Mais uma vez, Seung Gil tomou a frente da conversa. Ele queria que o mais novo lhe ouvisse e que ele pudesse saber do que tanto o sufocava. 

- Phichit-ssi. Sei que eu errei e que não sou mesmo digno de perdão nenhum. Porém... só quero que saiba que fui obrigado a fazer aquilo. O CEO da minha antiga agência descobriu sobre nós e ameaçou lhe fazer mal caso eu não me sujeitasse ao que ele queria. Eu pensei até no pior quando me sentia forçado a tocar na Sala. Era horrível ter que me submeter a tudo isso. Por mais que eu pensasse em me rebelar, logo vinha na minha cabeça as ameaças feitas a você. - baixou a cabeça. Não queria ter que encarar o tailandês que sentava-se ao seu lado. 

- Sabe... por mais que eu tenha tentado esquecer você, apagar o amor que eu sentia e manter apenas o que tivemos como uma boa lembrança... eu não consegui. Eu ainda o amo, Seunggie. Você me magoou demais. Só que eu ainda mantive minhas esperanças de que um dia, você voltaria atrás. E pelo visto, estava certo. Fui fraco em não conseguir te odiar. Eu... não sei se devo perdoar seus erros ainda. - segurava as lágrimas que teimavam em querer cair. Admitiu de vez o quanto nunca deixou de amar aquele coreano de semblante frio. 

- Um dia eu lhe disse que nunca me perdoaria caso o fizesse chorar. E vai demorar muito pra que eu possa deixar de ter pena de mim mesmo por ser um sujeito covarde. - acariciava o rosto de Phichit. O moreno se deixou levar por aquele carinho e quando deu por si, notou que seus lábios estavam colados ao do mais velho. Não rejeitou aquele contato, pois sentia falta daquilo. A abstinência de Seung Gil era dolorosa para o jovem. 

Quando o coreano aprofundou mais o beijo entre ambos e estava prestes a colocar o ator deitado no pequeno sofá, a porta se abre, revelando um surpreso Yuri acompanhado de Victor e mais dois adolescentes que não estavam nem aí para aquela situação. 

x-x-x-x-x

"Nós não precisamos de uma vida inteira
Para descobrir o que perdemos"

(Ghost - Jamie-Lee Kriewitz)

Yuri olhava para aquela cena com um ar de desapontamento. Viu que seu amigo cedera mais uma vez ao coreano que tanto detestava o fotógrafo por conta de sua origem. Perguntaria ao colega de apartamento o que tinha dado na cabeça dele, só que havia uma coisa bem mais urgente para resolver. Teve que interromper o menor não somente porque não estava nem um pouco disposto a ver aquilo, mas também porque precisaria do sofá para tratar do rosto machucado de JJ, cujo olho já estava parcialmente roxo. 

- Caham... Phichit-kun, desculpa interromper aí, mas pra isso você tem um quarto e lá pode fazer o que quiser. Preciso desse sofá agora porque tenho que cuidar desse garoto aqui. - apontara para Jean e ao verem o rosto do adolescente, o casal saiu dali indo direto para o quarto do ator. Yuri ainda teve que ouvir Seung Gil falar que ele era mais delicado que um coice de mula. 

Colocou o canadense no sofá, acompanhado de um Yurio que aparentava estar um pouco mais calmo. O russo deitara o maior em seu colo, indicando que não iria sair dali. Já Victor, aproveitou a breve saída do japonês para pegar o kit de primeiros-socorros para falar sério novamente com aqueles dois. Preocupava muito o prateado o estado de ambos e ele queria saber o motivo principal que levou ao ocorrido.

- Yuratchka e Jean. Podem me dizer o que aconteceu agora. O que deu em vocês pra arranjarem briga na escola? - assumiu uma faceta que jamais pensou que possuía: a de um pai. Mesmo ele próprio se considerando como pai de seu cachorro Makkachin.

- Monsieur Victor, eu posso lhe jurar que não fiz nada. Eu estava no clube de natação quando o Otabek surtou e bateu em mim. Eu não tenho culpa se ele rejeitou o Yuri e me odeia por eu estar com ele. - ignorava a dor que ainda sentia para poder falar. - Então, eu fui na sala do Yuri e contei a ele o que houve. Mas eu juro que nem tocar no Beka eu toquei.  

- Vitya... eu desisti do Otabek. Resolvi que o deixaria livre e que eu ficaria com o JJ. Mas eu não imaginei que ele reagiria dessa forma... é difícil assim? - o loiro chorava mais uma vez. 

- Yuratchka... ele quem vai sair perdendo nessa história depois disso. Admiro que você tenha sacrificado seus sentimentos para ver o que tinha ao redor. Você não errou em nenhum momento. Этот парень заслуживает (esse rapaz merece uma chance)***. - fizera um singelo cafuné em Yurio, que pareceu entender o que o mais velho dissera. - Ele só espera que você o corresponda. 

Vai até o banheiro e lá encontra um Yuri Katsuki já de saída com o kit de primeiros-socorros. O russo de repente, vê uma outra porta aberta e carrega o fotógrafo consigo, que fica sem entender o motivo. O ator fecha a porta, fazendo o japonês se zangar. O que levou o maior a tomar aquela atitude??

- Ei, eu tenho que levar isso pra cuidar daquele rapaz!! O que te deu na cabeça, Nikiforov? - Victor viu uma cama e nela se sentou, não ligando para os resmungos de Yuri. - E por que se sentou na minha cama? 

- Ah... esse é o seu quarto? Hum... ok. É que.... eu queria deixar o Yuratchka sozinho com o "ficante" dele. Eles precisam de um tempo somente entre eles e a gente ali só atrapalharia. - o moreno depositara a caixa que carregava em sua escrivaninha, para sentar-se ao lado do prateado. 

- E pra você tudo bem deixar aquele cara machucado?

- Yuri... no momento, ele não deve estar ligando para a dor que sente. Ele só se importa em proteger o Yuratchka. Vai me dizer que você nunca ignorou alguma coisa em prol da pessoa que gosta? - o fotógrafo cora. Nunca passou por algo assim, nem mesmo com Masaharu.

- Fala como se já tivesse feito isso. - tentou baixar a cabeça, mas as mãos de Victor não permitiram.

- Confesso que não, apesar de achar isso algo nobre. Eu queria fazer algo assim, caso eu estivesse amando alguém de verdade. - fez o menor lhe encarar com um pouco de receio. - Essa seria uma atitude bem honrada para um homem de reputação suja como eu.

- Por que diz isso? Eu não acho que você tenha a reputação... suja. Só acho que você deve ter feito muita cagada e agora tá tentando limpar. Não acha que é hora de esquecer esse pensamento um pouco? - notou que Victor estava perigosamente perto, mas não ousou recuar. 

- Então me ajude a esquecer. Seja meu motivo para que isso se torne realidade, Katsuki.

O beijara, sendo prontamente correspondido. Queria convencer a si próprio e a Yuri de suas palavras. Mostrar que vale a pena sentir o mesmo que Seung Gil ou Jean sentem por seus respectivos interesses amorosos. Agora teria que ser a vez de Victor demonstrar que está sentindo o mesmo por Yuri Katsuki.

"Em seu caminho para o horizonte
Talvez você esteja pensando em mim"

(99 Luftballons - Nena)