História Seele - 4 - Encontro, sonhos e dor de cabeça: o combo completo

"Em algum lugar há muitos de nós, em outro não há o suficiente"

(Ne Ver', Ne Boysia, Ne Prosi - t.A.T.u)

(Dresden, 1940)

- Johann... por que aqueles homens levaram a Greta embora? - o ano era 1940. Monika não sabia, mas havia um motivo pelo qual estavam levando a sua melhor amiga.

- Moni... você sabe que a Greta é judia. Judeus não são aceitos na nossa sociedade. E infelizmente, ela nasceu assim. - o loiro falava em um tom do qual a moça não havia gostado nem um pouco.

- Infelizmente? Infelizmente para você, Blaschke, ELA É A MINHA MELHOR AMIGA! NÃO GOSTEI DA MANEIRA COMO FALOU DELA! E quer saber do que mais? Não quero mais ver você por enquanto! Só mudarei de ideia se pedir desculpas pelo que disse de meine Freundin*. Até lá, não me dirija mais a palavra! - e saiu, furiosa. Johann se deu conta da burrada que fizera somente quando viu Monika lhe dar as costas. 

Aquela foi a primeira discussão séria do jovem casal. O loiro só voltou a falar com a castanha uma semana depois, quando pediu desculpas ao perceber que fez besteira. Prometeu que respeitaria Greta, além de tomar cuidado com as coisas que falaria de agora em diante.

Essa era a primeira vez que Victor sonhava com essa briga. Já fazia um tempo que ele não tinha esses sonhos com Johann e Monika, desde que chegou ao Japão. Não entendia o motivo para que essas coisas voltassem, ainda mais nítidas. O prateado estava intrigado. Não entendia o porquê desses sonhos invadirem a sua cabeça. Era nisso que pensava enquanto tomava banho. Hoje, ele e parte do elenco do drama fariam um ensaio fotográfico para a revista ViVi, como forma de promover a produção televisiva que estrearia na semana que vem. Precisava estar bem disposto, por mais cansado que estivesse. Johann e Monika sempre lhe renderam noites mal dormidas. Achou impressionante não ter olheiras adornando o seu rosto dessa vez. Talvez fosse Deus sendo bondoso com ele pelo fato dele ter um trabalho onde sua cara tinha que estar impecável. Queria prolongar um pouco mais o banho, se não fosse um certo loiro batendo na porta do banheiro.

- убираться там (saia daí)**!!! A gente vai chegar atrasado por culpa sua!! - Yuri estava impaciente e já esmurrava a porta. Victor estava há apenas 10 minutos se banhando. 

- Deixa pelo menos eu escovar os meus dentes, Yuratchka! - chamara o menor pelo apelido de propósito. Sabia muito bem que ele ficava quieto dessa maneira. Menos de 2 minutos depois, o mais velho sai do banheiro, sendo quase atropelado por um irritado Yuri Plisetsky. Quase que deixava a toalha cair.

- Aff, esse pirralho... 

Após ambos já terem se arrumado, desceram para o saguão do hotel onde estavam hospedados para desfrutar do café da manhã ali mesmo. Enquanto Yuri estava distraído checando suas redes sociais no seu querido Samsung Galaxy S6, Victor mandava uma mensagem para Eva através do Telegram, apenas para saber como Makkachin estava. Tinha deixado seu velho e amado cachorro sob os cuidados da modelo, cujo caso deu-se por encerrado logo após a chegada do prateado ao Japão. Ainda continuavam amigos, visto que nunca houve um interesse amoroso por parte dos dois, era mais um lance carnal. Ficou aliviado quando a mulher lhe respondeu dizendo que o poodle estava bem e até mandara uma foto para mostrar. Logo depois, recebeu uma nova mensagem. Era apenas Yuri lhe mandando uma dezena de emojis raivosos. 

- Não ligo se até quiser me mostrar o dedo do meio, mas o que foi dessa vez? - encarava o menor sem demonstrar a irritação passageira que lhe acometeu no momento. 

- Só queria dizer ao surdo que já está na hora de irmos. Já é a terceira vez que eu te chamo e sabe muito bem que eu detesto esperar. - a irritação do maior deu lugar a um sorriso cínico. Nunca diria para Yuri que adorava olhar para a cara dele quando ficava irritado. Achava algo bastante adorável.

- Ok. Vamos chamar um táxi para nos encontrarmos com o pessoal do elenco com quem vamos tirar fotos. Não desfaça essa carinha de irritado, você fica lindo assim. - e recebeu apenas um dedo do meio como resposta. Realmente amava provocar aquele loirinho.

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"Quando você ouvir nossas vozes chamarem
Você não será mais solitário"

(A Million Voices - Polina Gagarina)

- Anda logo, Phichit-kun! Estamos atrasados! - hoje era o dia do photoshoot de alguns atores do elenco de Rise and Fall, o tal drama no qual o tailandês e o hóspede metido a sensual iriam atuar. Yuri seria o fotógrafo responsável pelo ensaio e queria chegar no estúdio que reservou na hora. Mas Phichit não parecia querer colaborar.

- Já vai!!! Deixa eu pegar o meu casaco! - após uma demora de 1 minuto, que pro japonês pareceu décadas. o moreno aparece na sala. Ele, Christophe e Yuri saíram do apartamento um pouco apressados. O local onde o ensaio seria feito era em um lugar relativamente perto. 

Mesmo que o trajeto durasse no máximo 10 minutos e chegassem com um pouco de tempo de sobra, o rapaz de óculos alegara que teria que ajeitar os equipamentos, checar se os maquiadores que a ViVi mandara estavam lá e se os outros atores já se encontravam prontos para poder fotografar, além de vistoriar o figurino que seus "modelos" usariam. Queria que tudo fosse perfeito e não iria admitir nenhuma falha. Levava seu trabalho à sério demais e nunca se perdoava quando o resultado não saía como planejava. Ao chegarem, Yuri mandou Phichit e Chris colocarem suas coisas no camarim improvisado que montara para eles no dia anterior, quando veio dar uma olhada no estúdio. Foi para a outra sala, onde o photoshoot aconteceria. Conferiu se os equipamentos estavam no lugar e só fizera mais alguns ajustes antes de começar a trabalhar. Viu que o amigo e o seu hóspede suíço já se dirigiam para a saleta de maquiagem. Decidiu então vistoriar a parte do figurino, para ver se as roupas se encontravam na ordem. Notou que havia um rapaz loiro, um pouco mais baixo que ele olhando para as roupas, decidindo qual vestiria.

- Quer ajuda? - acabou por dar um susto no loiro sem querer.

- Er... não precisa. Já achei o que eu queria. - e apontara para uma blusa com um grande tigre branco estampado.

Saiu do vestiário improvisado, vendo que estava tudo ok. Um dos assistentes que havia solicitado para Takeshi acenava, indicando que já tinha gente no estúdio esperando para ser fotografado. Quando entrou no local, viu quem seria o primeiro fotografado. Yuri achou que o conhecia de algum lugar, mas logo concluiu que era coisa da sua mente, que parecia enlouquecer se esse trabalho não fosse concluído logo. O estranho a quem o japonês encarava olhou-o de volta e o moreno sentiu seu coração acelerar. Nunca tinha visto alguém bonito daquele jeito. Só que de repente, sua cabeça começou a latejar. Aquilo de novo não, seu pensamento gritava. Tinha que se segurar, pois tinha que trabalhar e não deixaria a maldita dor de cabeça lhe atrapalhar.

Victor já estava pronto quando o fotógrafo responsável pelo ensaio entrou no estúdio. Teve a leve impressão de que já o viu em algum lugar. Não queria negar que o tal rapaz estava lhe deixando desconfortável pelo fato de estar encarando-o como se ele fosse algum tipo de bicho. Porém, o achara interessante. Lembrava muito um porquinho fofo de óculos. Claro que não diria isso em voz alta. Saiu de seus devaneios ao ouvir o jovem falando com ele, chamando-lhe a atenção. Por algum motivo, na sua mente foi a doce voz de Monika que ressoou em seus ouvidos. 

- ... perdão? Desculpa eu acabei me distraindo. - viu que o moço segurava firmemente sua câmera. Parecia querer disfarçar alguma coisa. 

- Eu disse que me chamo Yuri Katsuki e que eu serei o fotógrafo responsável por esse ensaio. - e Yuri estendeu a mão para Victor. Não queria que ele notasse que estava aguentando com todas as forças possíveis a sua forte dor de cabeça.

- Ah... eu sou Victor Nikiforov, um dos atores. Pelo visto, acho que serei o primeiro a fotografar, né... Yuri? - retribuiu o gesto do japonês e apertara a sua mão. Naquele instante, sensações mistas passavam por ambos. Enquanto a dor de Yuri parava de forma milagrosa, Victor sentiu o coração palpitar. Sentiu que o mesmo acelerou um pouco ao ver as marcas visíveis no corpo do fotógrafo.

Marcas que pareciam tiros. Nos mesmos lugares onde a Monika Ehrlinger que povoava seus sonhos tinha sido alvejada. O mais alto desconfiou por um momento, mas deixou isso de lado em seguida. Não queria parecer um louco. O mais novo desfez o contato e dera alguns passos. Alegava que precisaria tirar as fotos agora e não queria atrasar todo o seu cronograma. O prateado concordou, ajeitando-se na posição onde o rapaz indicara. Só assim, o photoshoot dera início.

Mas para eles, estava parecendo tudo um pouco difícil. Por que tinham esse sentimento de que já se conheciam? Por que o coração de ambos palpitou com o primeiro contato? 

Eram perguntas que eles não sabiam quais eram as respostas. Algo que os dois não queriam saber com medo de ficarem confusos e enlouquecidos.

"O mundo está organizado de um modo, mas neste mundo estamos partidos"

(Love in Every Moment - t.A.T.u feat. Mike Tompkins and Legalize)