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História Seele - Epílogo - O destino pode estar enganado dessa vez, meu bem


Escrita por: Hawk03

Notas do Autor


Enfim... esse é o epílogo de Seele.

Quero agradecer aos 269 favoritos dessa fic. Sem vocês, essa história não estaria aqui. O que começou apenas como um desafio de fanfics em um grupo do Facebook, tendo que utilizar o tema "Soulmate", tornou-se em uma das histórias que eu mais adorei escrever. Desde novembro, Seele mostrou facetas diferentes do que nos acostumamos a ver em Yuri!!! on Ice. Tivemos um Victor que se mostrou rebelde no início, mas que escondia seu lado doce e emocional e mostrou ser um homem maduro que se ocultava em sua máscara de ator problemático. Um Yuri Katsuki rabugento, bipolar, que aos poucos foi saindo de sua casca. Yuri Plisetsky, suas carrancas, seu temperamento difícil e seus dilemas amorosos da adolescência junto de JJ e Otabek que ainda vão continuar em breve. Phichit e sua redenção no amor... e é claro que não posso esquecer do Chris, aquele que sempre desconfiou de tudo e sempre quis ver as coisas dando certo para seus amigos, além de Seung Gil e a segunda chance que recebeu. Ah! E também não posso me esquecer de Johann e Monika, o casal que eu criei para Seele e foi o que nos conduziu até aqui.

Vou sentir falta de cada um deles, mesmo que a jornada de alguns ainda continue em uma nova fic.

Bem... antes que eu comece a me emocionar, venham comigo descobrir o que se passou na vida dos nossos amados nesse epílogo!

Capítulo 22 - Epílogo - O destino pode estar enganado dessa vez, meu bem


Fanfic / Fanfiction Seele - Epílogo - O destino pode estar enganado dessa vez, meu bem

"Deixe isto tudo atrás de você, comece novamente do começo"

(Liebe ist Alles - Rosenstolz)

 

 

 

 

 

 

Paris, île-de-France, França - 1 ano depois

Acordou com o brilho do sol refletido no vidro da janela de seu quarto, algo que já havia se tornado costume em sua nova vida. Victor Nikiforov agora vivia em Paris. Passou pouco tempo em Moscou apenas para que Makkachin se readaptasse a ele e cortar de vez seus laços com Yakov Feltsman. O poodle de 4 anos estava novamente na companhia de seu adorado dono e não estranhou a mudança de ares. O russo decidiu sair da sua amada terra natal após receber uma proposta para trabalhar na França. Nunca mais voltou ao Japão e mesmo sabendo que Yurio ainda continuava lá, jamais chegou a perguntar por Yuri Katsuki. Victor não se envolveu mais com ninguém porque não esqueceria do japonês que havia arrebatado de vez o seu coração. Carregaria para sempre as lembranças felizes que tinha, por mais que fossem poucas. 

Agora, Victor desbravava novos ares. Começara uma carreira como escritor e estava sendo bem-sucedido nela. Foi através de um livro de ficção contando a sua história de amor com Yuri, mas trocando o gênero sexual do japonês que o prateado tornou-se um sucesso de vendas imediato. E naquele momento, havia acabado de sair de uma reunião com seu editor no famoso Cafe des Deux Moulins, conhecido por causa do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Iria escrever um novo livro, mais pessoal. Iria falar a verdade sobre o que havia lhe motivado a cometer tantos escândalos e os porquês, de maneira ficcional.  Victor se despia aos poucos de todas as dores e de pesos que carregava, através dos livros que escrevia. Era o seu novo escapismo, seu jeito de lidar com a saudade que sentia de Yuri, além de finalmente colocar para fora tudo o que queriam saber de sua vida. No caminho, resolveu dar uma parada na pet shop de seu quarteirão. Havia algo que ele já estava de olho e não deixaria mais um dia passar. Só esperava que Makkachin aprovasse.

Carregava a pequena gaiola animado e ao chegar em sua casa, é recepcionado por um alegre Makkachin. Os olhinhos do cão brilhavam de curiosidade ao notar o que Victor trazia consigo. O maior abriu a caixa de plástico, entusiasmado. 

- Makkachin... quero que conheça sua nova amiguinha. - dentro da gaiola, havia uma filhote de pitbull. A cachorrinha deu seus primeiros passos para fora daquela pequena "prisão" de plástico. O poodle balançara o rabo, contente. Pareceu ter gostado da pequena. - É... eu vejo que você gostou da Perséfone. Ela vai lhe fazer companhia quando eu não estiver e espero que sejam bons amigos. 

O seu celular toca e Victor bufa entediado. Às vezes pensou em acabar com suas redes sociais, mas desistira. Era uma mensagem de Chris via WhatsApp, que o russo tivera que instalar em seu iPhone pelo fato do seu melhor amigo não usar Telegram. Permitiu-se dar apenas um pequeno sorriso. Fazia um bom tempo que não via o suíço e bater um papo com o mesmo. Já havia prometido ao loiro que arrumaria a oportunidade de lhe visitar em Zurique.

Meu pervertido favorito: Há quanto tempo, Russisch. Ainda tá em Paris?

O último Nikiforov: Oi! É claro que estou por aqui. E nem pretendo sair dessa cidade tão cedo... a não ser pra te visitar aí em Zurique. Não me esqueci da minha promessa. 

Meu pervertido favorito: Sobre isso... eu queria falar com você. Estou aqui em Paris desde ontem e queria muito te encontrar. 

O último Nikiforov: Tem como ser daqui a pouco? Estou ocupado no momento e podemos nos encontrar no Cafe des Deux Moulins. Tudo bem pra você?

Meu pervertido favorito: Ok... Vielen Danke.

Bloqueara o aparelho e pegara Perséfone nos braços. A colocara em uma confortável almofada enquanto iria pegar a outra sacola que trouxera, contendo a comida da filhotinha e sua coleirinha. De repente, se pegou pensando no sorriso de Yuri. Imaginou o fotógrafo ali, brincando com a pitbull e com Makkachin. Sacudiu a cabeça ao sentir uma lágrima solitária escorrendo em seu rosto. Não podia chorar, não quando experimentava um pequeno momento de felicidade. Já teve sua cota de tristeza no dia anterior quando Phichit lhe enviara pelo correio um álbum contendo as fotos que Yuri havia tirado na Tokyo Disneyland. Aquele havia sido um dos dias mais felizes de sua vida, quando se divertira com o japonês e seus amigos. Jamais esqueceria do beijo trocado entre ambos, com o moreno trajado de Branca de Neve. Disposto a esquecer aquele clima pesado, Victor manda uma mensagem para Chris pedindo para que o encontrasse em 20 minutos. Agora sentia vontade de ver o amigo e saber o que ele tanto queria lhe dizer. Voltou ao Cafe des Deux Moulins e já se deparou com Christophe lhe esperando em uma das mesas do lado de fora do estabelecimento. Sentou-se e viu que o loiro portava um semblante melancólico, que nada tinha a ver com sua aura feliz e profana. A xícara fumegante de capuccino estava ali, intocada. Antes que Victor perguntasse o motivo de sua tristeza, Chris preferiu se adiantar.  

- Eu e o Sammy nos separamos. E dessa vez, é definitivo. Ele não aceitou muito bem a minha decisão de morar nos Estados Unidos. Sabe... não é todos os dias que você recebe a chance de se consolidar em Hollywood. Eu já fui por muito tempo o eterno garoto da Berlinale e sempre quis que a minha carreira de ator crescesse. Agora quero seguir minha vida sem ninguém tentando impedir. E quanto a você? Me lembro que disse ter virado escritor. Abandonou as câmeras?

- Ainda não. Essa coisa de escrever livros é nova pra mim. Isso me ajuda a não lembrar certas coisas, sabe? 

- Entendo. Deve ser difícil não se lembrar do Junge todos os dias. Também sinto o mesmo. Sei que fez de tudo para mantê-lo vivo, mas o destino não quis. - Victor vira o rosto para olhar o movimento da rua. Seu coração doía com aquele assunto. 

- Chris... onde você está hospedado? Você bem que poderia ficar na minha casa em vez de pagar diária de hotel. - teve que mudar rapidamente de assunto, pois sabia onde aquilo ia chegar. 

- Agradeço o convite, mas terei que declinar. Amanhã estarei indo para os Estados Unidos. Foi bom te ver, Russisch. - Chris toma o café já morno e paga a conta. Victor o acompanha, pois não estava com muita fome. Ainda tinha que ajeitar as coisas de Perséfone antes que Makkachin destruísse sua sala. 

E voltaria a escrever as novas páginas de seu livro, antes que tivesse um bloqueio mental. Aquilo que ainda o mantinha com vontade de fazer alguma coisa e acabar não chorando como sempre. Seu único pilar.

x-x-x-x-x

 


"Por favor, me dê algum sinal
Pra que algum dia eu possa chamar você do meu coração"

(You Give Me Something - James Morrison)
 

 

 

 

 

Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, Paris, França - três semanas depois

Optaram por um voo sem escalas. Não somente pela pressa do jovem casal em chegar na França, mas também para garantir o bem-estar da pessoa que eles traziam junto. Yurio e JJ queriam fazer uma surpresa para Victor, já que o canadense iria competir em Paris. Quiseram unir o útil ao agradável e levavam consigo o homem de quem o russo mais novo estava cuidando há um ano. Yuri Katsuki ainda sentia as consequências de seu tempo em estado de coma, principalmente em tentar se atualizar. O inchaço congênito de seu cérebro havia desaparecido, assim como as frequentes dores de cabeça. Só que nem tudo era um mar de rosas. Por conta do atropelamento, as vértebras próximas do quadril sofreram um grande impacto afetando a medula espinhal e com isso, o fotógrafo perdera o movimento das pernas de forma irreversível. Estava receoso em ter que encarar Victor daquela forma. Não sabia se ele o aceitaria assim mesmo. Esperaram o avião terminar de taxiar na pista para finalmente saírem do jato. Os três iriam primeiro por causa da prioridade com Yuri. Como cadeirante, ele teria que esperar um transporte especial para retirá-lo do Boeing. Yurio iria acompanhar o rapaz enquanto Jean descia com os outros passageiros. Dentro do veículo, os dois puderam conversar mais um pouco. 

- Você ainda sente medo do que o Vitya pode achar da sua atual situação. Ele nunca iria te rejeitar, seu idiota. - treme ao sentir o frio na barriga característico da descida do container do transporte, que funcionava como um elevador.

- Acha mesmo...? É que... você sabe, fiquei um ano sem dar notícias e ele pode não reagir muito bem. - o transporte chegara no saguão que dava acesso à esteira de bagagens, onde JJ os aguardava. - E é meio difícil para mim essa vida como cadeirante. 

- Aquele imbecil quem não quis perguntar como você estava achando que você tinha morrido. Um susto não vai fazer mal algum pra ele. - Yurio se recordava como tudo ocorrera enquanto pegava sua bagagem e a de Yuri com a ajuda do namorado. Logo após ter encontrado o bilhete de Victor, correu para o hospital. Sua visita não era esperada naquela hora, mas ele só conseguiu entrar no quarto onde o japonês encontrava-se internado após ameaçar fazer um escândalo. Ainda lembrara de quando falou a um desacordado Katsuki que Victor havia ido embora do Japão porque não suportaria vê-lo morrer. E foi ouvindo o som do choro do loiro que o moreno acordara.

- Yurio... onde eu... estou? E porque tem um monte de coisa ligada no meu corpo? - foi o que o mais velho conseguiu balbuciar após um ano de sono profundo. 

O adolescente avisou para todo mundo que Yuri finalmente havia acordado. Victor não ficara sabendo porque estava dentro de um avião e o mesmo avisara que não usaria o celular durante o voo de volta para a Rússia no infame bilhete. Também comprara uma briga daquelas com a família do fotógrafo, que insistiu em levá-lo de volta para Hasetsu. Yuri decidiu que não iria embora e foi assim que o russo loiro colocou em sua cabeça que seria o responsável por cuidar do nipônico em seu período de recuperação. Quando ele e JJ souberam que o mais velho podia não voltar mais a andar, o canadense resolveu dar a ele aulas de natação para que ele não ficasse parado e não ficasse depressivo por se sentir incapacitado. Aulas essas que tiveram uma pequena pausa assim que Jean recebeu a convocação para fazer parte da Seleção Canadense de Natação. E era por esse motivo que o trio agora estava na França. 

- Mon cher, você ainda se lembra do endereço do Victor? - JJ perguntara após conseguirem um táxi adaptado. Via o namorado acomodar Yuri no espaço do carro para cadeirantes. 

- Sim. Eu sei que aquele idiota vai me esganar e me chamar de pirralho por não avisar, mas isso é para o bem dele. Vamos fazer conforme o combinado. Pelo o que eu pesquisei na internet, o tal bairro de Montmartre fica a uns 40 minutos daqui. Acredita que ele comprou uma filhote de pitbull? - mostrou a foto para o canadense. - E ainda a chama de Perséfone. Não duvido em nada que ela já tenha destruído a sala dele junto da bola de pelos do Makkachin. Vocês até que vão gostar dele. 

Durante o trajeto entre o Charles de Gaulle e o bairro boêmio de Montmartre, Yuri pôde apreciar um pouco da paisagem bucólica de Paris e por um momento, ela lembrava um pouco a de Dresden. Ainda eram 9h da manhã na cidade e ela já fervilhava de gente nas ruas e calçadas. Queria poder estar com sua câmera em mãos, mas teve que vendê-la para pagar o seu tratamento de fonoaudiologia, já que a sua fala foi um pouco afetada pelo o que lhe acontecera. Imaginava também como Victor estaria vivendo. Pelo pouco que Yurio lhe falava, o prateado estava se aventurando como escritor. Até trouxe em sua bagagem um dos dois livros que ele chegou a escrever e era justamente a ficção que falava sobre ele e o russo. O loiro havia lhe dado de presente em seu aniversário e aquele era o livro que o japonês mais lia, como uma forma de se sentir um pouco mais próximo do amado. 

Quando o táxi parou em frente a uma enorme casa, o fotógrafo sentiu um frio na barriga. A hora da verdade havia chegado e com ela, a expectativa. Ele sabia que Yurio e seu namorado achavam que tudo daria certo, mas não tinha como confiar. O adolescente o deixou aos cuidados de JJ e foi tocar a campainha do casarão, atravessando rapidamente o jardim. Mal esperava pela reação do russo mais velho quando lhe visse... e quando encontrasse um certo alguém. 

- Bonjour... eu já disse a você que não queria ver ninguém no meu dia de folga, Phillippe. - Victor atendera com um certo tom de mau humor. Era seu dia de folga e queria dormir até tarde, já que seus cachorros fizeram a festa na noite anterior deixando um rastro de destruição da sala até o jardim da frente. Mudou a postura e a carranca quando sentiu um chute na canela e viu quem foi o autor. - ARGH!! O QUE VOCÊ VEIO FAZER AQUI, SEU PIRRALHO? ESSE CHUTE DOEU! 

- Vim fazer uma surpresa ao meu querido amigo. Já faz mais de dois meses que você me enche o saco pra eu vir até aqui te ver e bem... a oportunidade surgiu. Finalmente nós três viemos pra cá. - o sorriso do menino era de sarcasmo. - Pensei que estivesse feliz em me ver...

- Claro que eu estou, seu pestinha! Vem aqui... - o apertara em um abraço de urso, algo que Yurio odiava. - Só quero saber o que você quis dizer com "nós três". Você e o seu namorado adotaram alguma criança em segredo, Yuratchka?

- CLARO QUE NÃO, Ô IDIOTA! - dera-lhe um tapa na cabeça para o prateado lhe soltar e dessa vez o mais velho riu, nostálgico. - É que eu trouxe uma pessoa. Essa pessoa disse que queria lhe ver e então, eu o trouxe. 

Acenou para Jean trazer o cadeirante e quando ambos chegaram na porta, Victor achou que estava vendo coisas. Era praticamente impossível e aquilo só podia ser piada de mau gosto. Porque primeiro, Yuri Katsuki estava morto. E segundo, poderia ser alguém se passando por ele sentado em uma cadeira de rodas. Yuri percebeu o estado do russo e teve que abrir a boca.

- Eu disse a vocês que não daria certo. Ele deve estar achando que é uma piada sem graça do Yurio... do mesmo jeito que ele não acreditou em mim quando eu fui atropelado, ele não acreditaria em vocês. É melhor nós irmos embora. - aquele tom de voz, aquele mesmo tom de voz quando ele ouviu o japonês falar pela última vez antes do atropelamento e a cara raivosa de quando não o deixava em paz, além das marcas de nascença, aquelas manchas que mais pareciam marcas de tiro dissiparam as suas dúvidas. Yuri estava vivo. 

- Precisa de mais alguma coisa ou eu posso bater na sua cabeça de novo? Ah, espera... - o mais novo dá mais um tapa na cabeça de Victor. - SEU TESTA DE MARQUISE, ESSE AÍ É O CARA DE PORCO!!! VOLTOU A BEBER OU O QUE? 

- ME DESCULPA!!! EU JURO A VOCÊ QUE SÓ FIQUEI EM CHOQUE!! SÓ NÃO ME BATE DE NOVO, SEU PIRRALHO! - o prateado se controla, respira fundo e tenta voltar ao normal. - Agora podem me explicar tudo. Eu sei que havia lhe pedido para não me dar notícias, mas custava me dizer que o cara tava vivo?

- Ele acordou assim que você meteu o pé. Vamos ficar aqui parados ou podemos entrar? O cara de porco não pode tomar muito sol. - o mais velho abre espaço para que o trio entrasse em sua casa. Teve que segurar as lágrimas que queriam cair. Ainda não havia lhe caído a ficha de que Yuri Katsuki sempre esteve vivo.  

O casal só fica ali por umas duas horas, tempo suficiente para deixar a conversa em dia e explicar o que de fato aconteceu com o fotógrafo durante sua ausência. Yurio fala do quanto penou para cuidar de Yuri e que aproveitou a competição de JJ para deixar o japonês aos cuidados do ator de agora em diante. Não tinha mais como deixá-lo no Japão sabendo do quanto ele chorava por sentir falta de Victor.

- Eu já pensei em trazê-lo de uma vez algumas vezes, mas minha agenda e o cronograma de tratamentos dele não permitiram. Ele chorava todos os dias porque você não estava lá. Foi um pouco difícil ajudá-lo a se adaptar a essa nova realidade. Me lembro da vovó cuidando do meu avô Nikolai da mesma maneira quando eu era uma criancinha. Enfim... eu e o JJ temos que ir para o hotel agora. Vê se cuida bem do cara de porco. - levantou-se do sofá arranhado e pegou a pouca bagagem que trouxera. 

- Espera... por que não ficam aqui? 

- Eu tenho uma reserva no Ritz, monsieur Nikiforov. A seleção canadense está concentrada lá e não posso ficar longe deles. Mas passaremos aqui amanhã, só pra saber como o Yuri está. Adieu. - JJ repete o gesto do russo loiro e vai com ele até à saída. 

Yuri e Victor estavam sozinhos naquela casa enorme agora. Ambos não sabiam como proceder. O fotógrafo, pelo medo e o ator, por acabar fazendo algo errado, que possa causar um mal-entendido. O japonês achou que passaria mal a qualquer momento. Não queria encontrar o prateado daquele jeito. Mas nada poderia fazer, já que Yurio era um adolescente teimoso e insistente. Olhava o tempo todo para baixo, já pensando na próxima reação do mais velho. 

- Yuri...? Tudo bem? Por que tá olhando pra baixo? - vendo o quanto o moreno estava constrangido, puxou a cadeira de rodas do menor na sua direção, fazendo com que ele levantasse o rosto. O rapaz estava chorando. - Ei... não precisa ficar desse jeito. Estava com medo de que eu não o aceitasse assim, não é mesmo? 

- Victor-san... eu... e-eu não sabia como você iria reagir. Até cheguei a pensar que você não acreditaria nos garotos, como quase não chegou a acreditar quando chegamos aqui. Foi muito difícil não estar ao seu lado... - a intensidade do choro aumenta, a ponto do russo pegar o jovem da cadeira de rodas e o sentar em seu colo.

- Não chora, моя любовь (meu amor)*. Não tenha medo... sabe que eu gosto de você de qualquer jeito. Pra mim não importa se você não anda mais. O que importa pra mim é que você está vivo. Sofri muito nesses dois anos... achei que você nunca mais iria acordar e errei em impedir o Yuratchka de me dar notícias suas achando que você não estava mais entre nós... - finalmente permitiu-se a si próprio chorar. Mas aquelas não eram lágrimas de tristeza, aquelas tão costumeiras nos dois anos que sofreu com o coma e a possível morte de Yuri. Eram lágrimas de alegria, lágrimas que representavam o alívio que seu coração sentia. - Me lembre de agradecer ao Yuratchka depois por ter cuidado de você. 

- O Yurio provou ser um bom menino. Ele até chegou a enfrentar minha família quando eles tentaram me levar de volta pra minha cidade natal, além de ameaçar processar meus pais e o hospital por... tentativa de homicídio. Ele acha que eu só acordei por ele ter me dito que você tinha ido embora do Japão enquanto eu ainda estava em coma. E talvez tenha sido isso mesmo. Eu não suportaria ficar para sempre dormindo e não poder te ver mais... me perdoa por eu não ter permitido sua aproximação no início. Eu achava que você fosse o tipo de pessoa que eu não suportava, mas quebrei a cara ao ver o homem doce, gentil e incrível que você é.

- Não precisa se desculpar por isso... eu poderia esperar o tempo que fosse preciso. Afinal de contas... eu esperei 74 anos para ficar com você mais uma vez. Não é... Monika? - falava em um tom divertido. Ele tivera um pouco mais de certeza de sua vida passada ao pedir conselhos para Phichit, na época em que Yuri estava em coma. E ali não era Johann falando, mas sim Victor Nikiforov.

- Sim... mas acho que é hora de recuperar o tempo perdido... Johann. E aposto que você deve estar com o tempo livre agora, não é? Dessa vez eu não morri. E espero que eu possa estar com você até a eternidade. Nunca disse isso enquanto estivemos no Japão, mas acho que posso dizer agora que te amo, seu russo bobo. Digamos que tive que precisar de um empurrãozinho de um tailandês chato que só queria privacidade com um suíço pervertido, de um outro russo que me abriu os olhos quando fomos a um encontro dele com os amigos no boliche... mas eles não sabem que eu me apaixonei por você no dia em que você ensaiou aquele beijo técnico comigo e acabou que nos beijamos de verdade. Deveria ter admitido isso logo. Mesmo sentindo que já te amava há muito tempo... 

- E eu te amei desde o dia em que lhe encontrei naquele estúdio. Eu já sentia que tínhamos uma ligação e também demorei a perceber isso. É por isso que eu disse que para mim não me importa as suas imperfeições atuais, Yuri. Basta que seja apenas você aqui, vivo. Não quero mais ter que chorar por sua ausência. Nunca mais. 

E fez o que mais sentiu saudades, desde o dia em que as coisas pareceriam perdidas para sempre. Victor beijou o japonês com vontade, que o retribui de imediato. O clima começou a esquentar quando o russo colocou sua mão por debaixo da camisa que o menor usava. Mas como tudo que é bom dura pouco, os dois tiveram que parar ao ouvir latidos. A pequena Perséfone puxava a barra da calça de seu dono com seus dentinhos. O ator e o fotógrafo riram com a ousadia da cadelinha. Olharam-se, ainda rindo e vendo que a filhotinha não os deixaria continuar o que estavam fazendo no sofá que ela reivindicou como território na noite passada, Victor se levantou com Yuri ainda em seus braços.

O levara para seu quarto, onde começaria a recuperar o tempo perdido. Tanto o tempo que perderam há 74 anos, quando ainda eram Johann Blaschke e Monika Ehrlinger, quanto os dois anos que ficaram separados devido ao atropelamento de Yuri. E dessa vez, eles provaram ao destino que nada os separaria. Nem mesmo se eles ainda tivessem que voltar em outras vidas e ficarem juntos novamente. Não deixariam mais que contratempos e tragédias atrapalhassem o seu amor. Queriam apenas ser um do outro sem que o destino se meta. E era isso que eles esperavam a partir dali, naquele quarto. Nada mais os impediriam. Nunca mais.

 

 


"Fomos tão longe e vimos tanto
Tanta coisa aconteceu que nós não compreendemos
Eu não sei, mas eu já me pergunto
Como você me encontrou?"

(80 Millionen - Max Giesinger)         

 

FIM    
 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Agora sim... o fim.

Quero novamente agradecer a todos que acompanharam Seele. Uma porta se fechou, mas ainda teremos a continuação com Yuri Plisetsky de protagonista. Desde que eu vi esse menino se desenvolvendo aqui, senti que a parte dele se tornou uma história dentro de Seele. Uma história que merece ser contada e provar que as coisas com Otabek ainda não acabaram.

Como eu estou em um período crucial, Fluorescent Adolescent vai demorar um pouquinho... assim como as atualizações de Posledniy rebenok e A Different Fairytale. E além de Fluorescent Adolescent, em breve terei mais projetos com Yuri!!! on Ice. E já vou logo adiantar que um deles se passa no universo de Star Wars.

Ah, e antes que eu me esqueça: eu sempre gosto de escrever finais felizes. Mas com bastante treta, pra mostrar que nem todo amor é feito de utopia. Que ainda tem que caminhar muito e fazer por onde.

Mas talvez... haja uma ou duas one-shots de Seele... mas para mostrar algo mais... safado ou algo do passado dos personagens que não tenha sido mostrado nessa fic, como o início do relacionamento entre Seung Gil e Phichit, mostrando como ambos se conheceram ou alguma coisa da amizade entre Chris e Victor que ainda não foi contada.

E por enquanto... é só isso. Mais uma vez, obrigada por me aturarem por 7 meses. Foram 7 meses de muito amor e carinho que eu depositei nessa fic. O que começou apenas como um desafio se tornou praticamente na fic que eu mais amei escrever.

Até a próxima, com Fluorescent Adolescent e as fics de Yuri!!! on Ice que ainda se encontram em andamento!



*моя любовь (moya lyubov'): tradução no diálogo.

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